03/08/2016
Otimismo no governo Temer tem dias contados
qua, 03/08/2016 - 17:23 Atualizado em 03/08/2016 - 18:42
Em entrevista no Sala de Visitas com Luis Nassif, analista de mercado prevê aumento da recessão em 2017
Jornal GGN – A política não é para distraídos,
menos ainda a economia. O que explica, por exemplo, a resposta do
mercado aos últimos acontecimentos do cenário político brasileiro? O
mercado ignorou solenemente os esforços para um ajuste fiscal proposto
pela equipe de Nelson Barbosa e da presidente afastada Dilma Rousseff e
não reagiu.
Agora, mais recentemente, o mesmo mercado manteve um fluxo
positivo, mesmo após o governo interino de Michel Temer anunciar a
previsão de um déficit orçamentário de R$ 170,5 bilhões, um aumento,
diga-se de passagem, R$ 66,7 bilhões superior ao déficit que Dilma havia
proposto para o Congresso.
Em entrevista para Luis Nassif, no Sala de Visitas, o
economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, destaca que
apesar de aparentemente ilógica, essas manifestações do mercado
encontram explicações que não se limitam apenas aos números, indicando a
necessidade de evitar a excessiva “matematização” dos processos
econômicos.
Segundo Perfeito, o “otimismo excessivo” do mercado com o governo
interino é muito mais decorrente da atual condição de liquidez do
mercado mundial, que gera um efeito maior de riqueza, do que das
primeiras ações da equipe de Temer e, ainda, que o mercado brasileiro
não vai resistir ao resultado fiscal previsto para os próximos dois
anos.
“Agora a inflação está caindo em comparação aos últimos 12 meses,
mas se não começar a apresentar um resultado fiscal positivo, ou menos a
inflação for bem mais ancorada, vai ocorrer a volta da inflação”,
avaliou o economista .
André lembra também que, no período recente, ocorreu a melhora do
nível de confiança de empresários e consumidores, mas essas variáveis
não irão se sustentar por muito tempo.
“A ociosidade da indústria, medida pela CNI [Confederação Nacional
das Indústrias], está em 77%, ou seja, 23% das máquinas estão paradas. O
empresário pode estar otimista, mas ele só vai colocar um prego [em
outras palavras investir favorecendo na criação de emprego] quando [a
ociosidade] estiver em 90%”. Isto é, um nível de ociosidade que
dificilmente será alcançado pela economia brasileira nos próximos dois
anos.
“O otimismo do consumidor está subindo, é verdade, só que o
desemprego nunca esteve tão alto e a massa salarial parou de subir”,
acrescenta Perfeito. Os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) mostram que a taxa de desemprego ficou em 11,3% no
trimestre encerrado em julho, maior nível registrado desde 2012.
O cenário, portanto, aponta para a redução do consumo, queda nas
vendas, maior ociosidade na produção industrial e, fechado ciclo,
desemprego. Outro problema apontado por Perfeito é o que o mercado
espera do governo. “O mercado está exigindo algo que o governo não irá
conseguir entregar”, se referindo a uma série de medidas, nada
populares, para tornar a situação fiscal do país mais saudável, dentre
elas a reforma da previdência.
O analista aposta que o governo vai se esforçar para aplicar as
medidas mais impopulares, mas isso a partir de 2017, passando os jogos
Olímpicos e as eleições de outubro.
Ainda assim nem tudo o que o mercado espera o Estado brasileiro
conseguirá entregar e se conseguir mexer em pontos sensíveis, como a
previdência ou legislação trabalhista, apenas a custo de muito embate
político.
Déficit fiscal
Perfeito fez uma crítica à fixação dos economistas brasileiros de
ressuscitar o país a partir de reformas fiscais. “A Rússia tem um
déficit brutal, a média dos emergentes também, está aí o Chile que é um
exemplo pro mundo com um déficit forte. Então se criou um estado de
quase pânico na sociedade brasileira [sobre esse tema]”, destacando em
seguida que a recessão enfrentada no Brasil não pode ser creditada
somente às últimas decisões econômicas do governo Dilma.
“A crise econômica que a gente se meteu agora (...) é muito mais
por conta do sucesso do Plano Real que jogou a sociedade para alguns
desequilíbrios que a gente não estava acostumada. Isso gerou desconforto
em vários seguimentos”.
Com a estabilidade da economia a partir do Plano Real o país se viu
em condições de sustentar projetos para o crescimento de diversas áreas
da economia, o que de fato ocorreu desde então. Mas salto produtivo e
social ficou aquém do que poderia ter sido, na visão de Perfeito, porque
a tradicional classe média brasileira teve medo de arriscar no crédito
privado, preferindo ganhar na especulação da taxa de juros do país ou na
compra de títulos públicos.
Acompanhe a entrevista na íntegra, no programa Na Sala de Visitas com Luis Nassif.
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