16/08/2011
Da Carta Maior - 16/08/2011
Durante seis horas, um grupo de senadores alternou-se na tribuna para defender "faxina" de Dilma Rousseff contra corrupção e classificar reação de aliados da presidenta de "chantagem". Debates relembraram momentos históricos em que moralismo domimou agenda nacional e causou prejuízos ao país, como o lacerdismo contra Getúlio Vargas, "vassoura" de Jânio contra JK e udenismo que levou ao golpe militar contra João Goulart.
André Barrocal
BRASÍLIA – Sentindo que partidos aliados do  governo estão prestes a agir, dentro do Congresso, contra a presidenta  Dilma Rousseff, um grupo de senadores revezou-se na tribuna do plenário,  nesta segunda-feira (15/08), para defender o jogo duro presidencial e  carimbar de “chantagem” a reação dos descontentes.
O movimento  foi planejado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), que puxou a fila dos  discursos. “Presidente [Dilma], apure o que deve ser apurado, não há  nenhuma chantagem em cima da senhora para parar o que está fazendo”,  afirmou.
Segundo orador, Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu a  Dilma que “não pare nessa faxina”. Para ele, haveria “apoio ainda maior”  do Congresso a uma presidenta que estaria sendo “chantageada” por uma  “base de apoio fisiológica”.
Os dois deram o tom de uma sessão  que durou seis horas e viu 17 senadores, de oito partidos diferentes,  ocuparem a tibuna da Casa, para debater o clima político mais agitado da  atual legislatura. Nem sempre com as mesmas motivações e os mesmos  argumentos, no entanto.
Para o senador Jorge Viana (PT-AC), por  exemplo, Dilma precisa continuar rigorosa, mas nem ela nem o Congresso  deveriam render-se ao noticiário. "Nós não podemos ficar esperando para  ler as revistas do fim de semana ou o jornal de amanhã", afirmou.
A  senadora Ana Amélia (PP-RS) aproveitou para defender a redução do  Estado, cortando-se cargos de confiança, algo que ela entende que  estaria na origem das indicações políticas. "Cargos são usados para  negociar apoio", disse.
A oposição marcou presença na sessão para  voltar a defender a criação de uma CPI da Corrupção, pois quer jogar a  presidenta contra aliados e desestabilizar o governo. “É preciso ir além  da retórica”, afirmou o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR). “Discordo da  necessidade de uma CPI”, rebateu o líder do governo, Romero Jucá  (PMDB-RR).
Ex-ministro da Previdência no governo Lula, José  Pimentel (PT-CE) pediu à oposição que fizesse uma auto”-crítica”. Ele  lembrou que, na gestão Fernando Henrique, não era possível abrir CPIs, e  o procurador-geral da época, Geraldo Brindeiro, era conhecido como  “engavetador-geral”.
Pimentel também destacou considerar  importante não perder de vista a dimensão ativa da corrupção, ou seja,  os que compram funcionários públicos. “O grave problema hoje da  corrupção está vinculado ao financiamento de campanhas”, afirmou,  defendendo uma reforma política.
O senador Eduardo Suplicy  (PT-SP) concordou que é preciso não esquecer os corruptores. “Muitas  vezes as empresas colaboram para perpetuar a corrupção, apelando para  pagamentos 'por fora'" disse.
Neste ano, as operações da Polícia Federal (PF) já prenderam bem mais corruptores do que corruptos.
Durante  os debates, os parlamentares relembraram momentos políticos turbulentos  do passado, em que o moralismo dominou a agenda política brasileira e  causou prejuízos ao país.
Foram citados, por exemplo, o  lacerdismo contra o ex-presidente Getúlio Vargas, processo que  contribuiu para o suicídio dele. A "vassoura" do ex-presidente Jânio  Quadros contra o antecessor, Juscelino Kubitschek, que foi cassado pela  ditadura e morreu com a pecha de corrupto. E o udenismo que alimentou o  golpe militar contra o ex-presidente João Goulart.
Enquanto os  senadores discursavam, Dilma reempossava o procurador-geral da  República, Roberto Gurgel, em evento no Palácio do Planalto, e  aproveitava para mandar dois recados sobre “faxina”.
“Onde  ocorrerem malfeitos, onde o crime organizado atuar nós iremos combater  com firmeza utilizando todos os instrumentos de investigação e punição  de que o governo dispõe”, disse Dilma. “Mas, ao mesmo tempo, tenho o  dever de afirmar que farei tudo o que estiver ao meu alcance para coibir  abusos, excessos e afrontas à dignidade de qualquer cidadão que venha a  ser investigado”.
A segunda frase faz alusão ao uso de algemas  contra uma série de pessoas presas pela Polícia Federal numa operação  que atingiu o ministério do Turismo. O uso de algemas foi utlizado por  aliados da presidenta – o ministério é controlado pelo PMDB - que não  gostaram da ação da PF para condenar a operação.
A presidenta  aceitou a crítica e, nos últimos dias, autoridades do governo, como o  ministro da Justiça, Luiz Eduardo Cardozo, a quem a PF se subordina,  manifestaram-se contra o suposto abuso. Agora foi a vez da presidenta.
Em  nota oficial, a Associação dos Delegados da PF defendeu as algemas.   “Após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar  desqualificar o trabalho policial. Quando ele não pode fazê-lo  pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar”,  afirmou a nota. “A providência logo adotada visa desviar o foco das  investigações e investir contra o trabalho policial.”
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Fotos: Waldemir Barreto/Agência Senado
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