terça-feira, 26 de abril de 2011

Contraponto 5252 - Charge on line do Bessinha

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26/04/2011
Charge do Bessinha (357)

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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Contraponto 5251 - "O império de Washington subiu no telhado"

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25/04/2011

O império de Washington subiu no telhado

Do Viomundo - 25 de abril de 2011 às 13:37

“Em mundo multipolar de novas potências, com Pequim, Nova Delhi, Moscou, Ancara e Brasília”…

O ‘império’ dos EUA, de autocratas, aristocratas e ditadores militares, subiu no telhado

24/4/2011, Alfred W. McCoy e Brett Reilly, no TomDispatch

Tradução do Coletivo da Vila Vudu

Num dos mais bem-vindos movimentos das forças da história, a justaposição de dois extraordinários eventos deixou a nu a arquitetura do poder global dos EUA, e todos afinal podem vê-la. Em novembro do ano passado, WikiLeaks fez chover sobre o mundo quantidades diluvianas de telegramas diplomáticos, recheados dos mais abusivos comentários formulados por diplomatas dos EUA sobre governantes de todo o planeta, da Argentina ao Zimbabwe, e estampados nas primeiras páginas dos jornais. Em seguida, poucas semanas depois, o Oriente Médio explodiu em manifestações pró-democracia e contra ditadores, muitos dos quais aliados íntimos dos EUA, alianças sobre as quais os telegramas publicados por WikiLeaks não deixam dúvidas.

De repente, viu-se o esqueleto da ordem mundial construída pelos EUA e que depende significativamente de líderes nacionais que são “elites subordinadas” fiéis a Washington, mas que, de fato, não passam de bando sortido de autocratas, aristocratas e militares ditadores. Quando se viram os aliados, viu-se também a lógica mais ampla, que quem não visse jamais conseguiria explicar, que preside todas as decisões de política exterior dos EUA ao longo de meio século.

Por que a CIA se arriscaria, em 1965, no auge da Guerra Fria, em operações como derrubar líder prestigiado como Sukarno na Indonésia, ou por que encorajaria o assassinato do católico Ngo Dinh Diem em Saigon em 1963? A resposta – à qual afinal se chega agora, graças às publicações de WikiLeaks e ao “despertar árabe” – é que nos dois casos tratava-se de subordinados selecionados por Washington, os quais, de repente, se insubordinaram e tornaram-se descartáveis.

Por que, meio século depois, Washington trairia todos os seus princípios democráticos declarados e apoiaria o presidente do Egito Hosni Mubarak contra milhões de egípcios nas ruas, só para, quando já não havia como mantê-lo no comando, indicar para substituí-lo, pelo menos no primeiro momento, o seu chefe de segurança Omar Suleiman, conhecido como chefe dos serviços de tortura que eram arrendados aos serviços de tortura de Washington? A resposta é que os dois eram também subordinados selecionados por Washington, que serviam bem aos interesses dos EUA em estado considerado chave no Oriente Médio.

Em todo o Grande Oriente Médio, da Tunísia e Egito ao Bahrain e Iêmen, manifestantes democráticos, nas ruas ameaçam varrer do mapa todas as elites subordinadas, consideradas crucialmente necessárias para manter o poder dos EUA. Sempre foi assim: todos os impérios modernos dependeram de delegados que traduzissem o poder global em termos de controles locais. Mas, quando aquelas elites locais começaram a dar sinais de interesse em implantar agendas próprias, o colapso dos impérios começou a aparecer nas cartas.

Assim como as “revoluções de veludo” que varreram o leste europeu em 1989 tocaram as trombetas do fim do império soviético, assim também as “revoluções do jasmim” que se espalham pelo Oriente Médio podem bem estar sinalizando o começo do fim do poder global dos EUA.

Militares no comando

Para entender a importância das elites locais, é preciso considerar os primeiros dias da Guerra Fria, quando uma Casa Branca desesperada procurava alguma coisa, qualquer coisa, que tivesse qualquer mínima chance de deter o que Washington via como sentimento pró-comunistas e antiamericano no mundo. Em dezembro de 1954, o Conselho de Segurança Nacional reuniu-se na Casa Branca e traçou uma estratégia para domar todas as forças nacionalistas mais poderosas que se constituíam, naquele momento, em todo o mundo.

Na Ásia e na África, meia dúzia de impérios europeus que até então haviam garantido a estabilidade da ordem global por mais de um século estavam-se pulverizando, dando origem a cem novas nações, muitas das quais – do ponto de vista de Washington – suscetíveis de serem cooptadas pela “subversão comunista”. Na América Latina, o problema era o avanço da oposição de esquerda, entre as massas urbanas que não paravam de crescer e entre os camponeses sem terra.

Depois de examinar as “ameaças” que se formavam contra os EUA na América Latina, o influente Secretário do Tesouro George Humphrey declarou aos seus colegas do Conselho de Segurança Nacional que todos parassem “de falar tanto em democracia” e cuidassem, imediatamente, de “apoiar ditaduras de direita que tivessem políticas pró-EUA”. Foi quando, em momento de brilhante insight estratégico, Dwight Eisenhower interrompeu, para observar que Humphrey dizia, de fato, que todos passassem a raciocinar em temos de “Tudo bem, se for o nosso filho da puta”.

É momento histórico para nunca esquecer, porque o presidente dos EUA acabava de articular, com clareza cristalina, o princípio constitutivo do sistema de dominação global que Washington implementaria daquele dia em diante e pelos 50 anos seguintes: trocar qualquer princípio democrático por uma dura realpolitik de apoiar qualquer líder que apoiasse os EUA. E assim se construiu uma rede planetária de líderes nacionais (muitas vezes também nacionalistas) dispostos a por as necessidades de Washington acima de qualquer necessidade local.

Durante a Guerra Fria, os EUA favoreceram ditadores militares na América Latina, ditadores aristocráticos no Oriente Médio e uma mistura de democratas e ditadores na Ásia. Em 1958, golpes militares na Tailândia e no Iraque repentinamente viraram os holofotes para os militares do Terceiro Mundo, exibindo-os como forças às quais os EUA poderiam recorrer e com as quais poderiam contar. Foi quando o governo Eisenhower decidiu trazer líderes militares estrangeiros para treiná-los nos EUA e, assim, facilitar “o gerenciamento” das forças de mudança geradas pelo desenvolvimento daquelas nações emergentes. Dali em diante, Washington faria jorrar ajuda militar para cultivar os exércitos dos aliados e possíveis aliados em todo o planeta, ao mesmo tempo em que “missões de treinamento” seriam usadas para construir laços cruciais entre militares dos EUA e oficiais dos exércitos em todo o mundo; e, onde as elites subordinadas não parecessem suficientemente subordinadas, para ajudar a identificar líderes alternativos.

Nos casos em que presidentes civis se insubordinassem, entraria em ação a CIA, promovendo golpes que poriam no poder governos militares confiáveis – substituindo o primeiro-ministro do Irã Mohammad Mossadeq, que tentou nacionalizar o petróleo iraniano, pelo general Fazlollah Zahedi (então o jovem Xá) em 1953; o presidente Sukarno, pelo general Suharto na Indonésia na década seguinte; e, claro, o presidente Salvador Allende pelo general Augusto Pinochet no Chile em 1973, para citar apenas esses três casos.

Nos primeiros anos do século 21, a confiança de Washington nos militares nos seus estados-clientes só aumentou. Os EUA entregavam 1,3 bilhões de dólares ao ano ao Egito, como ajuda militar, e investiam só 250 milhões de dólares em programas de desenvolvimento econômico do país. Resultado disso, quando as manifestações populares sacudiram as bases do regime no Cairo em janeiro passado, os EUA imediatamente pensaram em uma “transição pacífica” com troca de generais. Nas palavras do New York Times, “investimento de 30 anos que rendeu bons dividendos, quando generais dos EUA e agentes de inteligência conheciam todos os nomes cogitados para formar um novo governo, amigos e colegas com os quais trabalharam e serviram”. “Transição pacífica”, no Egito, com apoio do exército, para manter a ditadura militar.

Em outros locais no Oriente Médio, Washington, desde os anos 1950s, sempre acompanhou a preferência britânica por aristocratas árabes, cultivando aliados como um Xá (no Irã), vários sultões (Abu Dhabi, Oman), vários emires (Bahrain, Kuwait, Qatar, Dubai), vários reis (Arábia Saudita, Jordânia, Marrocos). Em toda essa região vasta e volátil, do Marrocos ao Irã, Washington cortejou regimes monárquicos aos quais ofereceu alianças militares, sistemas de armas norte-americanos, apoio da CIA para a segurança local, paraíso seguro nos EUA para o dinheiro daquelas monarquias, e favores especiais às elites locais, entre as quais estudo e formação acadêmicas para os príncipes e nobres, com livre acesso às universidades norte-americanas ou escolas de formação de militares do Departamento de Defesa em todo o planeta.

Em 2005, a secretária de Estado Condoleezza Rice fez patético resumo de todo esse trabalho: “Há 60 anos, os EUA procuram a estabilidade à custa da democracia no Oriente Médio. Não conseguimos nem uma, nem outra”.

Mas, antes, funcionava…

Os EUA não são a primeira potência a construir poder imperial baseado em laços pessoais com líderes locais. Nos séculos 18 e 19, a Grã-Bretanha reinou sobre os oceanos (como os EUA depois reinariam nos céus), mas, em terra, como todos os impérios passados, tudo sempre dependeu de alianças locais que servissem de representantes locais, para o controle direto, local, das sociedades humanas, sempre mais voláteis que céus e mares. Não fosse assim, como, em 1900, uma nação insular, de apenas 40 milhões de almas, com exército de apenas 99 mil soldados, comandaria um império global de 400 milhões de seres humanos, quase um quarto de toda a humanidade?

De 1850 a 1950, a Grã-Bretanha controlou suas colônias formais mediante uma extraordinária rede de aliados locais – dos chefes das ilhas Fiji e sultões da Malásia a maharajas indianos e emires africanos. Simultaneamente, mediante elites subordinadas, os britânicos controlavam um “império informal” ainda mais amplo, que incluía imperadores (de Pequim a Istanbul), reis (de Bangkok ao Cairo) e presidentes (de Buenos Aires a Caracas). No auge, em 1880, o império informal britânico na América Latina, Oriente Médio e China era maior, em população, que as colônias formalmente ligadas à ‘metrópole’ na Índia e na África. Todo esse gigantesco império global, sobre cerca de metade de todos os seres humanos sobre o planeta, dependeu, sempre, de frágeis laços de cooperação com as elites locais.

Mas repentinamente, depois de 400 anos de ininterrupta expansão imperial, os cinco maiores impérios europeus de ultramar foram varridos do mapa, em apenas 25 anos de descolonização. Entre 1947 e 1974, os impérios belga, britânico, holandês, francês e português sumiram da Ásia e da África, dando lugar a uma centena de novas nações, das quais mais de 50 são hoje estados soberanos. À caça de explicação para mudança tão rápida e tão radical, muitos especialistas concordam com Ronald Robinson, historiador do império britânico, autor de famosíssima frase: “quando somem os seus governantes indígenas, os impérios morrem”.

Durante a Guerra Fria que coincidiu com essa era de rápida descolonização, as duas superpotências globais voltaram aos mesmos métodos e usaram com regularidade suas respectivas agências de espionagem para manipular os governos dos novos estados independentes. A KGB da URSS e suas agências delegadas, como a Stasi na Alemanha Oriental e a Securitate na Romênia forçaram uma uniformidade política entre os 14 estados satélites soviéticos na Europa do Leste e desafiaram os EUA, em todos os estados leais aos norte-americanos no Terceiro Mundo. Simultaneamente, a CIA monitorou de perto a lealdade de seus presidentes, autocratas e ditadores nos quatro continentes, com golpes, suborno e penetração nos serviços de segurança nacionais e, sempre que necessário, derrubaram governos inconvenientes.

Numa era de sentimento nacionalista, contudo, a lealdade das elites locais mostrou-se assunto mais complexo do que se esperava. Muitas daquelas elites eram arrastadas por lealdades conflitivas e muitas vezes por sentimentos arraigados de nacionalismo, o que obrigava os EUA a vigiá-las de perto. Aquelas elites eram tão criticamente importantes e qualquer insubordinação implicava questões tão amplas, que a CIA passou a trabalhar rotineiramente em operações clandestinas para ‘mantê-las em rota’, operações que geraram algumas das maiores crises da Guerra Fria.

Ante o crescimento da crise em seu sistema global de controle no mundo de depois da II Guerra Mundial, restaram poucas alternativas a Washington, além de trabalhar com fantoches locais os quais – mesmo que em posições mais fracas – ainda tentavam maximizar o que viam como interesse nacional de suas nações (tanto quanto viam como seu interesse mais diretamente pessoal). Mesmo no auge do poder global dos EUA, nos anos 1950s, quando a dominação norte-americana ainda não enfrentava desafios graves, Washington foi forçada a barganhar com alguns líderes locais, como, por exemplo, Raymond Magsaysay nas Filipinas, o ditador sul-coreano Syngman Rhee e com Ngo Dinh Diem no Vietnã do Sul.

Na Coreia do Sul, nos anos 1960s, por exemplo, o general Park Chung Hee, então presidente, condicionou o uso de tropas de seu país a bilhões de dólares para investimento – primeiro passo do que seria depois o “milagre” econômico sul-coreano. No processo, Washington pagou e obteve o que mais queria: 50 mil soldados e mercenários coreanos, para sua guerra no Vietnã, cada dia mais impopular.

No mundo pós-Guerra Fria

Depois de derrubado o Muro de Berlim em 1989, o que marcou o fim oficial da Guerra Fria, Moscou rapidamente perdeu seus estados-satélites, da Estônia ao Azerbaidjão, à medida que estados leais aos soviéticos saltavam do barco imperial que naufragava. Para Washington, que se sentiu “vitoriosa” e já se preparava para ocupar o lugar de “única superpotência” no planeta, começaria ali processo idêntico, mas um pouco mais lento.

Ao longo das duas décadas seguintes, a globalização gerou um sistema multipolar de potências emergentes em Pequim, Nova Delhi, Moscou, Ancara e Brasília – ao mesmo tempo em que um poder desnacionalizado e corporativo reduzia a dependência das economias em desenvolvimento, que deixavam cada dia mais de depender de um único estado, por mais ‘imperial’ que quisesse ser. Com sua capacidade para controlar elites pelo mundo cada dia menos efetiva, Washington teve, então de encarar a concorrência política e ideológica do fundamentalismo islâmico, dos sistemas de regulação da União Europeia, do capitalismo de Estado chinês e de uma onda crescente de nacionalismo econômico na América Latina.

Na medida em que o poder de influência dos EUA declinava, as tentativas de Washington para controlar suas elites subordinadas locais pelo mundo começaram a falhar, algumas vezes espetacularmente. O caso mais espetacular de fracasso desse tipo foi o golpe tentado para depor Hugo Chavez da Venezuela, fracasso, de fato, retumbante, em 2002. Outro caso, a tentativa de tirar da órbita soviética a Georgia do aliado Mikheil Saakashvili em 2008. E, isso, sem falar na nêmesis de Washington, Mahmoud Ahmadinejad, que enfrentou tentativa de golpe nas eleições de 2009 no Irã e lá continua, até hoje. Onde, antes, sempre bastaram os golpes da CIA ou muito dinheiro, foi necessário, no governo Bush, toda uma massiva invasão militar, com guerra, para tirar do posto um único adversário, ditador ex-aliado que, de repente, começara a criar problemas, Saddam Hussein. E mesmo assim, os EUA viram bloqueados seus planos para “troca de regime” na Síria e no Irã, quando esses dois estados contribuíram para criar uma guerrilha devastadora contra as forças dos EUA, dentro do Iraque.

Do mesmo modo, apesar dos bilhões de dólares consumidos em ajuda externa, Washington ainda não conseguiu controlar o presidente que os próprios norte-americanos puseram no poder no Afeganistão, Hamid Karzai, que, em resposta memorável aos enviados norte-americanos que não lhe davam sossego, disse que “Se querem um fantoche para chamar de parceiro, nada feito. Se querem um parceiro, sim, podemos conversar.”

Depois, no final de 2010, WikiLeaks começou a publicar aqueles milhares de telegramas diplomáticos dos EUA que abrem via ampla, sem qualquer controle ou censura, para que se veja, ‘ao vivo’, o enfraquecimento do poder de Washington, que já não domina o sistema de poder delegado que construiu e no qual muito investiu durante 50 anos. Ao ler aqueles documentos, o jornalista israelense Aluf Benn do jornal Haaretz, viu “a queda do império americano, o declínio de uma superpotência que comandou o mundo com seu exército e supremacia econômica.” Nunca mais, escreveu ele “os embaixadores dos EUA serão recebidos nas capitais do planeta como ‘altos comissários’. São vistos hoje como o que hoje são: burocratas cansados, que consomem seus dias ouvindo tediosamente o que não querem ouvir, cada interlocutor empenhado em seu discurso próprio, sem jamais conseguirem convencer os interlocutores locais sobre quem é a superpotência e quem é o estado-cliente.”

É verdade. O que os documentos publicados por WikiLeaks mostram é um Departamento de Estado que labuta para manter um sistema global indisciplinável, de elites locais cada dia mais insubordinadas; um Departamento de Estado que usa de todos os meios – que se serve da mais pura intriga tentando recolher informação e inteligência, de gestos de amizade para tentar obter alguma solidariedade, de ameaças para obrigar a cooperar e que desperdiça bilhões de dólares para comprar uma influência que nunca é suficiente. No início de 2009, por exemplo, o Departamento de Estado instruiu suas embaixadas em todo o mundo a agir como polícia imperial para recolher informação sobre líderes locais, inclusive “endereços de e-mail, números de telefones e faxes, impressões digitais, fotos, DNA e imagens SCAN da íris”.

Não há evidência mais clara de que, como qualquer subgovernador de colônia periférica, o Departamento de Estado depende hoje de informação de algibeira para incriminar adversários, do que a ordem, do Departamento de Estado à embaixada do Bahrain, para que reunisse detalhes sórdidos sobre os príncipes coroados do reino, que os comprometessem aos olhos de uma sociedade islâmica. Textualmente: “O que sabemos que incrimine os príncipes? Algum deles bebe álcool? Usa drogas?”

Com arrogância de quem foi enviado do império até anteontem, os diplomatas dos EUA ainda se autoconsideram senhores de todo o poder e descartam “os turcos neo-otomanos que aparecem pelo Oriente Médio e os Bálcãs”. Ou supõem que conheçam todas as fraquezas das elites subordinadas, como, por exemplo, “a loura voluptuosa que presta serviços de enfermagem ao coronel Muammar Gaddafi”, ou o “medo pânico” que os golpes militares inspiram ao presidente do Paquistão Asif Ali Zardari, ou sobre os 52 milhões de dólares “de fundos roubados” na conta do vice-presidente Ahmad Zia Massoud, do Afeganistão.

Mas, à medida que sua influência declina, Washington está descobrindo que muitos de seus aliados selecionados a dedo nas elites locais ou se tornam cada vez menos controláveis ou cada vez mais irrelevantes, sobretudo no estratégico Oriente Médio. Em meados de 2009, por exemplo, o embaixador dos EUA na Tunísia relata que “o presidente Ben Ali… e seu governo perderam qualquer contato com o povo tunisiano” e dependem “da polícia para controlar o povo”, ao mesmo tempo em que “a corrupção cresce nos círculos mais íntimos do poder” e “aumentam os riscos de instabilidade do regime, para o longo prazo”. Pois mesmo assim, o enviado dos EUA só recomenda que Washington “desconsidere a crítica popular” e passe a confiar “na sinceridade das informações que se obtêm nos altos círculos” – exatamente a mesma política que não produziu reforma alguma, até que as ruas derrubaram o ditador, apenas 18 meses depois dessa informação ‘de inteligência’.

Assim também , no final de 2008, a embaixada dos EUA no Cairo temia que “a democracia egípcia e os esforços de defesa dos direitos humanos estão sendo sufocados”. Mas, como disse a própria embaixada, “nada parece sugerir que se venha a assistir a complicações para os interesses regionais dos EUA, no caso de os laços entre EUA e Egito virem a ser gravemente enfraquecidos”. Quando, poucos meses depois, Mubarak visitou Washington, a Embaixada do Cairo insistiu para que a Casa Branca “restaure o senso de calorosa amizade que tradicionalmente caracterizou a parceria EUA-Egito”. E por isso, em junho de 2009, apenas 18 meses antes de Mubarak ser derrubado, o presidente Obama saudou seu ditador tão útil como “aliado confiável, um pilar de estabilidade e bonança na Região”.

Enquanto a crise na praça Tahrir no Cairo só fazia crescer, um respeitado líder da oposição, Mohamed ElBaradei, reclamava amargamente que Washington “está empurrando todo o mundo árabe na direção da radicalização, com essa política inábil de apoiar a repressão”. Depois de 40 anos de domínio dos EUA, o Oriente Médio, disse ele, não passava de “um punhado de estados fracassados que nada acrescentam à humanidade ou à ciência” porque “as pessoas são ensinadas a não pensar nem agir e, consistentemente, recebem educação inferior.”

Dado que não há guerra global capaz de simplesmente varrer do mundo um império, o declínio de uma grande potência sempre é lento, doloroso processo de esgotamento. Além das duas guerras dos EUA no Iraque e no Afeganistão, que se aproximam de alguma coisa que mais parece derrota que vitória, o capital do império vê-se atacado por grave crise fiscal, a moeda do reino perde valor de troca, e aliados de muito tempo constroem laços econômicos e até militares com a rival China. A tudo isso, impossível não acrescentar a possível perda de leais delegados em todo o Oriente Médio.

Há mais de 50 anos, Washington aproveita-se de um sistema global de poder baseado em elites locais subordinadas. Esse sistema facilitou a expansão da influência norte-americana por todo o mundo, com surpreendente eficácia e (em termos relativos) satisfatória economia de forças. Hoje, esses aliados leais já mais se parecem império desconexo, ou estados abertamente insubordinados. Make no mistake, como gosta de dizer o presidente Obama, que ninguém se engane: o fim de meio século de laços do velho tipo, indica, claramente, que Washington subiu no telhado.

Veja aqui um exemplo de tucanos que rastejaram diante de Washington

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Contraponto 5250 - "A audiência com o ministro Paulo Bernardo "

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25/04/2011
A audiência com o ministro Paulo Bernardo

Do Blog do Miro - segunda-feira, 25 de abril de 2011

Altamiro Borges


Na véspera do feriado, representantes de 20 entidades que lutam pela democratização da mídia tiveram uma audiência, de quase duas horas, com o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, em Brasília. Foi o primeiro encontro oficial de um ministro desta área estratégica com um conjunto de movimentos do setor, fato inédito que indica uma postura mais aberta ao diálogo.

Com autonomia e unidade, as entidades apresentaram as suas críticas aos primeiros meses da nova gestão. Concentraram as queixas em dois itens: a demora na apresentação do projeto do novo marco regulatório da comunicação e os sinais de “privatização” do Plano Nacional de Banda Larga. Como proposta concreta, sugeriram ao ministro a criação de uma mesa permanente de diálogo.

A “bronca” sobre a banda larga

Paulo Bernardo, bem humorado e cortante nas respostas, ouviu atentamente, fez anotações e não fugiu às polêmicas. Quanto ao PNBL, ele relatou a reunião que acabara de fazer com a presidenta Dilma Rousseff, na qual “também levei uma bronca”. Garantiu que o governo elevará a velocidade do serviço - “agora só falo em megabytes” - e endurecerá as negociações com as teles.

Sem tergiversar, o ministro descartou a hipótese de a banda larga ser um serviço prestado apenas em regime público. Alegou que “falta dinheiro” e que há muitos obstáculos legais. No entanto, ele confirmou a disposição do governo de acelerar o plano. Em primeira mão, informou que a presidenta Dilma autorizou investir mais R$ 1 bilhão por ano no PNBL. Paulo Bernardo também enfatizou que a Telebrás foi “ressuscitada” pelo atual governo e que terá papel “regulador” na implantação da banda larga.

Marco regulatório vem aí

Já no que se refere ao novo marco regulatório das comunicações, Paulo Bernardo informou que o projeto elaborado pela equipe do ex-ministro Franklin Martins está na fase final de análise e que o debate será aberto à sociedade no segundo semestre. Diante do ceticismo dos presentes, ele foi enfático no compromisso: “O projeto será enviado entre 1º de julho e 31 de dezembro”.

O ministro alertou que o debate sobre a regulação da mídia será “uma briga longa e difícil”, que alguns setores tentarão rotular a iniciativa de “censura” e que será necessária intensa discussão entre parlamentares, já que para ser aprovado o projeto depende da “formação de uma maioria no Congresso Nacional”. Mesmo assim, insistiu: “O governo está decidido a provocar este debate”.

Mesa permanente de diálogo

Por último, o ministro Paulo Bernardo manifestou simpatia pela idéia da constituição de uma mesa de debate permanente com as entidades que lutam pela democratização da mídia – iniciativa que já tem como precedente a comissão montada entre secretaria-geral da Presidência e a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Ele ficou de encaminhar a proposta para análise. Também sinalizou positivamente com a proposta da convocação da 2ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).

Em síntese, a audiência foi positiva. Ela mostrou maturidade dos interlocutores, que apresentaram abertamente críticas e sugestões. Serviu para evidenciar a urgência de avanços no PNBL, alvo da gula das teles, e para indicar que o governo está disposto a enviar o projeto de novo marco regulatório. Na prática, confirmou que será preciso intensificar a pressão dos movimentos sociais para garantir a banda larga e a regulação da mídia. A briga é de titãs e não permite qualquer tipo de passividade e omissão.
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Contraponto 5249 - "Os interesses ocidentais e a revolta árabe"

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25/04/2011

Os interesses ocidentais e a revolta árabe

Da Carta Maior - 25/04/2011

A OTAN envolveu-se em mais uma guerra contra um país árabe. As esperanças de um desenlace rápido e da ruína imediata de Kadafi não se concretizaram, obrigando as potências ocidentais a um envolvimento cada vez maior na crise.

Francisco Carlos Teixeira*

A passividade, e mesmo cordialidade, com que a diplomacia ocidental convivia com as ditaduras árabes evoluiu rapidamente para uma situação nova e altamente volátil, com impactos inesparados. De um lado, a OTAN envolveu-se em mais uma guerra contra um país árabe. As esperanças de um desenlace rápido e da ruína imediata de Kadafi não se concretizaram, obrigando as potências ocidentais a um envolvimento cada vez maior na crise. Por outro lado, o fluxo de refugiados abala as próprias estruturas da União Européia, principalmente institutos como o “Espaço de Schengen”. Daí decorre a necessidade de analisar os atuais interesses ocidentais e as revoltas árabes.


As questões estratégicas e securitárias
A manutenção e controle do livre acesso entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Índico através do Canal de Suez – esta via básica do comércio e da segurança regional, reaberta ao tráfego internacional e operada pelo Egito desde os Acordos de Camp David (em 1978), garante o fluxo de energia para a Europa, as operações de combate contra a ”nova pirataria” (Iêmen, Somália) e as operações de controle e segurança entre a frota americana nos dois mares da região, o Mediterrãneo e o Golfo Pérsico, através do Mar Vermelho. Da mesma forma, o Egito, até fevereiro de 2011, contrariando a legislação internacional impedia – para satisfação de Israel – o acesso de naus iranianas ao Mediterrâneo através do Canal. Tal quadro foi alterado, já nos primeiros dias do novo governo no Cairo, com a permissão de navios de guerra iranianos de livre acesso ao Mediterrâneo, aumentando as preocupações de Israel e subvertendo as bases da segurança regional, conforme fora estabelecido nos acordos de paz entre Israel e Egito.

A questão da migração
O controle de imigração para a Europa, em especial para a Itália (líbios, tunisianos), França e Bélgica ( tunisianos ) Grécia (egípcios e tunisianos) e Inglaterra (egípcios e líbios) é uma das preocupações maiores da União Européia. Desde o início da crise os ministros do interior interessados manifestaram-se fortemente apreensivos, em especial o governo italiano, considerando-se “abandonado” pelos demais parceiros comunitários. A possibilidade de vagas de imigrantes pobres do Maghreb – bem ao contrário dos ricos membros da cleptocracia tunisiana e egípcia assíduos em Roma, Paris, Londres e nas praias espanholas – seria uma tragédia para a União Européia, colocando em risco o chamado Espaço de Schengen, instituto que garantiria a livre circulação de pessoas no interior da UE. Cabe ressaltar que vários governos conservadores da UE, como Berlusconi na Itália e Sarkozy na França, trataram a migração árabe, desde o inicio de seus mandatos, como um problema securitário da comunidade, associando migrantes com desemprego e criminalidade (o que, neste último caso, não possui qualquer suporte ou comporvação estatística ).

Caso as revoltas atinjam o Marrocos e a Argélia – já em fevereiro de 2011 palco de grande mobilização popular que avança em nossos dias, em especial no Marrocos – países como a França e a Espanha seriam diretamente atingidos. O próprio ditador líbio, Muamar Kadafi, utilizou-se do pânico europeu frente aos imigrantes para ameaçar a UE. Em 07/03/2011 Kadafi, em entrevista à TV francesa lembrou aos europeus que seu regime é o responsável pelo bloqueio de vagas de migrantes da paupérrima região do Sahel (Tchad, Mali, Níger), que na ausência de um regime “da ordem” poderiam invadir a Europa, reforçando a tese de que seu regime é parte vital do sistema de segurança do Mediterrâneo . Neste momento, em total impasse político e militar, já se contam em um milhão de refugiados líbios – de uma população total não superior a 6,5 milhões de líbios – acampados precariamente na Tunísia e Egito ou deslocados internamente. Da mesma forma, milhares de tunisianos, sem amiores expectativas, buscam oportunidades na antiga potência colonial, a França.

A ONU criou uma missão especial para analisar as necessidades e as medidas emergenciais de atendimento a estes refugiados. O Papa manifestou-se, no domingo de Páscoa, contra a expulsão dos refugiados. Contudo, Sarkozy, que impeliu a solução militar da questão, mantém-se inarredável na repressão aos migrantes. Para este trata-se de conquistar os votos da extrema-direita do Front National, de Marine Le Pen.

A segurança de Israel
A preocupação com a segurança de Israel foi, no caso dos Estados Unidos, um foco inicial bastante relevante de posicionamento frente a Revolta Árabe, com os anseios populares árabes subordinados às questões securitárias ligadas à aliança Washington-Tel Aviv. A diplomacia israelense pressionou fortemente Washington para manter o apoio a Mubarak e afastar-se de um processo de democratização do Maghreb, chegando a gerar intenso debate entre o posicionamento de Hillary Clinton ( e Susan Rice, embaixadora na ONU ), do vice-presidente Joe Biden - que chegou a defender a permanência de Mubarak em plena revolta - e do próprio Obama, inclinado a apoiar, sem intervenção militar, a revolta popular.

Somente depois do inevitável desfecho é que Israel, através de seu presidente Shimon Peres – uma voz pregando no deserto! – fez um largo elogio ao movimento popular árabe. Aqui reside uma questão-chave: no atual momento e em face da estagnação do processo de paz na Palestina, qualquer governo democrático, sensível aos sentimentos populares, será crítico (em graus variados) ao Estado de Israel. O caso da Turquia é um paradigma ainda insuperável: a ascensão ao poder em Ankara, em 2002, do Partido da Justiça e do Desenvolvimento/AKP, islamista conservador e democrático, resultou na quebra da colaboração turco-israelense e no surgimento, para Israel, de uma nova frente de críticas e de graves crises internacionais ( culminando no ataque israelense contra a flotinha turca de ajuda aos palestinos em 2010 ).

Eleições livres e representativas no Egito e na Túnisia ( assim como seria na Síria e Jordânia ) devem forjar maiorias tão críticas a Israel quanto o AKP na Turquia do premier Erdogan (vamos lembrar que a flotinha humanitária com destino a Gaza e atacada em alto mar por Israel, de bandeira turca, causou um imenso dano a imagem internacional de israel ). Da mesma forma, a cooperação militar entre Istambul e Tel Aviv cessou de imediato, dando muito maior liberdade de ação para os regimes de Damasco e de Teerã (que só não aproveitam melhor a situação em virtude de suas próprias oposições internas ).

De qualquer forma, no médio prazo, as revoltas árabes são um grave risco para Israel. A propaganda política mais comum – “Israel, a única democracia do Oriente Médio” – e muito sensível na Europa e Estados Unidos, irá por água abaixo. Por outro lado, a insistência numa visão de Israel como um acampamento militar cercado por inimigos – o chamado “Espírito de Massada” - será duramente criticada, inclusive internamente. A existência de regimes representativos no Cairo, em Tunis, em Beirute e quiçá em Damasco e, num futuro, em Teerã terá um desfecho certo sobre os palestinos. Novas eleições gerais darão, sem dúvida, uma maioria às forças mais moderadas e e que buscam uma solução negociada e definitiva. Assim, a direita nacionalista no poder em Tel Aviv ficará cada vez mais isolada e sem programas.

Mais uma vez a história é irônica: é muito provável que o último alvo da democracia no Mundo Árabe seja a direita israelense.

A questão do petróleo
O Egito e a Tunísia não são, em verdade, grandes produtores de petróleo, sendo sua produção residual em relação aos vizinhos. Contudo, o impacto da revolta egípcia se faz claramente sobre o fluxo de comércio mundial – incluindo aí petróleo – através do Canal de Suez e, ao mesmo tempo, sobre o risco de fechamento da via por generalização de conflitos internos ou antipatia com o Estado de Israel. Estas possibilidades, mesmo remotas, já influíram visivelmente na cotação do barril no início da rebelião popular egípcia.

O efeito dominó do aumento dos preços do petróleo deverá incidir, por sua vez, fortemente sobre commodities agrícolas, impulsionando ainda mais a inflação mundial e gerando “bolhas” especulativas setoriais. Entretanto, o caso da Líbia é bastante diferente – as reservas (comprovadas) líbias de petróleo alcançam 47 bilhões de barris, enquanto as egípcias somam apenas 4.3 bilhões de barris. Sua produção é parte integrante da produção mundial do sistema de cotas da OPEP e a paralisação, mesmo parcial, incidiu já fortemente sobre a cotação do petróleo. O aumento da produção da Arábia Saudita, e suplementarmente do Qatar e a Nigéria, para preencher o fornecimento líbio – na casa de 500 até 600 mil barris/dia – foi, desde 27/02/2011, uma medida emergencial para evitar maiores sobressaltos no mercado. Da mesma forma a notícia de que os Estados Unidos estavam cogitando colocar no mercado suas reservas estratégicas dão conta, em conjunto, do impacto (mesmo psicológico) da crise num momento de fragilidade da economia norte-americana e européia.

Contudo, o ministro do petróleo do Irã, esperadamente, reagiu irritado à medida saudita e lançou a OPEP numa situação de indecisão. Ao Irã, secundado pela Venezuela, interessa a manutenção dos níveis elevados da cotação. Para ambos – em forte crise econômica e em atrito constante com as potências ocidentais – não interessa aliviar os efeitos inflacionários da crise. Embora os Estados Unidos não sejam grandes compradores na região, suas empresas são grandes operadoras e estão diretamente envolvidas na crise. O principal prejudicado no caso são as economias européias, já duramente atingidas pela crise financeira comunitária, pela vaga de migrantes, e agora pelo preço da energia. Caso a crise perdure ou alastra-se para a Argélia – grande exportador de gás natural com reservas de 59.67 bilhões de metros cúbicos, o que a faz o quarto exportador mundial, mormente para a França e Espanha – a segurança energética global será duramente afetada.

*Francisco Carlos TeixeiraProfessor Convidado da Universidade Técnica de Berlim
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Contraponto 5248 - "Governo Dilma se preocupa em consolidar conquistas, diz Gilberto Carvalho,"

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25/04/2011

Governo Dilma se preocupa em consolidar conquistas, diz Gilberto Carvalho.

Do Amigos da Presedente Dilma - por Zé Augusto -25/04/2011

Confira mais um trecho da entrevista de Gilberto Carvalho à Agência Brasil:

Agência Brasil – Em relação à economia, a preocupação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a de trazer uma parcela maior da população para ter acesso aos bens de consumo. Como o governo vem pensando o atual momento, com inflação em alta. Muitas pessoas podem perder o que conquistaram nos últimos anos.

Gilberto Carvalho - É o chamando freio de arrumação.

Abr - É importante esse freio agora? Como esse desafio econômico afeta o seu trabalho com os movimentos sociais?

Carvalho - É muito importante. A discussão sobre o salário mínimo versou muito esse tema. Era importante não fazer agora um aumento maior. Primeiro, que era importante por causa do compromisso assumido de ambos os lados. Tanto que já se anuncia para o ano que vem um aumento que vai superar os 12%. Será um belo aumento. Mas é uma responsabilidade fiscal que nós temos que ter. Em 2009 havia tudo para dar errado no Brasil. A decisão do governo em fazer desoneração para a produção e estimular os bancos estatais para jogarem recursos para fazer a roda girar, além da fala do presidente Lula de estímulo ao consumo foi fundamental para que isso não acontecesse. Então, na linguagem popular, metemos bala em 2009, tivemos que manter em 2010 porque ainda era necessário consolidar a posição de superação da crise e era natural que nesse ano tivéssemos que dar uma freada.

ABr - E como estão os movimentos em relação a isso?

Carvalho - Não posso dizer que os movimentos estão totalmente de acordo com essa política ou que acham boa. Seria hipócrita da minha parte. O movimento é muito díspar. Entre os militantes há posições de maior ou menor compreensão, maior ou menor acordo. Numa coisa eles estão de acordo sempre: é preciso segurar a inflação e nós temos um momento de fato delicado, por causa da inflação e do câmbio. Se a inflação prejudica o trabalhador, a sobrevalorização do real prejudica os exportadores. Já os importadores estão rindo a toa. É um momento delicado que está sendo conduzido com muita prudência pela presidenta, junto com o ministro Guido Mantega [ministro da Fazenda], junto com o [Alexandre] Tombine, presidente do Banco Central. Tenho muita confiança na linha que está sendo adotada porque ela é muito prudente, é cuidadosa, para não se dar nem um passo que tire o trem dos trilhos. Total segurança ninguém pode ter, evidentemente. Não somos uma ilha, há uma interdependência hoje. Há um processo inflacionário em todo mundo. Mas eu tenho muita confiança de que vamos conseguir transitar. Com os movimentos, nós estamos sempre chamando os companheiros à responsabilidade.

ABr - Mas o que o senhor diz a eles? A batalha número 1 é controlar a inflação?

Carvalho - Exatamente isso. Número 2 é garantir emprego de qualidade, que garanta distribuição de renda também. E eles têm visto da parte do governo seriedade. Eles estão vendo que não estamos brincando e ninguém quer fazer um processo recessivo, por outro lado.

ABr - No governo Lula houve a ascensão de grande parcela da população para a chamada nova classe média. O desafio do governo hoje é impedir que se perca isso?

Carvalho - A preocupação do governo hoje é exatamente manter um ambiente de continuidade de crescimento com distribuição. Aí a questão do salário é importante. A gente sabe que essa chamada nova classe média é um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada, são novos empregos. Para consolidar essa posição é preciso que esse modelo se mantenha. Por isso essas medidas prudenciais que estamos tomando para não haver esse desequilíbrio que leve a uma recessão nesse momento, o que levaria de novo ao desemprego. A pessoa que comprou seu carro em 36 vezes, em 42 vezes, terá um problema se isso ocorrer. Daí nosso cuidado. O importante é não ter um crescimento espetacular, e sim um crescimento mediano, para nos próximos anos retomar um crescimento nessa faixa de 4% a 5%, que nos parece bastante adequado depois do salto que nós demos. Aí tem uma ciência complexa, que a gente maneja a cada dia isso. Não sou economista, não estou no Ministério da Fazenda.

Confira mais um trecho da entrevista de Gilberto Carvalho à Agência Brasil:

Agência Brasil – Em relação à economia, a preocupação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a de trazer uma parcela maior da população para ter acesso aos bens de consumo. Como o governo vem pensando o atual momento, com inflação em alta. Muitas pessoas podem perder o que conquistaram nos últimos anos.

Gilberto Carvalho - É o chamando freio de arrumação.

Abr - É importante esse freio agora? Como esse desafio econômico afeta o seu trabalho com os movimentos sociais?

Carvalho - É muito importante. A discussão sobre o salário mínimo versou muito esse tema. Era importante não fazer agora um aumento maior. Primeiro, que era importante por causa do compromisso assumido de ambos os lados. Tanto que já se anuncia para o ano que vem um aumento que vai superar os 12%. Será um belo aumento. Mas é uma responsabilidade fiscal que nós temos que ter. Em 2009 havia tudo para dar errado no Brasil. A decisão do governo em fazer desoneração para a produção e estimular os bancos estatais para jogarem recursos para fazer a roda girar, além da fala do presidente Lula de estímulo ao consumo foi fundamental para que isso não acontecesse. Então, na linguagem popular, metemos bala em 2009, tivemos que manter em 2010 porque ainda era necessário consolidar a posição de superação da crise e era natural que nesse ano tivéssemos que dar uma freada.

ABr - E como estão os movimentos em relação a isso?

Carvalho - Não posso dizer que os movimentos estão totalmente de acordo com essa política ou que acham boa. Seria hipócrita da minha parte. O movimento é muito díspar. Entre os militantes há posições de maior ou menor compreensão, maior ou menor acordo. Numa coisa eles estão de acordo sempre: é preciso segurar a inflação e nós temos um momento de fato delicado, por causa da inflação e do câmbio. Se a inflação prejudica o trabalhador, a sobrevalorização do real prejudica os exportadores. Já os importadores estão rindo a toa. É um momento delicado que está sendo conduzido com muita prudência pela presidenta, junto com o ministro Guido Mantega [ministro da Fazenda], junto com o [Alexandre] Tombine, presidente do Banco Central. Tenho muita confiança na linha que está sendo adotada porque ela é muito prudente, é cuidadosa, para não se dar nem um passo que tire o trem dos trilhos. Total segurança ninguém pode ter, evidentemente. Não somos uma ilha, há uma interdependência hoje. Há um processo inflacionário em todo mundo. Mas eu tenho muita confiança de que vamos conseguir transitar. Com os movimentos, nós estamos sempre chamando os companheiros à responsabilidade.

ABr - Mas o que o senhor diz a eles? A batalha número 1 é controlar a inflação?

Carvalho - Exatamente isso. Número 2 é garantir emprego de qualidade, que garanta distribuição de renda também. E eles têm visto da parte do governo seriedade. Eles estão vendo que não estamos brincando e ninguém quer fazer um processo recessivo, por outro lado.

ABr - No governo Lula houve a ascensão de grande parcela da população para a chamada nova classe média. O desafio do governo hoje é impedir que se perca isso?

Carvalho - A preocupação do governo hoje é exatamente manter um ambiente de continuidade de crescimento com distribuição. Aí a questão do salário é importante. A gente sabe que essa chamada nova classe média é um pouco polêmica, porque não tem uma posição ainda consolidada, são novos empregos. Para consolidar essa posição é preciso que esse modelo se mantenha. Por isso essas medidas prudenciais que estamos tomando para não haver esse desequilíbrio que leve a uma recessão nesse momento, o que levaria de novo ao desemprego. A pessoa que comprou seu carro em 36 vezes, em 42 vezes, terá um problema se isso ocorrer. Daí nosso cuidado. O importante é não ter um crescimento espetacular, e sim um crescimento mediano, para nos próximos anos retomar um crescimento nessa faixa de 4% a 5%, que nos parece bastante adequado depois do salto que nós demos. Aí tem uma ciência complexa, que a gente maneja a cada dia isso. Não sou economista, não estou no Ministério da Fazenda.

Contraponto 5247 - "Lula não aparelhou o Estado. Dias na Carta desmascara PiG"

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    25/04/2011

Lula não aparelhou o Estado. Dias na Carta desmascara PiG


Uma das lendas piguentas é a de que o Nunca Dantes inchou a folha de pagamentos do Governo Federal.

Lula teria “inchado” o Estado.

E tudo para ganhar votos.

Reles “populismo”, na linguagem dos neoliberais.

A pedido de Mauricio Dias, da Carta Capital – ler na pág. 12 desta semana -, o professor Fernando de Mattos, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e pesquisador do IPEA, comparou alguns dados dos governos FHC e Lula.

(Dias lembra que o Nunca Dantes saiu do Governo com 87% de aprovação popular e o FHC com 35%.)

(É por isso que o Farol de Alexandria sofre tanto.)

O professor Mattos mostra:

1) o Nunca Dantes aumentou o quadro do serviço público, porque aumentou os serviços públicos – obras, universidades, hospitais, Minha Casa, Bolsa Família;

2) o número de funcionários públicos em relação ao de empregados formais no governo do FHC era maior.


Por que, amigo navegante ?

Porque o Farol de Alexandria aumentava o empregado formal no setor privado à base de 4% ao ano, contra 6% do Lula.

3) A relação entre empregados no Governo Federal e o total de ocupados é, no Brasil, de 10,7%.


Na Suécia, 31%; na França, 15%; nos EUA, 15%; na Austrália, 14%; na Alemanha, 15%.

Portanto, amigo navegante, mude de canal quando Bom (?) Dia Brasil e a urubóloga falarem em “inchaço da máquina estatal” .


Paulo Henrique Amorim
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Contraponto 5246 - "Danos colaterais e terror"

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25/04/2011

Danos colaterais e terror

Da Carta Maior - 24/04/2011


No inicio do século XX, 5% das vítimas de guerra eram civis, na Primeira Guerra Mundial, 15%; na Segunda Guerra Mundial o valor saltou para uma taxa de mortalidade de 65%; na década de noventa, 75% das mortes da guerra eram civis. Hoje, a cifra atinge os 90% sendo que a maioria é composta por mulheres e crianças. Quando um Estado realiza um ataque em outro país e, previsivelmente, mata não combatentes pode ser isento de culpabilidade simplesmente porque não manifestou a intenção de matar inocentes? O artigo é de Reginaldo Nasser.

Reginaldo Nasser (*)

Aumenta a cada dia o número de civis que morrem nas guerras sobre a rubrica "danos colaterais". No inicio do século XX, 5% das vítimas de guerra eram civis, na Primeira Guerra Mundial, 15%; na Segunda Guerra Mundial o valor saltou para uma taxa de mortalidade de 65%; na década de noventa, 75% das mortes da guerra eram civis. Hoje, a cifra atinge os 90% sendo que a maioria é composta por mulheres e crianças.

Quando um Estado realiza um ataque em outro país e, previsivelmente, mata não combatentes pode ser isento de culpabilidade simplesmente porque não manifestou a intenção de matar inocentes? O jurista Richard Goldstone que presidiu uma comissão nomeada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para apurar violações aos direitos humanos em decorrência dos ataques de Israel à Faixa de Gaza, em 2009, escreveu em seu relatório que tanto as forças militares israelenses, como o grupo Hamas, eram culpados de crimes de guerra no conflito. Por volta de 1.400 palestinos (900 civis) e 13 israelenses (10 soldados e 3 civis) morreram no mesmo período. Recentemente, Goldstone escreveu, em uma coluna do Washington Post (01/04/2011) que: "sabemos atualmente muito mais sobre o que aconteceu em Gaza do que no momento quando fizemos o relatório ... Se eu soubesse o que sei agora, o Relatório teria sido diferente". Pois, a comissão de inquérito, de acordo com Goldstone, não tem provas para explicar as circunstâncias em que os civis em Gaza foram alvo, o que, provavelmente, teria influenciado a avaliação sobre a “intencionalidade dos crimes de guerra”.

Um ponto-chave no artigo e no amplo debate desencadeado pelo relatório Goldstone é a questão da intenção criminosa. Nos julgamentos de crimes de guerra, a acusação deve provar não só que o argüido cometeu um delito, mas também que manifestou a intenção, ou estava plenamente ciente das conseqüências do que poderia resultar. Essas ações são tradicionalmente avaliadas em duas categorias: ação intencional contra civis por parte de militares, o que caracterizaria como “crimes de guerra"; ou morte não intencional de civis no decurso de operações militares que é muitas vezes referida como "danos colaterais". São os danos colaterais, e não os crimes de guerra, que constituem, atualmente, a maioria das mortes de civis nas guerras.

A proporção de vítimas de danos colaterais aumentou dramaticamente desde o fim da Guerra Fria (cerca de 59%). Num primeiro momento podemos saudar como uma boa notícia uma diminuição nos ataques direto aos civis ao longo do tempo. Mas o que é mais importante notar é que o aumento em termos absolutos dos “danos colaterais” ocorre num contexto de diminuição do número de guerras interestatais e no momento em que a modernização tecnológica e a utilização de armas de grande precisão deveriam reduzir a probabilidade de danos colaterais.

Apesar dos ataques realizados se justificarem como legíitima defesa quando as tropas estão sob ataque ou quando estão na iminência de serem atacadas as perguntas quanto ao uso de força excessiva e os danos colaterais em termos de vítimas civis permanecem. Nesses casos, os ataques exigem um vasto trabalho de inteligência para a identificação do alvo e da sua constante vigilância. Assim, em muitos casos não houve tempo para elaborar um plano para o ataque, bem como planejar uma operação especial para atingir o alvo. Essa avaliação, por sua vez, deve sustentar o critério da proporcionalidade, pesando vantagem militar antecipada contra mortes de civis, bem como o princípio da necessidade e da distinção.

Como se sabe cada vez mais, as chamadas armas de precisão têm um raio de destruição muito grande. Os ataques aéreos sempre têm um alto custo em vidas humanas. Relatos recentes revelam que, para cada indivíduo alvo, há em torno de 50 vítimas colaterais (sem falar de outras conseqüências como o alto de número de feridos, destruição de propriedades e etc).
Um documento elaborado por uma comissão de especialistas sob os auspícios da secretaria geral da ONU apresentou a seguinte definição de terrorismo: “qualquer ato, ademais dos atos já especificados nas convenções vigentes sobre determinados aspectos do terrorismo... destinado a causar a morte ou lesões corporais graves a um civil ou a um não combatente, quando o propósito de tal ato, por sua natureza ou contexto, seja intimidar uma população ou obrigar a um governo ou a uma organização internacional a realizar um ato ou a abster-se de fazê-lo”.

Embora essa definição reconheça que os Estados possam ser responsabilizados, a questão relativa ao propósito do ato é essencial, deixando sempre amplas possibilidades aos Estados alegarem que sua intenção nunca é causar danos a civis. Quando isso acontece há um conceito - “danos colaterais” - esperando para ser usado, encobrindo a trágica conseqüência dos verdadeiros motivos da ação. Por que essas ações que ocasionam a morte de civis não poderiam ser qualificadas como terrorismo?

No Afeganistão e Iraque, os EUA utilizam deliberadamente métodos que se sabe, de antemão, que irão causar a morte de um grande número de não combatentes, dado o alto poder destrutivo das armas, porém a justificativa é que não se trata de terrorismo já que não há a intenção manifesta de matar civis. É preciso desvincular a questão da ocorrência de danos colaterais dos problemas de tecnologia, de erro humano, ou de inteligência militar e entender que, se trata de uma questão ideológica. Nunca se viu na história das guerras e do direito internacional a quantidade e variedade de eufemismos humanistas empregados atualmente, justamente para encobrir verdadeiros assassinatos.

*Reginaldo Nasser . Professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP).

Contraponto 5245 - "A vergonha desumana de Guantánamo"


25/04/2011

A vergonha desumana de Guantánamo

Do Tijolaço - 25/04/2011

Brizola Neto

É frequente vermos acusações sobre a violação de direitos humanos em Cuba. E, hoje, os principais jornais do mundo trazem descrições minuciosas sobre elas. Mas não na Cuba castrista, mas no pedaço de Cuba que é ilegalmente controlado pelos Estados Unidos: Guantánamo.

“Guantanamo criou um sistema policial e penal, sem qualquer garantia, que só se preocupa com dois temas: quanta informação é obtida a partir de prisioneiros, embora eles sejam inocentes, e se poderiam ser perigosos no futuro. ” , diz o El País. “Idosos com demência, jovens, pacientes psiquiátricos graves e professores ou agricultores sem conexão com a Jihad ( guerra santa, em árabe)foram levados para a cadeia e misturados com verdadeiros terroristas, como os responsáveis 11 de setembro.

O El País teve acesso - juntamente com outros meios de comunicação internacionais – e através da Wikileaks, aos registros secretos militares de 759 dos 779 prisioneiros que passaram na prisão, dos quais aproximadamente 170 continuam detidos. A revelação dos segredos de Guantanamo, transformada em prisão por George W. Bush em 2002, à margem das leis nacionais e internacionais, vem em um momento ruim para o presidente Barack Obama. Fechar a prisão foi a sua primeira promessa depois de tomar posse em janeiro de 2009. O anúncio, um mês atrás, que iria retomar os julgamentos da comissão militar foi o reconhecimento de seu fracasso.

Os relatórios, datados entre 2002 e 2009, que na maioria dos casos são destinados a recomendar se o preso deva permanecer na prisão, ser libertados ou transferidos para outro país, documentado pela primeira vez como os EUA no valor de cada internamente eo que sabia deles. Revelam um sistema baseado em acusações de outros detentos, sem regras claras, baseadas na desconfiança e conjecturas, que não necessita de provas: 143 pessoas ficaram presas mais de nove anos sem acusação formal.

Entre os presos, estavam um velho de 89 anos com demência e depressão, um pai que fui à procura de seu filho entre os talebans, um comerciante que viajava sem documentos, um homem que estava pedindo carona para comprar remédios. Pelo menos 150 dos presos em Guantánamo eram afegãos e paquistaneses inocentes, incluindo motoristas, agricultores e cozinheiros, que foram detidos durante operações de inteligência em zonas de guerra.

Muitas vezes, o único crime de que as autoridades os culpam é de o de ter um primo, amigo ou irmão relacionadas com a Jihad, ou viver em uma cidade onde haja guerrilheiros, ou andar em vias de circulação utilizadas por terroristas e portanto, conhecê-los bem.

A reação da Casa Branca foi lamentar que o El País, o The New York Times e o Washington Post tenham publicado dos documentos divulgados “de forma ilegal” pelo Wikileaks.

Não se pode deixar de reconhecer que o Governo americano, responsável pelo campo de concentração, entende bem o que é “de forma ilegal”.

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domingo, 24 de abril de 2011

Contraponto 5244 - " Oriente Médio: retrato do Império em apuros"


24/04/2011

Oriente Médio: retrato do Império em apuros

Da Carta Capital 23/04/2011

Opera Mundi 23 de abril de 2011 às 11:01h

Por Immanuel Wallerstein*

Nos últimos cinquenta anos, a política dos Estados Unidos no Oriente Médio tem sido construída em torno de relações muito próximas com três países: Israel, Arábia Saudita e Paquistão. Em 2011, porém, Washington está em desacordo com os três, e de maneira fundamental. Também é público a divergência com Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, China e Brasil sobre as políticas na região. Parece que quase ninguém concorda com os Estados Unidos ou segue sua liderança. Pode-se ouvir a frustração agonizante do presidente, do Departamento de Estado, do Pentágono e da CIA – todos veem a situação saindo do seu controle.

O motivo de os Estados Unidos terem criado uma aliança tão forte com Israel é ponto para muito debate. Mas é claro que, por muitos anos, o relacionamento tem ficado cada vez mais sólido, e segue cada vez mais os termos de Israel. O país tem contado com apoio financeiro e militar dos EUA, e a certeza do veto infalível no Conselho de Segurança da ONU.

O que ocorreu agora é que tanto as políticas israelenses quanto suas bases de apoio nos EUA têm se movido rapidamente para a direita. Israel aferra-se a duas coisas: o adiamento eterno de negociações sérias com a Palestina e a esperança de que alguém irá bombardear o Irã. Obama tem se movido em direção contrária, ao menos tanto quanto a política interna dos Estados Unidos lhe permite. As tensões são fortes e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está rezando – se é que ele reza – para uma vitória dos republicanos na eleição presidencial em 2012. O desfecho da crise pode, porém, vir antes, quando a Assembleia Geral da ONU votar para reconhecer a Palestina como um Estado-membro. Os Estados Unidos irão se encontrar na posição perdedora de lutar contra isso.

A Arábia Saudita manteve um relacionamento confortável com Washington desde que o presidente Franklin Roosevelt encontrou-se com o rei Abdul Aziz em 1943. Juntos, tinham a capacidade de controlar a política de petróleo em todo o mundo. Colaboraram em assuntos militares e os Estados Unidos contaram com a ajuda do aliado próximo para apoiar outros regimes árabes em cheque. Porém, hoje o regime saudita sente-se muito ameaçado pela segunda revolta árabe. Também ficou totalmente desconcertado com a decisão dos Estados Unidos de reconhecer o destronamento de Mubarak pelo seu exército; e pela crítica de Washington à intervenção saudita no Bahrain, por mais que a crítica tenha sido leve. As prioridades dos dois países são bastante diferentes agora.

Durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos consideravam a Índia próxima demais da União Soviética, o Paquistão obtinha total apoio norte-americano (e da China), qualquer que fosse o seu regime. Os dois países trabalharam conjuntamente para auxiliar os mujahedins no Afeganistão e forçaram a retirada das tropas soviéticas. Eles provavelmente trabalharam juntos para conter o crescimento da al Qaeda. Duas coisas mudaram. No período pós-Guerra Fria, os Estados Unidos desenvolveram relações mais próximas com a Índia, para a frustração do Paquistão. E o Paquistão e os Estados Unidos encontram-se em extremo desacordo sobre como lidar com a força crescente da al Qaeda e do Talibã no Paquistão e Afeganistão.

Um dos principais objetivos da política externa dos EUA, desde o colapso da União Soviética, tem sido evitar que os países da Europa Ocidental desenvolvam políticas autônomas. Mas hoje, os três países principais – Reino Unido, França e Alemanha – estão fazendo isso. Nem a linha dura de George W. Bush, nem a diplomacia suave de Barack Obama parecem ter retardado isso. O fato de a França e o Reino Unido pedirem que os Estados Unidos assumam uma liderança mais ativa na luta contra Kadafi, enquanto Alemanha diz praticamente o oposto é menos importante que os três expressarem essas opiniões muito alto e fortemente.

Rússia, China e Brasil estão usando suas cartas cuidadosamente no que diz respeito às relações com Washington. Os três se opõem às posições dos EUA em quase tudo atualmente. Eles podem não ir até o fim (deixando de usar o veto no Conselho de Segurança) porque os Estados Unidos ainda têm garras que podem usar. Mas eles certamente não estão cooperando. O fiasco da recente viagem de Obama ao Brasil, onde ele pensou que conseguiria obter uma nova abordagem da presidente Dilma Rousseff – mas não conseguiu – mostra quão pouca influência os Estados Unidos têm no presente.

Finalmente, a política interna mudou. A política externa bipartidária caiu na memória histórica. Agora, quando os Estados Unidos entram em guerra, como na Líbia, a opinião pública mostra apenas cerca de 50% de apoio. E políticos dos dois partidos atacam Obama – ou por ser muito belicoso, ou por ser muito pacifista. Estão todos esperando para lançar-se sobre ele, diante de qualquer insucesso grave. O resultado disso pode ser forçá-lo a intensificar o envolvimento dos EUA em todos os lugares e, desse modo, agravar a reação negativa de todos os aliados.

Madeleine Albright chamou os Estados Unidos de “nação indispensável”. O país ainda é o gigante na cena mundial. Mas é um gigante desajeitado, incerto sobre onde e como quer chegar. A medida do declínio dos Estados Unidos é o grau em que os aliados próximos de antes estão prontos para defender seus desejos e manifestar isso publicamente. A medida do declínio dos Estados Unidos é a incapacidade do país em declarar publicamente o que está fazendo, ou a insistência em dizer que tudo está realmente sob controle. Os Estados Unidos efetivamente tiveram que desembolsar uma quantia muito grande de dinheiro para liberar da prisão um simples agente da CIA no Paquistão.

A consequência disso tudo? Muito mais anarquia no mundo. Quem vai lucrar com isso tudo? No momento, é uma questão que está em aberto.

*Immanuel Wallerstein é um sociólogo dos Estados Unidos

Texto publicado originalmente no site Outras Palavras. Republicado pelo Opera Mundi

Contraponto 5243 - Frases da Carta Maior

24/04/2011

Frases da Carta Maior

DELFIM : QUEM CONTROLA A MÍDIA IMPÕE SUA VISÃO
ECONÔMICA E COLOCA EM XEQUE A DEMOCRACIA

"...Há opiniões de gente do governo (e também de fora) de que o momento não é propício a uma ampla discussão do problema (o desafio da inflação e suas intercorrências na questão dos juros e a relação destes com a valorização cambial), porque isso poderia deteriorar ainda mais as expectativas inflacionárias. Concordo que essa é uma preocupação importante, mas a ampliação do debate hoje é necessária para que não prevaleça o pensamento único imposto à imprensa por grupos restritos que se julgam portadores de uma ciência econômica que, na verdade, não existe. 'Cientificamente', os vastos recursos do sistema financeiro influem decisivamente na construção das expectativas da inflação. São elas que dão o suporte necessário à elevação das taxas de juro. Nosso papel é insistir em questionar esse mecanismo das expectativas que o Banco Central acaba sancionando. No final, oficializa a estimativa de inflação que é a do próprio sistema financeiro (...) este é um processo perverso que pode por em xeque a própria democracia: quem controla a mídia acaba impondo a sua vontade. Vivemos um período relativamente longo (nos anos que antecederam a eleição de Lula) em que o debate econômico esteve interditado. Com a 'virada da agenda' em favor do crescimento com inclusão social, parece ter renascido o interesse em discutir a política econômica de forma ampla, sem restrições" (Delfim Netto/ Carta Capital)

(Carta Maior; 2º feira, 25/04/2011)
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Contraponto 5242 - "Eles devem, nós pagamos com inflação"

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24/04/2011


Eles devem, nós pagamos com inflação


Do Tijolaço - 24/04/2011

Brizola Neto

Em 2007, antes da crise econômica global, a dívida dos países ricos era de US$ 26 trilhões, e correspondia a 47% do PIB global. Apenas três anos depois, EUA, Europa e Japão passaram a dever US$ 42 trilhões, 61% do PIB mundial.

Os dados estão numa matéria publicada hoje no Estadão e reafirmam a evidência de que é a economia do chamado mundo desenvolvido a responsável pela ameaça inflacionária que não é brasileira, mas mundial.

Aliás, vamos colocar o nome certo no boi: é a economia norteamericana, que responde por quase 40% do total desta dívida. A relação entre a dívida dos EUA e seu PIB era de 62% do PIB em 2007, vai a 99,5% em 2011 e chegará a 112% em 2016.

E porque acontece isso? Porque a política seguida pelos bancos centrais dos principais países desenvolvidos, vem sendo a de adotar uma maneira ultra-agressiva para tentar reativar a economia e diminuir o desemprego: expandem a circulação de suas moedas – que têm liquidez em todo o mund. Essa liquidez está gerando grandes fluxos de capital e aumentando o preço das commodities mundo afora.

E, claro, estes aumentos de preço se refletem na expansão do crédito e nos preços das mercadorias que guardam relação com aquelas matérias primas ou insumos: ferro, aço, petróleo, açúcar, etc…

Como você pode ver no gráfico ao lado, só ao final da 2ª Guerra o endividamento americano expandiu-se da forma que ocorre hoje. Mas as rezões e circunstâncias eram outras, totalmente diferentes. O plano Marshall reconstruía a Europa em bases modernas – com elevação dos níveis tecnológicos e de bem-estar social – e economicamente vinculadas à hegemonia america, o fluxo mundial de capitais era muito mais industrial que financeiro, o dólar era entesourado fisicamente como reserva de valor, enfim, os efeitos inflacionários eram muitíssimo menores.

Os EUA continuam tendo o privilégio de emitir moeda mundial, mas com muito menos liberdade. Certo que não se vislumbra nenhum efeito de fuga de capitais, até porque – paradoxalmente – uma ruptura na capacidade americana de financiar sua dívida criaria reflexo tão negativos no mundo que o próprio dólar se elevaria, pelo poder que representa.

A hegemonia econômica americana é um sistema, como eu disse aqui, autofágico. Como acontece com os impérios em seu declínio, é seu o veneno produzido por seu próprio gigantismo que acaba por derrubá-los, não os seus adversários.

Contraponto 5241 - "Gasolina vira ouro nos EUA

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24/04/2011
Gasolina vira ouro nos EUA


Do Direto da Redação - Publicado em 24/04/2011

Eliakim Araújo*

Há pouco mais de um mês, temiam os americanos que o preço da gasolina nos EUA chegasse a $4 dólares o galão, tal a velocidade com que o reloginho das bombas se movimentava para cima diariamente. Pois bem, não só chegou aos $4 como já ultrapassou a barreira dos $5 dólares em alguns lugares. Os mais pessimistas (ou realistas?) vaticinam que ele pode alcançar os $6. Em um país onde as pessoas só se locomovem em seus automóveis, esse passa a ser um seríssimo problema para a administração pública.

O fenômeno seria causado, segundo analistas, por alguns fatores que, combinados, estão jogando o preço do “precioso liquido” para a estratosfera. Um deles, a persistente ocorrência de fenômenos climáticos, como tornados e tempestades em várias areas do país, que dificultam ou mesmo interrompem o abastecimento, sobretudo agora que o verão se aproxima e a demanda é maior. Além da turbulência no Oriente Médio, com o barril do oleo bruto batendo na casa dos $110 dólares, quando em condições normais ele gira em torno dos $50 dólares.

Mas ao lado desses fatores, a Casa Branca está desconfiada de que alguns espertalhões internos podem estar se aproveitando da crise internacional para especular e aumentar seus lucros ilicitamente. Obama disse esta semana que “não há mágica que faça os preços da gasolina retrocederem a um patamar ideal para o consumidor”. E pediu ao secretário de Justiça, Eric Holder, que nomeie uma comissão para investigar o que está acontecendo dentro do território de Tio Sam. Obama promete punir rigorosamente os que estejam se aproveitando da fragilidade do momento para enriquecer às custas do consumidor.

Gasolina nos EUA, como assinalei acima, é produto de primeira necessidade. É comum encontrar-se americanos desfilando em carros do últipo tipo e morando em pequenos e modestos apartamentos. É uma questão cultural.

Mas é assunto explosivo, sobretudo quando se volta ao passado e os números indicam que há 13 anos, por exemplo, o preço médio em todo país era $1 dólar o galão Por isso, qualquer governo americano que se preze sabe que o preço do combustível representa votos. Os consumidores estão sendo obrigados a mudar os hábitos, a palavra de ordem é gastar menos na bomba de gasolina. Seis em cada dez americanos, que ganham na faixa dos 50 mil dólares/ano (o salário médio do país), estão evitando dirigir mais do que o necessário, dizem as pesquisas.

E o simpático Obama, que já está em campanha eleitoral para 2012, resolveu meter a colher no assunto. Vamos ver se essa comissão vai vingar mesmo e consegue baixar razovelmente os preços ou é apenas uma jogada para torcida. Em ultimo caso, o país dispõe de uma reserva de petróleo para ser usada em situações de emergência. Se a Casa Branca autorizar, ela poderá aliviar um pouco a vida do consumidor.

Neste domingo de Páscoa, a CNN mostrou um posto de gasolina, perto do Aeroporto de Orlando, vendendo a comum a $5.69, a media a $5.74 e a premium a $5.79 o galão, embora o preço médio na cidade seja $3.80. Ou seja, o mercado enlouqueceu e cada um cobra o que quer. As autoridades de Orlando, uma cidade que vive quase exclusivamente do turismo, não têm autoridade para regular o preço do combustível, o máximo que podem fazer é obrigar os postos a exibirem a tabela de preços em local visível a quem passa na rua.

Bem, mas como tudo acaba em pesquisa nos EUA, uma delas revela que a maioria dos proprietários de automóveis acham que a crise no Oriente Médio é a principal responsável pela subida dos preços. Por enquanto, Obama e os democratas são culpados para 11% dos pesquisados. Enquanto 6% culpam os congressistas republicanos.

Nota do autor. Para quem gosta de comparar preços, vale anotar: um galão contem 3,78 litros. Façam as contas e me digam se os preços no Brasil, que é auto-suficiente em petróleo, pelo menos em termos de quantidade produzida, estão mais caros que nos EUA.

*Eliakim Araújo. Ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora em Pembroke Pines, perto de Miami. Em parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.
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Contraponto 5240 - "EUA querem afastar a China do jogo do petróleo na Líbia"


24/04/2011


EUA querem afastar a China do jogo do petróleo na Líbia

Do Vermelho - 23 de Abril de 2011 - 13h12


Em entrevista à Press TV, o ex-secretário-adjunto do Tesouro dos EUA, Paul Robert Craig, fala sobre os verdadeiros objetivos dos EUA na Líbia e por que Barack Obama precisa derrubar Kadafi, quando nenhum outro presidente dos EUA o fez.
Segundo Craig, a lei já não significa nada para o poder executivo dos EUA. Os governantes já não obedecem às próprias leis, não obedecem ao direito internacional, violam as liberdades civis e enterraram o fundamental do habeas corpus, de que não há crime sem dolo, e o direito do réu a estar legalmente representado. Leia a íntegra da entrevista, concedida no Panamá.

Press TV: A Rússia criticou a Otan por ir muito para além do mandato da ONU. Uma outra notícia fala de um artigo de opinião que terá sido escrito por Obama, Cameron e Sarkozy, que disseram que “deixar Kadafi no poder seria uma traição irresponsável ao povo líbio”.
Nós sabemos que o mandato não exige mudança de regime e a Administração Obama diz que não estão lá para mudar o regime, mas as coisas parecem agora um pouco diferentes, não é verdade?

Roberts Craig: Pois parecem. Antes de mais nada, note-se que os protestos na Líbia são diferentes dos do Egito, do Iêmen, do Bahrein, ou da Tunísia e a diferença é que aqui se trata de uma rebelião armada.

Há mais diferenças: outra é que estes protestos têm origem no leste da Líbia, onde há petróleo, não na capital. E temos ouvido desde o início relatos fidedignos de acordo com os quais a CIA está envolvida nos protestos, e tem havido um grande número de relatos da imprensa segundo os quais a CIA enviou para a Líbia os seus agentes líbios para comandar a rebelião.

Na minha opinião, trata-se de afastar a China do Mediterrâneo. A China tem grandes investimentos em energia e em construção na Líbia. Os chineses apontam para a África como uma futura fonte de energia.

Os EUA estão a combater isto organizando o Comando Africano dos EUA (USAC), a que Kadafi recusou juntar-se. Essa é a segunda razão por que os americanos querem mandar Kadafi embora.


E a terceira razão é que a Líbia controla parte da costa mediterrânica, e não está em mãos norte-americanas.

Press TV: Quem são os revolucionários? Os EUA dizem que não sabem com quem estão a lidar, mas considerando que a CIA está no terreno, em contacto com os revolucionários, quem são as pessoas que vão governar a Líbia numa eventual era pós-Kadafi?
RC: O fato de a Líbia ser ou não governada por “revolucionários” depende da CIA ganhar; ainda não sabemos. Como você disse anteriormente, a resolução da ONU impõe restrições sobre o que as forças europeias e norte-americanas podem alcançar na Líbia. Eles podem impor uma zona de exclusão aérea, mas não deveriam estar lá, lutando ao lado dos rebeldes.
Mas é claro que a CIA está a fazer isso. Então, estão a violar a resolução da ONU. Se a Otan, que agora representa a “comunidade internacional”, conseguir derrubar Kadafi, o próximo alvo será a Síria, que foi já diabolizada.

Porque é que a Síria é um alvo? Porque os russos têm uma grande base naval na Síria. E esta dá à marinha russa uma presença no Mediterrâneo; os EUA e a Otan não querem isso. Se forem bem sucedidos contra Kadafi, a Síria virá a seguir.

Já estão a responsabilizar o Irão pelo que se passa na Síria e na Líbia. O Irão é um alvo fundamental, porque é um Estado independente que não é um fantoche dos colonialistas ocidentais.

Press TV: Em relação à agenda expansionista do Ocidente, quando o mandato da ONU na Líbia foi debatido no Conselho de Segurança da ONU, a Rússia não o vetou. Certamente que a Rússia deve ter atenção à política expansionista dos EUA, França e Grã-Bretanha.
RC: Sim, têm de perceber isso, e o mesmo se aplica à China. É uma ameaça maior para a China, porque ela tem 50 grandes projetos de investimento no leste da Líbia. Então a questão é, porque é que a Rússia e a China se abstêm em vez de vetar e bloquear? Não sabemos a resposta.

Possivelmente, estarão a pensar deixar os americanos avançar até ao limite, ou talvez não tenham tido a intenção de confrontar os EUA com uma tomada de posição militar ou diplomática e ter uma avalanche de propaganda ocidental contra eles. Não sabemos as razões, mas sabemos que se abstiveram porque não concordavam com a política e continuam a criticá-la.

Press TV: Uma parcela considerável dos ativos de Kadafi nos EUA foi congelada, assim como em alguns outros países. Sabemos também que os revolucionários da Líbia criaram um banco central, que iniciaram a produção limitada de petróleo e que estão a negociar com empresas dos EUA e doutros países do Ocidente. Temos que colocar aqui uma questão, nunca vimos uma coisa assim acontecer no meio de uma revolução. Não acha estranho?
RC: Sim, é muito estranho e muito sugestivo. Torna a colocar na ordem do dia os relatórios segundo os quais a CIA está na origem da designada revolta e dos protestos e de que está a fomentá-los e a controlá-los de uma maneira que exclui a China dos seus investimentos em petróleo líbio.

Na minha opinião, o que está acontecendo é comparável ao que os EUA e a Grã-Bretanha fizeram ao Japão nos anos 1930. Quando impediram o acesso do Japão ao petróleo, à borracha, aos minerais; foi essa a origem da II Guerra Mundial no Pacífico. E agora norte-americanos e britânicos estão a fazer a mesma coisa à China.

A diferença é que a China tem armas nucleares e também tem uma economia mais forte que os norte-americanos. E assim, estes estão a correr um risco muito elevado, não apenas consigo próprios, mas com o resto do mundo. O mundo inteiro está em jogo com a ganância norte-americana, a arrogância norte-americana; o impulso para a hegemonia norte-americana no mundo está a levá-lo para uma guerra mundial.

Press TV: No contexto da política expansionista dos EUA, até que ponto considera que estes ultrapassarão o mandato da ONU? Iremos ver o exército dos EUA no terreno?
RC: É o mais provável; a menos que consigam encontrar uma maneira de derrotar Kadafi sem chegar a esse ponto. Desde Bill Clinton, George W. Bush e agora Obama, que aprendemos que a lei não significa nada para o poder executivo dos EUA. Eles não obedecem às próprias leis, não obedecem ao direito internacional, violam as liberdades civis e enterraram o fundamental do habeas corpus, de que não há crime sem dolo, e o direito do réu a estar legalmente representado.

Não respeitam a lei, portanto não vão dar atenção à ONU. A ONU é uma organização-fantoche dos EUA e Washington irá usá-la como cobertura. Portanto, sim, se não conseguirem correr com Kadafi, irão colocar tropas no terreno; é por isso que temos os franceses e os britânicos envolvidos. Estamos a usar os franceses também noutro ponto de África; usamos os britânicos no Afeganistão. São marionetes.

Estes países não são independentes. Sarkozy não responde perante o povo francês; responde perante Washington. O Primeiro-ministro britânico não responde perante o povo Inglês, mas perante Washington. Estes são os governantes-marionetes de um império, nada têm a ver com seu próprio povo, somos nós quem os põe no poder.

Press TV: Então esses países gostariam de ter as tropas da Otan no terreno?
RC: Claro. Eles estão no bolso da CIA. É uma operação da CIA, não um protesto legítimo do povo líbio. É uma rebelião armada que não tem apoio na capital. Está a acontecer no leste, onde está o petróleo, e está apontada à China.

Press TV: Qual o rumo da situação? Parece haver um desacordo entre os países da Otan, com a Grã-Bretanha e França a quererem reforçar a dinâmica destes ataques aéreos, enquanto os EUA dizem que não, que não há necessidade.
RC: O desacordo não é real. É apenas parte do jogo, parte da propaganda. Kadafi governa há 40 anos; vem do tempo de Gamal Abdel Nasser (antes de Anwar Sadat), que queria dar a independência ao Egito.

Nunca antes Kadafi foi chamado de ditador brutal que tem de ser deposto. Nenhum outro presidente afirmou que Kadafi tinha que sair. Nem mesmo Ronald Reagan, que chegou a bombardear o seu complexo militar. Mas, de repente, tem que se ir embora. Porquê?
Porque está a bloquear o Comando Africano dos EUA, controla parte do Mediterrâneo e deixou a China procurar aí a satisfação das suas necessidades de energia para o futuro. Washington está a tentar enfraquecer o seu principal rival, a China, negando-lhe o acesso à energia. É disso que estamos a falar, uma reação dos EUA à penetração da China na África.

Se os EUA estivessem preocupados com ações humanitárias, não estariam a matar tanta gente no Afeganistão e no Paquistão com os seus drones [n. do. t e do Vermelho.: aviões militares não tripulados. agora usados na Líbia] e ofensivas militares. Os mortos são quase sempre civis. E os EUA estão relutantes em emitir pedidos de desculpas sobre qualquer coisa. Dizem que pensavam que estavam a atingir talibãs ou qualquer outro inimigo fabricado.

Press TV: Quem irá se beneficiar de tudo isto além dos EUA? O que têm os outros países que cumprirem os desejos dos EUA a ganhar com isso?
RC: Estamos a falar apenas dos países da Otan, os estados-fantoche dos EUA. Grã-Bretanha, França, Itália, Alemanha, todos pertencem ao império norte-americano. Temos tropas na Alemanha desde 1945. Estamos a falar de 66 anos de ocupação norte-americana na Alemanha. Os americanos têm bases militares em Itália. Como se pode ser um país independente deste modo? A França foi relativamente independente até Washington pôr Sarkozy no poder.Todos eles fazem o que lhes dissermos.

Washington quer mandar na Rússia, na China, no Irão, em África, e em toda a América do Sul. Washington quer a hegemonia sobre o mundo. É isso que a palavra hegemonia significa. E Washington vai persegui-la a todo custo.

Fonte: Odiario,info. Tradução de André Rodrigues P. Silva
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Contraponto 5239 - "A operação 'brother Sam' contra Jango"

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24/04/2011
A operação "brother Sam" contra Jango

Enviado por luisnassif, dom, 24/04/2011 - 09:53

Por JB Costa

E ainda tem gente que duvida da participação efetiva e direta dos EUA no golpe.

Do Blog Tijolaço - 24/04/2011

Brizola Neto

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2404201113.htm

EUA queriam rever negócios com Brasil para ajudar a depor Jango

Três dias antes do golpe, Casa Branca pediu orientação sobre quais medidas deveria tomar

Governo questionava embaixador se deveria "segurar a aprovação" de empréstimos para enfraquecer presidente

FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Em apoio ao golpe de 1964, a Casa Branca estava decidida a rever as relações econômicas com o Brasil para enfraquecer o governo do presidente João Goulart.

A informação consta de documentos secretos liberados pelo governo norte-americano e obtidos pela Folha.

Os papéis relatam uma reunião na Casa Branca em 28 de março de 1964, três dias antes do golpe, com conselheiros diretos do presidente Lyndon Johnson e agentes de alto escalão da CIA.

Esse encontro ocorreu após o recebimento de mensagem do então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, com detalhes e pedidos para possível participação norte-americana no golpe para derrubar Jango.

Essa participação ficou conhecida como "Operação Brother Sam": o governo dos EUA discutiu a possibilidade de enviar navios, combustíveis e armamentos para auxiliar os militares golpistas.

Novos documentos mostram que os planos dos EUA não tratavam só de apoio militar. Um dos textos, que resume a reunião do dia 28, diz que a Casa Branca deveria telegrafar a Gordon: "Queremos que o embaixador reveja nossas relações econômicas e financeiras com o Brasil e nos recomende quais ações devemos tomar".

No mesmo dia, esse telegrama é enviado ao Brasil e fala em medidas concretas, como abandonar ou modificar negociação sobre a dívida brasileira e repensar as taxas de importação de café.

A Casa Branca questiona se deveria "abandonar, reduzir ou modificar de alguma forma a estratégia de negociação da dívida para evitar fortalecer o prestígio de Goulart". E mais: "Devemos segurar a aprovação ou o anúncio de empréstimos assistenciais? Outras medidas não militares são desejáveis para polarizar mais a situação em detrimento de Goulart?"

Gordon pediu o envio de armas sem identificação serial ou fabricadas fora dos EUA. A Casa Branca, porém, viu dificuldades em fornecer armamento "que não fosse depois atribuído a uma operação secreta dos EUA".

Um dos memorandos do Estado-Maior americano, datado de 31 de março, detalha ordens de envio de força-tarefa naval para a região de Santos para "estabelecer presença dos EUA nesta área".

Também neste caso aparece a preocupação de não expor os EUA: "Não sabemos se podemos oferecer disfarce plausível para a força naval".

As medidas não chegaram a ser executadas, porque Jango não resistiu ao golpe.


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2404201114.htm

Governo buscou o apoio do "New York Times" ao golpe

DE WASHINGTON
DE BRASÍLIA

A Casa Branca tentou fazer com que os maiores jornais americanos publicassem textos críticos a João Goulart e favoráveis aos militares antes do golpe de 1964.

Memorando que resume reunião de integrantes do governo Lyndon Johnson em 28 de março de 1964 mostra intenção de pedir ao "New York Times" e ao "Washington Post" apoio à saída de Jango em "editoriais satisfatórios, chamando a atenção para a situação no Brasil".

Temia-se, porém, o risco de os jornais não seguirem a linha desejada: "Isso teria de ser gerenciado com cuidado, pois o editorial poderia facilmente sair insatisfatório".

A estratégia é comum nos EUA e foi usada pelo então presidente George W. Bush (2001-2009) para obter apoio à Guerra do Iraque. Boa parte dos jornais fez posteriormente mea-culpa por ter cedido à pressão da Casa Branca.

Em 1964, o plano só funcionou em parte. Instados ou não pelo governo americano, os jornais criticaram Jango. Em 3 de abril, o "New York Times" publicou editorial dizendo que "Goulart era um general sem regimento" e, no dia 7, que sua gestão era ruim de todos os pontos de vista.

O "Post" disse em 3 de abril que Jango era um oportunista errático "com poucos talentos". Mas eles também criticaram os golpistas.
"A impressão é que, para defender o país da subversão totalitária, os novos governantes estão usando métodos totalitários", escreveu o "Post". "A saída [de Jango], ainda que desejável, não precisa e não deve levar a uma ditadura", afirmou o "NYT".

Consultado sobre a pressão da Casa Branca em 1964, o "New York Times" disse não ter dados tão antigos, mas que seu "conselho editorial se reúne com integrantes de governos do mundo todo há mais de cem anos". (ANDREA MURTA e FELIPE SELIGMAN)

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