segunda-feira, 19 de abril de 2010

Contraponto 1967 - " - Vou votar na Vilma"

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19/04/2010


Distribuição de renda será grande trunfo de Dilma na eleição

Vermelho
- 18 de Abril de 2010 - 17h32

Matéria de capa da Folha de S. Paulo deste domingo (18) revela que a melhora do poder aquisitivo retoma ritmo pré-crise e os ganhos com o trabalho superam de longe os com benefícios sociais. País tem hoje 30 milhões de miseráveis; eles seriam mais de 50 milhões se a queda na pobreza não tivesse se acelerado a partir de 2003. Em seu conjunto, os dados são um trunfo para a candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto.
Neste ano eleitoral de 2010, o aumento da renda dos brasileiros retomou os níveis pré-crise de 2009 e o poder de compra das famílias atingiu o maior patamar em uma década e meia.

A eleição também se dará em um contexto onde a distribuição da renda é a melhor desde a redemocratização. A proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu expressivos 43% desde 2003.

O Brasil tem hoje 30 milhões de miseráveis sobrevivendo com R$ 137 ao mês. Mas eles seriam mais de 50 milhões se a velocidade da diminuição da pobreza não tivesse se acelerado nos últimos anos.

"Foi uma "pequena grande década'", diz Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV-Rio. "E a melhora na renda hoje é muito mais sustentável, pois está apoiada mais na renda do trabalho."

Na média da década, a renda do trabalho explicaria 67% da redução da desigualdade. O Bolsa Família, cerca de 17%; os gastos previdenciários, 15,7%. Desde 2003 foram criados 12,2 milhões de empregos formais.

Neri estima em 5,3% ao ano o aumento médio da renda per capita no país. No Nordeste, o ritmo é chinês, de 7,3%.

Não por acaso, é no Nordeste que Lula tem a melhor avaliação: 83% de ótimo/bom, contra 70% no Sul e 67% no Sudeste.

Em cenário sem Ciro Gomes (PSB) na eleição, a petista Dilma Rousseff também aparece à frente de José Serra no Nordeste, única região em que o tucano perderia a disputa hoje.

"Trunfo"

Para o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, "não há dúvida" de que a renda em alta é "trunfo" para Dilma.

"Para enfrentá-la, a oposição teria de convencer o eleitor que a melhoria se deve, em larga medida, a ações que vieram do governo de FHC e que, num governo Serra, a orientação para o social deve não apenas continuar, mas ser aprofundada."

O economista Ricardo Paes de Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz ser "absolutamente fantástica" a melhora da distribuição de renda e a queda na pobreza.

"Não acho que Lula tenha feito mágica. Apenas demonstrou que com trabalho e continuidade de boas políticas é possível progredir rapidamente."

Paes de Barros diz, porém, que o atual ritmo de crescimento da renda é mais "pró-pobre". E tende a gerar mais empregos entre os menos escolarizados.

"Os que estão do meio para cima na distribuição ficarão um pouco prejudicados", afirma.

Enquanto a renda familiar per capita como um todo cresce em ritmo maior que 5% ao ano, entre os 10% mais pobres ela cresceu três vezes mais rápido (15,4%). Entre os 10% mais ricos, mais lentamente (3,7%).
Essa é a realidade, tanto do posto de vista do emprego quanto da renda, por exemplo, na construção civil, que emprega grandes contingentes, mas com pouca qualificação.

Em fevereiro, o setor tinha 2,5 milhões de vagas formais, o mais alto patamar da série, com o Nordeste liderando, proporcionalmente, as admissões.

A política de aumentos acima da inflação (50% a mais) para o salário mínimo também deu impulso à renda. Em 2003, um salário mínimo comprava pouco mais de uma cesta básica. Hoje, paga 2,2 cestas.

O lado negativo da massificação de programas sociais e financiados pelo INSS (que foram o "estopim" para o início da melhora na renda) foi o engessamento do gasto federal.

Cálculos do especialista em contas públicas Raul Velloso indicam que de cada R$ 1 para despesas não financeiras da União, R$ 0,62 vão para pagamento de benefícios assistenciais e previdenciários e a inativos e pensionistas.

Somados a salários do funcionalismo e a outras despesas (como saúde), esses gastos limitam a União a investir em infraestrutura só R$ 0,06 para cada real desembolsado.

Progresso varia entre os pobres do Nordeste

FOLHA - A sra. sabe que haverá eleições neste ano?

SUELI DUMONT - Para prefeito?

FOLHA - Não, para presidente. A sra. conhece os candidatos ou sabe em quem vai votar?

SUELI - Em Lula!

FOLHA - Mas ele não pode ser candidato desta vez...

SUELI - Ai meu Deus! Pode não?
KÉSSIA (filha de Sueli) - Ô "mainha", é a mulher de Lula que vai entrar no lugar dele.
SUELI - Como é o nome dela?
KÉSSIA - É Vilma.
SUELI - Vou votar em Vilma.


A família de Sueli Dumont é beneficiária do Bolsa Família desde 2005, quando a reportagem da Folha passou a acompanhar todos os anos algumas das famílias atendidas pelo programa no Nordeste.

Em 2005, o núcleo familiar dos Dumont era composto de 10 pessoas. Em 2008, passou a 13. Na última visita, no início deste mês, eram 17.

Todos vivem em uma favela, o Suvaco da Cobra, na periferia de Jaboatão dos Guararapes, vizinha a Recife. Uma semana antes da visita da Folha, houve três assassinatos no local.

Há poucos anos, as quatro filhas maiores de Sueli (Kássia, Késsia, Rafaela e Priscila) garantiam, na adolescência e durante a idade escolar, o recebimento do benefício pela mãe.
Ainda adolescentes, engravidaram. As quatro têm juntas hoje sete filhos. Antes de se tornarem mães, receberam dinheiro federal para participar do programa Agente Jovem.

Fizeram cursos de bordado e cabeleireira. Hoje, nenhuma delas trabalha. Mas três das quatro já passaram a receber R$ 90 cada do Bolsa Família.

A própria matriarca Sueli ainda é beneficiária. Aos 37 anos, tem quatro filhos com idades entre cinco e 15 anos. Diz receber R$ 134 por mês.

No clã dos Dumont, apenas o marido de Sueli trabalha com alguma frequência, como carroceiro. Sueli trabalhava sem registro em um lixão. Teve de parar por causa de uma incômoda doença de pele que faz partes do corpo "descascar".

No dia a dia, os Dumont vivem amontoados em três barracos. Em 2005 era uma moradia, em um terreno mínimo. Com o aumento da família, ficou tudo mais apertado.

"Tem hora que gostaria de estar morando no meio do mato, só com bicho em volta, em silêncio", queixa-se Sueli.

A poucos metros da casa de Sueli, uma experiência um tanto mais bem sucedida, até aqui.
A família de Pedro Silva e Micinéia Santos, com três filhos, avança devagar, mas de forma consistente. Luan, 11 e Alan, 10, estão na escola desde que a Folha passou a visitá-los nos últimos anos. A pequena Vanessa, 8, entrou mais recentemente.

A cada visita, a reportagem fez um ditado para as crianças e pediu para que lessem um texto. O progresso foi grande, assim como tem sido, desde o início, a atenção dos pais com a escola (que a Folha conheceu).

A maior parte das visitas ao Suvaco da Cobra ocorreu pouco antes das crianças irem para a aula. É a mãe quem supervisiona o banho, o almoço e quem as leva ao colégio. Mas é Pedro, 60, quem normalmente cobra a lição e os estudos.

Micinéia também é beneficiária do Bolsa Família (R$ 134 ao mês) por conta das crianças. Mas, finalmente, depois de anos solicitando uma pensão por invalidez, Pedro (que teve o braço direito praticamente inutilizado em um acidente) agora recebe um salário mínimo por mês do INSS.
Ele diz que ainda "não gravou" o nome dos candidatos à sucessão. Mas também achava que Lula poderia ser candidato. "Meu candidato será o do governo", diz.

Cerca de 14% dos eleitores, a maioria no Nordeste, segundo o Datafolha, dizem querer votar em alguém apoiado por Lula, mas ainda não sabem que Dilma é candidata.

Metas do programa

Para Lúcia Modesto, secretária nacional de Renda e Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, vários aspectos do Bolsa Família têm sido "incrementados" nos últimos anos.

Mas ela admite que "os avanços não são suficientes" no programa, que saltou de um atendimento de 3,6 milhões de famílias em 2003 para 12,3 milhões no final de 2009.
Uma das principais metas do Bolsa Família é atingir 100% no monitoramento da frequência escolar e nos postos de saúde entre os beneficiários.

Há ainda a meta de ampliar o programa Próximo Passo, para capacitação profissional de jovens. Lúcia admite que, em muitos casos, o Agente Jovem acabou funcionando mais como "terapia ocupacional" do que como treinamento.

"Mas o Bolsa Família tem, indiscutivelmente, um poderoso impacto sobre a pobreza extrema", diz.

Fonte: Folha de S.Paulo / Fernando Canzian
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Um comentário :

  1. Guerra de pesquisas

    Caso o PT saia da catatonia e arranque um posicionamento do TSE, poderemos avaliar se as discrepâncias entre Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi se devem realmente a distorções de amostragem e apuração, como tantos acusam. Por enquanto, elas apenas evidenciam diferentes metodologias.
    Quem já observou os bastidores desse tipo de levantamento sabe que é fácil induzir resultados usando apenas instrumentos legais ou tolerados. Faz toda a diferença entrevistar pessoas em trânsito ou nas residências, a ordem e o teor das perguntas, o tipo de apresentação dos candidatos.
    Podemos levantar suspeitas sobre institutos que estimulam o entrevistado apenas citando os nomes de Serra e Dilma, não os apresentando como aliados de FHC e Lula, pois é assim que ambos serão identificados na campanha. Este é o consolo dos defensores da petista, e provavelmente o diferencial das enquetes que apontam o tal empate técnico. Eis porque a mídia conservadora tem tanto medo dessas associações.
    A guerra de pesquisas é saudável, principalmente quando seus métodos são elucidados. O público escolhe em que acreditar. Não convém esperar muito da Justiça Eleitoral, mas já seria grande coisa se ela instituísse um pouco de transparência nesse burburinho estatístico.

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