sábado, 12 de dezembro de 2009

Contraponto 954 - Cotovelaço chinês

.
12/12/2009

Um “cotovelaço” chinês na arrogância americana


Tijolaço - sábado, 12 dezembro, 2009 às 13:52

He Yafei, vice-chanceler chinês, deu logo um "tranco" na pretensão dos ricos de que os pobres paguem pela poluição


He Yafei deu um "tranco" na pretensão de que pobres paguem pela poluição

Enquanto nossos “colunistas” – alguns mais “quinta-colunistas” que colunistas – vivem preocupadíssimos em que os Estados Unidos fiquem ” muito felizes” com o comportamento brasileiro em toda e qualquer posição diplomática que o nosso país tome, os fatos vão provando que o mundo já não é mais, como nos anos do império neoliberal, vassalo incondicional dos países ricos.

Ontem, eu escrevi aqui sobre a pretensão do representante da União Européia, o alemão Ruge-Metzger, de que o Brasil não utilize ou coloque sob supervisão internacional o petróleo da camada pré-sal, enquanto o país dele, a Alemanha, poluiu por séculos o planeta extraindo e queimando bilhões de toneladas de carvão que, para preservar 34 mil empregos na indústria mineral alemã, continua a fazê-lo – e continuará por mais uma década – com subsídio de dinheiro governamental.

Ontem, Metzer, não satisfeito com o fato de o Brasil ter metas muito mais severas do que a Europa quer aceitar para si mesma, disse que espera que o Brasil coloque também dinheiro num fundo para ajudar a reduzir a poluição global. Já o sr. Todd Stern, enviado especial do governo Obama para a mudança climática, disse nesta semana que não “antevia” que verbas públicas norte-americanas chegassem à China.

Por isso, foi mais que merecido o “cotovelaço” que Stern e os demais representantes dos países ricos levaram do representante da China, He Yafei. As suas palavras foram absolutamente cristalinas para descrever o problema. Ele comparou os países ricos às pessoas que comem num restaurante de luxo e recebem um amigo pobre para a sobremesa, e depois querem dividir a conta inteira. Ou seja, a poluição gerada pelos países ricos com as atividades que os levaram a este desenvolvimento é “esquecida”. porque o problema agora é de todos.

- “Não estamos pedindo doações. Eles (os países ricos) têm responsabilidade jurídica, inclusive os EUA. Quem criou esse problema é o responsável.”

E têm mesmo. Os Estados Unidos, por exemplo, recusaram-se a assinar, durante 17 anos, o Protocolo de Kioto e só aceitam reduzir em 17 % suas emissões. Mas querem que os países emergentes, como Brasil e China “façam o dever de casa” em matéria de corte daemissão de gases.

Metade das emissões brasileiras, por exemplo, provém da agropecuária, seja pelo desmatamento seja pelas emissões de metano do processo de digestão bovina – considere que são 200 milhões de cabeças - e grande parte dela é exportada para os países europeus. Ou seja, a poluição necessária para a produção de alimento é “exportada” e o alimento em si, na Europa, é não poluente. O aço – cuja fabricação é muito poluente – da China chega “limpo” às indústrias americanas.

O representante chinês foi mordaz ao dizer-se chocado com o comentário do negociador norte-americano:

- Não quero dizer que o cavalheiro é ignorante, porque ele é muito bem educado, mas acho que lhe faltou bom senso ao fazer tal comentário com relação aos fundos para a China. Ou lhe faltou bom senso ou ele é extremamente irresponsável.

Se um negociador brasileiro dissesse isso, os jornais caem-lhe em cima. Vão chamá-lo de “troglodita”. Para esta parte da imprensa, o único papel de um diplomata brasileiro é dizer “sim, senhor” em vários idiomas.
..

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista