quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Nº 20.046 - "Temer agora corre com pré-sal e anistia aos processados com contas no exterior"

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 28/09/2016

 

Temer agora corre com pré-sal e anistia aos processados com contas no exterior

 



Jornal GGN - Apesar de alardeadas desde que Michel Temer tomou a cadeira conquistada por Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014, a reforma da Previdência e a aprovação da emenda constitucional que limita os gastos públicos com saúde e educação, entre outros setores, não serão aprovadas antes de o governo mexer no pré-sal e anistiar as contas no exterior de quem enfrenta problema na Justiça por evasão de divisas e outros crimes.

Segundo informações da Folha desta quarta (28), a PEC do teto dos gastos, assim como a reforma da previdência, devem ser aprovadas somente após as eleições. Na semana que vem, a Câmara deve correr para entregar o fim da obrigatoriedade da Petrobras participar da exploração do pré-sal e as mudanças na Lei de Repatriação.

A ideia, neste último caso, é ceder ao pleito de empresários que já foram condenados por delitos fiscais mas que querem regularizar recursos que não foram alcançados pela Justiça. Por exemplo: quem só teve problemas com um apartamento não declarado pode, agora, acertar as contas com fundos no exterior que também passaram longe das autoridades.

O jornal ainda informou que o governo deve ceder à pressão para apenar tributar os recursos encontrados nas contas no dia 31 de dezembro de 2014, e não o fluxo que passou por lá ao longo dos anos. Se a conta estava zerada naquele dia, então será aceita a análise sobre anos anteriores, desde que não volte antes de 2011.

Agora, os empresários querem que o governo também altere o projeto, antes de ser aprovado na Câmara e remetido ao Senado, para ampliar o tempo de negociação. Por ora, eles teria até o final de outubro para juntar todos os documentos. Mas já estamos no final de setembro e a lei sequer foi aprovada, dizem.

Os deputados governistas que cuidam da PEC do teto dos gastos também estão ouvindo empresários do mercado financeira para redigir o texto final, diz o jornal.

Já a mudança no pré-sal para abrir caminho para empresas estrangeiras tomarem conta dos investimentos deve passar na Câmara do jeito que foi aprovada no Senado e ser sancionada por Temer na próxima semana. O projeto original é de José Serra (PSDB).

O governo Temer confia que pré-sal e anistia são temas mais fáceis de serem aprovados, pois não guardam tantas controvérsias como a PEC do teto dos gastos e a reforma da Previdência (que deve ser enviada à Câmara em duas semanas), que sofrem resistência da oposição.

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Nº 20.045 - "País tem direito de saber quem é Santo, quem é Careca"

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28/09/2016

 

País tem direito de saber quem é Santo, quem é Careca

 

Brasil 247 -  28/09/2016

 

 
 
Paulo Moreira Leite
 
 
Embora já tenha chegado a sua 35a. fase, a operação Lava Jato não conseguiu livrar-se da acusação de trabalhar de modo seletivo, reproduzindo  um traço historicamente nefasto da Justiça brasileira, onde o Estado "é usado como propriedade do grupo social que o controla", nas palavras da professora Maria Sylvia de Carvalho Franco, no estudo Homens Livres na Ordem Escravocrata
 
 
Neste universo, que descreve o Brasil anterior a abolição da escravatura, onde o grilhão, a chibata e o pelourinho eram instrumentos banais de manutenção da ordem para os habitantes da senzala, o "aparelho governamental nada mais é do que parte do sistema de poder desse grupo, um elemento para o qual se volta e utiliza sempre que as circunstâncias o indiquem como o meio mais adequado."
      

Dias antes de Guido Mantega ter sido forçado a deixar o centro cirúrgico do Alberto Einstein, onde sua mulher era operada de um câncer, para cumprir um mandato de prisão, descobriu-se um fato ao mesmo tempo chocante e instrutivo.

A Justiça Federal foi incapaz de descobrir o endereço residencial de Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso,  para lhe entregar uma notificação relativa a AP 470, o Mensalão (Rubens Valente, Folha de S. Paulo, 15/9/2016). Não se trata de um caso com muitas dúvidas. Em 2005 a Polícia Federal encontrou quatro cheques do esquema de Marcos Valério, no valor de R$ 75.000 cada um, na conta do ex-ministro. Pimenta alegou que eram pagamentos por honorários que exerceu num serviço como advogado. Não mostrou documentos nem apresentou casos concretos em que atuou. O próprio Valério alegou, na CPI dos Correios, que havia ajudado Pimenta a pagar a conta do tratamento de saúde de um filho. Não convenceu. Mesmo assim, o caso já dura dez anos, o que configura outra ironia de longo curso.   
    
Quando resolveu procurar Henrique Pizzolato, o dirigente do PT condenado a 12 anos e sete meses no STF, o Ministério Público fez investigações no Paraguai, Argentina e Espanha, até que chegou ao interior da Itália para localizá-lo na casa de um sobrinho. Enfrentou uma disputa na Justiça daquele país para garantir que Pizzolato fosse trazido para cumprir pena no Brasil, embora tivesse passaporte italiano. A principal denúncia contra o antigo diretor do Banco do Brasil envolve um pagamento de R$ 326.000, quantia 10% superior aos R$ 300.000 de Pimenta. O detalhe é que Pizzolato sempre alegou que o dinheiro não era para si, mas para o PT no Rio de Janeiro. Verdade ou não, os R$ 326.000 nunca surgiram em sua conta nem foram confirmados pela quebra de seu sigilo bancário ou fiscal.  

Ao contrário do que ocorreu com o dinheiro entregue a Pizzolato, os recursos destinados a Pimenta foram pagos em quatro prestações e descobertos pelo delegado Luiz Fernando Zampronha, da Polícia Federal, e mais tarde arquivados no inquérito 2474 -- aquele que o Supremo não examinou quando julgava a AP 470.    

Mesmo considerando antecedentes tão notáveis sobre o caráter seletivo das investigações que envolvem políticos brasileiros, a representação da Polícia Federal que pediu a prisão de Antonio Pallocci, Branislav Kontic e Juscelino Dourado causa um choque inegável. Isso porque a leitura das primeiras 30 páginas sobre o esquema de pagamentos clandestinos do chamado Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, um departamento destinado a sustentar esquemas políticos, nada informa sobre o ministro ou o Partido dos Trabalhadores mas é muito revelador sobre o conhecimento da PF sobre o esquema de corrupção do PSDB paulista.

     Na página 13, por exemplo, descreve-se a partilha de uma propina de 0.9% sobre um investimento de US$ 20,6 bilhões. Na página 17, uma troca de email entre executivos da Odebrecht deixa claro que estamos falando da linha 2 do Metrô, um investimento que seria particularmente rico em denúncias de superfaturamento e gastos suspeitos. Na página 18, surgem pseudônimos de quem irá receber o dinheiro.

Em outra passagem, aparecem  iniciais que poderiam  identificar empresas envolvidas. Nas páginas seguintes, surgem várias planilhas, com detalhamento de datas, prazos e acordos. Na página 36, informa-se que o DGI, sigla usada para designar propina, pode subir de 5% para 8% em determinada obra. Também se descobre que, além da linha 2, a linha 4 do metrô entrou na dança. Foi ali, na estação Pinheiros, que em 2007 ocorreu um acidente trágico, que provocou a morte de sete pessoas, engolidas por uma cratera. Quando se refere ao consórcio encarregado da obra da linha 4, um executivo da Odebrecht usa a palavra "vencedor" assim mesmo, entre aspas, o que chama a atenção durante a leitura, pelo reforço da ironia. Também se registra na mesma passagem o pagamento de duas parcelas de R$ 250.000 destinadas  a uma autoridade identificada como "Santo".

A verdade é que, além de dois vereadores do PSDB paulistano citados nominalmente, ao lado de quantias relativamente modestas num  contexto de pagamentos milionários -- R$ 6.000 e R$ 3.000 -- não há menção explícita a nenhuma autoridade de escalão mais alto. São elas que recebem pagamentos de R$ 200.000 ou R$ 250.000 por mês -- por vários meses. Embora José Serra e Geraldo Alckmin sejam mencionados como suspeitos óbvios por pessoas que conhecem os bastidores do caso, a verdadeira pergunta consiste em saber por que não se buscou apurar sua identidade real -- fosse qual fosse. Boatos não resolve. Suspeita que não é apurada também não. Não há motivo para segredinhos. Os fatos estão descritos em documentos públicos. 

O tempo passa e quem se beneficia é o acusado, seja quem for. Como acontece com tantos colegas de Pimenta da Veiga no mensalão PSDB-MG, as acusações acabam prescrevendo.
   
Durante um bom período, um personagem conhecido como "Italiano, visto como o protagonista das investigações que envolvem Antonio Palocci, foi identificado com outro ministro, Guido Mantega. Após um trabalho de checagem, procurando compatibilizar nome de assessores e eventos descritos em diversas trocas de mensagem, a Polícia Federal concluiu que Palocci era o "Italiano." Foi com base nessa visão que fez a representação e, numa cena indispensável para alimentar o já previsível de carnaval televisivo, conduziu o ministro para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

O problema é que entre as palavras civismo, virtude que tem sido frequentemente associada a Lava Jato, e cinismo, palavra comum no vocabulário de seus críticos, a única diferença consiste numa letra.

Se não há motivo para suspeitas prematuras nem acusações irresponsáveis, não há razão jurídica aceitável para se manter na penumbra a identidade de personagens conhecidos como "Santo" e "Careca" nos emails da Odebrecht. Elas devem ser conhecidas e investigadas, com o mesmo rigor dispensado a Antonio Palocci -- a menos que, aceitando a troca do "v" pelo "n", aceite-se que há uma seleção política para alvos do Judiciário. Neste caso, é preciso admitir que não estamos investigando nem a corrupção nem a troca de favores. Mas um partido e seus dirigentes, o que só é aceitável sob ditaduras.  Não se quer justiça, mas política, colocando o estado "a serviço do grupo social que o controla," como escreve Maria Sylvia de Carvalho Franco, referindo-se às instituições que mantinham a escravidão.

A tragédia da linha 4, na qual sete pessoas perderam a vida,  só reforça a necessidade de um esclarecimento completo a respeito da identidade e do papel de "Santo" e "Careca."



Paulo Moreira Leite.  Jornalista e escritor. diretor do 247 em Brasília .

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Nº 20.044 - "Estadão pede a cabeça de Ministro da Justiça. Saia justa para Temer"

 

28/09/2016

 

Estadão pede a cabeça de Ministro da Justiça. Saia justa para Temer

capaestadomoraes

Por

O Estadão decreta hoje que o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, perdeu as condições de permanecer no cargo, “se é que algum dia as teve”.

Numa e noutra questão, até aí, o velho jornal paulista pouco faz senão registrar o óbvio.

O mais significativo é o que vem logo a seguir, no texto:

Infelizmente, porém, o presidente Michel Temer, sabe-se lá por que razões, preferiu contemporizar, correndo o risco de ter de enfrentar novas crises em razão do comportamento irresponsável de Moraes. No momento em que precisa demonstrar ao País que seu governo está à altura do desafio de superar o desastre herdado da administração lulopetista, Temer não pode ter ministros que sofrem de incontinência verbal e exploram a visibilidade de seus cargos de maneira oportunista. 

Daí em diante, para tentar fugir de outro óbvio, o de que Moares tinha todas as informações sobre o que iria acontecer, o jornal aceita como acaso as “coincidências” que o Marcelo Auler listou ontem. O encontro, parte dele reservado, com o chefe da PF em são paulo na sexta feira, antes de ir para Ribeirão Preto “vazar” a prisão de Antonio Palloci – ex-prefeito da cidade – vai na conta da mega-sena.
A Lava Jato, tal como é conduzida seletivamente, é intocável. Delegados e procuradores são a entourage celestial do Deus Moro.

Mas Temer não é e o jornalão, como diz a gíria gaúcha, tacale pau:

“Só velhas relações de compadrio (com Temer, por suposto) podem explicar como o dono desse desastroso currículo virou ministro da Justiça”.

A esta altura, o coro “Capitão Nascimento” de pede pra sair sobre  Moares é ensurdecedor, dentro e fora do Governo.

Como só Temer e Moraes sabem a razão do compadrio, o presidente usurpador está perto de arranjar seu segundo Cunha, dono de segredos que podem mostrar que ele, além de não ser belo, não vive num mundo tão lá recatado.

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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Nº 20.043 - "O braço terrorista do regime de exceção "

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27/09/2016

O braço terrorista do regime de exceção 

 

Blog do Miro - terça-feira, 27 de setembro de 2016

 



 Por Jeferson Miola



Resultado de imagem para jeferson miola O golpe não se encerrou na sessão do Senado que cassou o mandato da Presidente Dilma na farsa do impeachment. Ali apenas se abriu um capítulo novo do ataque à democracia para a consolidação do regime de exceção que se vive no Brasil.

Os objetivos com a suspensão das regras democráticas são: [1] extirpar Lula e o PT do sistema político brasileiro – portanto, a representação dos pobres na política; [2] transferir a riqueza nacional ao capital estrangeiro mediante a regressão dos direitos do povo; e [3] inserir subalternamente o Brasil, a sétima potência econômica planetária, no sistema mundial.

Os sinais de arbítrio e excepcionalidade institucional já eram perceptíveis bem antes do desfecho do golpe, ainda nas etapas de conspiração e desestabilização do ambiente político.

No Judiciário e no Legislativo, decisões fundamentais que regeram o golpe continham escancarada arbitrariedade e excepcionalidade, mas assim mesmo foram legitimadas pela Justiça e naturalizadas midiaticamente, para envernizar o atentado à Constituição com a aparência de legalidade. A Rede Globo e conglomerados da mídia, praticando um noticiário conivente e de viés partidário, são essenciais para a subversão jurídico-institucional em curso.

O regime de exceção se caracteriza pela adoção de medidas de arbítrio e de coerção em substituição ao Estado de Direito e ao regramento legal; e pelo esmagamento da oposição política e social.

É um regime no qual as instituições de Estado, em especial policiais e judiciais, são capturadas partidária e ideologicamente, e direcionadas para a perseguição, combate e eliminação dos “inimigos do regime”.

As Leis e a Constituição deixam de balizar as relações sociais e a resolução dos conflitos. A sociedade é então governada por ocupantes ilegítimos do poder; os sem-voto – usurpadores que, com lógicas totalitárias, distorcem as Leis e a Constituição para aniquilar oponentes políticos e instalar um esquema autoritário de poder.

A manifestação do Tribunal Federal da 4ª Região defendendo a adoção de “situações inéditas [da Lava Jato], que escaparão ao regramento genérico”; ou seja, soluções não subordinadas ao regramento jurídico, é uma evidência assustadora desta realidade.

Na ditadura instalada em 1964, os militares foram gradualistas. As medidas restritivas de liberdade, de repressão e de arbítrio foram instituídas à continuação do golpe, através dos sucessivos Atos Institucionais decretados entre abril de 1964 e dezembro de 1969, e que conformaram a índole fascista do regime.

O arcabouço jurídico do regime ditatorial de 1964, portanto, não foi cabalmente concebido no dia 2 de abril de 1964, quando o auto-proclamado “Comando Supremo da Revolução” [sic], liderado pelo general Arthur da Costa e Silva, assumiu o comando do país depois do golpe que derrubou o Presidente João Goulart.

Já neste golpe de 2016, a oligarquia fascista imprimiu uma dinâmica alucinada desde o primeiro instante. Pretende processar, no menor período de tempo, mudanças cruéis e com forte conteúdo anti-povo e anti-nação, que poderão ter efeito de longuíssimo prazo para a organização econômica e social do Brasil.

Para impor a agenda ultra-reacionária de restauração neoliberal, o governo golpista enfrentará uma oposição radical. Não se pode desprezar que, com a crise de legitimidade e com a propagação da resistência democrática, o regime tenderá ao embrutecimento; deverá assumir formas abertamente violentas, com prisões ilegais, torturas, assassinatos políticos.

O objetivo estratégico da oligarquia golpista é a proscrição do PT e a destruição do Lula no imaginário popular. Nas últimas duas semanas, a Lava Jato, que é o braço terrorista do regime de exceção, deu passos importantes nesta direção.

A força-tarefa da Operação, dominada por militantes fanáticos do PSDB, promoveu na véspera da eleição três ações semióticas, implacáveis, inteligentemente programadas: [1] a encenação espalhafatosa de procuradores “cheios de convicções, mas vazios de provas” contra Lula [dia 12/09]; [2] a aceitação da denúncia estapafúrdia, pelo justiceiro Moro [em 20/09]; e [3] a barbárie jurídica da prisão do ex-ministro Guido Mantega [em 22/09].

A Lava Jato faz um esforço titânico para apagar o legado da maior mobilidade social havida no Brasil em 520 anos no Brasil – 40 milhões de pessoas retiradas da condição de indigência – para ditar, em lugar disso, uma narrativa criminalizadora dos períodos Lula e Dilma, tendo como eixo a corrupção.

Sempre é oportuno recordar o pensador Norberto Bobbio, para quem o fascista não combate de verdade a corrupção, apenas emprega um discurso cínico da corrupção para tomar o poder: “O fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos”.

Com a cassação de Eduardo Cunha, o sócio do golpista e mega-corrupto governo Michel Temer, a Rede Globo, como num passe de mágica, virou a página da corrupção. A única “sujeira” que permanece na cena pública do noticiário da Globo e da mídia dominante, e que deve ser radicalmente extirpada, é o PT.


O banditismo político alcançou um patamar inédito no Brasil. Não só devido à brutalidade do ataque contra Lula e o PT, mas sobretudo devido à inteligência operacional e estratégica da oligarquia fascista na implantação do regime de exceção.
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Nº 20.042 - "Basta do autoritarismo do Moro!"

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27/09/2016

Basta do autoritarismo do Moro!

Intelectuais reagem à nova ditadura!



Conversa Afiada - publicado 27/09/2016
 
 
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Intelectuais criam manifesto contra autoritarismo jurídico


Face às últimas ações do sistema judiciário brasileiro, em especial o desenrolar da operação Lava Jato atacando um partido específico na véspera das eleições municipais, um grupo de intelectuais, acadêmicos, ex-ministros e escritores criou um manifesto contra o autoritarismo jurídico.

O texto repudia o “uso seletivo e partidarizado praticado por setores do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal” e contra com assinaturas de personalidades como Leonardo Boff, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Frei Beto, o crítico literário Alfredo Bosi, a psicanalista Cecília Boal, e o sociólogo Michael Lowy, entre outros.

O documento, lançado nesta semana, virou petição online e já conta com mais de 800 assinaturas. Confira aqui.

Veja o texto do manifesto na íntegra:

Cidadania urgente: Basta de autoritarismo jurídico

Basta de autoritarismo no uso seletivo e partidarizado praticado por setores do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal, estimulados pela grande mídia oligopolizada.

É com indignação que nos manifestamos contra o rompimento continuado do estado democrático de direito no Brasil. Interpretações parciais de procedimentos judiciários, exacerbados e estimulados por um sentimento de ódio que tomou conta de setores privilegiados da sociedade brasileira, empurram nosso país para um retrocesso impensável e negam princípios básicos de respeito a uma ordem democrática tão duramente conquistada na luta contra a ditadura militar.

Tratar a política como crime e os políticos como criminosos é uma demonstração preocupante de ignorância quanto ao funcionamento das sociedades humanas e do lugar da política na construção dos fins da ação pública. Desrespeitar, de forma reiterada, o direito de defesa, coagir pela violência através de suposições de delitos não comprovados, condenar pela imprensa espetaculosa sem levar em conta um elemento central dos direitos civis, que é a presunção de inocência, que atribui ao acusador o ônus de provar a culpa e não o contrário, tudo isso fragiliza a cidadania diante de poderes que podem, facilmente, se tornar tirânicos.

Já é passada a hora de a sociedade brasileira dar um basta a poderes que se colocam acima da lei, que atropelam direitos humanos e civis, e que estão induzindo o país a um conflito que pode ganhar enormes proporções.

Assinaturas iniciais:

Paulo Sergio Pinheiro (cientista político, USP; relator de direitos humanos, ONU)
Wanderley Guilherme dos Santos (cientista político, IESP-UERJ, membro da Academia Brasileira de Ciência)
Marco Lucchesi (Letras-UFRJ, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras)
Leonardo Boff (teólogo)
José Miguel Wisnik (crítico literário, USP, músico)
Roberto Saturnino Braga (ex-senador, Presidente do Centro Internacional Celso Furtado)
Alfredo Bosi (crítico literário, IEA-USP, editor de Estudos Avançados)
Luiz Pinguelli Rosa (físico, COPPE-UFRJ)
Luiz Carlos Bresser-Pereira (professor emérito da FGV; ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado e de C&T)
Frei Beto (escritor)
Silke Weber (socióloga UFPE)
Hebe Mattos (historiadora UFF)
Ennio Candotti (físico, ex-presidente SBPC)
Joel Birman (psicanalista, UFRJ)
Luiz Alberto Gomez de Sousa (sociólogo, Universidade Cândido Mendes)
Carlos Morel (biólogo, FIOCRUZ)
Jurandir Freire Costa (psicanalista, UERJ)
Isabel Lustosa (historiadora, Casa Rui Barbosa)
Ricardo Rezende (antropólogo, Escola de Serviço Social – UFRJ)
Afrânio Garcia Jr. (antropólogo, École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris)
Cecília Boal (psicanalista, Teatro do Oprimido)
Moacir Palmeira (antropólogo, Museu Nacional – UFRJ)
Ivo Lesbaupin (sociólogo, ex-presidente da ABONG)
Heloísa Starling (historiadora UFMG)
José Ricardo Ramalho (sociólogo, IFCS, UFRJ)
Dulce Pandolfi (historiadora, CPDOC-FGV)
Adalberto Cardoso (sociólogo IESP-UERJ)
José Sergio Leite Lopes (antropólogo Museu Nacional-CBAE-UFRJ)
Regina Novaes (antropóloga, UFRJ)
Beatriz Heredia (antropóloga, IFCS-CBAE-UFRJ)
Agostinho Guerreiro (engenheiro, ex-presidente do Clube de Engenharia)
Elina Pessanha (antropóloga, IFCS-UFRJ)
Lígia Dabul (antropóloga UFF)
José Roberto Novaes (economista, cineasta, UFRJ)
Patrícia Birman (antropóloga, UERJ)
Sarah Telles (socióloga, PUC-Rio)
Rosilene Alvim (antropóloga, IFCS-UFRJ)
Regina Morel (socióloga, IFCS-UFRJ)
Charles Pessanha (cientista político, UFRJ)
Neide Esterci (antropóloga IFCS-UFRJ)
Ana Heredia (bióloga, editora revistas científicas)
Alba Paiva (psicanalista)
Oscar Acselrad (engenheiro, UFRJ)
Michael Lowy (sociólogo, diretor de pesquisa do CNRS, França)
Gisele Cittadino (Direito, PUC-Rio)

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Nº 20.041 - "Dr. Moro, não sai nem uma 'condução coercitiva' para o filho de FHC? Ouça o que 'Baiano' diz"



27/09/2016
 

Dr. Moro, não sai nem uma “condução coercitiva” para o filho de FHC? Ouça o que “Baiano” diz

 

termorio



Por  
 

Primeiro, foi Nestor Cerveró que disse ter recebido ordens  para colocar uma empresa ligada ao filho do também então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, a PSR, no negócio da Termorio, uma empresa constituída nos tempos do apagão, quando a Petrobras fazia contratos ruinosos para participar do capital e comprar a energia a altíssimo preço, em quantidades asseguradas.

O filho de FHC, Paulo Henrique Cardoso, disse que era tudo mentira de um “encarcerado”.

Semana passada, discretamente, divulgou-se o vídeo em que o lobista Fernando Baiano confirma a história, dizendo que recebeu a informação de Delcídio do Amaral, então diretor de Gás e Energia da Petrobras.

O trecho do vídeo está aí, no final do post, para quem quiser assistir. A íntegra pode ser assistida aqui.

Não vai ter inquérito?

Não vai ter “cognição sumária”?

E se fosse o filho do Lula?

O que é uma usina termelétrica perto do aluguel de espaço num galpão para guardar dez caixas?

Não vai ter o Alexandre de Moraes anunciando prisão numa panfletagem?

A Lava Jato é imparcialíssima.





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Nº 20.040 - "Ministro da Justiça vazou Lava Jato diante de candidato que recebeu de laranjas da Odebrecht"

 

27/09/2016

 

Ministro da Justiça vazou Lava Jato diante de candidato que recebeu de laranjas da Odebrecht

 
Do Viomundo - 27 de setembro de 2016 às 12h22

 
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Da Redação

O ministro Gilmar Mendes, do STF, saiu em defesa de seu colega Alexandre de Moraes, ministro da Justiça do governo golpista de Michel Temer.

Para Gilmar, não houve “vazamento” da Lava Jato, mas apenas especulação de Moraes, como se falasse da previsão do tempo. Tanto pode chover, quanto não.

No entanto, não é o que mostra o vídeo do encontro entre Moraes e os militantes do Movimento Brasil Livre, no qual o ministro coloca em jogo publicamente sua credibilidade: “Quando vocês virem esta semana [a operação], vão se lembrar de mim”.

Polícia Federal e Ministério da Justiça desmentiram que Moraes soubesse de algo específico.

Jornais especulam que Temer, irritado com seu subordinado, teria dado uma “segunda chance” a Moraes, da mesma forma que o STF deu uma “segunda chance” ao juiz Sergio Moro depois que ele violou a lei divulgando áudio de um grampo telefônico entre a presidenta da República e um ex-presidente.

Tudo pode ser apenas jogo de cena.

O irônico é que o vazamento da operação foi feito durante comício de um candidato tucano à prefeitura de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, tradicional adversário do petista Antonio Palocci, preso na operação antecipada por Moraes. No evento, o ministro da Justiça disse: “O que nós defendemos é punir mais forte o caixa 2. Temos de tirar essa prática nociva da política nacional porque, com isso, vamos tirar também os políticos que usam essa pratica para se reeleger”.

E, no entanto, o ministro da Justiça estava ao lado de um candidato que recebeu dinheiro da empreiteira Odebrecht através de duas empresas laranja em ao menos uma eleição, a de 2010, quando Duarte Nogueira foi candidato a deputado federal pelo PSDB.

Nas planilhas apreendidas durante fase da operação Lava Jato, referentes à contabilidade paralela da empreiteira, as siglas CMF/BJ aparecem como solicitante/responsável pelas doações, totalizando R$ 50 mil, com previsão de depósito para 28 de setembro de 2010. No entanto, em vez de a Odebrecht doar em seu nome, utilizou duas empresas-laranja: a Leyroz de Caxias e a Praiamar. E são justamente estas duas empresas que aparecem com doações totalizando R$ 50 mil nas contas de Duarte Nogueira.


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Em outra planilha, referente à eleição de 2012, quando Duarte Nogueira concorreu à Prefeitura de Ribeirão Preto, o nome dele aparece acompanhado pelo valor de R$ 500 mil. Numa terceira anotação, R$ 200 mil aparecem na coluna 2012 e R$ 300 mil na coluna “Proj. 2014″.


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Nos papéis da Odebrecht, alguns nomes de prefeitos apareceram associados a obras em andamento em suas cidades. Não se sabe se a empreiteira fazia doações a candidatos a prefeito condicionando pagamentos posteriores a obras do interesse da empreiteira no município.

Duarte não se elegeu prefeito e foi candidato a deputado federal em 2014.

Na prestação de contas oficial de Duarte Nogueira, em 2012, não há doação da Odebrechet. Ele recebeu dois repasses de R$ 200 mil da direção nacional do PSDB.

Na prestação de contas oficial de Duarte Nogueira, em 2014, não há doação da Odebrechet. Não há registro de doação de R$ 300 mil.

O candidato nega que tenha recebido contribuição via caixa 2.

À época da apreensão, o juiz Sérgio Moro escreveu: “É certo que, quanto a essas planilhas apreendidas na residência do executivo [Benedicto Barbosa da Silva Jr.], é prematura qualquer conclusão quanto à natureza deles, se ilícitos ou não, já que não se trata de apreensão no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, através do qual eram realizados os pagamentos subreptícios (de propina, por exemplo, aos agentes da Petrobrás), e o referido Grupo Odebrecht realizou, notoriamente, diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos”.

Depois de divulgar o conteúdo, o juiz de Curitiba colocou o material apreendido sob sigilo e enviou os dados ao Supremo Tribunal Federal, já que muitos dos citados tem foro privilegiado. Com base na argumentação de Moro, o Jornal Nacional não noticiou o conteúdo das planilhas — se o fizesse, deixaria claro que a Odebrecht irrigou quase toda a classe política brasileira — inclusive o hoje ministro José Serra, o presidente do PSDB Aécio Neves e o hoje presidente da Câmara, Rodrigo Maia — e não exclusivamente candidatos petistas e o PT.

Leia também:
Consultor Jurídico: Moro mandou prender Palocci por falta de provas

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Nº 20.039 - "Depois de torturado pela mídia, ministro do STF passa a dar apoio total à Lava Jato – O estranho caso de Marco Aurélio Mello"

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27/09/2016 

 

Depois de torturado pela mídia, ministro do STF passa a dar apoio total à Lava Jato – O estranho caso de Marco Aurélio Mello

 

Cafezinho - 27/09/2016 

 
 marco-aurelio-de-mello

Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho 

 
No mesmo dia da condução forçada de Lula para depor no aeroporto de Congonhas, em 04 de março, Marco Aurélio questionou o procedimento e, com o peso de sua posição de ministro do STF, concluiu que era ofensivo ao estado democrático de direito. Ele disse que levar Lula daquela maneira para depor, quando bastava intimá-lo, equivalia a “conduzir debaixo de vara”, como se dizia antigamente.
 
E, em 04 de abril, no programa  "Roda Viva" da TV Cultura, Marco Aurélio avançou mais, até os métodos empregados para alcançar cooperação dos investigados. Disse que via "algo de errado no grande número de delações premiadas" sendo fechadas pela Justiça Federal na Lava Jato.

Depois de todas essas declarações, fartamente aproveitadas pelos críticos para combater a Lava Jato, o ministro do STF foi banido pelas elites do convívio social. Ninguém mais o procurou, mídia nenhuma foi atrás da opinião dele, sua figura afundou no mais cruel ostracismo. Foi um duro castigo por ter fornecido tanta munição aos inimigos.

Combalido e exausto pelo jejum das manchetes, sem vocação para faquir, fraco demais para resistir, quase uma sombra do que fora, depois de tamanha tortura dentro da masmorra dos sem-mídia,  ansiando por luz igual aos detidos de Moro, Marco Aurélio entregou os pontos e resolveu contar até o que não sabia.

Quando Gilmar Mendes no mês passado, em agosto, na ânsia de defender Aécio e o PSDB, chamou de "cretino" o autor de uma proposta aplaudida pelo MPF, Marco Aurélio, querendo limpar sua imagem, em atitude humilde e serviçal, tomou posição inversa às que defendia em março e abril. Ao invés de criticar a Lava Jato, correu aos prantos para a mídia dizendo que preferia ver mil abusos (excessos), do que uma omissão:

"O Ministério Público vem atuando, e reafirmo o que venho dizendo: mil vezes o excesso do que a acomodação. E temos o Judiciário para corrigir possíveis erros de procedimentos".

Isso lembra o clima dos expurgos na URSS em 1937-38. O próprio Stálin ensinava que era melhor rolarem alguns milhares de cabeças inocentes a mais (excesso) do que se deixar escapar meia dúzia de espiões (acomodação). Marco Aurélio também prefere o excesso à acomodação.

Eis aí o terror da Lava Jato. Ela representa o fetiche em torno do qual as elites brasileiras, de braços dados com a classe média, uniram-se com uma força nunca vista antes. Nesse campo de força, todas as ilegalidades serão perdoadas, todos os arbítrios (mil vezes o excesso!) serão incentivados. Ai de quem se oponha à Lava Jato!

Caros leitores, visitem e curtam a página da MÁQUINA CRÍTICA. Abraços

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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Nº 20.038 - "O vídeo do momento em que Moraes quebra o sigilo da Lava Jato e dá risada"

"Pode fica sossegado, apoio total à Lava Jato. Tanto que quinta teve uma, sexta teve outra e essa semana vai ter mais. Podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", disse Moraes a integrantes do movimento Brasil Limpo, que pediam apoio à investigação.

Moraes deu a declaração durante ato de campanha do candidato do PSDB Duarte Nogueira, ao lado do tucano, em Ribeirão Preto (SP), cidade natal de Antônio Palocci, onde ele já foi prefeito. Palocci é adversário político de Nogueira. As informações de Moraes forma confirmadas hoje com a prisão do ex-ministro.

Senadores da oposição, entre eles Lindbergh Farias (PT-RJ), devem encaminhar ainda nesta segunda-feira uma representação à Procuradoria Geral da República, comandada por Rodrigo Janot, contra o ministro. Michel Temer ficou profundamente irritado com as declarações do titular da Justiça e cogita demiti-lo.

Confira o vídeo e, abaixo, nota dos senadores da oposição:

Nota:

O Líder da Oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ) e outros senadores encaminharão hoje à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma representação pedindo que sejam apurados os fatos ligados à declaração do Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, em ato de campanha de correligionário de seu partido na cidade de Ribeirão Preto, tratando sobre nova fase da Operação Lava Jato.

"É um escândalo o que aconteceu. Um absurdo. Quem fez o pedido de prisão, desta vez, foi a Polícia Federal, e parece que o ministro sabia antes. Depois, veio com uma desculpa que subestima a inteligência das pessoas, que não tem nada a ver", disse Lindbergh. "Parece claro que há uma interferência política nas investigações e temos que saber o que de fato está acontecendo".

Objetivo da Representação:

· Apuração dos fatos ligados à declaração do Ministro Alexandre de Moraes em ato de Campanha de correligionário de seu partido na cidade de Ribeirão Preto, antecipando nova fase da Operação Lava Jato
Infrações a serem investigadas:

Lei 12.850, de 2013 (Lei de Organizações Criminosas)
Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.
Código Penal

Violação de sigilo funcional

Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
Lei 8.429, de 1992 (Lei de Improbidade Administrativa)

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

(...)

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;

Problemas na conduta do Ministro:

· Não deveria ter acesso a informações da investigação
· Se soube por questão operacional deveria ter mantido a informação em sigilo
· Violou, em tese, a Probidade Administrativa, pois agiu por interesse eleitoral (improbidade, art. 11, I e III da lei de Improbidade Administrativa)

· Violou o sigilo de sua função (crime, 6 meses a dois anos, de detenção, art. 325, CP)
· Causou embaraço a investigação (crime, 3 a 8 anos de reclusão, art. 2º, § 1º da Lei de Organizações Criminosas)

O que se requer:

· Apuração dos fatos e suspensão do exercício de função pública (art. 319, VI do Código de Processo Penal)

. objetivo de proteger os direitos dos investigados e evitar embaraços às investigações


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Nº 20.037 - "Aprofunda-se o Estado de Exceção: hora de voltar a pensar em revolução"

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26/09/2016

 

Aprofunda-se o Estado de Exceção: hora de voltar a pensar em revolução

 

Do Cafezinho

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Arpeggio - coluna política diária 

Por Miguel do Rosário, editor-chefe do Cafezinho

Fora Supremo, Fora Dilma. Queremos só Ministério Público e Polícia Federal.
 
Quando aquela faixa apareceu, em meio à profusão de imagens dos protestos pelo impeachment, em março de 2015, a gente riu. Era uma coisa tão ridícula! Divulgamos em nossos blogs como se ela fosse, em si, tão absurda, que a sua própria divulgação fosse autodesmoralizadora.
Eis que ela se torna realidade. Dilma está fora. Não temos mais STF: seus ministros submeteram-se a um silêncio cúmplice e envergonhado, como aliás em todos os outros momentos de arbítrio de nossa história.

E o Brasil ficou a mercê dos meganhas do MP, da PF, do Judiciário e da mídia, ou seja, de todos os setores do Estado (ou muito ligados a ele, como é o caso das concessões públicas de TV) que tem grande poder mas não precisam prestar contas ao povo, porque não são eleitos.

A prisão de Antonio Palocci, hoje, é a prova viva disso. A denúncia apresentada por Sergio Moro é, mais uma vez, repleta de suspeitas subjetivas, interpretações sobre encontros e ataques gratuitos ao PT e a Lula. Mais que uma peça política, é uma peça midiática. Os valores apresentados são abstratos: somam um longo período de tempo e incluem de tudo: doações legais e comprovadas, com supostas propinas. O que importa é gerar manchetes.

Quanto ao fato do ministro da Justiça, Alexandre Moraes, ter "anunciado" na véspera da prisão de Palocci, acho que isso revela não exatamente o controle da Lava Jato pelo governo, mas sim o sentimento do ministro de que a Lava Jato tem como alvo os seus adversários políticos, Lula à frente.

Quanto mais a operação avança, mais o governo Temer se beneficia, porque ela abafa os conflitos gerados pelas decisões políticas do governo e direciona o escrutínio popular, via manchetes fabricadas, para o PT, que não está mais no poder. Além de ser uma operação que, neste momento, segue uma agenda descaradamente eleitoral.

Moraes é apenas um idiota. O golpe em curso, que se converte num Estado de Exceção cada vez mais brutal, é muito maior que ele. Acho um erro as críticas se prenderem à frase infeliz do ministro. O golpe está na Lava Jato e num judiciário que se tornou um partido político autoritário e golpista!

De posse de um enorme e fragmentado conjunto de informações: emails, transcrições de telefonemas, anotações, a Lava Jato costura tudo de acordo com sua narrativa. É como montar um quebra-cabeça de uma pintura abstrata. Qualquer peça encaixa em outra, desde que se tenha, de antemão, um objetivo final: criminalizar o PT e destruir Lula.

Repare que a prisão de Palocci gera manchetes contra Lula, porque Moro, em seu despacho, menciona a compra de um terreno onde ficaria o Instituto Lula. Acontece que o terreno em questão não pertence ao Instituto Lula. Ou seja, temos mais um triplex, mais um sítio em Atibaia. Mais uma vez, Moro joga com a mídia para oferecer manchetes contra Lula, mesmo sem provas, sem nada.

A conexão entre obras da Odebrecht, contratos da Petrobrás e Palocci é feita quase que aleatoriamente. É como se a Odebrecht fosse uma empresa pequena, desconhecida, que ninguém contrataria não fosse a "intervenção" de Palocci.

Essa etapa da Lava Jato consuma a destruição da Odebrecht e o engavetamento do projeto do submarino nuclear, o primeiro esforço nacional para construir uma infra-estrutura independente e soberana de defesa nacional da nossa gigantesca costa.

Sergio Moro e os procuradores agem como o psiquiatra maluco do conto O Alienista, de Machado de Assis: todos são criminosos até prova em contrário.

Eles partem do pressuposto de que qualquer encontro, qualquer conversa, qualquer articulação são sinônimos de propina. É a vingança do burocrata contra a democracia, que exige o debate, a articulação, a conversa.

Como seria possível levar adiante uma obra como o submarino nuclear sem antes uma série de articulações políticas? 

O arbítrio da Lava Jato é evidente, e sua agenda política idem. Mas não se trata apenas da Lava Jato, e sim de uma mentalidade que já contaminou todo o sistema judicial e ministério público.

A ditadura acontece quando o autoritarismo não está mais apenas na cúpula do governo, mas chega ao guarda da esquina, ao famigerado meganha. É o que aconteceu no Brasil.

Ministério Público, Judiciário, Polícia Federal, se tornaram meganhas de interesses que, apesar de obscuros, sabemos muito bem para onde apontam, e não é para a soberania nacional, vide a violência com que agridem empresas e projetos nacionais estratégicos.

Nenhuma multinacional foi atingida pela brutalidade judicial. A violência é sempre contra projetos nacionais, sem que haja nenhuma ponderação sobre seu valor em termos de soberania, infra-estrutura, geração de empregos. Tudo é destruído em nome de um "combate á corrupção" que é, em si mesmo, corrupto.

A sonegação brasileira continua intacta. O sistema de juros permanece inviolável.
O Brasil está sob ataque, e não é de hoje.

A violência contra Mantega e Palocci é apenas mais um capítulo do golpe, mais uma etapa na direção de um autoritarismo cada vez mais brutal.

Afinal, para que prender Mantega ou Palocci? Eles não tem mais influência nenhuma no governo. Não tem nenhum poder de "obstruir a investigação". E nem interesse em fugir, visto que são pessoas conhecidas, com endereço fixo, figuras públicas. Qual a finalidade de prendê-los antes mesmo de informar a seus advogados de que eles estão sendo acusados? Antes de qualquer esclarecimento, sentença, condenação, que dirá recurso?

Sergio Moro tem defendido, em palestras recentes, uma "relativa excepcionalidade" no pedido de prisão preventiva. Os juízes do TFR-4, que julgam os primeiros recursos da Lava Jato, disseram que a Lava Jato está acima da lei.

Em artigo recente, o crítico de cinema e comentarista político Pablo Villaça diz que não podemos mais combater o arbítrio com piadas e memes, até porque, quem está rindo são os próprios meganhas e seu imenso público de hienas, que se diverte com a demolição das garantias constitucionais.

O argumento de Villaça me pareceu, a primeira vista, um pouco injusto, como se as pessoas tivessem a seu alcance alguma alternativa. A ditadura tomou conta das instituições e seja para onde olhamos, não há saída. Mas ele tem razão.

O preço do golpe é altíssimo: destruição das grandes empresas nacionais (não os bancos, não as multinacionais, mas somente as grandes empresas estratégicas), desemprego, entrega de patrimônio público, desorganização do Estado, impeachment sem crime de responsabilidade, crise econômica, queda violentíssima da arrecadação fiscal, retirada de direitos e desmantelamento do tímido e incipiente Estado de bem estar social que começávamos a construir.

É um golpe que se revela cada vez maior. O país que caminhava para se tornar a quinta economia mundial é desmantelado e entregue aos interesses do imperialismo mundial, vendido a preço de banana na bacias das almas.

O que fazer?

Para as nossas elites do dinheiro, é um golpe relativamente fácil, porque o povo brasileiro nunca recebeu formação suficiente para se preocupar com algo tão sofisticado como as "garantias constitucionais", e eles detêm o controle absoluto da narrativa para a parte mais pobre da população.

Os setores que protestam contra esse estado de exceção são quase inteiramente marginalizados pela mídia do debate público, não importando se são intelectuais importantes.

Kleber Mendonça Filho, diretor do Aquarius, sentiu na pela o gostinho do arbítrio político: seu filme, de longe o mais cotado para trazer um Oscar de melhor filme estrangeiro para o Brasil, foi deferido pelo governo em nome de um outro longa-metragem, desconhecido.

Em entrevista ao Cahiers du Cinema, Mendonça denuncia esse processo de lavagem cerebral, em que, em suas próprias palavras, a mentira é vendida como verdade, e a verdade é percebida como mentira.

Como cineasta, Mendonça é um expert em semiótica, em linguagem visual. Como ficcionista e crítico, ele sabe melhor que ninguém como a percepção da realidade pode ser manipulada ao sabor dos interesses de quem controla a narrativa.

Estamos ainda no estágio da perplexidade. Quem imaginaria, há alguns anos, que as nossas elites seriam capazes de tanta brutalidade, que nossa grande mídia seria capaz de chegar tão longe na manipulação das informações, e que nossas organizações políticas mais progressistas seriam tão apáticas?

Ao final da entrevista à Cahiers, Mendonça diz algo que talvez seja a nossa única esperança:
Cahiers de Cinema: Essa situação poderia te inspirar um projeto novo?
Kleber Mendonça Filho: Paradoxalmente, essa realidade tão horrível, kafkiana, é estimulante e nos dá vontade de fazer coisas. É verdade que um país bem organizado e pacificado politicamente, se é que isso existe, não é fonte de inspiração tão poderosa como onde reina o caos e o absurdo. O Brasil se encontra assim numa situação de conflito permamente, o que constitui matéria inesgotável para o cinema. É preciso se aproveitar disso, e rápido...
No entanto, a decisão de eliminar o Aquarius da disputa pelo Oscar mostra que a neoditadura está disposta a interferir na liberdade de expressão, de maneira que temos igualmente de estar preparados para uma guerra cultural clandestina.

De qualquer forma, toda resistência ao poder tem necessariamente algo de clandestino. Imagina o que será produzir resistência contra o Executivo, o Judiciário, a Polícia, a Mídia?

Talvez este golpe seja exatamente do que precisávamos para dar um sentido heroico à luta política pela libertação do povo brasileiro. A prisão de Palocci e Mantega, neste sentido, é um símbolo perfeito desta ironia: os dois ministros mais moderados da esquerda mundial são algumas das primeiras vítimas da nova ditadura.

Esta é a grande ironia, que acompanha a história há milênios: o autoritarismo das elites, em momentos de escassez, atinge o seu grau máximo, forçando o povo a seguir caminhos mais radicais.
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Nº 20.036 - "Moro manda prender Palocci. É o Simão Bacamarte de Curitiba!"

 

26/09/2016

 

Moro manda prender Palocci. É o Simão Bacamarte de Curitiba!

bacamarte
Por

Um verdadeiro furor encarcerador parece ter se apossado do Dr. Sérgio Moro.

Agora ninguém mais é chamado para depor.

É logo preso, aos costumes.

À base, por enquanto, de um ex-ministro por semana.

A razão? “Depois explico”.

Hoje foi a vez de Antonio Palloci.

Recolhe, Taborda, como no velho personagem de Jô Soares.

Ou como Simão Bacamarte, d’O Alienista de Machado de Assis, que como via sinais de loucura em todos habitantes da sua  Itaguaí , internou no seu hospício, a Casa Verde, quatro quintos da  população da vila.

Só não engaiolava os pássaros, menos ainda os tucanos, muito numerosos nas matas do Rio de Janeiro, então.

O Dr. Simão, lembram os que leram, afinal, acabou por libertar todos e internar a si próprio.

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Nº 20.035 - "Paulo Pimenta: Uma cilada autoritária para privatizar a educação"

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26/09/2016

 

Paulo Pimenta: Uma cilada autoritária para privatizar a educação 

 

Portal Vermelho - 26 de setembro de 2016 - 12h42 

 

 

 
Uma proposta de transformação profunda na educação do país, sem dúvida, mereceria grandes debates, envolvimento da comunidade escolar e das universidades de todo país. Entretanto, o que se vê é mais um retrocesso em relação aos processos e às conquistas democráticas. Não se melhorar a qualidade da educação por meio de uma Medida Provisória, um instrumento que revela apenas o caráter profundamente autoritário dessa reforma. A formulação de políticas educacionais precisa avançar mediante aprofundamento do tema com a participação dos diversos segmentos sociais, de forma a contemplar a pluralidade e a diversidade de ideias.

Um dos pontos mais controversos dessa reforma diz respeito à organização curricular em áreas de conhecimento, com a primeira parte comum a todos os estudantes e a segunda específica segundo a escolha do/a estudante por uma das áreas de aprofundamento - linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica profissional. A retórica reformista é a flexibilização e o enxugamento de conteúdos de acordo com os percursos formativos. Porém, na prática esse modelo visa apenas à redução. O objetivo central da reforma está mais relacionado à lógica do mercado do que à expansão das fronteiras do pensamento.

Eis a cilada! Ao descartar grandes parcelas de estudantes do acesso pleno às diversas áreas do conhecimento, há uma condução para a formação técnica. A estruturação dessa oferta será feita por meio de contratos com organizações privadas de educação profissional. Os governos passam a comprar vagas nos cursos técnicos, reduzir quadro de profissionais da educação e abrir espaço para a atuação de empresa privadas. Certamente, essa reforma afetará as camadas sociais mais desprivilegiadas, que ficarão submetidas a um ensino meramente instrumental, modelo que se opõe e se impõe sobre uma concepção integrada do currículo escolar. Essa imposição compromete o princípio constitucional da igualdade de condições de acesso e permanência e de alcance dos níveis mais elevados de ensino.



Muitos educadores alertam para um retorno ao modelo da educação da Ditadura Militar quando o sistema educacional era organizado de forma paralela, para quem seguiria a formação técnica para o trabalho e para quem seguiria a formação clássica e científica. Outra grande cilada! Retorna-se à já superada ideia de que profissionais das áreas das ciências naturais e exatas não precisam aprofundar conhecimentos de ciências humanas, por exemplo, ou vice versa.

Esse modelo é mesmo que elimina da escola a liberdade de pensamento e concepções. É o modelo que, por meio de censura e repressão, impede a formação para a compreensão crítica da realidade social e para o exercício da cidadania.

A MP institui a jornada de tempo integral, mas expressa total distanciamento de toda a construção do país em torno do tema. A reforma não é perpassada por uma concepção de educação integral que fortalece as diversas dimensões do conhecimento e a vivência cidadã, por exemplo. Outro aspecto a ser criticado é a proposição isolada de organização curricular sem a articulação de medidas de assistência estudantil, o que constitui mais um fator de exclusão educacional. A expansão da carga horária e jornada integral refletem uma desvinculação com a realidade social, considerando que grande parte dos e das jovens entre 15 e 17 anos indicam a necessidade de estudar e trabalhar e que a MP não prevê bolsa de estudos para suprir tais necessidades.

Com essa reforma, o governo também possibilita que professores ministrem aulas fora de sua área específica de formação, a fim de suprir a falta de docentes em algumas áreas. A medida determina, ainda, que a Língua estrangeira obrigatória seja a Língua Inglesa. O Espanhol só poderá ser priorizado no caso de oferta de mais de uma língua estrangeira na instituição. Deixa de ser obrigatória a oferta dos componentes curriculares de artes, educação física, filosofia e sociologia.

Todas as mudanças correm alheias ao cotidiano das escolas, às discussões nas instituições formadoras e aos movimentos sociais representativos de diversos sujeitos e contextos sociais. Sem dúvida, essa política reformista é imposta pelo MEC por meio de MP porque sofreu quatro derrotas nas urnas. Ela não resultou de nenhuma deliberação das últimas conferências nacionais de educação e, portanto, não tem legitimidade. Trata-se de uma proposta ultraconservadora de avanço da gestão privatista na educação e que, ao longo dos últimos anos, já se introduzia por meio de projetos apresentados no âmbito estadual para assegurar parcerias entre o setor público e o privado. Sua forma autoritária é a expressão das práticas repressivas já usadas por governos reacionários contra os movimentos de ocupação de escolas e de greves de professores/as.

Sem o entrosamento com as reivindicações das diferentes juventudes e dos/as profissionais da educação, a reforma do ensino médio significará um golpe contra os processos democráticos de formulação das políticas educacionais e contra a busca por fazer da educação um instrumento de promoção da diversidade e da inclusão. 



Paulo Pimenta. Jornalista e deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul 
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Nº 20.034 - "Globo está pulando fora do golpe de Temer? "

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26/09/2016 

 

Globo está pulando fora do golpe de Temer?

 

Do Blog do Miro - segunda-feira, 26 de setembro de 2016

 

Por Marcos Aurélio Ruy, no site da CTB:
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O apresentador do “Domingão do Faustão”, Fausto Silva, conhecido por defender posições golpistas desde o processo de impeachment da presidenta Dilma, escrachou neste domingo (25), em horário nobre, a reforma do ensino médio do desgoverno Temer.

Ao entrevistar o ginasta Diego Hypolito – medalha de prata em ginástica solo na Rio 2016 – Faustão criticou com veemência as mudanças propostas pelo governo golpista para o ensino médio.

“Então, o país que mais precisa de educação faz uma reforma com cinco gatos pingados que não entende porra nenhuma, que não consulta ninguém e aí, de repente, tira a educação física, que é fundamental na formação do cidadão", disse. Infelizmente ele esqueceu de citar artes, sociologia e filosofia fundamentais para a formação de qualquer ser humano, que também corriam esse risco (saiba mais aqui).

Para não perder o costume, o apresentador chegou a defender a polícia, ao falar de segurança, mas, pelo que se conhece de Faustão, parece que a emissora dos Marinho deu sinal verde para os ataques ao presidente golpista Michel Temer. Aguardar novos capítulos dessa novela.

Reconhecendo o problema, o cantor Tico Santa Cruz falou em sua rede social justamente dessa desconfiança e da divisão aparente entre os golpistas. Porque a Rede Globo fez parte do golpe de maneira desavergonhada.

Mas a desavença começou com Marcelo Adnet gritando “Fora Temer” em seu programa. Depois o humorístico "Zorra Total" criticou a trama golpista, agora foi o Faustão. Sinais de desentendimentos no celeiro golpista (leia mais aqui).

“Quando o Faustão começa a descer o pau no governo Temer no horário nobre da Globo, é porque o sinal verde foi dado para sangrar o golpista! A imprensa de modo geral já começa a oferecer uma postura mais firme contra o Vampiro. Isso será de forma pontual até o fim de 2016”, afirmou Tico Santa Cruz.

Mas “a partir das primeiras horas de 2017 que Michel Temer aguarde o chumbo grosso que virá de todos os lados. Está cada vez mais evidente que ele será derrubado para que o Congresso faça eleições indiretas”, complementou.

Mas a reação popular promete minar essa estratégia. Já nesta segunda-feira (26), os estudantes prometem vigorosas manifestações, ao menos em São Paulo e no Rio de Janeiro contra essa reforma do ensino médio, que visa liquidar a educação publicar e tirar os filhos e as filhas da classe trabalhadora dos níveis mais avançados do ensino, mantendo-os como mão de obra barata para suprir o mercado de trabalho.
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Nº 20.033 - "Xadrez do aprofundamento do Estado de Exceção"


26/09/2016

Xadrez do aprofundamento do Estado de Exceção

 

Peça 1 – o cenário provável

Traçar cenários é tarefa complexa.

O ponto inicial é identificar a tendência da onda do momento e o que poderá acontecer se não surgir nenhum elemento novo, anticíclico, capaz de contê-la. Em geral, esse tipo de cenário serve de alerta, ajudando a estimular forças contracíclicas quando se quer prevenir desastres. Mesmo assim, nações entram na onda fatal, no que cientistas sociais denominaram de “era da insensatez” e vão para o buraco, sem que nenhuma força contracíclica consiga segurar a queda.

Neste momento, há duas tendências se consolidando, uma de forma mais evidente, outra de forma mais tênue.

Tendência 1 -  o aprofundamento do estado de exceção.

Tendência 2 – o início do processo de fritura do governo Michel Temer pela aliança Globo-Lava Jato-PSDB.

Vamos por partes.

Peça 2 – o aprofundamento do Estado de Exceção

Ao contrário dos golpes militares, nos golpes judiciais o estado de exceção se impõe por etapas.

Muda-se o patamar da legalidade aos poucos, através de episódios centrais, que muitas vezes passam ao largo da opinião pública.

No caso brasileiro, as etapas do estado de exceção são nítidas:

1o Passo – a condução coercitiva de Lula e o vazamento dos grampos entre ele e Dilma.

2o Passo – o fato do Ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), ter reconhecido a ilegalidade dos vazamentos, mas não adotado nenhuma sanção contra o juiz Sérgio Moro.

3o Passo – a profusão de prisões preventivas, culminando com os argumentos invocados para a prisão do ex-Ministro Guido Mantega, sem que se vislumbre nenhuma força capaz de impedir a escalada de arbítrio.

4o Passo – a decisão do TRF4 de apoiar Moro, consagrando o estado de exceção, sob a alegação de que a Lava Jato enfrenta inimigos poderosos e, portanto, não pode ser tratada de maneira convencional. Segundo o relator, desembargador federal Rômulo Pizollati, “o Supremo Tribunal Federal perdoa esse tipo de desvio de conduta quando é para um bem maior” (http://migre.me/v3Wqj). É a primeira vez que um tribunal, em país democrático, valida expressamente o Estado de Exceção em tempos de paz, após o “patriot act” dos Estados Unidos contra o terrorismo.

5o Passo - Gradativamente as Forças Armadas estão sendo direcionadas para o combate ao inimigo interno, o Ministério da Justiça passou a articular a repressão nas Polícias Militares e assumiu o comando da Polícia Federal. Ontem, em um palanque do PSDB, o Ministro Alexandre de Moraes anunciou novas operações da Lava Jato para esta semana, ao lado de um acusado pela máfia das merendas.

A defesa do Estado de Exceção pelo TRF4

 

Até agora, este foi o sinal mais grave do ingresso no Estado de Exceção.

No TRF4, a consagração do estado de exceção foi apoiada por 13 desembargadores, como apenas um voto contrário.

Voz isolada, o desembargador Rogério Favreto, alertou em seu voto (http://migre.me/v4sbG):

·       O entendimento, amplamente consolidado, é de que o magistrado incorreu em transgressão à literalidade da lei, ao determinar o levantamento do sigilo de conversas captadas em interceptações telefônicas.

·       Também descumpriu normativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ao fornecer para a mídia elementos contidos em processos ou inquéritos sigilosos.

·       Diante de tal arcabouço, não vislumbro hipótese de relativização do sigilo, direito fundamental do cidadão inscrito na Carta Federal.

Recentemente, o jurista Pedro Estevam Serrano lançou o livro “Autoritarismo e golpe na América Latina” (http://migre.me/v4rzJ) analisando o fascismo judicial através do uso do chamado Estado de Exceção.

A ideia de exceção é que o direito é uma boa forma de administrar as sociedades em tempos de paz. Mas quando a sociedade é ameaçada por inimigos ou grandes desastres, podem se aceitar Estados de Exceção para garantir o país. É uma lógica que se aplica às guerras externas. Em muitos momentos, houve a tendência de trazer a lógica da guerra para a lógica interna. Se fulano é inimigo, não deve ter os mesmos direitos dos demais cidadãos. É a convalidação do chamado direito penal do inimigo.

Segundo Serrano, as concessões jurídicas ao Estado de Exceção sempre foram identificadas em sentenças pontuais. Em nenhum país democrático houve uma explicitação tão nítida quanto na sentença dos 13 desembargadores do TRF4 sobre Sérgio Moro.

Na sentença do TRF4 invoca-se um voto o ex-Ministro Eros Grau e trechos de Giorgio Agamben, jurista italiano que estudou o Estado de Exceção. A sentença do TRF4 parte de uma leitura incorreta de Agambem, que analisava o Estado de Exceção para criticá-lo, não para endossá-lo, como fizeram os desembargadores. Mesmo porque, segundo Serrano, exceção é fascismo. O estado de exceção foi o argumento utilizado por Hitler para instaurar a ditadura nazista.

Algumas das ideias de Agambem (http://migre.me/v4s14)

·      As democracias são muito preocupadas: de que outra forma se poderia explicar que elas têm uma política de segurança duas vezes pior do que o fascismo italiano teve? Aos olhos do poder, cada cidadão é um terrorista em potencial.

·      A crise está continuamente em curso, uma vez que, assim como outros mecanismos de exceção, permite que as autoridades imponham medidas que nunca seriam capazes de fazer funcionar em um período normal.

O cenário atual indica um gradativo endurecimento político. Atualmente está em curso uma guerra de extermínio com a aplicação do direito penal do inimigo contra o PT, visando não apenas as eleições de 2018, que só ocorrerão se a oposição não mostrar nenhum sinal de vida. Nessa escalada, em breve se chegará a críticos da Lava Jato, independentemente de cor política.

A prisão de Guido Mantega

Autorizada pelo juiz Sérgio Moro, a prisão do ex-Ministro Guido Mantega é o caso mais clamoroso, até agora, dessa manipulação dos indícios na investigação penal.

Ela se baseou em dois elementos frágeis, pequenos.

1. Afirmação do empresário Eike Baptista de que Mantega solicitou apoio para o PT cobrir dívidas de campanha.

2. O fato de, um mês depois, ter havido o recebimento de um pagamento pela Mendes Jr de obra na Petrobras da qual uma empresa de Eike participavam, como parceiro menor do consórcio.

E só. Bastou para mandar um ex-Ministro para a cadeia, de onde foi solto algumas horas depois, por “razões humanitárias”, e também – segundo alegação do juiz – porque já tinha sido feita a coleta de equipamentos e documentos, e portanto não haveria riscos de atrapalhar as provas. Ora, se não havia riscos, não havia motivos para a detenção, independentemente dos fatores humanitários.

Na delação espontânea de Eike, ele afirma taxativamente que o apoio não estava vinculado a nenhuma obra da Petrobras; que Mantega limitou-se a ser o veículo do pedido de apoio. De seu lado, Mantega negou qualquer pedido. Um caso de palavra contra palavra.
Não adiantou. Para reforçar a suspeita, o juiz Sérgio Moro ainda jogou datas, dentro da estratégia banalizada de manipulação de indícios.

a)   Em sua decisão, Sérgio Moro confunde-se sobre a data da suposta reunião entre o ex-Ministro da Fazenda e o empresário Eike Batista. De acordo com a denúncia do MPF e com o depoimento do empresário a reunião teria ocorrido em 1/11. Moro, no entanto, ora menciona que a reunião teria ocorrido de fato em 1/11 (pg. 12), data em que o contrato entre a Petrobras e o consórcio Integra formado pelas empresas Mendes Jr e OXZ teria sido firmado, ora no dia 1/12/2012 (pgs 13 e 14), uma das datas em que haveria telefonemas da assessoria próxima do Ministro da Fazenda para as agências de João Santana.

b)  Não há, contudo, na tabela anexada pelo MPF em sua denúncia (páginas 38 e 39), nenhuma menção a ligações efetuadas do Ministério da Fazenda para as agências de João Santana no dia 1/12/2012. As ligações mais próximas são entre 15/10/2012 (15 dias antes da data mais provável da suposta reunião) e 01/03/2013 (meses após a data da reunião).

Cena 3 – os atores e a repressão

Nesse exato momento, o comportamento de alguns atores centrais não permite visões otimistas em relação à democracia.

Supremo Tribunal Federal

 Indagado sobre o fato de Mantega ter sido detido em um hospital, aonde estava acompanhando uma cirurgia no cérebro de sua esposa, o decano do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello, excelso garantista, poderia ter opinado sobre diversos ângulos:

·       O uso abusivo da prisão preventiva.

·       A insensibilidade da Polícia Federal de tê-lo detido no hospital (o juiz não poderia saber).

·       O show midiático expondo os réus antes do julgamento.

Preferiu, acacianamente, dizer que o Código Penal autoriza a detenção de pessoas em hospitais. E nada mais não disse nem lhe foi perguntado.

Dos demais Ministros, Marco Aurélio Mello se manifesta de vez em quando, assim como Gilmar Mendes. Mas nenhum ousa qualquer ação para deter a escalada do regime de exceção.

É uma desmoralização tão grande para as instituições brasileiras que, recentemente, um veículo norte-americano incluiu Sérgio Moro entre os dez líderes mais poderosos do planeta. Ora, o poder de um juiz de primeira instância é diretamente proporcional à fraqueza dos tribunais superiores. O prêmio a Moro é a confirmação do fracasso do sistema judiciário brasileiro, impotente para impedir a escalada de arbitrariedades do juiz.

Ministério Público Federal

 


Em debate na Folha sobre os abusos da Lava Jato, o procurador Jefferson Dias apelou para o da isonomia no desrespeito aos direitos básicos, uma falácia indesculpável em operadores do direito, aliás ponto central na psicologia de massa do fascismo: a ideia de que direitos são privilégios dos mais favorecidos. Acerca da superexposição dos réus, seu argumento foi: "Sempre houve isso com os menos favorecidos. Mas aí, quando acontece com pessoas mais ilustres, eles reclamam."

Em recente sessão da Comissão de Segurança da Câmara, o Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot enviou como representante o procurador Rafael Perissé. A audiência foi convocada para desagravar militares envolvidos em grupos de extermínio, e sob investigação.

Em nome do MPF, Perissé declarou que o aumento da letalidade, em operações da polícia, era resultado do trabalho deletério de ONGs e de procuradores criticando a polícia. Como resultado, a polícia ficou mais enfraquecida e os bandidos mais atrevidos. O aumento da letalidade, portanto, foi decorrência do maior atrevimento dos bandidos.



Nas redes sociais, o argumento central de procuradores é o uso recorrente da visão do inimigo externo. Qualquer crítica à Lava Jato é enquadrada como defesa dos corruptores contra os mocinhos.

Mídia

 

A crise da mídia provocou dois efeitos: submissão dos três grupos jornalísticos (Folha, Estadão e Abril) ao governo; e dos jornalistas em relação aos jornais e ao governo.

Do lado dos jornais, há um silêncio obsequioso em relação aos abusos, uma tentativa de criar um clima positivo, todos aguardando a bolsa mídia em gestação.

Nas redações, colunistas sob ameaça de desemprego, ou esperando surfar na onda do governo, ingressaram na era da infâmia. O momento atual, aliás, tem proporcionado um amplo desnudamento de caráter, especialmente quando se tem em conta que o golpe já venceu a guerra e está em andamento uma caça aos “inimigos”. À esta altura, colocar lenha na fogueira inquisitorial significa expor setores cada vez mais amplos à caça aos inimigos, que poderão ser seus colegas de ofício.

Cronistas com projetos na rádio MEC, colunistas beneficiários da Bolsa Ditadura, blogueiros de grandes grupos, colunista econômica, estão atuando como soldados incumbidos de executar o inimigo ferido no campo de batalha. Deveriam pensar melhor na sua biografia em um momento em que o país está prestes a cruzar de forma decisiva o Rubicão da democracia. A ficha caiu até para Fernando Henrique Cardoso.

Cena 4 – a reorganização das alianças

 

O golpe foi desfechado por uma coalizão composta principalmente  pelos seguintes elementos:

1.     A camarilha dos 6 (Temer, Moreira Franco, Padilha, Geddel, Jucá e Cunha) cujo maior estrategista era Eduardo Cunha.

2.     A mídia, liderada pela Globo.

3.     O PSDB como agente secundário, tentando ser o legítimo representante do mercado.

4.     A Procuradoria Geral da República, como agente operador da repressão.

As afinidades maiores são entre os três últimos grupos. O grupo 1, no entanto, enfeixou o poder, mas não cumpre com alguns requisitos básicos:

Falta de legitimidade – o Estadão tratando Eliseu Padilha como grande agente público é jornalismo de alto risco (http://migre.me/v4sTL). Há limites para o jornalismo chapa branca. E os jornais sabem que o custo para tentar legitimar o governo Temer é excessivamente alto. Como montar um regime fundado na anticorrupção tendo na cabeça o mais suspeito grupo político pós redemocratização?

Incapacidade de conduzir reformas – chegando ao poder, Temer passou a distribuir benesses entre os vitoriosos. Ampliou desmedidamente os gastos públicos em troca da promessa de reformar radicalmente a Previdência e impor teto aos gastos públicos. A cada dia que passa, fica mais distante da promessa de promover os cortes radicais e entregar o produto prometido. Aliás, em sua primeira atitude legítima em muito tempo, Rodrigo Janot ingressou com uma ação no STF visando impedir os danos às políticas sociais com os tais limites orçamentários (http://migre.me/v4sWN).

Aumento da impopularidade – o “Fora Temer” tornou-se um bordão irresistível. Não haverá parceria capaz de conferir a Temer senioridade no cargo.

A bolsa mídia

 

A reação do governo Temer está no preparo da bolsa mídia. É o que tem segurado as críticas dos jornais.
Algumas deduções sobre a tal bolsa mídia:

·       Três dos quatro grupos mais influentes – Folha, Estadão e Abril – padecem de problemas de geração de caixa. Portanto, apenas uma operação hospital pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) - como ocorreu com a Globo no início dos anos 2.000 – seria insuficiente.

·       Também não será um pacote exclusivamente publicitário. A não ser os grandes eventos de TV aberta, não haveria maneira de carrear para os veículos valores para equilibrar o fluxo de caixa.
·       Provavelmente o pacote envolverá BNDES + publicidade + projetos especiais com Ministérios + alguma operação cinzenta com o MEC (Ministério da Educação).

No domingo, a surpreendente crítica de Faustão ao projeto de reforma da educação traz elemento novo desse jogo, que precisará ser colocado sob análise. Aparentemente, a paciência da Globo – a principal agente midiática do golpe – está se esgotando. Mais provável ser mais um capítulo de guerra comercial em torno da fatia da Globo na bolsa-mídia.

O tempo de vida útil do governo Temer é até o final do ano. Se até lá não conseguir reverter o jogo, provavelmente não passará pelo teste do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Sendo apeado do poder, não haverá mais a possibilidade de novas eleições diretas. E aí se tentaria reeditar o pacto conservador com o presidente da Câmara Rodrigo Maia.

Mas pairam dúvidas de monta no ar. Como passar por cima das suspeitas envolvendo lideranças expressivas do PSDB? Ou a ideia seria jogá-los ao mar, refazendo as alianças com os remanescentes?

Cena 5 – as forças contra-cíclicas

 

Nas últimas décadas houve uma modernização no país, com temas civilizatórios, direitos de minorias, cotas raciais, o surgimento de um empresariado moderno – aquilo que o Jessé de Souza chama de o Estocolmo de São Paulo.

À medida em que se aprofunda o Estado de Exceção, tenderão a se posicionar como força contra-cíclica.
A dúvida é sobre o efeito-demonstração das manifestações democráticas. Daqui para frente, os abusos da Lava Jato serão cada vez maiores, estimulando mais manifestações de resistência.

Mas há dúvidas de monta sobre essa resistência. O governo e a Lava Jato jogam com a tática da intimidação. O país moderno está suficientemente consolidado para rebater essa ampliação do Estado de Exceção?
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