quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Nº 25.141 - 'Mesmo a ditadura de 1964 não me soava tão ameaçadora'

.

25/10/2018

'Mesmo a ditadura de 1964 não me soava tão ameaçadora'

Da Carta Capital — publicado 25/10/2018  por Mino Carta e Sergio Lirio

Ex-chanceler espanta-se com a conivência da elite e a covardia dos ditos democratas. "Me surpreende a normalidade com a qual a situação é tratada"

Celso  Amorim-9.jpg

O ex-ministro da Defesa enxerga semelhanças com a ascensão do nazismo nos anos 1930

Desde a última entrevista a CartaCapital de Celso Amorim, ex-chanceler e ex-ministro da Defesa, as circunstâncias mudaram radicalmente. Não se discute mais a vitória de um candidato progressista, mas a preservação das bases mínimas da civilização. Embora reconheça a cegueira coletiva e a ignorância reinante, Amorim ainda acredita haver tempo de despertar consciências. “O mais importante neste momento é salvar a democracia.”

CartaCapital: Como o senhor encara o transparente apoio das Forças Armadas, fardadas e de pijama, a Jair Bolsonaro?

Celso Amorim: Bolsonaro não era uma figura tão popular nos meios militares até recentemente. Ele acabou por se tornar uma espécie de líder sindical para causas militares. Além disso, havia resquícios que de alguma maneira a Comissão da Verdade durante o governo de Dilma Rousseff tocou, o que instigou setores mais radicais. Em boa medida, os pelotões e oficiais das Forças Armadas integram a classe média  brasileira. Consomem as notícias da mídia tradicional...

CC: ... As notícias inventadas...

CA: Inventadas, pois é. Muitos dos generais que conheci saíam do serviço para ver as novelas da Globo. Vida de classe média. Sofrem os mesmos impactos e comungam da mesma visão, espalhada pela Lava Jato, de que a corrupção era obra do Lula e do PT, mas que desacreditou toda a política. A explicação para a ascensão do Bolsonaro encontra-se menos em alguma atitude extraordinária sua e mais pela queda dos demais.

Para derrubar o Lula e o PT era inevitável provocar um “dano colateral”. A classe política como um todo foi afetada. Bolsonaro emerge então como uma figura antissistema. Os paralelos com a década de 30 do século passado são inevitáveis.

CC:  Em que medida?

CA: O artigo que mais impressionou nos últimos tempos não trata do Brasil ou da guerra cibernética. Foi um texto intitulado “Espere calmamente” e analisava a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Naquela época se ouviam argumentos semelhantes: “Quando ele chegar lá, a gente controla” e coisas do tipo. Um ou outro lembrava que não bastava prestar atenção no que ele dizia às vésperas de assumir o poder, mas o que falou durante a vida toda. Hitler amenizou até o antissemitismo de seus discursos às vésperas das eleições alemãs. E viu-se o resultado. 

Fiquei muito preocupado, pois não sei qual caminho as coisas no Brasil podem tomar. Refaço. Temo pelas escolhas que poderemos fazer em breve. O governo Temer acaba de sancionar um decreto muito estranho, concentrando na Presidência da República as questões ligadas à inteligência de combate ao crime organizado. Nas mãos, neste momento, do general Etchegoyen, mas não sabemos quem irá substituí-lo...

CC: O Etchegoyen tem uma tradição familiar de repressão...

CA: ... Ele é um homem preparado, nunca deu declarações fascistoides, mas vem de uma tradição conservadora... Mas não quero entrar nisso, senão vamos começar a apontar culpa por associação. 

O decreto cria uma força-tarefa para o combate ao crime organizado. A Polícia Federal, que em tese deveria cuidar do assunto, aparece em sétimo lugar nesta força-tarefa. Isso contraria a distribuição normal de funções. E uma das definições de organizações criminosas também chama atenção. Incluem-se no rol aquelas que “atentem contra o Estado e suas instituições”. O que isso quer dizer?

CC: Serviria, por exemplo, para criminalizar o MST.

CA: Não analisei o decreto, mas fiquei com essas preocupações. No meio de uma ação qualquer repressiva, de repente o governo solicita poderes especiais. Quando o Hitler assumiu, ele chefiava um partido que havia conquistado no Parlamento uma maioria relativa. Os conservadores lhe deram o poder, pois achavam que iriam controlá-lo. Exatamente como muitos, não necessariamente fascistoides, aceitam essa situação no Brasil.

CC: O que o espanta?

CA: Espanta-me a normalidade com que a mídia trata esse momento. Até a  Míriam Leitão ressaltou as diferenças entre Bolsonaro e o PT em relação aos compromissos democráticos. Podemos discordar de suas posições econômicas, mas ela é séria neste ponto.

CC: A Míriam Leitão contribuiu decisivamente para o antipetismo. Ela, o Merval Pereira, as Organizações Globo de modo geral.

CA: E agora estão preocupados. Talvez eles tenham se atentado de que a hegemonia pode não durar.

CC: Essa incultura, essa ignorância crassa que caracteriza o Brasil, de cima a baixo, pois os senhores não são melhores do ponto de vista intelectual do que o povo, distancia o País de qualquer exemplo possível.

CA: Do ponto de vista político, considero os Estados Unidos tão ignorantes quanto o Brasil.

CC:  É possível...

CA: ... Tem qualidades o país...

CC: ... Teve momentos magníficos com o Roosevelt, pois havia as ideias do Keynes postas em prática. E deu certo. 

CA: Deu certo.

CC: Mas, tão logo eles recuperaram um certo poderio econômico, surgiu o macarthismo...

CA: ... Aliás, peguei para reler um livro do Arthur Miller, acho que no Brasil é intitulado As Bruxas de Salem, sobre a caça às bruxas...

CC: ... Sim, belíssimo...

CA: ... Vamos nos preparando...

CC: ... É um grande teatrólogo...

CA: É verdade.

CC: Por que foi impossível até agora montar de fato uma frente democrática para enfrentar o Bolsonaro?

CA: Como disse, me surpreende a normalidade com a qual a situação é tratada. Estamos diante de uma ameaça real. Mesmo a ditadura de 1964 não me soava tão ameaçadora. Este movimento representado pelo Bolsonaro mexe com valores sociais, culturais.

CC: Há outro ponto. Os militares daquele período eram diferentes.

CA: Eram mais cultos?

CC: Um pouco mais, talvez. Alguém,  consta, tinha lido Victor Hugo. O Castello Branco era reconhecido...

CA: ... Leu um livro (risos)...

CC: ... Não importa. Por isso eram chamados de sorbonianos. Mas eles eram nacionalistas.

CA: É um pouco de mito. Há um momento forte do nacionalismo militar, mas não com o Castello Branco, que era muito alinhado aos Estados Unidos. Entrei na carreira diplomática em 1963 e o golpe aconteceu no ano seguinte. Fiquei muito chocado. Ingressei com uma política externa independente e me formei com as fronteiras ideológicas.

Quem teve uma característica nacionalista foi o governo Geisel, que padeceu de outros defeitos. E aí se desenvolve uma certa burguesia nacional. Os Bardella, os Villares... O nacionalismo nem sempre se expressava por boas causas.

CC: Não é estranho que os militares continuem a ter esse poder no Brasil? Eles não têm na Argentina. Ou no Uruguai.

CA: E não deveriam ter no Brasil. Não pareciam ter durante os governos do PT.

CC: Mas têm. Tanto que, quando eles aparecem, todo mundo recua. Neste momento, o que mais temo é o Exército, ainda de ocupação, e os togados golpistas.

CA: Togados golpistas...

CC: ... Sim...

CA: E a mídia, né? Bolsonaro não era a preferência das Forças Armadas. E não as considero os principais atores desta crise. Os responsáveis foram a mídia e o Judiciário. Tem duas coisas que não se pode tocar no Brasil: combater as desigualdades e proteger os recursos naturais, o que leva necessariamente a uma política externa independente. Isso derrubou o Getúlio Vargas, o João Goulart.

CC: O mundo tem dado recados eloquentes sobre o temor da eleição de Bolsonaro. Como o senhor imagina uma política externa em um governo do candidato do PSL?

CA: Já não invejava os embaixadores brasileiros no governo Temer, obrigados a defender posições indefensáveis. Mas sempre haverá os oportunistas...

CC:  Não exclui a possibilidade de haver no Itamaraty quem esteja disposto a se bandear.

CA: Eles acham que servem ao Estado. Resistir é difícil. É o ganha-pão, muito poucos estão dispostos a enfrentar essa situação. Quando houve o golpe de 1964, ocorreram quatro cassações políticas no Itamaraty. Vai haver uma adesão. Com que grau de entusiasmo não sei. O que me preocupa é como o mundo vê o Brasil. Fico impressionado com a cegueira da nossa elite.

O grande capital internacional não chega a ser um entusiasta da democracia, mas quer algum verniz. Foge de uma coisa cruenta, da defesa de assassinatos e estupros. Quantos banqueiros internacionais não são gays? O Brasil é muito grande para ficar isolado. Teremos uma instabilidade muito grande.

CC:  O PT fez os gestos necessários para conseguir apoio para uma aliança democrática?

CA: Não estou no centro das decisões, mas acho que sim. A eleição ainda não acabou. É preciso estar disposto a negociar espaços de poder. Não se trata de loteamento, mas de uma coalizão para atrair gente do PSDB, do PDT e de outros segmentos. Não sobraram muitos, mas salvar a democracia é o mais importante neste momento.

CC:  A cegueira no Brasil é única.

CA: Sim, mas uma parcela grande ainda pode ser levada a compreender os riscos. É o mínimo a tentar. Um Brasil democrático é importante para o mundo.

.

Nº 25.140 - "VÍDEO – o que é fascismo segundo o filósofo Vladimir Safatle"

.

25/10/2018

VÍDEO – o que é fascismo segundo o filósofo Vladimir Safatle


Do Diário do Centro do Mundo -Publicado por Pedro Zambarda de Araujo -  25 de outubro de 2018



.


Nº 25.139 - "Mais um crime e um corpo de delito. O que fazer?, por Alvaro Augusto Ribeiro Costa"

.

25/10/2018


Mais um crime e um corpo de delito. O que fazer?, por Alvaro Augusto Ribeiro Costa


Do Jornal GGN -  24/10/2018



Mais um crime e um corpo de delito. O que fazer?

por Alvaro Augusto Ribeiro Costa

Sinto imensa indignação e horror diante do vídeo (exibido no YouTube) em que alguém que se apresenta como Coronel Carlos Alves agride o bom senso, a tranquilidade e a razão de qualquer ser que se diga humano. Explico, ainda tomado pela emoção.

Logo no início, evidente a falsidade: imagem e som criminosamente apropriados e  utilizados sem autorização do dono.  Em seguida, coisa pior: a montagem com  utilização do nome de Cristo para a prática dos demais crimes que se sucedem e surgem como flagrantes delitos: calúnias, difamações, injúrias e ameaças explícitas e implícitas a inúmeras pessoas, grupos, categorias e instituições, nominadas ou não, mas individualmente personificadas principalmente no Poder Judiciário representado pelo Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal Eleitoral e  seus integrantes. 

Não merecem por enquanto análise detalhada a personalidade do furibundo ator (autor?) e sua repugnante aparição. No entanto, não se mostram irrelevantes - no contexto político-social que vivemos - a forma, o conteúdo e o significado desse repulsivo e permanente corpo de delito.

O que fazer, então? 

A primeira resposta, jurídica e política, tem de ser dada de maneira urgente e eficaz,  e não apenas com declarações e entrevistas inócuas, relativizações e minimizações  estimuladoras do prosseguimento e ampliação das ações delituosas de crescente proveito para a organização delinquente. Há que ser dada mediante ação efetiva pelos diretamente ofendidos e por quem tem a obrigação constitucional e moral de promover a defesa do Estado Democrático de Direito, das instituições democráticas e de seus integrantes. Refiro-me ao próprio STF, ao TSE, à Procuradoria Geral da República, ao Ministério Público Militar, à Advocacia Geral da União e à Policia Federal. Qualquer omissão, conivência ou cumplicidade significaria neste gravíssimo momento - e para sempre -  suprema desonra e substancial prevaricação. Além disso, se não sustadas cautelarmente as eleições até que devidamente apuradas a extensão e consequências da imensa fraude cuja apuração inicial pelo TSE o virulento suposto coronel pretende impedir, qualquer outra providência não será sequer paliativa. Revelará mero jogo de cena. Consumados os frutos da delinquência, qualquer outra medida traduzirá apenas tibieza e hipocrisia. Remédio tardio não cura; valerá, no máximo, como dissimulado cartão de pêsames da democracia estuprada. Decisão tardia nada repara; é mero pedido de desculpa.  Se isso acontecer, como se comportará uma população desprotegida, frustrada e ameaçada pela barbárie que já se mostra em todos os lugares e em discursos de mesma origem e inspiração? Reconhecerá o resultado eleitoral nascido da violência e da fraude? Seguirá passivamente para o abatedouro dos esquartejadores  da democracia? Claro que não.

Coragem, urgência e eficácia cautelar é o que a Nação espera e exige de seus juízes. Ou, então, que entreguem as próprias togas, armas ou chaves, como o fez em situação similar e atitude memorável  o saudoso Ministro Ribeiro da Costa.  Nessa hipótese, entretanto, a quem entregá-las? A milícias reais, robóticas e virtuais de quem se diz militar e liderado por aquele candidato notoriamente beneficiário da fraude sob apuração e das violências e ameaças que não poupam sequer o Supremo Tribunal Federal? Quem já se arroga impunemente a condição de vingativo e Supremo Justiceiro não merecia nem merece sequer participar do processo eleitoral. 

Uma palavra, por fim, deve ser dita ao soldado brasileiro de todas as patentes e armas: Não creio - ou não quero crer - que não seja tão falsa quanto a introdução do mencionado vídeo (de imagem e som surrupiados dos autênticos titulares e criminosamente e de modo blasfemo associados ao nome de Cristo) a bravata do intrinsecamente falso militar, afirmando estar falando em nome de generais, almirantes e brigadeiros. Somente quem não conhece as Forças Armadas do Brasil pode acreditar que os nossos generais, almirantes e brigadeiros - também oriundos do mesmo povo que lhes confere legitimidade com fundamento na Constituição que juraram defender - se insurgiriam contra o próprio juramento e, pior ainda, se esconderiam atrás de alguém que se diz coronel e se submete fanaticamente a um ex-capitão que sequer conseguiu prosseguir oportuna e lealmente na difícil e honrosa carreira militar junto aos companheiros cujas patentes agora desrespeita, difama e busca desacreditar.  Os verdadeiros patriotas - dentro e fora das Forças Armadas - não poderiam aceitar isso. E o resultado não seria apenas a guerra civil com a qual o raivoso agressor  ameaça todo o País.  Seria a total subversão da hierarquia, verdadeiro e inadmissível atentado à ordem castrense e à paz e segurança nacional. Em termos reais, estamos em face de um crime de lesa pátria em continuação. E que ninguém duvide: o sangue a ser derramado - que o agressor anuncia e já parece sentir nas infladas narinas - manchariam indelevelmente o verde, o amarelo, o azul e o branco de nossa terra, mar e ar, no inútil e enlouquecido sacrifício da nossa gente, da riqueza e dos símbolos nacionais. 

Contudo, as insensatas e dolosas diatribes - que infelizmente estamos vendo e ouvindo - não ofendem somente as pessoas e instituições  visadas pelo ódio alimentador de mercenárias  e fanatizadas milícias.  Como tiros de bateria embriagada, atentam, em primeiro lugar, contra as próprias Forças Armadas, sua honra, respeito e apreço social.

Aos seus legítimos e visíveis representantes cabe também por isso a urgente e eficaz ação contra aqueles que de modo espúrio e irresponsável usam seus nomes e assim os vilipendiam e depreciam.

Brasília (DF), 23/10/18

.

Nº 25.138 - "O trânsito, amanhã, com Bolsonaro. Mande para os amigos"

.

25/10/2018


O trânsito, amanhã, com Bolsonaro. Mande para os amigos


Do Tijolaço · 24/10/2018


Não precisa discurso. Não precisa argumentar com teorias sobre segurança pública. Não precisa pedir voto para Haddad.

Basta mandar a um amigo ou a uma amiga e perguntar se é assim que ele quer que seja uma discussão de trânsito em que ele, ou seu filho, se veja metido, a partir do ano que vem.

 Vídeo:

Tocador de vídeo
00:00
01:04

.

Nº 24.137 - "Mídia mundial teme caos político e econômico"

..

25/10/2018

Mídia mundial teme caos político e econômico


Do Blog do Miro - 25/10/2015



.

Nº 25.136 - "Bolsonaro vai entregar os tesouros da Amazônia, denuncia a Bloomberg"

.

25/10/2018

Bolsonaro vai entregar os tesouros da Amazônia, denuncia a Bloomberg

Do Blog do Esmael - 24/10/2018  por Esmael Morais


A agência de notícias Bloomberg, especializada em noticias financeiras, avisa que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) irá entregar os tesouros da floresta Amazônica para a exploração. Segundo o portal, a comunidade da mineração está “salivando” com a possibilidade de meter a mão no ouro dos brasileiros.

A reportagem cita como fonte Elton Rohnelt, dono de mineradora, que fundou algumas mineradoras durante a ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985, e foi colega de Bolsonaro na Câmara dos Deputados na década de 1990.

O candidato do PSL conhece como ninguém o ramo da garimpagem, segundo reportagem de 18 de maio de 2017 na Folha. Bolsonaro disse na entrevista que pratica o garimpo de ouro desde os anos de 1980.

“O garimpo, de vez em quando, eu pratico ainda. Não causo nenhum crime ao meio ambiente. O garimpo é um negócio que está no sangue das pessoas”, disse na época ao repórter Rubem Valente.

De acordo com o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), comete crime de usurpação e contra o meio ambiente quem garimpa sem autorização — passível de condenação com penas de detenção de seis meses a um ano, mais multa.

Voltemos à Bloomberg, que não é uma agência de notícias propriamente comunista (nem chega a ser uma Sputnik). A agência especializada em notícias financeiras, talvez marotamente, crava no título da matéria: “Romance de Bolsonaro com a mineração visa tesouros da Amazônia“.

O portal especializado em notícias financeiras, portanto do mundo capitalista, relata que Bolsonaro tem ideia-fixa com a mineração a ponto portar pedaços de ‘grafeno’ e ‘nióbio’ durante suas entrevistas.

Nos últimos dias, o candidato do PT Fernando Haddad levou à TV uma dessas entrevistas que Bolsonaro concedeu a jornalistas norte-americanos. O tema era justamente a exploração da Amazônia.

Dentre as medidas esperadas, caso o ex-capitão vença no domingo, está tirar o Brasil do acordo climático de Paris; reduzir o tempo de espera para licenciamento de pequenas usinas hidrelétricas a um máximo de três meses; não destinação de nem um centímetro mais para reservas indígenas; enfim, poderá haver uma flexibilização das rígidas leis ambientais para favorecer o garimpo e os fazendeiros na Amazônia.

Resumo da ópera: nada mal para quem era “garimpeiro” disputar o segundo turno para a Presidência da República.

.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Nº 25.135 - "Época: a estratégia de Bolsonaro para criar rede de zumbis no ‘whats’ "

.

24/10/2018

Época: a estratégia de Bolsonaro para criar rede de zumbis no ‘whats’


Do Tijolaço · 24/10/2018



por Fernando Brito

Operações secretas de entrega de listas de números serem adicionados e chips vindos do exterior para produzir grupos inalcançáveis do Brasil.

São apenas duas das estratégias usadas por Jair Bolsonaro para criar um exército de zumbis no Whatsapp, segundo revelam Gabriel Ferreira e João Pedro Soares na revista Época, hoje.

Eles ouviram integrantes do esquema, que era feito, inicialmente, por uma agência de publicidade e tem detalhes dignos de livros de espionagem:

Para multiplicar as células [pró-Bolsonaro] no aplicativo, eram utilizadas listas com números de celular fornecidas diretamente por funcionários do clã Bolsonaro. Diversas listas com números telefônicos foram retiradas pessoalmente de escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo — prática comum em campanhas para driblar a legislação eleitoral, que só permite o uso de base de dados dos próprios candidatos. Em seguida, por telefone, cada uma das listas era associada ao perfil de um grupo específico: jovens, mulheres, pobres, evangélicos, entre outros. Os grupos eram criados e alimentados manualmente. Um a um, centenas de contatos migravam do papel para a rede, sem a autorização prévia dos usuários.

Muitos deixavam os grupos, sempre inaugurados com uma mensagem de boas-vindas que trazia as regras de utilização. Para evitar a debandada, os disparadores enviavam mensagens privadas, com referências nominais aos proprietários dos números. “Assim, criávamos um ambiente mais família, menos artificial”, disse um dos informantes. Após o grupo atingir uma estabilização de participantes, o funcionário da agência transferia sua administração para um dos integrantes e deixava o grupo. O procedimento era feito para que não houvesse sobrecarga dos operadores, que ficariam livres para criar novos grupos e cuidar da gestão deles — um desenho semelhante às pirâmides financeiras.

A operação era cercada de sigilo, diz a revista, com a entrega chips usados provenientes dos Estados Unidos (a maioria), Portugal e Argentina.

“As agências que atendiam o clã do presidenciável recebiam os chips estrangeiros em procedimento idêntico ao das listas — pessoalmente, em encontros cercados de sigilo. A ideia era dificultar o rastreamento e bloqueio dessas linhas”.

Os memes eram produzidos em série e distribuídos a grupos não eram apenas os “inseminados” artificialmente. Segundo a reportagem, o esquema tinha três níveis.

“Primeiro, os grupos de disparo maciço em que os usuários não podem interagir entre si. Neles, só existe um administrador, que envia as peças e orienta os passivos a replicar o conteúdo em suas redes. Para esse fim, militantes usam também as linhas de transmissão, ferramenta do aplicativo para o envio múltiplo de mensagens privadas. Depois, em menor número, vêm os chamados “grupos de ataque”, em que também não há diálogo, mas o administrador publica um determinado link que deve ser atacado em massa pelos demais. Reportagens contrárias aos Bolsonaros e enquetes virtuais como as realizadas pelo Congresso Nacional são os alvos preferenciais. Esse tipo de célula reúne os militantes mais disciplinados, que recebem orientações objetivas e respostas pré-fabricadas para o conteúdo-alvo. Por último, estão os grupos públicos, de maior organicidade e com mais de um moderador, nos quais é permitido aos integrantes interagir.

Todos já viram que estamos diante de um esquema de subversão do processo de formação da opinião pública, clandestino, bem planejados e remunerados.

Todos, menos a Justiça Eleitoral.

.

Nº 25.134 - "Bolsonaro em crise com início de virada de Haddad"

.

24/10/2018


Bolsonaro em crise com início de virada de Haddad

Do Blog do Esmael - 24/10/2018 

O clima de virada na campanha de Fernando Haddad (PT) já é fato. Contra fato não há argumentos.

por Esmael Morais

“Começou a virada”, dizem Haddad e Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT.

Nesta quinta (25), a tendência é as pesquisas do Vox Populi e do Datafolha confirmarem a virada do petista.

Sem campanha de rua, debates, e ausência de agendas consistentes, a campanha de Jair Bolsonaro (PSL) entrou em viés de queda — anotou ontem (23) o Ibope.

O próprio jornalista Merval Pereira, da bancada antipetista na Globonews, admitiu que o ex-militar levou um ‘grande susto’ com a queda na pesquisa.

.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Nº 25.133 - "Nicolelis, o neurocientista brasileiro mais premiado no mundo, alerta: 'Dependendo do resultado da eleição, a ciência brasileira não existirá mais'; veja"

.

23/10/2018

Nicolelis, o neurocientista brasileiro mais premiado no mundo, alerta: “Dependendo do resultado da eleição, a ciência brasileira não existirá mais”; veja


Do Viomundo -23/10/2018


por Conceição Lemes

Nessa segunda-feira (22/10), artistas, juristas, intelectuais e movimentos sociais participaram na PUC-SP de um ato em apoio à candidatura Fernando Haddad-Manuela D’ Ávila à presidência da República.

Entre os presentes, o professor Miguel Nicolelis, seguramente o neurocientista brasileiro mais reconhecido e premiado no mundo. Também um dos grandes nomes da ciência mundial.

Em discurso muito emocionado (veja acima), Nicolelis fez um apelo a todos os estudantes, pesquisadores e professores brasileiros que se beneficiaram dos programas de ciência  e educação dos governos Lula e Dilma.

”Ontem, eu fui ao Tuca defender a democracia brasileira”, disse-me há pouco.

“Eu não podia me omitir”, frisou.

”Estamos diante de uma bifurcação  histórica da democracia brasileira e da ciência brasileira”, enfatizou o que disse ontem no Tuca, o histórico teatro da PUC-SP.

.

Nº 25.132 - "A naturalização da mentira e as eleições ilegítimas"

.

23/10/2018


A naturalização da mentira e as eleições ilegítimas

Do Brasil 247 - 22 de Outubro de 2018

Foto: ABr


por Aldo Fornazieri

Aldo FornazieriAs eleições presidenciais de 2018 vêm sendo marcadas por uma sucessão de episódios que as tornam cada vez mais ilegítimas. Todo esse processo tem origem no impeachment sem crime de responsabilidade, o que caracterizou o golpe parlamentar-judicial, fato que abriu a porteira para uma sucessão de ilegalidades de juízes de primeira instância, do TRF4, do STJ, do TSE e, principalmente, do Supremo Tribunal Federal. Tudo termina - depois de uma série de relações causais, de cumplicidades criminosas de vários tribunais e juízes, de violações de leis e da Constituição - na imensa manipulação de eleitores, através de mentiras e falsas acusações, patrocinada pela campanha de Bolsonaro.

As ações manipuladoras do Sérgio Moro, numa sucessão de atos políticos para derrubar a presidente Dilma e prender Lula, estão em linha com a escandalosa farsa via redes sociais e Whatsapp, patrocinada pela campanha e pelos agentes bolsonaristas. Também estão em linha com esta campanha as ações do TRF4, cujo presidente, Carlos Eduardo Thompson Flores, é amigo íntimo do general Hamilton Mourão a ponto de participar de uma palestra do mesmo durante a campanha. Ilegítima foi a condenação de Lula sem provas, ilegítima foi a ratificação da condenação de Lula pelos três desembargadores do TRF4, ilegítima foi sua prisão, ilegítima foi a ação de Moro de impedir sua soltura determinada pelo desembargador Favreto, ilegítima foi a ação de Thompson Flores ao validar a ilegitimidade de Moro ao invés de remeter o caso para o colegiado do tribunal, ilegítima foi a decisão dos tribunais superiores ao não concederem habeas corpus a Lula, ilegítima foi a procrastinação de Carmen Lúcia ao não colocar em julgamento a questão da prisão após condenação em segunda instância e ilegítimas foram as pressões de generais sobre os tribunais superiores nas vésperas de julgamentos envolvendo Lula.

Na tutela judicial-militar que vem se estabelecendo sobre as instituições políticas, sobre o Estado de Direito e sobre as liberdades e direitos individuais, os tribunais superiores vêm marcando sua conduta nesses episódios todos por ações definidas por dois tipos de caráter: covardia e cumplicidade. Por um lado, cedem às pressões dos generais e, por outro, são cúmplices adiantando-se até mesmo às pressões e sendo mais proativos no estabelecimento da exceção do que os próprios generais.

Não é um acaso histórico que as eleições presidenciais de 2018 estejam sendo marcadas e manchadas por uma imensa máquina de mentiras, de calúnias e de difamações contra os adversários do bolsonarismo. Esta farsa e sua cultura vieram sendo preparadas pelas ilegitimidades e pelas ilegalidades, pois estas são os punhais terríveis que, primeiro, assassinam a verdade, o respeito, a decência e a moralidade. Destruídas a verdade e a moralidade das leis e da Constituição, naturalizadas as ilegalidades e as ilegitimidades, depois, qualquer mentira prospera, pois o discernimento e a razão justos são igualmente destruídos pela racionalização da perversidade e da maldade. É da afirmação da validez do mal do que se está falando. Repita-se o que dissemos no último artigo: Nada de digno, nada de edificante, nada de justo surgirá sobre a montanha de mentiras, da falta de escrúpulos, da falta de moralidade erguida pela campanha de Bolsonaro.

Com a naturalização das mentiras perdeu-se o metro e o critério do justo e do verdadeiro. Com isto naturaliza-se também a incitação à violência, ao estupro, ao preconceito, à discriminação, ao racismo, à misoginia, ao machismo, à homofobia e ao golpe. Não existem mais as barreiras sociais e morais para que estas manifestações do mal se explicitem. Senhores e senhoras "do bem", das elites, perderam qualquer escrúpulo em manifestar essas vocações perversas e pervertidas da conduta humana. Todos os demônios que estavam acorrentados nas almas de cada um por uma barreira moral e social se soltaram e a sociedade brasileira revela a sua verdadeira face: perversa, cruel, imoral, tirânica, violenta, assassina e desumana.

A banalidade da mentira precede e acompanha a banalidade do mal. O aparecimento da banalidade da mentira é o sintoma, o prelúdio, o anúncio do surgimento efetivo do fascismo. A banalidade da mentira é o primeiro ato do nascimento de um movimento fascista organizado que usará a violência sistemática para conquistar e/ou manter-se no poder.

Está mais do que documentado que os movimentos fascistas e nazistas que ascenderam ao poder, mesmo por eleições, usaram a mentira sistemática em sua propaganda para manipular e convencer as pessoas. A extrema-direita de hoje usa o mesmo expediente dos movimentos fascistas e nazistas originários. O que mudou são apenas os meios de propaganda. Também está documentado que o sucedâneo da mentira é o uso da violência sistemática e organizada. O que se vê hoje é a violência ainda dispersa, praticada pelos devotos do candidato e líder. Se tudo isto não for contido a tempo, amanhã, possivelmente com o domínio do poder, será fácil transformar o PSL num movimento fascista ou fazer surgir esse movimento à margem mesmo dos partidos.

Também está solidamente documentado o fato de que as instituições judiciais e policiais foram omissas ou criminosamente cúmplices dos movimentos totalitários onde estes chegaram ao poder. Atos dessa omissão e dessa cumplicidades nós estamos assistindo nos últimos anos no Brasil. Agora mesmo se verá se o TSE será omisso ou criminosamente cúmplice desta montanha de mentiras, desta farsa em que a campanha de Bolsonaro transformou essas eleições via Whatsapp.

Com a naturalização da mentira e com a perda do metro e do critério do que é justo e verdadeiro as mentiras são mentiras e são transformadas em verdades. Quando o filho de Bolsonaro afirma que basta um soldado e um cabo para fechar o STF quer-se que isto não seja levado a sério, mas ao mesmo tempo é uma ameaça. Quanto Bolsonaro incentiva a violência, o estupro e o racismo é a mesma coisa: é brincadeira, mas é sério. É brincadeira para evitar a reprovação e a tipificação de crimes, mas é sério porque as palavras têm consequências, as palavras intimidam, matam, estupram, discriminam.

E o povo? Por que o povo se deixa enganar e adere a propostas autoritárias? Existem várias explicações históricas, algumas de caráter geral, outras relacionadas a circunstâncias e conjunturas específicas de cada país, que evidenciam as razões para essa conduta dos povos. Não se trata aqui de analisá-las. Mas no caso específico da candidatura de Bolsonaro, apenas uma minoria age e adere a ela de forma consciente, sabendo que ele expressa uma perspectiva autoritária. Mas os eleitores em geral, como mostram as pesquisas, acreditam que Bolsonaro defende mais a democracia do que Haddad.

Em relação a esses eleitores, que de um ponto de vista progressista, são ingênuos, manipulados e enganados, existem explicações mais prosaicas acerca de sua adesão ao bolsonarismo. Parte deles aderem por quererem mudanças. Vêem em Bolsonaro uma encarnação mais efetiva de mudança do que em Haddad. Vêem no candidato do PSL alguém que está contra tudo o que está aí, um candidato anti-sistema. Identificam no sistema a causa das mazelas do Brasil e de sofrimento do povo.

A Filosofia Política também pode oferecer algumas explicações para a conduta desses eleitores manipulados. Tome-se as explicações de Maquiavel e de Shakespeare, que são coincidentes. Eles indicam que nos momentos de transição, de declínio de velhas lideranças e de ascensão de novas, o povo se fixa mais no presente e no que é novo do que no passado ou em algo que o represente. Os povos apreciam as frivolidades recém-nascidas ou recém-chegadas. As pessoas vêem ouro onde há apenas um pó dourado e não conseguem ver o ouro verdadeiro sob o pó.

Ou tome-se Hegel: na opinião pública está a verdade e o erro infinito. Ela sabe o que é o verdadeiro bem, mas quando julga costuma aplicar golpes lamentáveis. Isto acontece porque o povo se engana e porque é enganado. Mas se existe um líder autêntico e que conta com a confiança do povo, basta que lhes diga onde está o critério da verdade e o povo o perceberá. Lamentavelmente, neste momento, o único líder que pode fazer isto está preso e não pode falar.


Aldo Fornazieri. Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP)

.

Nº 24.131 - "Bob Fernandes: acordo entre covardes, oportunistas e bolsonaristas. Veja"

.

23/09/2018

Bob Fernandes: acordo entre covardes, oportunistas e bolsonaristas. Veja


Do Tijolaço  · 22/10/2018


por Fernando Brito

O comentário preciso de Bob Fernandes, hoje, no Jornal da Gazeta, indo ao ponto: “evidente o acordo tácito entre acovardados e oportunistas e o bolsonarismo”.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal, anunciou: “Pra fechar o Supremo Tribunal você não manda nem jipe, manda um cabo e um soldado”.

Disse em julho, vídeo vazou agora. No mesmo julho, uma semana antes, Bolsonaro-pai propunha nomear mais 10 ministros para o Supremo.

Bolsonaro fatura com ameaça do filho. Diz: “Quem fala em fechar o Supremo precisa de psiquiatra (…). Adverti o garoto”.

Neste domingo, 21, via celular, Bolsonaro atiçou seguidores na Paulista:

-(…) A faxina será ampla… Ou vão pra fora (exílio) ou vão pra cadeia. (…) Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa Pátria…

As ameaças dos Bolsonaro são essência do fascismo. Autorização para violência e eliminação de adversários.

O sociólogo Fernando Henrique, enfim, despertou. Disse:

-Essas declarações (de Eduardo Bolsonaro) cruzaram a linha, cheiram a fascismo…

Rosa Weber preside o TSE… O TSE vetou Haddad lembrar no programa eleitoral que Bolsonaro, historicamente, defende tortura e torturador.

Supremo ameaçado… Rosa Weber, do Supremo e TSE, encolheu. Falou em “declarações inadequadas”.

O ministro Alexandre de Moraes cobrou “investigação” da Procuradoria-Geral da República. Que segue calada. Tofolli, presidente do Supremo, afirmou em nota oficial:

-Atacar o Poder Judiciário é atacar a democracia…

E o Juiz Moro, sempre tão atento a Caixa 2? O jornal Valor noticia: Moro estaria disposto a aceitar convite bolsonárico para uma vaga no Supremo….

Faz sentido, tem nexo…

A Mônica Bergamo, da Folha, Celso de Mello, ministro decano do Supremo, disse o que deve ser dito:

-(…) Declaração golpista, inconsequente, visão autoritária que só comprometerá a integridade da ordem democrática e respeito à Constituição.

Tudo isso serviu a Bolsonaro para disfarçar o grande escândalo. Noticiado por Patrícia Campos Mello, na Folha…

…Campanha de Bolsonaro usou caixa 2, ilegal. Para comprar e disparar mensagens contra Haddad e PT no WhatsApp.

Segundo a Folha, “cada contrato chega a R$ 12 milhões”. Mensagens com infindáveis asnices…

….Do tipo “Haddad distribuiu Kit Gay” e “mamadeira erótica”, “Hitler era comunista”… “a Globo a Veja, a ONU e o Papa são comunistas…”

Há meses mentiras e asneiras do gênero inundam o WhatsApp e dali se espalham.

Agora, depois da repercussão do escândalo nas Mídias mundo afora, Polícia Federal e TSE abriram investigações…

…Aposta ingênua em “investigações” como freio, como espada sobre a cabeça de Bolsonaro no futuro.

Tardio. Evidente o acordo tácito entre acovardados e oportunistas e o bolsonarismo.

Tentam, só agora, deter fascistas. Quando já se anuncia, em tom de deboche, “fechar o Supremo” e “faxina” para “banir” (exilar) ou prender adversários…

.

Nº 25.130 - "Xadrez da grande batalha civilizatória, por Luis Nassif "

.

23/10/2018

Xadrez da grande batalha civilizatória, por Luis Nassif 


Do Jornal GGN  22/10/2018 -



Xadrez da grande batalha civilizatória, por Luis Nassif

por Luis Nassif

Peça 1 -  2018 e 1968


Em 1964, derrubou-se um presidente da República e promoveu-se uma eleição indireta que resultou na posse do Marechal Castello Branco. Do mesmo modo, em 2015 houve outro golpe que derrubou uma presidente eleita.

As semelhanças entre os dois momentos foram desautorizadas por quem comparava 2015 com 1968. No pós-68 houve tortura, agora, não. A comparação, na verdade, é com 1964. Sem 64, não teria havido 68 e os demais anos de chumbo.

Derrubado o governo, foram promulgados vários Atos Institucionais, em uma escalada crescentemente repressiva. O primeiro, de 08/04/1964, dava ao governo militar o poder de alterar a constituição, cassar leis legislativas, suspender direitos políticos por dez anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que tivesse atentado contra “a segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública”.

A ideia inicial era permitir eleições diretas em 1966 e uma nova Constituinte.


Em 27/10/1965 foi promulgado o AI-2 dissolvendo os partidos políticos, aumentando de 11 para 16 o número de Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), reabrindo as cassações e autorizando o governo a decretar estado de sítio por 180 dias sem consultar o Congresso.

Em 05/02/1966 é promulgado o AI-3, instituindo eleição indireta para governador, prefeitos das capitais indicados pelos governadores.

Em 07/12/1966, o AI-4, convocando o Congresso Nacional a definir uma nova Constituição.

No dia 13/12/1968, o AI-5, concedendo ao Presidente da República o poder de cassar mandatos, intervir em estados e municípios, suspender os direitos políticos de qualquer pessoa, inclusive o direito ao Habeas Corpus para crimes políticos.

No dia 01/02/1969 o AI-6, reduzindo de 16 para 11 o número de Ministros do STF e cassando dois deles, que haviam se colocado contra a cassação de um colega. Definiu também que os crimes contra a segurança nacional seriam julgados pela justiça militar. Com base dele, houve inicialmente uma lista de 33 cassações de deputados.

Peça 2 – o quadro atual pré-68


Há um conjunto de fatores sugerindo que se entrou na fase pré-68.

As listas e a deduragem
Na semana passada, a criação da Força-Tarefa de Inteligência para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil – entendido como tudo que possa comprometer a segurança nacional – foi indicativo óbvio do que será feito. Tratei o fato como o AI-1 do novo regime

Ontem, em seu discurso para os manifestantes da Avenida Paulista, Bolsonaro anunciou que MST e MTST, entre outras organizações, serão tratados como organizações terroristas em seu governo.

Um dos capítulos mais infames do período militar foram as listas de suspeitos difundidas por jornalistas, intelectuais, professores, contra seus próprios colegas, e que teve como personagem-símbolo Cláudio Marques, o delator de Vladimir Herzog.

Ontem, em sua coluna do Estadão, Eliana Cantanhede inaugurou formalmente a nova etapa Cláudio Marques, ao divulgar uma lista de diplomatas “suspeitos” de contaminação esquerdista. Outros colegas a acompanharão.

Saliente-se que apenas repete o que grandes veículos fizeram anos atrás com jornalistas que ousavam fazer o contraponto.

A naturalização da violência
Em muitos veículos tenta-se minimizar a violência, comparando-a a dos embates entre torcidas de futebol, mesmo estando disseminada por todo o país.


Instituições intimidadas


Outro indício claro é a intimidação das instituições. O filho do candidato a presidente Jair Bolsonaro diz que para fechar o STF (Supremo Tribunal Federal) basta um cabo e um soldado. Dois Ministros de manifestam em on – Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello. Os demais reclamam em off, justificando a necessidade de apenas uma voz por todos, a do presidente da casa, Dias Toffoli. Fontes ligadas a Toffoli avisam que ele prefere não se manifestar para não colocar mais lenha na fogueira. Na verdade, a manifestação ajudaria a jogar água na fervura, mas o bravo Toffolli ficou com receio de ser atingido por algum respingo de água quente.

Celso de Mello alertou para o óbvio: é função da Constituição assegurar que o poder de maiorias eventuais não se sobreponha aos princípios da lei e aos direitos individuais. Aliás, foi o princípio central de determinou a evolução de todas as constituições no pós-guerra, depois que se comprovou que os nazistas se valeram dos instrumentos democráticos para compor uma maioria que liquidou com a democracia, e que consagrou o papel do STF como contra majoritário – isto é, contra eventuais ditaduras das maiorias (e obviamente das minorias).

Nos últimos anos, no entanto, o STF – através de Luís Roberto Barroso e Luiz Fux – se tornou o defensor da máxima de que o tribunal deve atender às expectativas das maiorias. O constitucionalista Barroso se tornou o principal propagandista do princípio que impulsionou o nazismo.

Ontem à tarde, em comício na Avenida Paulista, Bolsonaro disse pelo telão que, eleito, mandará prender ou expulsar do país todos os esquerdistas e mandará prender políticos da oposição. Não mereceu uma admoestação sequer da Procuradoria Eleitoral, pelo claro desrespeito à ordem legal.

Por outro lado, pesquisas internas do PT identificaram nos programas denunciando a tortura o discurso mais eficaz contra Bolsonaro. Mas o TSE suspendeu a veiculação dos programas que levantavam o tema.

Peça 3 – a guerra digital


Há muitos pontos em comum na atual guerra digital com o que ocorreu na época da Telexfree, a super pirâmide digital que deixou mais de um milhão de vítimas no Brasil e arrecadou alguns bilhões de reais dos incautos. Fui alertado para a coincidência após uma ameaça feita pelo Facebook por um ex-vendedor da Telexfree, sugerindo que seu principal líder no país, Carlos Costa, teria se acertado com Bolsonaro - provavelmente confundindo com o economista homônimo.

Não se trata apenas do uso da informação em massa pelas redes sociais – na época, a Telexfree usava uma metodologia eficaz para aparecer na primeira página das pesquisas do Google -, mas também de interferir no funcionamento de portais e blogs e até nos computadores pessoais dos jornalistas e blogueiros visados. Aqui, no GGN, temos sofrido ataques similares de DDoS e interferência nos computadores dos jornalistas. No primeiro turno, conseguiram inviabilizar compartilhamento de artigos no Facebook.

A montagem da rede de Bolsonaro é trabalho antigo. Há mais de dois anos era visível o trabalho em rede. A cada crítica feita à Lava Jato apareciam enxames de bolsominions com um mesmo padrão de texto: caixa alta, erros grosseiros de português e agressividade explícita, usando principalmente o Facebook e o youtube. Mas com uma capacidade notável de ataques sincronizados. No Twitter, a atividade maior sempre foi através de perfis falsos – facilmente identificados pelo reduzido número de seguidores e por uma numeração no nome, para facilitar a criação de novos perfis, sempre que os anteriores fossem bloqueados.

Pouco antes, na véspera da reportagem da Folha sobre fakenews, o Procurador Geral Eleitoral Humberto Medeiros minimizava o fenômeno: apenas 10% das mensagens do WhatsApp são em grupo, dizia ele. Dois dias depois, depois que o caso se tornou escândalo mundial, o WhatsApp desabilitou 100.000 contas suspeitas de propagar fakenews.

Só aí Medeiros trouxe informações de sua conversa com os diretores do WhatsApp. No México e Índia ocorreram fenômenos semelhantes e a empresa criou aplicativos permitindo identificar as notas mais compartilhadas, enviá-las a agências de checagem e transmitir a contra-informação para toda conta que recebeu a notícia falsa.

Ou seja, o fenômeno já havia se espalhado por vários países, havia literatura sobre o tema e um tribunal que deverá custar R$ 10 bilhões no próximo ano, sequer se preocupou em contratar estudos ou especialistas para se preparar para enfrentar o fenômeno. Menos ainda os partidos políticos vítimas, desde 2006, desse tipo de armação digital.

Peça 4 – a redução de danos das instituições


Em Brasília, há dois movimentos generalizados das instituições: ou adesão a Bolsonaro ou política de redução de danos. Significa fugir dos confrontos com os hunos, aprofundar a aproximação com o Estado Maior das Forças Armadas, confiando que irá se comportar com mais racionalidade que Bolsonaro, principalmente porque a proliferação das declarações violentas, e a adesão de quadros militares a Bolsonaro, poderão colocar em risco, inclusive, a hierarquia militar.

A única reação, portanto, será através do voto.


Peça 5 – a grande luta contra a selvageria


A pesquisa CNT/MDA divulgada hoje mostra o seguinte quadro:

Intenção de voto para presidente (total):

Jair Bolsonaro (PSL): 48,8%
Fernando Haddad (PT): 36,7%
Branco/Nulo: 11,0%
Indeciso: 3,5%.
Nos últimos dias multiplicaram-se as declarações do grupo de Bolsonaro sobre o que poderá esperar o país em caso de sua vitória.

Todo o quadro, explicado acima, poderá se concretizar, ou ser evitado. Nos próximos dias haverá uma luta dantesca da civilização contra a barbárie. Há sinais de que a onda Bolsonaro estabilizou e começa a recuar, ainda que lentamente. O grande desafio será o de aprofundar o conhecimento geral sobre Bolsonaro.

Se a esperança vencer o medo, será possível evitar o mais profundo retrocesso civilizatória da história do país.

.