domingo, 9 de setembro de 2012

Contraponto 9174 - "Bravo, Dilma"

.
09/09/2012

Bravo, Dilma
Do Jornal O Povo - 9/9/2012

André Huguette


"
A existência da escola particular é parte integral das dificuldades do ensino público"

O POVO publicou vários artigos contrários ao sistema de cotas em universidades públicas em nome da autonomia e da qualidade do ensino e da pesquisa universitária. Curiosa ou sintomaticamente nenhum dos autores discutiu o grande bem para a cidadania e a felicidade dos cidadãos que tal medida representará, já que contribuirá para maior igualdade social.

Quem viveu, mesmo que só por alguns dias, em uma sociedade mais igualitária sabe como é bom o ar que se respira. Como preferir um duvidoso bem para as universidades a uma sociedade mais igualitária? A presidenta (sic) Dilma entendeu isso, sancionou a lei e por isso merece aplausos.

Mesmo assim é preciso destacar que a lei em questão não é tão mudancista ou revolucionária quanto parece: entre 20% e 25% das vagas das universidades públicas (há uma grande variação de uma para outra) já são ocupadas por alunos que cursaram o ensino básico público. Sabe-se que a verdadeira clivagem se dá entre cursos da mesma universidade; poucos alunos da escola pública ascendem às faculdades ditas nobres, isto é, as mais concorridas por serem valorizadas pelo mercado, como Medicina, engenharias, Direito, Psicologia, Comunicação Social, etc. Essas sim provavelmente passarão a receber mais alunos da escola pública.

Também é necessário lembrar que os melhores alunos das escolas particulares continuarão a ocupar as primeiras vagas ofertadas. O que efetivamente mudará é que alunos medianos de escolas particulares cederão lugar aos melhores alunos da rede pública.

A mudança, portanto, não será tão grande, já que os melhores alunos da “pobre” e “desvalorizada” escola pública manifestam qualidades humanas (dedicação, perseverança, etc.) e intelectuais (curiosidade, inteligência, etc.) mais apuradas do que os alunos medianos das “ricas” e “afamadas” escolas particulares.

Raciocinemos: qual peso, em uma prova bem-sucedida (no Enem, por exemplo), deve ser atribuído às qualidades individuais do aluno e qual às vantagens sociais do meio ambiente do estudante? Questão crucial levantada pelo jornalista Elio Gaspari e que merece estudos rigorosos.

Outro argumento fortíssimo: a maioria das universidades públicas já possui um sistema de cotas e as avaliações são unânimes: os cotistas tiram notas iguais ou melhores do que os outros alunos. Resultado previsível e explicável. (Os grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)

Argumentar que a verdadeira solução está na melhoria das redes públicas de ensino é correto, mas o argumento oculta o fato que a existência da escola particular é parte integral das dificuldades do ensino público dele retirando os filhos das classes médias e altas cuja simples presença e a dos pais elevariam as exigências e pressionariam por qualidade.

Parte da solução da melhoria do ensino público seria a volta dos filhos dos abastados para a escola pública. Quem, entre as elites, está disposto a isso? No aguardo de uma escola única para todos, o sistema de cotas representa um passo promissor na direção de uma “boa sociedade”. Penso que as universidades públicas devem acolher com carinho a nova lei e apoiá-la mesmo ao preço de algumas adaptações, se necessárias forem, perguntando-se o que podem fazer para a sociedade e não o que a sociedade pode fazer por elas.

André Haguette. Sociólogo

haguette@superig.com.br
.
.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista