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07/01/2014 

 

Até agora, nem Aécio nem Campos conseguiram representar o novo

 


O embate de propostas alternativas é essencial para a normalização democrática e para uma campanha menos virulenta que o esgoto de 2010.

Nesse sentido, publiquei um post sintetizando um ensaio de programa de Fernando Henrique Cardoso, em seu artigo dominical.

Enalteci a convergência de diagnósticos com o do governo Dilma Rousseff. É sinal de maturidade para o país.

Mas também  é o sinal mais eloquente da absoluta falta de propostas de FHC. Como lembrou o leitor RVeiga, mais se assemelha a um CTRL-C CTRL-V: "Sem firmar posição própria, só com críticas gerentistas, aquelas restritas ao como fazer não ao que deve ser feito, por que raios deveria o eleitorado optar pelo discurso tucano se ele difere pouco do discurso petista ora no poder?".

Não é o único drama nem do PSDB nem do PSB.

Também Eduardo Campos centra sua crítica nas questões gerenciais. E ambos os candidatos – ele e Aécio Neves – enfrentam problemas sérios com a visão preponderantemente economicista de seus formuladores – Campos por conta da aliança com Marina Silva.

W K anotou bem a discrepância do discurso de FHC com os economistas do partido:
a) "Tivemos Ilan Goldfajn defendendo o desemprego",
b) "Samuel Pessôa pedindo a revisão da política de aumentos do salário mínimo",
c) "Edmar Bacha pregando redução drástica dos impostos de importação e eliminação de direitos trabalhistas."

As demais "vozes" do partido são o deputado Carlos Sampaio (que entrou com uma denúncia no TSE porque Dilma Rousseff estava usando vermelho em um pronunciamento), Sérgio Guerra e Roberto Freire. Fica difícil assim.

A dificuldade com a visão sistêmica

 

Assim como em uma empresa, a análise econômica vem depois do plano estratégico. Primeiro, os verdadeiros CEOs (e estadistas) definem os planos estratégicos, objetivos, metas etc., no caso dos países, o desenho do país que se pretende. O financeiro limita-se a fazer as contas para mostrar a viabilidade ou não das propostas.

A visão economicista foi preponderante enquanto o pais padecia com a hiperinflação. O economicismo puro perdeu legitimidade devido ao seu fracasso em promover crescimento, devido ao impacto das políticas sociais - não só de público mas de crítica, ao construir um mercado de consumo robusto - e devido ao sucesso do ativismo econômico para superar a crise de 2008.

Até hoje esse economicismo não incluiu a análise das externalidades nas políticas públicas: tudo se limita à análise imediatista de impactos fiscais.

O aumento do salário mínimo na Previdência permitiu que 55% dos aposentados e pensionistas se tornassem arrimo de família. Significou mais amparo aos filhos e netos, mais oportunidade de estudo, menos gastos com saúde e segurança.

As políticas sociais ampliaram o mercado de consumo de forma muito mais concreta e objetiva do que aquele papo de superávit primário de 3% para pagar os juros mais escorchantes do planeta, prometendo o pote de ouro do crescimento no final do arco-íris.

Agora o pêndulo inclinou-se muito para o lado distributivista e necessita de ajustes. Mas ajustes não significam mudança radical de rumo.

FHC tenta amenizar o discurso dos seus cabeções, ao enfatizar a manutenção dos gastos sociais. Mas o que diz não chega a meia proposta do que já existe.

O papel de Aécio e Campos

E aí se entra no papel de Aécio Neves e Eduardo Campos.

A partir do momento em que se consolidou não apenas como presidente do partido, mas como seu candidato a presidência da República, toda a responsabilidade pelas ideias e pela falta delas passa a ser de Aécio Neves. A falta de propostas do partido não será mais responsabilidade de FHC, mas de quem de fato assumiu o comando.

O único conforto trazido pelas pesquisas eleitorais, tanto para Aécio quanto para Campos, é que, embora Dilma continue franca favorita, há uma tendência maciça do eleitorado em querer mudanças.
Mas quem está perseguindo as mudanças?

Embora situação, o PT armou o Instituto Perseu Abramo com os melhores cérebros do partido, dirigidos pelo seu mais imaginoso quadro, Márcio Pochmann.

Já o PSDB usou o Instituto Teotônio Vilella para uma barganha interna, entregando-o ao ex-presidente do partido Sérgio Guerra. O ITV deveria abrigar um time de estudiosos chefiados por Luiz Paulo Vellozo Lucas, José Roberto Afonso, José Roberto Mendonça de Barros, Marcelo Garcia e Armínio Fraga, e de novos quadros intelectuais.

O PSB tinha o discurso desenvolvimentista-nacionalista de Roberto Amaral, no Instituto João Mangabeira. Podia-se criticar ou não. Mas com o casamento com Marina Silva entraram o discurso anti-desenvolvimento de André Lara Rezende, a filosofia liberal de Eduardo Gianetti da Fonseca e a personalidade ambígua da própria Marina, com seu ambientalismo anti-empresarial convivendo com o apoio de grandes grupos empresariais. O resultado final foi a ausência de discurso. Fora essa dificuldade extrema de pretender representar o novo, necessitar de acordos políticos velhos para se viabilizar e enfrentar nào apenas a cabeça-dura de Marina como da grande Luiza Erundina.

Pelo que se tem até agora, se for menos teimosa, Dilma Rousseff será um caso inédito da situação representando o novo.
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