04/06/2010
"O balanço de maio da campanha: descendo a Serra"
Blog do Emir - 04/06/2010
Emir Sader*

A avaliação da candidatura da Dilma é que a identificação dela com o Lula é o fator fundamental do crescimento dela e da baixa do Serra. A avaliação da candidatura do Serra é que a super exposição da Dilma junto com o Serra teria sido a causa, que teria em uma exposição intensa do Serra em junho, a resposta.
O certo é que se esgotou a primeira imagem tentada pelo Serra: a de tentar reter votos que apóiam ao governo, tratando de passar por o melhor continuador dele, baseado no “pode mais”. Depois de certo desconcerto, o Serra se deu conta que o fortalecimento do consenso em torno do Lula e a projeção cada vez maior da identificação deste com a Dilma, não o favorecia e não impedia a sangria de votos para a candidata do governo.
Serra teve que fazer o que buscava evitar: ser o anti-Lula. Foi rapidamente adotando a receita tradicional da direita: segurança e diminuição dos impostos. A promessa da criação de um Ministério da Segurança e os ataques à Bolívia representam a tentativa de explorar o viés conservador de setores da classe média, para o que também converge a promessa de diminuir impostos – sem dizer de que setores cortaria a tributação.
O mais significativo da virada nas preferências do eleitorado na campanha foi a perda de iniciativa do Serra, que passou a responder a políticas do governo e a propostas da Dilma. Foi assim que destemperou seu ânimo contra a política externa (Mercosul, Venezuela, Irã, Bolívia), revelando um provincianismo, que revela uma incompreensão do que é o mundo de hoje, dos sucessos inquestionáveis da política externa brasileira e do desastre que seria uma política baseada nas afirmações dele (muito propriamente chamado de “exterminador do futuro” por Marco Aurélio Garcia).
Serra foi acumulando posições erráticas e revelando seu gênio descontrolado e centralizador (por enquanto já acumula, além da presidência da república, a do Banco Central e da Sudene, em um eventual governo seu, além de decidir sozinho sua agenda). Sua campanha entrou em crise, conforme ele foi cedendo aos setores mais à direita no seu bloco, em particular ao DEM, que acredita que devem radicalizar contra Lula e Dilma. Revelou o incômodo da sua candidatura diante do sucesso do Lula e da projeção da Dilma como a principal responsável por esse sucesso e como não é fácil assumir um pós-Lula sem ser, ao mesmo tempo, um anti-Lula.
Serra continua a contar com o monopólio dos meios de comunicação – que o governo não conseguiu quebrar, revelando o fracasso da sua política de comunicações – como seu instrumento mais forte. Mas para isso precisa abastecer com combustível essa desgastada máquina de fazer denúncias e tentar transformar em “crises” e “gafes”, qualquer circunstância menor. Não tem funcionado, mas sendo o seu grande instrumento, de que dispõem completamente, a oposição segue disposta a usá-lo a fundo, até o fim da campanha.
Dilma ainda tem para resolver problemas em vários estados – principalmente Minas, Paraná, Santa Catarina,Pará, Maranhão – cujos arranjos finais podem favorecê-la ou prejudicá-la. Mas mesmo em Minas nada indica que a diferença de votação entre os dois permita recuperar a diferença significativa a favor dela na grande maioria dos outros estados.
Junho demonstrará se o clima de abril ou o de maio dará a tônica da campanha, nos 4 meses que nos separam das eleições.
*Emir Sader . Sociólogo e cientista político.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista