O Globo está cada vez mais extremado em matéria de
pensamento único. Continua inconformado com a decisão da Suprema Corte
de Justiça da Venezuela confirmando que o Presidente Hugo Chávez não
precisava tomar posse necessariamente no último dia 10. Mas é
impressionante, o jornal da família Marinho a cada dia se supera em
matéria de jornalismo ideologizado.
Para se ter uma ideia a que ponto chegaram os
editores, na quinta-feira (10), página 28, apareceu uma foto de uma
mulher cozinhando e a legenda dizia o seguinte: “Desabastecimento. Uma
mulher cozinha sob a vigilância de um poster de Chávez - população já
enfrenta problemas de escassez de produtos alimentícios na Venezuela”.
Seria uma legenda digna de humor ao estilo de O
Pasquim se o texto não fosse criado de forma realmente séria. O sério
virou ridículo
O Globo, claro, como impresso, tem o direito de fazer
o que quiser, até mesmo em matéria de jornalismo de baixa qualidade,
como tem demonstrado em suas edições diárias. Mas o que não pode ser
aceito é transferir a manipulação da informação para os canais de
televisão controlados pela família Marinho. E colocar, por exemplo,
Arnaldo Jabor dando o recado do Instituto Millenium, para criticar de
forma ignorante o Presidente Hugo Chávez, com o claro objetivo de
demonnizá-lo.
Televisão é uma concessão pública e não pode ser
utilizada pelos proprietários para o esquema de lavagem cerebral, como
acontece também diariamente nos informativos das emissoras da família
Marinho.
O desespero das Organizações Globo em relação ao que
acontece na Venezuela chega as raias do absurdo. Convocam os colunistas
de sempre, que seguem a pauta do Departamento de Estado e do Instituto
Millenium. Qualquer crítica ao que acontece em matéria de manipulação da
informação é geralmente respondida, quando respondida, como restritiva à
liberdade de imprensa e de expressão.
As Organizações Globo convocaram também figuras do
espectro ideológico do grupo, como Ives Gandra e Ophir Cavalcanti,
presidente da OAB, para criticar a decisão da Justiça da Venezuela.
E o governo de Dilma Rousseff também não foi poupado
por sua posição admitindo que a Venezuela adotou uma solução democrática
na questão da posse de Chávez.
Como se todo esse exemplo de jornalismo absolutamente
parcial não bastasse, as Organizações Globo até anteciparam a morte do
Presidente Hugo Chávez. Torcem visivelmente para que isso aconteça. E aí
se perdem também, pois se Chávez incomoda vivo, morto vai ser incomodar
ainda mais a direita carcomida.
Mas detrás de tudo isso se esconde o fato de as
Organizações Globo, o Departamento de Estado, os colunistas de sempre,
regiamente pagos, e as oligarquias latino-americanas temerem um fato
real, qual seja, o caráter irreversível da Revolução Bolivariana. Eis aí
a causa principal do comportamento aético das Organizações Globo, ou
seja, o temor que mesmo se Chávez não puder completar o novo mandato
designado pelo povo, a Revolução Bolivariana continuará. Não tem mais
volta.
A direita venezuelana, que continua jogando todas as
suas cartas em Enrique Capriles, perde eleição e quer aproveitar a atual
situação para ver se consegue reverter o fato histórico do novo tempo
que representou a ascensão de Hugo Chávez.
E, como prova ainda da maior parcialidade das
Organizações Globo, em um dos editoriais desesperadores, o jornal tenta
comparar os acontecimentos atuais na Venezuela com um episódio ocorrido
na vigência da ditadura no Brasil, quando o vice Pedro Aleixo foi
impedido pelos militares de assumir no lugar do general de plantão Costa
e Silva. O Globo conta com a falta de memória de parte dos seus
leitores e omite o fato de que sempre apoiou a ditadura e, como diria
Leonel Brizola, ”engordou na estufa da ditadura”.
Em relação ao que acontece em matéria de manipulação
de informação nas emissoras de televisão e rádio das Organizações Globo,
mais do que nunca é preciso que o Brasil retome a discussão sobre o
controle social da mídia, para que a democracia avance neste país,
porque, sem isso, não se pode afirmar que no Brasil a democracia é cem
por cento.
Esse debate não pode ser jogado para debaixo do
tapete, como querem as poucas famílias que controlam as emissoras de
televisão do país.
Nesse sentido, espera-se que a Presidenta Dilma
Rousseff siga o exemplo de Cristina Kirchner e aceite enfrentar a
questão. Primeiro, a continuidade do debate amplo pela sociedade
brasileira, por sinal já iniciado. Depois, um posicionamento do
Congresso e, finalmente, vontade política do Executivo para não evitar
que haja avanço no setor.
Resta saber o que pensa sobre o tema o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Mário Augusto Jakobskind. É
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador
do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da
Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de
Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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