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16/01/2014
De todos os rolezinhos desde o final do ano passado, não houve nenhuma ocorrência de furtos ou roubos.
A palavra de ordem mais contundente dos organizadores, até agora, tem sido mais ou menos a seguinte: “A gente quer se divertir, curtir e ficar com as minas”.
Foi o que falou o jovem A.F., que criou uma página no Facebook chamando para um encontro no Shopping Itaquera no próximo dia 18.
As intenções de A.F.:
. “A gente não quer arrastão”
. “Todo mundo diz que funkeiro é favelado, não gosta de trabalhar. Mas a maioria dos meus amigos trabalha como eu e tem pai e mãe”
. “Queria falar com eles [a direção do centro de compras] para eles se prepararem”
. “Tem pegação, a gente tira foto juntos. Conheci gente de outras regiões, da Vila Alpina, Mauá”
. “Aqui a gente só tem o shopping. Antes a gente fazia uns encontros na rua, ficava ouvindo música, mas a polícia já chegava batendo. Então decidimos voltar a se encontrar nos shoppings”
Em determinada altura dos eventos, costuma haver uma correria. Lojas fecham as portas. A violência, quando aconteceu, foi após a chegada da PM, que faz o de sempre: desce a porrada.
Repetindo: não houve roubos ou furtos nos rolês.
No entanto, os participantes já foram criminalizados e condenados ao degredo. De todas as coisas irresponsáveis e estúpidas proferidas sobre eles, eis a conversa da apresentadora do SBT Rachel Sheherazade em dezembro:
Foi justamente a violência, o caos urbano, que forçou o consumidor a abandonar o comércio de rua, as praças públicas, os cinemas, teatros, restaurantes e migrar para espaços fechados e vigiados.
Mas, agora, até esse refúgio foi violado!
O que fazer?
Fechar os olhos? Fingir que não há perigo nos “rolezinhos”, como fizeram os shoppings para ofuscar a propaganda negativa?
Devemos defender o direito dos arruaceiros de se reunir em locais privados, sem prévia autorização, tumultuando a ordem pública, espalhando o medo, afastando as famílias, intimidando os frequentadores?
Ou só vamos tomar providência quando os arrastões migrarem das periferias para os shoppings de luxo?
Onde houve arrastão? Refúgio de quem? A histeria de Rachel lembra, em certos momentos, o hoje clássico comentário de Arnaldo Jabor sobre as primeiras manifestações em junho passado (o primeiro, não o mea culpa 48 horas depois, abraçando os manifestantes por ordens superiores porque seriam “contra o governo”).
O blogueiro da Veja Rodrigo Constantino foi além: “Não toleram as ‘patricinhas’ e os ‘mauricinhos’, a riqueza alheia, a civilização mais educada. Não aceitam conviver com as diferenças, tolerar que há locais mais refinados que demandam comportamento mais discreto, ao contrário de um baile funk. São bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade, e morrem de inveja da civilização”.
Ao ver isso comparado às teorias de superioridade racial dos nazistas, Constantino teve de escrever outro texto para explicar esse trecho. Em “Mein Kampf”, aliás, Hitler diz que “em toda mistura de sangue entre o Ariano e povos inferiores, o resultado foi sempre a extinção do elemento civilizador”.
Os povos inferiores, para Hitler, serviram apenas como ferramenta para a civilização superior. “O ditado: ‘o negro fez a sua obrigação, pode se retirar’, possui infelizmente uma significação profunda. Só os bobos pacifistas é que podem enxergar nisso um indício de maldição humana”, escreveu Hitler.
Não adianta o secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e o de São Paulo, Fernando Grella Vieira, declarararem, textualmente, que “rolezinho não é crime”. Eles estão acima da lei.
A simplificação racista e preconceituosa de um movimento complexo (que existe inclusive nos EUA, como você pode ler aqui) é uma espécie de torcida para que as coisas saiam dos trilhos e a turma do apocalipse possa bradar: “Eu não disse, eu não disse?”
A histeria racista da criminalização dos ‘rolezinhos’
De todos os rolezinhos desde o final do ano passado, não houve nenhuma ocorrência de furtos ou roubos.
A palavra de ordem mais contundente dos organizadores, até agora, tem sido mais ou menos a seguinte: “A gente quer se divertir, curtir e ficar com as minas”.
Foi o que falou o jovem A.F., que criou uma página no Facebook chamando para um encontro no Shopping Itaquera no próximo dia 18.
As intenções de A.F.:
. “A gente não quer arrastão”
. “Todo mundo diz que funkeiro é favelado, não gosta de trabalhar. Mas a maioria dos meus amigos trabalha como eu e tem pai e mãe”
. “Queria falar com eles [a direção do centro de compras] para eles se prepararem”
. “Tem pegação, a gente tira foto juntos. Conheci gente de outras regiões, da Vila Alpina, Mauá”
. “Aqui a gente só tem o shopping. Antes a gente fazia uns encontros na rua, ficava ouvindo música, mas a polícia já chegava batendo. Então decidimos voltar a se encontrar nos shoppings”
Em determinada altura dos eventos, costuma haver uma correria. Lojas fecham as portas. A violência, quando aconteceu, foi após a chegada da PM, que faz o de sempre: desce a porrada.
Repetindo: não houve roubos ou furtos nos rolês.
No entanto, os participantes já foram criminalizados e condenados ao degredo. De todas as coisas irresponsáveis e estúpidas proferidas sobre eles, eis a conversa da apresentadora do SBT Rachel Sheherazade em dezembro:
Foi justamente a violência, o caos urbano, que forçou o consumidor a abandonar o comércio de rua, as praças públicas, os cinemas, teatros, restaurantes e migrar para espaços fechados e vigiados.
Mas, agora, até esse refúgio foi violado!
O que fazer?
Fechar os olhos? Fingir que não há perigo nos “rolezinhos”, como fizeram os shoppings para ofuscar a propaganda negativa?
Devemos defender o direito dos arruaceiros de se reunir em locais privados, sem prévia autorização, tumultuando a ordem pública, espalhando o medo, afastando as famílias, intimidando os frequentadores?
Ou só vamos tomar providência quando os arrastões migrarem das periferias para os shoppings de luxo?
Onde houve arrastão? Refúgio de quem? A histeria de Rachel lembra, em certos momentos, o hoje clássico comentário de Arnaldo Jabor sobre as primeiras manifestações em junho passado (o primeiro, não o mea culpa 48 horas depois, abraçando os manifestantes por ordens superiores porque seriam “contra o governo”).
O blogueiro da Veja Rodrigo Constantino foi além: “Não toleram as ‘patricinhas’ e os ‘mauricinhos’, a riqueza alheia, a civilização mais educada. Não aceitam conviver com as diferenças, tolerar que há locais mais refinados que demandam comportamento mais discreto, ao contrário de um baile funk. São bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade, e morrem de inveja da civilização”.
Ao ver isso comparado às teorias de superioridade racial dos nazistas, Constantino teve de escrever outro texto para explicar esse trecho. Em “Mein Kampf”, aliás, Hitler diz que “em toda mistura de sangue entre o Ariano e povos inferiores, o resultado foi sempre a extinção do elemento civilizador”.
Os povos inferiores, para Hitler, serviram apenas como ferramenta para a civilização superior. “O ditado: ‘o negro fez a sua obrigação, pode se retirar’, possui infelizmente uma significação profunda. Só os bobos pacifistas é que podem enxergar nisso um indício de maldição humana”, escreveu Hitler.
Não adianta o secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e o de São Paulo, Fernando Grella Vieira, declarararem, textualmente, que “rolezinho não é crime”. Eles estão acima da lei.
A simplificação racista e preconceituosa de um movimento complexo (que existe inclusive nos EUA, como você pode ler aqui) é uma espécie de torcida para que as coisas saiam dos trilhos e a turma do apocalipse possa bradar: “Eu não disse, eu não disse?”
É o preço que a sociedade terá de pagar por causa da desigualdade social. É a velha luta de classes.
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