Depois
que o próprio Reuven Riulin, o novo presidente de Israel, telefonou
para Dilma Rousseff para pedir desculpas, não custa recordar a reação
dos adversários do governo brasileiro, que há duas semanas se alinharam
com o porta-voz da chancelaria israelense que definiu o Brasil como
“anão diplomático.”
Em poucas horas o Brasil foi inundado por vídeos, artigos e
comentários de ar grave, palavras duras e retórica pedante, de grande
utilidade para encobrir uma postura típica de vira-latas.
Falou-se que era uma definição com “incrível precisão” de nossa
diplomacia. Mesmo quem admitiu que a postura do governo brasileiro
diante dos ataques do Exército Israelense a Gaza podia estar certa,
justificou o “anão diplomático” porque o Itamaraty carece “de
credibilidade mesmo quando faz declarações corretas.”
O telefonema de Riulin mostra com precisão realmente incrível o
ridículo dessa reação. Para azar de quem levou o “anão diplomático” a
sério, a atitude do presidente de Israel deixa claro que era uma
definição menor, de um funcionário sem qualificação para emitir
conceitos em nome do governo, alguma coisa que se poderia chamar de
“gafe” — o que torna ainda mais curioso que tenha sido aceita e
divulgada com tanta facilidade.
Riulin deixou claro pelo gesto que o Brasil está longe de desempenhar um
papel desprezível na diplomacia do século XXI, para infelicidade
daqueles que enxergam o mundo pelo olhar da inferioridade e da
submissão.
Mais realistas do que o Rei a quem pretendem servir — estou falando
da direita republicana dos EUA, que sustenta Israel de qualquer maneira
–, procurando qualquer pretexto para bater no governo Dilma, eles se
alinharam com Yigal Palmor, que fala em nome do chanceler Avigdor
Lieberman, a mais acabada expressão do fascismo na política israelense.
Principal adversário de toda iniciativa de paz, Lieberman defende a
manutenção e ampliação de assentamentos em territórios palestinos.
Sustenta uma política de discriminação em relação a população árabe que
reside em Israel. Chegou a apresentar um projeto pelo qual ela só teria
direito a voto, por exemplo, se fizesse um “juramento de lealdade” ao
estado judeu.
Foi desse mundo obscuro, vergonhoso e inaceitável, sem o menor
compromisso com a democracia nem com a soberania dos povos, que veio o
termo “anão”.
Não é surpreendente que ele tenha sido abraçado por aliados da oposição,
capazes de afagar até adversários externos que — mesmo se estivessem
corretos em seu ponto de vista — não tinham o direito de faltar com
consideração por autoridades legitimamente autorizadas a falar em nome
do povo brasileiro. O desrespeito e a agressividade são chocantes, mas
não chegam a ser novidade neste repertório.
Fazem parte da tentativa de desmoralizar adversários que não se consegue
derrotar democraticamente. Tenta-se corroer sua legitimidade ao
partilhar um tratamento grosseiro, chulo, que, a seus olhos, tem mais
valor porque vem do estrangeiro.
Convém não esquecer que, há quatro anos, esse mesmo pessoal
alinhou-se aos mesmos senhores externos condenar Luiz Inácio Lula da
Silva em sua tentativa de construir um acordo de paz com o Irã de
Mahmoud Ahmadinejad.
A viagem de Lula havia sido autorizada e até certo ponto estimulada pelo
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que enfrenta tensões com a
atual política de Israel, tão radical e extrema que pode tornar-se
prejudicial aos interesses norte-americanos.
Mesmo assim, os vira-latas não perdoaram.
Paulo Moreira Leiteé diretor do 247 em Brasília. É também autor
do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e
Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também
escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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