Depois que o nome de Eduardo Campos surgiu na delação de Paulo
Roberto da Costa, Marina Silva tenta nos convencer de que é possível
entrar na chuva e não se molhar.
Explico. Ao mesmo tempo em que tenta entrar no coro conservador
ao falar do “apadrinhamento, da corrupção, do uso político” na
Petrobras, Marina afirma que “não quer uma segunda morte de Eduardo
Campos por leviandade.” Pode?
Ou a candidata denuncia a leviandade — e neste caso não lhe
cabe fazer afirmações levianas sobre a maior empresa brasileira,
colocando seu tijolo na preservação do mítico “mar-de-lama” criado por
Carlos Lacerda para atacar as conquistas do governo Getúlio Vargas.
Ou então utiliza argumentos de natureza emocional (“segunda
morte”) para fugir do debate real, finge que sua campanha não tem nada a
ver com isso e segue na corrida atrás de votos procurando a
criminalizar os adversários.
Governador do Estado onde foi construída a refinaria Abreu e Lima,
apontada pelos adversários do governo como usina de um
superfaturamento-monstro, o que está longe, muito longe, de ter sido
demonstrado, Eduardo Campos chegou a ser arrolado como testemunha de
defesa por Paulo Roberto da Costa e lutou arduamente para não ser
ouvido. Por que o delator de hoje acreditava que Eduardo Campos pudesse
ser útil em sua defesa de ontem?
Isso acontece porque o moralismo — que é uso seletivo e maroto
de princípios éticos com fins políticos — é uma moeda de troca
eleitoral. O mensalão do PSDB-MG segue a grande prova definitiva a
respeito.
Há outro caso ilustrativo, também.
Curiosamente, Julio Delgado, deputado do PSB de Marina, é
relator no processo de cassação do petista André Vargas, que segue em
pauta no Congresso e deve ser resolvido até o final do ano. Em 2005,
Delgado foi relator do processo que levou a cassação de José Dirceu.
Procure na acusação um fiapo de prova contra o então deputado. Não vai
encontrar.
O caso desta vez tem a ver com outro jatinho particular, também.
Após muitos murmúrios que nada provaram, Vargas encontra-se na mesma situação de sempre.
Sérgio Moro, o juiz que é responsável pela Operação Lava a Jato,
escreveu que não foram encontrados indícios de “relações criminosas”
entre André Vargas e Yousseff. Repito: não foram encontrados indícios de
relações criminosas.
A única acusação contra ele é ter viajado com a família num
jatinho de Alberto Yousseff, o doleiro do esquema de Paulo Roberto da
Costa, aquele que considerou que Eduardo Campos poderia ser útil em sua
defesa. Se a Justiça coloca suspeitas sobre os negócios de Yousseff, não
coloca em dúvida a propriedade do avião.
Embora o deputado tenha até pago pelo combustível usado na viagem,
ele pode ser criticado por ter aceito favores indevidos de um
empresário com vários interesses junto ao governo. Está certíssimo. É
gravíssimo.
Mas, sendo assim, imagine o que se pode pensar de um jato que
andava por aí, como um cachorro sem dono, com um candidato a presidente e
sua vice a bordo, prometido a um proprietário de assinatura ilegível.
Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília. É também autor
do livro "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e
Washington e ocupou postos de direção na VEJA, IstoÉ e Época. Também
escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
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