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15/07/2013
Por que a Revolução Francesa foi o episódio mais importante da história da humanidade
14 de julho de 2013
Napoleão cruzando os Alpes, pelo grande pintor David |
Paulo Nogueira
A Revolução Francesa percorreu todos os caminhos típicos das grandes revoluções. Foi-se moldando sob a opressão a injustiça de um regime em que nobres e religiosos eram absurdamente favorecidos em detrimento do povo. Começou relativamente branda, sem que estivesse ainda claro o papel do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta. Aos poucos virou uma revolução como tem que ser. Para isso, foi preciso que radicais jacobinos como Robespierre, Danton e Marat tomassem o poder e fizessem cair cabeças sob guilhotinas — destinadas, como notou o historiador Jules Michelet, a abreviar o suplício dos condenados. (Os revolucionários franceses não repetiram o horror das execuções da Igreja Católica na Inquisição.) O casal real não podia escapar e não escapou. Revoluções como a Francesa não são feitas com tapinhas nas costas. Uma ordem estabelecida só cede a uma nova ordem pela força.
É uma das leis imutáveis da humanidade.
Feito o trabalho duro e sob certos aspectos sujo, os radicais tinham que ser liquidados para que a França voltasse a respirar e seguisse adiante. Robespierre, o “Incorruptível”, advogado de uma cidadezinha chamada Arras e símbolo do Terror jacobino, tinha que cair e caiu. A guilhotina que ele impusera para tantos, incluído Danton, acabou por alcançá-lo.
Radicais no poder servem para extrair o máximo de uma revolução, mas depois se tornam um obstáculo à retomada da normalidade. Foi assim que Robespierre e comandados chegaram ao fim na França, em 1794, na célebre Reação Termidoriana (uma alusão a “termidor”, o mês do calendário revolucionário em que a Convenção se voltou contra Robespierre). Cortada a cabeça do Incorruptível, estava tudo pronto para a burguesia administrar a França e o mundo. A sociedade tal como a conhecemos dava ali seus primeiros passos.
A Revolução Francesa fascinou, inspirou e assombrou todos os revolucionários que vieram depois dela. Os bolcheviques russos estudavam ansiosamente o que acontecera na França em busca de luzes para seus atos. A família do czar Nicolau II foi liquidada em 1917 porque Luís XVI e Maria Antonieta tinham sido antes. A lógica foi copiada: não deixar símbolos capazes de galvanizar os contra-revolucionários. A campanha de Stálin contra Trotsky recebeu o reforço milionário da história francesa. Contra Trotsky, que comandada o Exército Vermelho da guerra da Revolução Russa, pesou até o se desterro a sombra de Napoleão e seu golpe de 18 Brumário. Stálin foi hábil em alimentar a suspeita de que Trotsky, seu rival na sucessão de Lênin, tinha pretensões bonapartistas. Termidor foi também sempre uma sombra para os bolcheviques, e pretexto para o extermínio de dissidentes em nome da revolução.
Napoleão, o maior filho da Revolução, tinha ideias ambíguas sobre ela. Uma vez, comentou com um amigo que era melhor que Rousseau, o filósofo que ajudou a semear um espírito revolucionário entre os franceses, não tivesse nascido. “Ele ajudou a criar a Revolução”, disse Napoleão. “Mas sem Rousseau”, ponderou seu interlocutor, “você não teria feito o que fez.” “Também não está claro ainda se foi bom para a França que eu tivesse nascido”, respondeu o grande Napoleão.
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