09/10/2012
Para Marcos Coimbra, PT foi o grande vencedor das eleições
Diretor do Instituto Vox Populi acredita que Serra se apoiará em bandeira moral, que a essa altura não soma eleitores, ao passo que Haddad ainda precisa se tornar mais conhecido
Da Rede Brasil Atual - Publicado em 08/10/2012, 16:33 Última atualização às 16:43
O analista acredita
que Serra se equivoca ao julgar que o critério moral é o primordial para
definir o voto (Foto: Foto: Celton Oliveira / espacodoconhecimento.org)
O analista acredita que Serra se equivoca ao julgar que o
critério moral é o primordial para definir o voto (Foto: Foto: Celton
Oliveira / espacodoconhecimento.org)
São Paulo – Em sua avaliação sobre o resultados das
urnas após as votações de 7 de outubro, o diretor do Instituo Vox
Populi, Marcos Coimbra, conclui que o partido que mais ampliou sua
territorialidade foi o PT, contrariando a expectativa geral, que dava
como certa a ascensão do PSB a estrela do cenário político nacional.
O analista disse também que o julgamento do mensalão a
poucos dias do primeiro turno não surtiu o efeito desejado contra o PT,
conforme estimado pelos adversários, e que, ao insistir no discurso da
moralidade como tese para alavancar sua campanha no segundo turno, o
tucano José Serra dificilmente conseguirá conquistar mais votos do que
já teve no domingo. No domingo, o PT cresceu 12% em relação a 2008, indo de 558 prefeituras para 624. O partido, além disso, é o que disputa o maior número de municípios em segundo turno: 22.
Ao fim da entrevista, Coimbra afirma ainda que
Fernando Haddad não deve contar exclusivamente com o prestígio de Lula e
Dilma Rousseff para o sucesso de sua corrida eleitoral. "Ele ainda é um
desconhecido da maioria da população e precisa aparecer mais", disse,
ao mesmo tempo que avaliou a ampla rejeição ao tucano como vantagem
inicial importante em favor do petista.
Em linhas gerais, imaginava-se o PSB como o grande vencedor em termos de capital político.
Você acha que já no primeiro turno se confirmou esse crescimento do
PSB?
Se formos ver o número
de prefeituras que o PSB ganhou, ele ficou numa posição
intermediária, com menos de 8% das prefeituras país afora. Ganhou
algumas fora do Nordeste, especialmente em Minas Gerais, mas não foi um
resultado de grande crescimento. Na eleição passada foi eleito em
300 e poucas prefeituras e agora está com 430. Num total de 5
mil, é pouco. Em termo de resultados em capitais a expansão foi
muito aquém do que se imaginava. Ainda há o segundo turno e pode
haver algum crescimento.
Uma boa notícia foi a
vitória em Recife. E a má notícia foi a não ida para o segundo
turno do prefeito do PSB de Curitiba. Não sei o que “vale mais”,
pois Recife já é o terreno do PSB, então ganhar lá não é uma
grande novidade. Novidade seria manter-se na frente de uma prefeitura
da região Sul, o que não aconteceu. A vitória do Marcio Lacerda
em Belo Horizonte realmente não foi surpresa. Se houve uma surpresa
foi ele ter tido uma votação muito aquém do que se imaginava que
poderia ter, considerando que ele estava no exercício, que ele tinha
uma boa avaliação e que ele era apoiado por Aécio Neves. Fora isso, o
PSB está disputando agora com o PT em algumas capitais, como
Fortaleza e Cuiabá, mas é cedo para dizer que é um grande
vencedor. É um partido que teve um bom desempenho, mas está longe
de ser a estrela em ascensão.
Até agora, o partido
que mais teve sucesso nesta eleição foi o PT. Foi o único que
cresceu dentre os cinco maiores, fez o número maior de vereadores,
foi o que ganhou em maior número de cidades grandes, ganhou em
capitais, vai ganhar em mais capitas no segundo turno. Se ganhar São
Paulo, será o grande resultado, mas, mesmo não ganhando, o PT é o
partido que mais se enraizou e mais mostrou capacidade de
crescimento no conjunto do país, ao contrário do que muita gente
imaginava.
Já é possível
encontrar os fatores para explicar este crescimento?
É um conjunto de
fatores, como a organização partidária, o partido tem apresentado
bons candidatos num número grande de cidades, são coisas que
explicam o resultado quando se olha 5 mil eleições diferentes,
não só a de uma cidade. No conjunto da obra, o PT foi
aparentemente o melhor sucedido.
O julgamento do
mensalão não surtiu nenhum efeito neste sentido ou ficou limitado?
Se isso que eu acabei
de falar é verdade, a resposta é não. Não faria sentido imaginar
esse desempenho se o fator julgamento fosse decisivo para o universo
eleitoral. Não estou dizendo que seja irrelevante, mas que foi
provavelmente menos relevante do que se imagina. Limitou o desempenho
de Fernando Haddad na cidade de São Paulo? Provavelmente. O
suficiente para tirá-lo do segundo turno? Não. A rejeição a ele
aumentou, mas ela continua a ser um terço da rejeição do Serra.
Tudo isso tem de ser levado em conta na hora de analisar o impacto do
julgamento do STF sobre o mensalão.
Nenhuma das pesquisas
havia previsto o Serra com intenções de voto acima dos 30% e o
Haddad com uma diferença tão tranquila em relação a Russomanno.
Por quê?
A base
para você comparar pesquisas e resultados da apuração não é a
mesma. Então se você “devolver” os números que o Serra obteve
para o conjunto do eleitorado da cidade, ele teve os vinte e pouco
por cento que as pesquisas estavam indicando. A base das pesquisas não
é aquela do voto válido no dia da eleição. Agora, que houve um
nicho de movimentos que as pesquisas identificaram nos índices de
desistência do Russomanno, houve. E acabou acontecendo o natural, os
dois principais partidos vão disputar o segundo turno.
Houve dentro do PT um
entendimento de que essa eleição demorou para esquentar. Isso pode
ter ajudado o Russomanno a se manter por mais tempo na dianteira?
É provável, mas isso
não foi uma peculiaridade dessa eleição. Em geral é isso que
acontece. Não nos esqueçamos que em 2008 até o final do primeiro
turno, parecia que Marta Suplicy e Geraldo Alckmin disputariam o segundo turno e
acabou dando Kassab. Não é a primeira vez que temos uma eleição
municipal que só se resolve nos últimos dias.
Entre Serra e Haddad, podemos apontar o favorito no momento?
Eles terminaram esse
primeiro turno empatados – a diferença de 1 ponto percentual entre
ambos pode ser considerada irrelevante –, e vão para o segundo
turno, cada um com seu capital de largada, seus pontos de partidas. E
com perspectivas diferentes de ganhar eleitores que não votaram em
ninguém ou que votaram em outros candidatos.
O Serra tem contra ele
uma rejeição enorme e acaba de ter o pior desempenho da carreira
política dele na cidade. Quer dizer que ele vai perder? Não. Mas ele
começa o segundo turno na pior posição, de todas as outras
eleições que já disputou, pelo tamanho da rejeição que tem.
A essa altura, sendo um
político tão conhecido, há alguma coisa que ele possa fazer para
reverter essa rejeição?
A única coisa que ele
pode fazer é isso que ele começou a fazer ontem, que foi deixar claro como será a campanha dele. Será insistir na
ideia de que ele é um sujeito ético e moral e que o PT é um
partido corrupto como está sendo mostrado no julgamento do mensalão.
Este é o único argumento que ele tem. Se vai funcionar, não sei.
A essa altura ele não
tem mais argumentos. Ele vai falar disso todo santo dia até a
eleição. E vai contar com o endosso de alguns órgãos de imprensa,
que definitivamente não gostam do PT e que darão a ele argumentos
para investir neste único argumento.
Numa cidade que se
divide entre uma parte do eleitorado mais próximo ao PT e outra
parte mais alinhada com candidatos mais conservadores, esse discurso
também não acaba sendo limitado?
Sim. Esse discurso leva
em consideração que o que Serra chama de valores morais é o
critério primordial para definir a opção do eleitor. E leva em
conta também que a imensa da maioria das pessoas não tem uma
opinião tão elevada sobre a moralidade do “outro lado”.
Esse argumento vai
apenas dizer as mesmas coisas para pessoas que já têm esse
pensamento. Sinceramente, não acredito que isso faça com que as
pessoas ignorem toda a possibilidade de questionamento sobre a sua
biografia. Nós estamos sentindo o eleitor dizendo que há um lado
“limpo” e um outro lado “sujo”.
Ainda há possibilidade
de transferência de popularidade de Lula e Dilma para o Haddad para
ir ao segundo turno ou esse fator já está esgotado a essa altura?
Acho que já está sim.
Não me parece que isso possa adicionar mais votos ao candidato hoje.
Não creio que seja um diferencial a ser decisivo no segundo turno. Esse entendimento é geral.
E o que Haddad ainda pode
apresentar para conquistar a preferência do eleitorado?
Ele ainda continua
pouco conhecido por um percentual importante da população. Ele deve
continuar seu esforço para apresentar suas propostas, porque ele tem
um potencial de crescimento em relação ao Serra muito maior,
obviamente...
.
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