segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Contraponto 420 - Delfim: Um momento único


05/09/2009

Um momento único

Carta Capital Delfim Netto - 02/10/2009 14:40:09

.....Delfim Netto
Duas lições devem ser entendidas no rescaldo da crise financeira que ainda faz estragos na economia mundial: a primeira é que o poder nacional não foi abolido por efeito da globalização; a segunda é que a velocidade da revitalização da economia real depende de um substancial aumento dos investimentos em ciência e tecnologia. Cada vez mais, a inovação ditará o ritmo de crescimento da economia mundial, que continuará sob a liderança dos Estados Unidos. Eles são a economia mais flexível do planeta e têm no Estado o grande indutor do desenvolvimento científico e tecnológico.

É incontestável que sem a forte intervenção dos governos o mundo teria mergulhado numa recessão profunda. A despeito da universalização da crença no “Deus mercado”, a globalização não eliminou o poder dos Estados. Por muitos anos ninguém mais vai acreditar nesse “conto de fadas”. O Brasil, felizmente, libertou-se da influência dessa “filosofia” que prejudicou o nosso desenvolvimento na última década do século passado e no início do atual.

A segunda conclusão interessa de forma vital ao Brasil e não é para ser pensada como coisa do futuro, apenas. É para ser processada agora, não é para esperar resultado de eleição ou que a sorte bata à nossa porta como em tantas ocasiões (e a gente, como em outras vezes, custe a entendê-la).

Temos de aproveitar o momento único do retorno ao crescimento de nossa economia para definir e começar os investimentos que vão construir o país do século XXI. No estágio atual do conhecimento, são facilmente identificáveis os setores da economia brasileira com as melhores vantagens comparativas, nos quais é aconselhável investir em novas tecnologias.

Poucos países têm condições tão favoráveis para acelerar o seu desenvolvimento, agora com equilíbrio interno e externo e com a matriz energética plenamente receptiva às inovações. O Brasil adquiriu uma posição tecnológica privilegiada com o pré-sal e com o etanol de primeira geração. As pesquisas para a transformação econômica de massa em energia com menor liberação de CO2 avançam rapidamente. Precisamos nos manter no “estado da arte” para acompanhar a agenda científico-tecnológica-industrial, que vai exigir um substancial aumento dos investimentos em pesquisa e inovação tecnológica.

A economia brasileira não será, nestes próximos 20 ou 25 anos, nem a continuação da atual nem crescerá apenas dependendo do pré-sal, apesar de sua visibilidade e importância decisivas. Ela será o que resultar dos avanços que continuarmos a fazer na modernização do setor agrícola, de seu progresso tecnológico, da conquista de melhores padrões de produtividade e de resistência ao clima. Mais ainda, sua prosperidade dependerá do respeito ao direito de propriedade e das garantias de uso produtivo da terra que pertence aos agricultores. Seja nas propriedades familiares, seja nas grandes fazendas, todos merecem a proteção do Estado contra a ameaça constante de invasões e das periódicas intimidações de cortes do espaço produtivo a pretexto da preservação do meio ambiente. Juntamente com a reconstrução da infraestrutura de transportes, são esses os complementos que manterão o estímulo às inovações no setor rural.

Temos um enorme campo para estimular a pesquisa industrial no desenvolvimento da energia renovável, simultaneamente ao domínio da tecnologia da exploração da riqueza do pré-sal, em toda a cadeia produtiva nacional. Tudo isso pode somar-se aos investimentos públicos e privados para o desenvolvimento das tecnologias no setor da informática, nas quais brasileiros (inclusive e creio que principalmente estudantes) têm contribuído de forma importante aqui e no exterior.

Insisto em lembrar o exemplo americano, a reação do governo Obama após as medidas emergenciais para enfrentar os efeitos de curto prazo da crise financeira. Adotou uma série de programas somando investimentos da ordem de 700 bilhões de dólares para a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que levem à produção de todas as formas possíveis de energia renovável, mais limpa e sustentável.

O objetivo central dessas inovações, para o qual convergem todos os programas, é o de recuperar a autonomia energética dos Estados Unidos, livrando-os da extrema dependência das importações de petróleo. Não esqueçamos que o tripé que sustenta a segurança nacional e a própria prosperidade da economia americana é formado pela autonomia alimentar, a autonomia militar (que sempre mantiveram) e a autonomia energética, que perderam quando passaram a depender do abastecimento externo.
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