18/10/2017
Os primeiros ensaios para as eleições de 2018, por Luis Nassif
Jornal GGN - 18/10/2017QUA, 18/10/2017 - 11:08ATUALIZADO EM 18/10/2017 - 11:31
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Luis Nassif
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Hoje em dia, as candidaturas postas estão quase todas sob o fogo de uma polarização intensa.
Aproximando-se as eleições, é possível uma convergência para o chamado centro democrático.
Têm-se, portanto, três campos de polarização:
Campo 1 - O conservadorismo, sendo disputado por Geraldo Alckmin, Bolsonaro e João Dória Jr
Campo 2 - A esquerda, não se descartando candidatos do PSOL.
Campo 3 - O candidato do centro democrático.
As seis candidaturas até agora aventadas – Lula, Ciro Gomes, Fernando Haddad, João Dória Jr, Bolsonaro e Geraldo Alckmin – podem ser divididas de acordo com duas categorias.
Primeira categoria – polarização x consenso.
No grupo da polarização aqueles candidatos cujas campanhas despertariam inevitavelmente o ódio de classe. São os candidatos que disputarão o Campo 1 e 2.
No grupo do centro, os que tentam se sobrepor ao Fla x Flu, definindo novas formas de discurso e prática: modernos x atraso, gestores x velha política, visando ocupar o Campo 3.
No grupo da polarização, por razões diversas entram Lula, Dória e Bolsonaro.
No governo, a grande virtude de Lula foi a da conciliação, juntando todos os setores debaixo do seu guarda-chuva. Ao mesmo tempo, foi sua grande fraqueza, pois impediu de atacar pontos estruturais de estrangulamento, como as políticas de câmbio e juros, a mídia e o poder das corporações públicas e do Judiciário, mesmo após a campanha do “mensalão”. Essa falta de atuação enfraqueceu o Executivo, deixando-o à mercê do PMDB.
Foi uma construção sem alicerces sólidos, que dependia fundamentalmente da bonança econômica e da capacidade política do presidente. Quando sumiram do horizonte as duas condições, o edifício veio abaixo.
Enquanto vigoraram, permitiram a Lula apresentar, pela primeira vez na história, o desenho de um país moderno, com políticas públicas relevantes, inclusão social e política.
Saindo candidato, mata a possibilidade da candidatura de centro. Juntará o Campo 2 e o Campo 3.
Já o Campo 1 – do conservadorismo – será disputado por Bolsonaro, Dória e Alckmin.
Dos três, Geraldo Alckmin representa o padrão de conservador apreciado pela classe média: duríssimo na pessoa jurídica (vide sua PM), educado e cordato na física.
Lançando-se candidato, a possibilidade maior é que engula Bolsonaro e Dória – se este não morrer politicamente pelo caminho.
No Campo 3, há as figuras de Ciro Gomes e Fernando Haddad, um ligado aos temas.econômicos, outro às políticas públicas com viés social, ambos representando o primado da racionalidade contra a velha política, mas ambos distantes da militância de esquerda e dos movimentos sociais – Ciro entrando em conflito, Haddad admitindo a contragosto.
Ciro faz a crítica do modelo por dentro.
Tenta retomar a antiga aliança entre a centro-esquerda e setores da economia real. É dele a crítica mais certeira contra o lulismo e contra os vícios do atual modelo cambial, monetário e fiscal, e o modelo do presidencialismo de coalizão. Seria um radical de centro, se me perdoem o paradoxo, um candidato de guerra, sim, mas despido dos aspectos de luta de classe que apavora a classe média e os pequenos empresários.
Haddad representa a gestão com cunho social. Foi o grande formulador das melhores políticas públicas do governo Lula, provavelmente o melhor gestor público do pós-democratização. Na Prefeitura, fez uma gestão baseada nas melhores práticas internacionais, nos estudos acadêmicos aprofundados, esmerando-se por mudar estruturalmente o futuro.
Seria, em tudo, o representante de uma elite supostamente modernizante que existe em São Paulo. Foi derrotado pelo antipetismo e por uma campanha negativa incessante da mídia paulista, superficial a irresponsável.
Segunda categoria – a imagem pública
Nesses tempos de redes sociais, a imagem pública é tão ou mais importante que a explicitação de propostas.
Nos grandes momentos de virada das ideias – como ocorreu nos Estados Unidos de Franklin Delano Roosevelt ou, no seu oposto, o país de Ronald Reagan – levou quem se antecipou aos movimentos de aggionarmento, não tendo receio de encarar a baixa receptividade inicial de suas propostas. Vão se formando ventos, que se avolumam até virar furacão. E aí, o Estadista estará pronto para cavalgar os ventos.
Obviamente há muito mais casos de políticos que cavalgaram as melhores propostas, que anteciparam as novas ideias e perderam o bonde.
Dos candidatos, Lula não conta: é ponto de referência, o astro-sol político em torno do qual se organizam todas as forças, a favor e contra, o amor e o ódio em estado puro.
Dória é o camaleão com dentes de jacaré. Conseguiu em pouquíssimo tempo, com vento totalmente a favor, com a mídia e os partidos conservadores procurando seu campeão branco, queimar na largada.
Abandonou a cidade, traiu seu criador, condenou Aécio e depois apoiou Aécio, ofendeu adversários políticos com palavras de baixo calão, e passou uma imagem de ambição desmedida, sem nenhuma visão estratégica. Um presidenciável que anda a reboque do MBL é demais!
Já Bolsonaro é coerência em estado bruto, um rinoceronte predador desde os tempos de Exército. Pela incoerência é que não se perderá.
Alckmin é o conservador civilizado. Fala pouco, pensa pouco, é discreto – e conservador ao extremo - o que o aproxima bastante do cidadão médio, incomodado com a selvageria de Bolsonaro. Mantém a imagem de médico de família, conseguindo encobrir até a do governador frio até o limite da crueldade, cujo exemplo mais ostensivo é sua Polícia Militar.
Já Ciro e Haddad, cada qual com seu estilo, são exemplos de coerência, Ciro rompante, Haddad sóbrio, mas ambos com solidez nos argumentos e na coerência.
Sem nenhuma adjetivação, não se vislumbra nas entrevistas ou artigos de Haddad, nenhuma concessão ao conservadorismo ou deslealdade a Lula.
Contra Ciro, conspira seu temperamento, ao mesmo tempo seu bem e seu mal. Contra Haddad, a falta de envolvimento político maior. De um influente ideólogo do PT, ouvi logo após as eleições: “ O povo percebe quem não gosta dele. E Haddad não gosta de povo”. Referia-se à falta de vontade de Haddad de emular o político tradicional, não às suas políticas efetivas.
Haverá tempo até o primeiro semestre do ano para que se defina o jogo, com Lula ou sem Lula.
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