sábado, 13 de novembro de 2010

Contraponto 3932 - Direita, mídia e fisiologistas: as oposições que Dilma enfrentará

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13/11/2010


Direita, mídia e fisiologistas: as oposições que Dilma enfrentará

Do Vermelho - 13/11/2010

Qual será o comportamento da oposição partidária diante do governo da primeira mulher presidente do Brasil? O PMDB vai ser mesmo um aliado ou um problema? E a mídia – vai manter a toada oposicionista e raivosa que pautou seu comportamento durante os oito anos do governo Lula? A direita civil ensandecida que rogou as piores pragas do inferno contra Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral vai aumentar o volume de suas cantinelas?

Por Cláudio Gonzalez

Alguém arrisca dizer qual o tamanho da oposição que saiu das urnas em 2010? Todos concordam que é menor que a que foi eleita em 2006, mas o tamanho real da oposição, nem os oposicionistas se atrevem a calcular. Isso porque não se sabe quais serão as legendas que realmente baterão de frente com o governo a partir de janeiro.

Só quem tem bola de cristal pode dar respostas cabais para estas questões. Mas algumas pistas já surgem e nos ajudam a vislumbrar os tipos de resistências que Dilma enfrentará.

Por enquanto, apenas o PSDB assume cabalmente este papel. O PPS tem dito que pode migrar para a base de Dilma se o governo aceitar fazer mudanças na política econômica. Até o DEM já ensaia um discurso vacilante ao alimentar, nos bastidores, burburinhos sobre eventual fusão do partido com outras legendas, inclusive legendas da base governista.

Seja como for, a maioria governista na Câmara será arrasadora e deve conter os ímpetos oposicionistas, ainda que não seja garantia de governabilidade tranqüila para a presidente Dilma. Tudo dependerá da capacidade dos líderes partidários construírem consensos diante de temas polêmicos.

No Senado, onde o governo sempre sofreu mais para fazer valer suas posições, o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz avalia que a próxima bancada de oposição na Casa tenderá a ser mais civilizada, já que não trouxe retorno político e eleitoral a postura agressiva adotada contra o governo Lula. Eu não apostaria tanto na civilidade da oposição.

É certo que os mais raivosos, como os tucanos Arthur Virgílio (AM) e Tasso Jereissatti (CE) perderão o microfone. Mas outros como os demistas Demóstenes Torres (GO) e Agripino Maia (RN) e o tucano Álvaro Dias (PR) continuarão criando caso e inflamando crises, agora na companhia de raposas emplumadas do tipo Aécio Neves (MG) e Aloisio Nunes Ferreira (SP).

Também não há indícios que comprovem a propalada tese de que Aécio Neves irá liderar a oposição. Por enquanto, a hipótese é apenas uma manifestação de vontade de alguns analistas. Mesmo a promessa de refundar o PSDB a partir de novas bases programáticas soa mais como um trololó pós-derrota eleitoral do que como compromisso sério de dar novo rumo ao maior partido da oposição. Caso Aécio vacile na postura em relação ao futuro governo, circunstâncias políticas podem levar um governador, e não o senador, a assumir a postura mais identificada com a oposição.

De qualquer forma, não se descarta a possibilidade da oposição colocar as mangas de fora e até mesmo disputar a presidência da Câmara ou do Senado se perceber que poderá tirar proveito de eventual disputa interna na base governista.

A oposição de esquerda também é uma incógnita. Entres os quatro partidos de esquerda que não apoiaram Dilma na campanha eleitoral (PSOL, PSTU, PCB e PCO), somente o PSOL tem representação parlamentar, com três deputados eleitos. Os demais, no máximo, podem fazer algum barulho através dos movimentos sociais, mesmo assim será um ruído de poucos decibéis.

Ainda não se sabe até que ponto a presidente Dilma fará valer suas convicções ideológicas para dar um rumo mais à esquerda ao governo. Pode ser que as circunstâncias políticas a impeçam de dar passos neste sentido. Mas se conseguir, poderá até mesmo atrair um inédito apoio da esquerda mais radical.

Fisiologistas: um câncer político difícil de curar

Já a relação com os fisiologistas é a mais complicada. Eles não são oposição, mas também não vestem a camisa do governo por ideologia. Seu apoio dá-se sempre na base da troca de favores, do toma-lá-dá-cá. Essa gente não pensa duas vezes antes de abandonar o barco governista e passar para o lado da oposição. Enquanto suas vontades não são satisfeitas, votam contra o governo, inflamam escândalos e criam todo tipo de dificuldade para o executivo. Sua fome por espaços de poder não têm limites.

Infelizmente, até hoje nenhum governante brasileiro conseguiu se sustentar politicamente sem contar com o apoio pontual dos fisiologistas. Podem ser enquadrados neste grupo a maioria dos parlamentares e lideranças políticas e empresariais filiadas a partidos de centro direita como o PMDB, PP, PR, PTB, PRB, PSC e outras legendas menores.

Dilma terá que ter muita habilidade e pulso firme para não deixar que estes “aliados” acabem se transformando num problema maior que a oposição.

Mídia: assumindo o papel da oposição

Diante da aparente fragilidade da oposição partidária, setores da mídia burguesa podem querer exercer, definitivamente, o já assumido papel de antigoverno. Os grupos Globo, Folha, Estado, Abril e RBS, com suas centenas de canais de televisão, rádios, jornais, revistas e portais de internet devem continuar formando o núcleo da oposição midiática. Colocarão, sem pestanejar, suas máquinas de moer reputações e gerar escândalos para funcionarem diuturnamente com o objetivo de enfraquecer o governo Dilma e impedir que o executivo faça o que já deveria ter feito faz tempo: impor limites para o vale-tudo midiático e frear o oligopólio do setor.

A proposta de regulação da mídia, que começa a sair do papel para ganhar ares de articulação política concreta encabeçada pelo ministro Franklin Martins, vai enfrentar uma dura resistência. Parlamentares – até mesmo da base aliada — acovardados com a pressão da imprensa podem acabar tirando o corpo fora e deixando a iniciativa de regulação da mídia sem o fôlego necessário. Mas esta continuará sendo uma agenda prioritária para o atual governo.

O noticiário pós-eleitoral, carregado de pautas negativas, é uma demonstração clara da má vontade dos barões da comunicação com o governo. Eles e seus lacaios colunistas parecem dispostos a não deixar barato a terceira derrota consecutiva na disputa presidencial. O artigo Herança Maldita, da jornalista Eliane Cantanhede, é uma amostra singela mas bem esclarecedora sobre o ânimo da súcia midiática em relação ao futuro governo.

Enquanto o enfrentamento com a mídia corporativa não chega a uma solução positiva, caberá ao governo Dilma reconhecer o protagonismo, cultivar e se ancorar no apoio que a mídia alternativa vem dando ao atual projeto encabeçado pelo presidente Lula.

Juventude reacionária e movimentos de direita

Há, porém, um foco oposicionista que pode acabar se transformando num problema novo para a futura administração. Trata-se dos grupos de direita que atuaram como satélites da campanha de José Serra. Eles sempre existiram, estão distribuídos em entidades diversas que vão desde os coletivos religiosos, sobretudo da direita católica, até associações civis com um pé nos quartéis, passando por entidades empresariais, profissionais liberais e ruralistas.

Essa gente fez uma oposição raivosa, mas desorganizada, individual e miúda no governo Lula. Depois que ganharam visibilidade e protagonismo na campanha tucana, parecem dispostos a se juntar para promover uma resistência de maior fôlego e mais organizada, calcada no preconceito, no machismo, no moralismo, na soberba e nos preceitos mais nefastos do liberalismo individualista.

Infelizmente, até mesmo a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sobretudo na figura de seu atual presidente, Ophir Cavalcante, flerta de vez em quando com estes grupos de direita, renegando o passado progressista da identidade.

Mas a novidade mesmo neste setor é a nova juventude reacionária. Com idéias conservadoras e preconceituosas alimentadas pelo discurso anti-esquerda da mídia, esses jovens ricos e de classe média estão cada vez se organizando mais e já disputam até mesmo espaço com a esquerda no movimento estudantil. Por enquanto, manifestam-se prioritariamente na internet, mas nada garante que não venham a promover intensas mobilizações nas ruas. Ainda que consigam reunir pouca gente, nunca lhes faltarão espaços generosos na mídia para que seus protestos ganhem visibilidade.

Como se vê, todas as cartas estão na mesa, mas ainda estão viradas. Só serão reveladas a partir de janeiro. O número de curingas neste baralho é grande. Quem vai gritar truco primeiro? Só o futuro dirá.
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