07/02/2018
Regimes de exceção não toleram líderes populares
Do Brasil 247 - 6 de Fevereiro de 2018

Por Emir Sader

São sistemas políticos baseados na judicialização da política, como forma de criminalizar os lideres populares, assim como os movimentos sociais e as formas alternativas de meios de comunicação. Uma aliança entre os meios de comunicação monopolistas, os partidos de direita, setores do Judiciário e da polícia, são o bloco politico que implementa os regimes de exceção, instrumentos da restauração do neoliberalismo
Um traço típico desses regimes de exceção é a perseguição aos líderes populares, pelo que representam de defesa dos programas antineoliberais, de extensão dos direitos sociais e políticos a todos, de soberania nacional, de crescimento econômico e ser extensão do mercado interno de consumo de massas.
Típicos da conjuntura política atual são as tentativas de excluir a possibilidade de que os lideres mais populares que esses países tiveram neste século, possam voltar a se candidatar a ser presidentes de novo. O que aconteceu agora no Equador é mais uma expressão de que regimes que aderem a projetos antipopulares e antidemocráticos, tem com obsessão excluir a possibilidade de se enfrentarem a candidaturas exatamente as politicas que eles tratam de desfazer.
O que confirma que o governo de Moreno traiu o mandato que ele recebeu nas urnas e' que nada do que ele faz – inclusive o referendo – estava no seu programa. Ele coloca a responsabilidade da situação econômica do pais nos supostos gastos excessivos do governo de Rafael Correa, da mesma forma que diz a direita equatoriana. E como fazem as direitas da Argentina e do Brasil.
Para defender esse tipo deposição, Moreno não pode se enfrentar a Correa, que representa o oposto do que Moreno diz e faz. Então ele tem como objetivo central a exclusão de Correa como possível candidato que proponha a retomada do programa que teve mais sucesso na historia do Equador.
Assim como a direita boliviana se dedica prioritariamente em tentar impedir que Evo Morales possa ser de novo candidato a presidente. Sabem que não podem enfrenta-lo em campanha democrática, por isso gostariam de exclui-lo da campanha. Ao mesmo tempo que desenvolve a campanha midiática – na mídia tradicional e na internet – mais suja que a Bolívia conheceu, similar à que fez na campanha do referendo, com a absurda invenção de uma suposta amante e de um filho clandestino de Evo.
A direita boliviana trata de rebelar a setores de classe media que se sentem incomodados pela afirmação dos direitos da massa indígena do povo, por isso desenvolvem campanhas racistas, de discriminação, com mentiras e falsas acusações. Sabem que é a única maneira de conquistar apoios para disputar com Evo Morales, responsável pelo governo que transformou a Bolívia da maneira mais extraordinária.
Da mesma forma na Argentina se busca criminalizar a Cristina Kirchner, para tentar excluí-la, via judicialização da política, da possibilidade de que ela volte a disputar a presidência do pais e volte a exercer plenamente sua liderança popular, sem as absurdas acusações com que tentam manchar seu prestigio e seu apoio popular. Conforme o governo Macri vai perdendo apoio, como resultado sobretudo dos efeitos socialmente nefastos da sua política econômica neoliberal, amplamente favorável ao capital financeiro, ele precisa intensificar os ataques a Cristina, para tentar impedir que se imponha a comparação entre o governo antineoliberal dela e o governo neoliberal do Macri.
Enquanto aqui o Lula é vitima da mais monstruosa campanha de perseguição politica, paralela ao apoio expresso em todas as pesquisas, fazendo com que ele seja o único líder brasileiro em condições de pacificar o pais, retomando um projeto que fez a economia crescer com distribuição de renda, como nunca antes o Brasil tinha conhecido. Se sucedem os processos contra o Lula, ao mesmo tempo em que explodem os escândalos contra os próprios juízes que o acusam, de utilizar auxílios-moradia como forma vergonhosa de superar o teto dos salários que podem receber legalmente.
Se somam as perseguições a Lula, a Evo Morales, a Rafael Correa, a Cristina Kirchner, como forma de tentar excluí-los, via judicial e tentativas de destruição da imagem publica desses lideres nos meios de comunicação, da disputa democrática pelas eleições. É um outro traço dos regimes de exceção, que se instalaram na Argentina e no Brasil e que agora surge no Equador e que é o objetivo da direita na Bolívia.
A esquerda, o movimento popular, todos os que defendem a democracia nos nossos países, tem que se empenhar a fundo na resistência contra os regimes de exceção, na denuncia do seu caráter antidemocrático, no seu objetivo de restauração neoliberal. Desse enfrentamento depende o futuro do continente por muito tempo.
EMIR SADER. Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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