06/09/2016
É o Congresso mais corrupto da História
Saturnino vive o momento mais triste de sua vida
Conversa Afiada - publicado
04/09/2016
O Conversa Afiada reproduz artigo de Saturnino Braga, um dos homens públicos mais honestos do Brasil: moral e intelectualmente!
O GOLPE CONSUMADO
R. Saturnino Braga
Dilma Rousseff portou-se com
dignidade perante o Senado. Falou das suas razões, das evidências, da
importância da Democracia, das regras do regime presidencialista, que
são as da Constituição Brasileira; falou do combate à corrupção, que ela
propiciou plenamente, da crise econômica e dos interesses do povo
brasileiro e da sua Nação; mostrou que não cometeu nenhum crime de
responsabilidade. Respeitosamente respondeu, por mais de dez horas, a
todas as indagações dos senadores. Honestamente. Dilma Roussef foi
honesta; ela é uma pessoa honesta. Tenho muitos anos de vida política e
conheci muitos políticos; muito poucos com a honestidade de Dilma
Rousseff. Mas foi condenada, foi deposta; pelo Congresso mais corrupto
de toda a história do Brasil. Pouco importaram a honestidade, a ausência
de crime, as razões e evidências, as regras constitucionais, o regime
democrático e os interesses nacionais. Falaram mais alto os grandes
interesses do capital mundial, aliados aos mesquinhos interesses dos
derrotados na última eleição, e o Brasil foi implacavelmente golpeado.
Na política, como na guerra,
prevalecem as razões do vencedor. E o mercado vai agradecer; os
investidores que venceram vão procurar normalizar a situação econômica
que eles puseram em crise para criar o clima de impeachment. A mídia
controlada pelo grande capital vai dar boas notícias e a confiança dos
empresários vai melhorar. Não tanto a dos brasileiros, a confiança da
Nação Brasileira, que sabe que os vencedores de hoje não vêem o Brasil
como uma nação soberana, mas como um subestado unido à América do Norte,
com residência em Miami.
Para mim, pessoalmente, é o
momento mais deprimente de toda a minha vida política; é a negação das
razões de luta de toda esta lide de cinqüenta anos: os ideais de
democracia, de justiça e de nação soberana. Especialmente demolidora é a
negação do caminho democrático para a Nação Brasileira, aquela crença
que nos levou a criar o MDB e repudiar a luta armada dos
revolucionários. Sim, tudo por água abaixo, a distribuição de renda
revogada, os gastos sociais estancados, a Petrobras amputada, o pré-sal
internacionalizado, o Mercosul destruído, a Unasul diminuída, o Brasil
nos BRICS deslocado, o submarino atômico congelado, o enriquecimento de
urânio parado, o Almirante Othon Pinheiro na cadeia, o Brasil enquadrado
na sua dimensão menor, tal como foi com Getúlio e Jango, até a próxima
tentativa, que não verei mais.
Os rituais foram cumpridos,
para disfarçar bem o golpe. Mais respeitados no Brasil, com mais
aparato, os rituais do disfarce, do que no caso do golpe do Paraguai.
Mas a democracia, mais uma vez, foi gravemente ferida, para não machucar
os interesses do grande capital.
Francamente, não sei como
suportar mais este golpe. Alguns pontos de emoção grata que suavizam: a
presença de Chico Buarque ao lado de Lula na sessão do Senado; o recuo
de arrependimento dos golpistas na hora de cassar os direitos políticos
de Dilma; palavras de estímulo de leitores e amigos que vou recebendo; a
carta do Papa Francisco para a Presidenta Dilma, um reconhecimento à
sua dignidade.
Contudo, a depressão. A
impotência ante a força maior. A vontade de adesão ao movimento “Our
Revolution”, do Senador Bernie Sanders, como último caminho. Como se não
houvesse um caminho brasileiro para o Brasil.
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