domingo, 7 de abril de 2013

Contraponto 10.842 - A calhordice das aves necrófagas

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07/04/2013

 

Walter Falceta: A calhordice das aves necrófagas

 


Do Viomundo - publicado em 5 de abril de 2013 às 18:05


TRAGÉDIA, AUTORIA E REDUCIONISMO POLITIQUEIRO DE REPETIÇÃO

por Walter Falceta Jr*, no Facebook, sugestão de Maria Luiza Tonelli

No Rio, um ônibus caiu do viaduto. Sete cidadãos morreram e outros tantos acabaram feridos gravemente. Nas redes sociais e nas áreas de comentários do jornais, reduzida consternação. O oportunismo, a calhordice e a ignorância mais uma vez folgaram no reducionismo de repetição.

Seguem alguns comentários ilustrativos da comoção de propaganda, devidamente printados.

No UOL, Alonso123, escreveu: “Parabéns ao governo aliado do PT por mais esta tragédia. Créditos para Lula e Dilma”.

Dasher23 completou: “(…) enquanto isto, o país continua sendo sangrado, como sempre foi, desde o descobrimento. Ainda não se transformou num deserto árido devido a sua pujança, mas se depender dos Ptralhas, que atualmente se revezam no comando das capitanias, isto logo irá ocorrer”.

Advogadoctba faz sua prece macabra: “(…) Torço para que caia o avião do Cabral, que aliás ano passado quase morreu com o dono da Delta. Pena que não afundou e virou comida de peixe”.

Benevenutti completou: “É isso aí seu governador e prefeito do Rio, aí embaixo dessa lona preta devem estar os corpos das pessoas que os senhores assassinaram”.
No  G1, Alfredo Neves manifestou seu ódio pelo povo do Rio: “(…) Dois cariocas animais em um mesmo ambiente, só pode terminar em tragédia. Cariocas, em geral, são autênticos animais mal educados. (…) A Coreia do Norte podia errar os EUA e acertar o Rio de Janeiro. O mundo ficaria bem melhor”.

Maurício Pereira parece satisfeito com a suposta desmoralização das autoridades: “Agora caiu a máscara do Estado. A incompetência, a máfia, o descaso com o sistema de transporte e todos os demais sistemas de apoio à população carioca virão à tona”.

Em redes sociais, repetiu-se a argumentação de maledicência:
“Mais uma vez o descaso das autoridades do Brasil sil sil leva a uma tragédia em que pais de família perdem a vida. Foi o mesmo que aconteceu na boate Kiss, e as pessoas continuam votando nesse petê”.

“Sete pessoas boas perderam a vida, enquanto Genoíno e a corja comunista continua viva, eles que produzem todo esse mal para a sociedade. Mundão injusto”.

Essa tem sido a tônica de comentários públicos sobre acidentes ou ocorrências trágicas no Brasil. Trata-se de um reducionismo dirigido à propaganda e à disseminação seletiva do ódio.

Qualquer episódio negativo (pode ser o incêndio na boate, a enchente em São Paulo ou a queda do ônibus no Rio) serve para que o indignado neoconservador detrate e criminalize o governo federal e qualquer personalidade ou entidade vinculada às lutas populares.

Assustador é saber que parte desses comentários não brota do teclado dos trolls bem pagos pelos bicudos partidos conservadores e neoliberais.

São produzidos por pessoas comuns, idiotas úteis influenciados pela propaganda massiva de intolerância gerida pela mídia hegemônica.

Para o espalhafatoso Arnaldo Jabor, inspirador de certa malta de revoltosos, tudo precisa ser seletivamente estrutural.

Nada de ruim ocorre no mundo sem que haja a intervenção “maligna” de Lula, do PT, do finado Hugo Chávez ou daquilo que ele chama de “esquerdas ultrapassadas e perniciosas”.

Esse oportunismo condenatório criminoso, que alia calúnia e difamação, está presente também no piadismo azedo de Marcelo Madureira, nas pândegas neofascistas do CQC e nos horrores chargísticos de Caruso, este que recentemente retratou Dilma como uma prostituta do velho oeste.

Para que se restitua alguma verdade, a triste ocorrência do Rio nada tem a ver diretamente com falhas em programas governamentais ou com a campanha de Maduro para a presidência da Venezuela.

Na sociedade da violência, divinizada pela mídia de direita, houve uma discussão entre o motorista do coletivo e um passageiro que se achava membro justiceiro de alguma tropa de elite.

Depois que o ônibus passou direto por uma parada, Rodrigo Santos Freire, de 25 anos, estudante de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), decidiu aplicar ao responsável a punição que decidiu cabível.

O brigão reincidente desferiu um poderoso chute na cabeça do condutor que, na sequência, perdeu o controle do veículo.

Na dimensão da realidade, o episódio conclui-se com dor e morte. Na dimensão cibernética, inicia-se mais um feliz banquete para as aves necrófagas.
 
*Walter Falceta Jr. é Jornalista
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