02/04/2012
Da Carta Maior -31/03/2012
Na década de 1990,o Acordo Multilateral de Investimento era negociado na surdina, entre países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, por iniciativa dos EUA e da União Européia, com cinco países observadores, entre eles o Brasil, então governado pelo consórcio demotucano.
Gilson Caroni Filho*
 O que está acontecendo  na Grécia, país que  perdeu parte significativa de sua soberania, tornando-se um laboratório  para experimentos do capital financeiro, não pode ser atribuído a um   raio num dia de céu azul ou a uma saída de emergência para salvar o  capital dos credores, mesmo que o preço seja levar o país à falência. É  produto de uma ação planejada há mais de duas décadas.
O que está acontecendo  na Grécia, país que  perdeu parte significativa de sua soberania, tornando-se um laboratório  para experimentos do capital financeiro, não pode ser atribuído a um   raio num dia de céu azul ou a uma saída de emergência para salvar o  capital dos credores, mesmo que o preço seja levar o país à falência. É  produto de uma ação planejada há mais de duas décadas.
A  presença permanente de uma equipe da troika (Banco Central Europeu,  União Européia e FMI), monitorando o fluxo de empréstimos, a criação de  uma conta vinculada destinada exclusivamente ao pagamento do serviço da  dívida e aceitação que tribunais de Luxemburgo julguem dissídios, não  cabendo ao governo grego qualquer tipo de recurso, são evidências de uma  estratégia amadurecida ao longo do tempo. Trata-se de remover os  entraves colocados pelo Estado-Nação e pela democracia à dinâmica  capitalista que requer, em última instância, salários baixos e elevadas  taxas de poupança.  Pela capacidade do capital de evitar a tributação e  condições empregatícias onerosas, através da livre movimentação para   outros mercados, o sonho social-democrata se desfaz como uma carta  antiga de Bernstein
Mas voltemos no tempo para irmos aos fatos.
Na  década de 1990,o Acordo Multilateral de Investimento( AMI)  era  negociado na surdina, entre os países desenvolvidos da OCDE (Organização  para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), por iniciativa dos  Estados Unidos e da União Européia, com cinco países observadores, entre  eles o Brasil, então governado pelo consórcio demotucano.
O que  vinha a ser esse documento pôde ser resumido  numa frase de Renato  Ruggiero, à época diretor-geral da OCDE: "Com este documento estamos  escrevendo a Constituição de uma economia global Unificada". Assim,  ficamos sabendo por que até 1997 as negociações da AMI eram secretas. Ou  seja, o acordo não era conhecido nem pelos parlamentares dos países  envolvidos. O sigilo era explicável se conhecermos algumas das condições  contidas no documento.
O AMI era uma espécie de carta magna das  corporações internacionais concebidas com o objetivo de vigência  mundial, para respaldar suas atividades, por cima das instituições e  constituições onde atuavam. Uma antecipação do cavalo de Tróia entregue à  Grécia recentemente. Criava uma nação corporativa, virtual, acima das  nações convencionais, movida por um único e superior motivo: o lucro do  capital internacional.
Nos seus termos conhecidos, os  investidores poderiam ingressar em qualquer área, setor ou atividade sem  qualquer tipo de restrição, podendo contestar  ações políticas ou  governamentais, desde que entendessem que qualquer uma delas viesse a  prejudicar seus lucros. Muito ao contrário, o governo deveria assegurar  os investimentos externos e garanti-los contra tudo que pudesse afetar  sua rentabilidade.
Os governos nacionais deixavam assim de ser  guardiões de seus cidadãos e passavam a representar uma espécie de  guarda pretoriana do capital externo. E, se não exercesse bem essa  função,cada governo passava a ser responsabilizado para cobrir qualquer  intervenção do Estado suscetível de reduzir a capacidade das corporações  de obterem um lucro maior. E, vejam a terrível coincidência, quem  escolheria o foro para tais litígios seria o grande capital, ficando o  Estado sem qualquer status jurídico-político,sem poder negar o tribunal  escolhido, nem submeter os litígios à arbitragem internacional.
Nesses  temos, a nossa soberania (lembremos que eram os tempos de FHC),  inclusive política, estaria num dos livros-caixa dos grandes  conglomerados ou disquetes de organismos multilaterais de crédito.  Estaria eliminado todo e qualquer sentido de autodeterminação e  independência que ainda pudéssemos ter.
O aparente recuo foi  meramente tático. O que vemos na Grécia é a implantação de um  fundamentalismo de mercado incompatível com o sistema democrático.  Repletos de volumosas estatísticas e modelos matemáticos arcanos que  fornecem a ideologia para o estabelecimento de governos autocráticos,  capazes de impor sua vontade a um povo com seus direitos fundamentais  subtraídos.
Se tais fatos e manobras chegam a espantar pelo  tamanho da queda imposto a países com tradição democrática, imaginemos o  que poderia ter acontecido ao Brasil se o resultado das urnas tivesse  sido outro em 2002, 2006 e 2010. O capital nos ensina que "presente de  grego" não tem nacionalidade específica. E, principalmente, que "em  cavalo dado não se olha os dentes".
Principalmente se estivermos diante de um pangaré troiano.
*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
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