sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Contraponto 12.788 - "O STF e o dinheiro da Visanet"

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29/11/2013

O STF e o dinheiro da Visanet

Ao ignorar os laudos técnicos no caso das verbas publicitárias da Visanet, e concluir que a verba publicitária total de 2003 e 2004 (R$ 73,8 milhões) foi desviada, a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal criaram um imbróglio considerável.

Ora, havia laudos técnicos atestando que a verba foi aplicada nos veículos.

Levantamento realizado pelo escritório Simonaggio Perícias, do advogado contratado pelos antigos proprietários da DNA – Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, que já cumprem penas –, concluiu o destino de 85% dos gastos, destinados em campanhas de propaganda e eventos para promover o cartão Ourocard.
O restante, segundo o levantamento, não se pode comprovar por falta de acesso à documentação nos arquivos da Visanet no Banco do Brasil e no Instituto de Criminalística da Polícia Federal.

Dessa forma, para recuperar o que foi supostamente desviado, o Banco do Brasil terá que se certificar do valor exato desviado e, por isso, remexer nos arquivos e em possíveis investigações da Ação Penal do mensalão.

E aí se colocará em xeque um dos pontos centrais da AP 470.

Nesta segunda-feira (25), O STF encaminhou para o Banco do Brasil cópia integral do processo do mensalão. A cópia foi enviada em três DVDs, depois que o Banco solicitou ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, o processo da Ação Penal 470, a fim de avaliar se cabem medidas para recuperar os recursos desviados.

O BB iniciou o mapeamento. Ao final das investigações, as conclusões muito provavelmente serão as seguintes:

1.       A verba da Visanet foi integralmente aplicada nas campanhas publicitárias planejadas.
2.       Antônio Pizzolato cometeu crime, sim, mas de outra natureza e gradação. Trabalhou para antecipar o pagamento à DNA, antes de executados os trabalhos. Aplicando no mercado financeiro, a DNA teve um lucro estimado de R$ 2 milhões. Em troca, Pizzolato recebeu os R$ 326 mil de Marcos Valério, que provavelmente não se destinavam ao caixa do PT, conforme alegado por ele.

Por se tratar de uma situação delicada, a Diretoria Jurídica do Banco do Brasil terá que, após decidir como recuperará esse valor imaginário, emitir uma justificativa com informações possivelmente além daquelas trazidas pelas investigações da Ação Penal. E aí colocará em xeque uma das peças centrais da AP 470, levantada pelo ex-Procurador Geral Antonio Fernando de Souza, avalizada pelo sucessor Roberto Gurgel, pelo relator Joaquim Barbosa e pelo pleno do STF.

Qual a razão para o ex-PGR Antonio Fernando de Souza ter insistido em uma versão falsa? A hipótese mais provável é que Antônio Fernando livrou vários financiadores da DNA – como o Banco Opportunity, de Daniel Dantas. Ao livrá-los, o montante de recursos irregulares caiu substancialmente. Havia a necessidade de encontrar outros valores. E, aí, decidiu-se avançar contra todas as provas e incluir como desvio todas as verbas publicitárias da Visanet (http://tinyurl.com/lhfpqmm).

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Contraponto 12.787 - "Cine Holliúdy, de Halder Gomes: paixão pelo cinema no dialeto cearês "

 


29/11/2013

Cine Holliúdy, de Halder Gomes: paixão pelo cinema no dialeto cearês 

Rejeitado quatro vezes em editais dos quais participou, Cine Holliúdy é uma comédia deliciosa. Sobretudo, é um filme corajoso, de resistência. 

 

Da Carta Maior - 28/11/2013




por Léa Maria Aarão Reis
 
Divulgação

Cine Holliúdy é uma comédia deliciosa. Sobretudo, é um filme corajoso, de resistência. Seu diretor, o cearense Halder Gomes, penou para levantar fundos e transformar o projeto em realidade. Rejeitado quatro vezes em editais dos quais participou, só conseguiu concluir a produção no ano passado. Esnobado pelos mais importantes festivais dentro do Brasil, o filme já participou de mostras na Ásia, na Europa, em Los Angeles e no Uruguai.
O público adora.

Mas são duas as maiores façanhas deste novo filme vindo do nordeste, na temporada de fim de ano quando o cinema de raiz parece se afirmar como o fenômeno mais interessante do cinema brasileiro atual.

A primeira: custou um milhão de reais e chega ao sudeste já pago e com lucro. Foi lançado em seu estado de origem e faturou, apenas no Ceará, quatro milhões, percorrendo um caminho original - o de comer pelas beiradas a bilheteria e os esquemas de exibição de poderosos concorrentes estrangeiros. Uma primeira experiência que, como se vê, está dando certo. E o melhor: pode render frutos com outros filmes miúras tomando a frente da cena.

Segunda proeza: Cine Holliúdy é falado em cearês – ou cearense -, o quase/dialeto da região, o nosso idioma eivado de palavras do português castiço falado em Portugal e que soam a nós, do sul, estranhas (mas que as gerações antigas das grandes cidades do sul e do sudeste ainda usavam). O filme vem com legendas em... português. E diálogos recheados de palavras e expressões como vixe, macho, ôxente, alfinins, mariolas, coxinhas. Os nomes de batismo dos personagens são enciclopédicos: Anfrísio, Esmeraldo Ozires, Olegário Elpídio, Tibério Abdias, Orilando, Olga Alaíde e o protagonista, Francisgleydisson/filho e Francisgleydisson/pai (o ator Edmilson Filho, ótimo).
 
Ao assistir o trailer do filme de Gomes é automática uma associação com Cinema Paradiso, emblemática produção italiana de 1988 que originou uma série de fações e contrafações sobre o mesmo tema – uma declaração apaixonada de amor pelo cinema e a guerra para preservar a arte de fazer filmes para serem exibidos nas salas de rua e em telas grandes, no formato original. Uma guerra que há quinze anos era contra as investidas da TV (como mostra Cine Holliúdy), e que hoje luta para sobreviver ao lado dos plex dos shoppings centers e das outras formas de exibição, ilegais ou legais – democráticas, sem dúvida, mas que para os cinéfilos ortodoxos, descaracterizam o ritual cinematográfico.

A originalidade e o frescor do filme de Gomes (um ex-lutador de taekwondo), porém, logo no início nos fez esquecer o clássico de Giuseppe Tornatore. Sua qualidade vem da energia inventiva da região deste Brasil profundo, do seu ritmo todo próprio (“Por que pressa se o futuro é a morte?” lembra um dos personagens da trama), da sinceridade com que apresenta a riqueza de seus tipos humanos e do amor de quem conhece bem e curte a sociedade e a vida real das comunidades que vivem no semi-árido. É o caso da cidade de Pacatuba, onde se passa a ação, distante 40 minutos do centro de Fortaleza.

O pano de fundo de Cine Holliúdy é a década de 70 quando a ditadura civil-militar no país come solta. A todo instante alguém indaga a outro alguém: “você é comunista? será que aquele é comunista?” Para obter um alvará e abrir seu cinema poeira, Francisgleydisson, um louco, um apaixonado pelo cinema, que chegou ao lugarejo com a mulher e o filho, e é visto com desconfiança, recebe a explicação do burocrata do sistema autoritário sobre o documento de nada consta que precisa tirar. “Nada consta é quando não consta nada contra o senhor; não constando nada contra o senhor pode receber o nada consta. Aí é que começa todo o processo para tirar o alvará.”

A luta de Francisgleydisson transcorre acompanhada dos tipos (arquetípicos) de Pacatuba. O gay, o prefeito – pequeno ditador discriminatório -, os gêmeos intelectuais, o eterno palhaço, os seguranças, o burocrata, o poeta, o “comunista”. Aqueles mesmos tipos humanos trazidos pelo comediante Chico Anísio para o sul e para a televisão, mas que chegaram ao seu destino de  expressão estereotipados, hiper estilizados, sem a espontaneidade, a veracidade com que estão embebidos em Cine Holliúdy onde não há o famigerado plim plim.

Mas a grande virada da história contada por Gomes (ele é o diretor, autor do argumento e do roteiro), em uma jogada de mestre, é quando seu projetor de filmes velhíssimo quebra – como aconteceu no passado várias vezes, em outras cidades pelas quais passou e em outros poeiras que tentou colocar de pé. A sessão inaugural do cinema holliúdy é interrompida, os espectadores frustrados ameaçam quebrar tudo e exigem o dinheiro de volta. É quando Francisgleydisson/pai decide ir à guerra e se transforma no próprio filme. No próprio cinema!

Com a produção de hora e meia, redonda, bem acabada, com um roteiro encantador salpicado de clipes bem humorados e de irônicos e leves efeitos especiais, Halder Gomes reafirma através de Francisgleydisson/pai: “Enquanto houver vida haverá cinema, filmes e cineastas porque teremos sempre histórias a serem contadas.”

No entanto, embora ganhe por um momento a batalha contra a invasão da TV em Paracatuba, nos idos dos anos 70, naquela noite memorável da inauguração do seu poeira definitivo, o heroi se transforma em um próspero empresário e perde a guerra para ela no longo prazo.

Paralelamente aos créditos finais da sua comédia nos quais os tipos humanos de Pacatuba aparecem emoldurados pela telinha, Gomes fornece uma informação desalentadora: no Ceará, hoje, apenas cinco municípios, de um total de 184, contam com uma sala de cinema.

Mas nem tudo está perdido. Pelas notícias que chegam já há encomenda certa para um Cine Holliúdy II. Claro. É um excelente investimento no Brasil novo e revigorado que está sendo, mesmo a duras penas, construído.
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Contraponto 12.786 - " Dilma defende Cardozo e aponta 'gavetas vazias' "

247 - O texto não é da presidente Dilma Rousseff, mas sim do Partido dos Trabalhadores. No entanto, ao compartilhá-lo em sua página no Facebook, a presidente deu a ele sua chancela. O editorial "Gavetas Vazias" defende a conduta do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no episódio do dossiê sobre o chamado propinoduto tucano, entregue por ele à Polícia Federal. 

"O PSDB, simplesmente, pretende transformar em escândalo o fato de o ministro da Justiça ter enviado à Polícia Federal uma carta entregue a ele pelo deputado estadual Simão Pedro (PT), em maio passado. A carta contém denúncias de envolvimento de tucanos com o esquema de cartel no metrô de São Paulo, em diversas administrações tucanas.  A partir daí, com a ajuda de certa mídia que lhe presta serviços diários, o PSDB tentou estabelecer uma discussão bizantina sobre a competência de o ministro da Justiça cumprir a lei!", diz o texto.

O mesmo editorial condena ainda os anos FHC, em que o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, era chamado de "engavetador-geral da República". Leia abaixo:

GAVETAS VAZIAS

No Brasil, entre os anos de 1995 e 2002, o tucano Fernando Henrique Cardoso lançou uma poderosa sombra sobre a verdade pública, tanto e de tal forma, que o operador dessa lamentável ação de governo tinha o oportuno apelido de “Engavetador Geral da República”. Tratava-se, lamentavelmente, de uma referência a Geraldo Brindeiro, procurador-geral nomeado e renomeado por FHC ao longo desse período para agir como se num mundo bizarro vivesse. 

Responsável pela fiscalização da aplicação das leis e por zelar pelos interesses dos cidadãos, Brindeiro dedicava-se ao triste mister de esconder as muitas denúncias surgidas contra o consórcio neoliberal que governava – e quase faliu – o País de então.

Não por outra razão, foi preciso que, a partir do primeiro governo do PT, em 2003, fosse injetado no Ministério Público Federal largas doses de republicanismo a fim de reverter a imagem degenerada herdada das gestões tucanas anteriores. 

Feito isso, o Brasil passou a conviver com a dinâmica das investigações, a transparências dos atos, a independência das instituições em relação ao governo central. O Ministério Público passou a ter relevância e a Polícia Federal, antes uma milícia paroquial partidária, passou a ter protagonismo como polícia judiciária que é.

Ou seja, houve um tempo que o maior escândalo de corrupção do Brasil não era a corrupção em si, mas o sistema oficial que fora montado para escondê-la. Foi assim com as compras de votos para a reeleição de FHC, em 1998. Foi assim com a privataria que vendeu incontáveis bens da União e do povo brasileiro a preço de banana.

Somente em um País onde a mídia acostumou-se a atuar à margem da realidade se pode, portanto, conceber o tratamento inverso e disfuncional que o noticiário tem dado aos atos e declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no que diz respeito ao caso do “Trensalão Tucano”, em São Paulo.

O PSDB, simplesmente, pretende transformar em escândalo o fato de o ministro da Justiça ter enviado à Polícia Federal uma carta entregue a ele pelo deputado estadual Simão Pedro (PT), em maio passado. A carta contém denúncias de envolvimento de tucanos com o esquema de cartel no metrô de São Paulo, em diversas administrações tucanas. 

A partir daí, com a ajuda de certa mídia que lhe presta serviços diários, o PSDB tentou estabelecer uma discussão bizantina sobre a competência de o ministro da Justiça cumprir a lei!

A primeira manifestação do ministro sobre o caso foi mortal para a alma tucana: “A época de engavetador-geral acabou”.

Hoje, em coletiva à imprensa, arrematou: “É curioso. Aquele que pede investigação, na lógica deles (dos tucanos), tem que se defender. É a investigação do mensageiro independentemente da mensagem. O ministro da Justiça é mensageiro da ocorrência de eventuais crimes. É um vil pretexto para criar uma cortina de fumaça”.

O Brasil precisa saber como funcionou o propinoduto de duas décadas de governos do PSDB em São Paulo. 

Eles podem contar como essa triste mídia que, em tempos recentes, tentou transformar uma bolinha de papel em ataque terrorista.

O resultado vai ser o mesmo: um vexame histórico.
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Contraponto 12.785 - "A opinião pública como gado"

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29/11/2013

A opinião pública como gado

 

O documentado condomínio entre o PSDB, cartéis e a prática sistêmica de sobrepreço nas licitações do metrô paulista era do conhecimento da mídia desde 2009. 

 

Da Carta Maior - 29/11/2013


por: Saul Leblon

Arquivo
A régua seletiva da emissão conservadora vive mais uma quadra de exibição pedagógica.

Vísceras, troncos e membros do grupo proprietário do Hotel Saint Peter, em Brasília, no qual trabalhará o ex-ministro José Dirceu, por apreciáveis R$ 20 mil, diga-se  – se fossem R$ 5 mil ou R$ 10 mil as suspeitas seriam menores?--  estão sendo trazidos a público em cortes sugestivos.

Chegam desossados e moídos.

Salgados e pré-cozidos, basta engolir, sendo facilmente digeríveis em sua linearidade.

Sem guarnição, recomenda o chef.

Assim costuma ser, em geral, com as informações que formam o cardápio de  fatos ou acusações relacionados ao PT.

Uma farofa seca de areia com arame farpado.

E assim será com o exercício do regime semiaberto facultado ao ex-ministro.

A lente da suspeição equivale desde já a um segundo julgamento.

Com as mesmas características do primeiro.

Recorde-se o jornalismo associado ao crime organizado que  não hesitou em invadir o quarto de hotel do ex-ministro, em Brasília, para instalar aparelhos de escuta, espionar gente e conversas no afã de adicionar chibatadas ao pelourinho da AP 470.

O cenário esquadrejado em menos de uma semana  –o emprego foi contratado na última 6ª feira— diz que não será diferente agora.

O dono do hotel é filiado a partido da base do governo (PTN), revela a Folha. Tem negócios na área da comunicação. Uma de suas emissoras, a Top TV, com sede em Francisco Morato (SP), conquistou recentemente o direito de transferir a antena para a Avenida  Paulista.

Suspeita.

A Anatel informa que não, a licença foi antecedida de audiência pública. Sim, mas a Folha desta 5ª feira argui tecnicalidades, cogita riscos de interferência em outros canais etc

Não só.

Dono também de rádios, o empregador de Dirceu operou irregularmente uma antena instalada em terraço do Saint Peter, diz o jornal  ainda sem mencionar o andar.

Deve ser o 13º.

A mesma Folha investiga ainda encontros do empresário --membro de partido da base aliada--  com o ministro Paulo Bernardo. Da Comunicação. A esposa do ministro é pré-candidata ao governo do Paraná..

Vai por aí a coisa.

Alguém com o domínio de suas faculdades mentais imaginaria que o ex-ministro José Dirceu, um talismã eleitoral lixiviado há mais de cinco anos no cinzel conservador, obteria um emprego em qualquer latitude do planeta sem a ajuda de aliados ou amigos?

O ponto a reter é outro.

Avulta dessa  blitzkrieg  uma desconcertante contrapartida de omissão: quando se trata de cercar pratos compostos de personagens e enredos até mais explosivos, extração diversa, impera a inapetência investigativa.

O braço financeiro da confiança de José Serra, Mauro Ricardo, seria um desses casos de inconcebível omissão se as suas credenciais circulassem na órbita do PT?

A isso se denomina jornalismo de rabo preso com o leitor?

Tido como personalidade arestosa, algo soberba, Mauro Ricardo reúne predicados e rastros que o credenciariam a ser um ‘prato cheio’ do jornalismo investigativo.

O economista acompanha Serra desde quando o tucano foi ministro do Planejamento (1995/96); seguiu-o na pasta da Saúde (1998/2002), sendo seu homem na Funasa, de cujos funcionários demitidos Serra ganharia então o sonoro apelido de ‘Presidengue’, na desastrosa derrota presidencial de 2002.

Nem por isso Mauro Ricardo perdeu a confiança do chefe, sendo requisitado por Serra quando este assumiu a prefeitura de São Paulo, em 2004/2006, ademais de acompanha-lo, a seguir, no governo do Estado.

Quando o tucano foi derrotado  pela 2ª vez  nas eleições presidenciais de 2010, Mauro Ricardo voltou ao controle do caixa da prefeitura, sob a gestão Kassab.

Esse, o trajeto da caneta que mandou arquivar as investigações contra aquilo que se revelaria depois a maior lambança da história da administração pública brasileira: o desvio de R$ 500 milhões do ISS de São Paulo, drenados ao longo do ciclo Serra/Kassab por uma máfia de fiscais sob a jurisdição de Mauro Ricardo.

O que mais se sabe sobre esse centurião?

Muito pouco.

Seus vínculos, eventuais negócios ou sócios, círculos de relacionamento e histórias da parceria carnal com o candidato de estimação da mídia conservadora nunca mobilizaram esforço investigativo equivalente ao requisitado na descoberta de uma antena irregular  num terraço do Hotel Saint Peter, em Brasília.

Evidencia-se a  régua seletiva.

Que faculta ao tucano Aécio –e assemelhados-  exercitar xiliques de indignação ante as evidências de uma fusão estrutural entre o tucanato de SP,  cartéis multinacionais e a prática sistêmica de sobrepreço  nas compras do metrô paulista - desde o governo Covas.

Dados minuciosos do longevo,  profícuo matrimônio,  são conhecidos e circulam nos bastidores da mídia, de forma documentada, desde 2009.

Quem  confessa é o jornal Folha de SP desta 5ª feira.

Repita-se, o repórter Mario Cesar Carvalho admite, na página 11, da edição de 28/11/2003 do jornal, que se sabia desde 2009  da denúncia liberada agora pelo ‘Estadão’ –cujo limbo financeiro pode explicar a tentativa de expandir o universo leitor com algum farelo de isenção.

Por que em 2009 esse paiol não mereceu um empenho investigativo ao menos equivalente ao que se destina aos futuros empregadores de José Dirceu?

O calendário político da Folha responde.

Em 2010 havia eleições presidenciais; o jornal preferiu investir na ficha falsa da Dilma a seguir os trilhos do caixa 2 tucano em SP.

No seu conjunto, a mídia tocava o concerto do ‘mensalão petista’. Dissonâncias não eram, nem são bem-vindas.

Transita-se, portanto, em algo além do simples desequilíbrio editorial.

Temas ou versões conflitantes com a demonização petista mereceram, ao longo de todos esses anos, o destino que lhes reserva a prática dos  elegantes manuais de redação: ouvir o outro lado, sem nunca permitir que erga a cabeça acima da  linha da irrelevância.

Assim foi, assim é.

Só agora – picados e salgados os alvos em praça pública--  o pressuroso STF lembrou-se de acionar o Banco do Brasil para cobrar o suposto assalto aos ‘cofres públicos’ da AP 470.

Pedra angular das toneladas de saliva com as quais se untou os autos do maior julgamento-palanque da história brasileira, só agora,  encerrado o banquete, cogita-se do prato principal de R$ 70 milhões esquecido na cozinha?

O esquecimento serviu a uma lógica.

Até segunda ordem, perícia rigorosa providenciada pelo BB ofereceu uma radiografia minuciosa de recibos e provas materiais dando conta do uso efetivo do dinheiro nas finalidades de patrocínio e publicidade contratadas.

O documento capaz de trincar a abóboda da grande narrativa conservadora, nunca mereceu espaço à altura de seus decibéis no libreto dominante.

Ao mesmo tempo, o que a Folha admite agora, como se isso mitigasse o escândalo do metrô (‘Papéis que acusam o PSDB circulam há mais de quatro anos’) corrobora a percepção de que estamos diante de uma linha de coerência superlativa.

Ela traz a marca de ferro do que de pior pode ostentar quem se evoca a prerrogativa da informação isenta.

‘Cumplicidade’ diz o baixo relevo inscrito nas páginas e na pele daqueles que ironicamente, destinaram à  opinião pública, durante todos estes anos, o livre discernimento que se dispensa ao gado na seringa do abate.
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Contraponto 12.784 - "Os analfabetos políticos das redações"

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29/11/2013

Os analfabetos políticos das redações

Brecht dizia que nada havia de pior que eles, porque acabavam deixando a política nas mãos de pessoas como, bem, como Roberto Marinho. 

 

Da Carta Maior - 2911/2013

 




 Paulo Nogueira


Você certamente conhece os analfabetos políticos, os APs. Brecht dizia que nada havia de pior que eles, porque acabavam deixando a política nas mãos de pessoas como, bem, como Roberto Marinho, para trazer o assunto para um cenário brasileiro.

Os APs estão em toda parte, até mesmo nas redações de grandes jornais e revistas. Os leitores podem imaginar que as redações sejam compostas de pessoas altamente politizadas, a negação dos APs.

Mas não é assim.

Considere.

Recentemente, houve uma troca de tuítes entre Barbara Gancia e mim. A encrenca começou quando ela escreveu que estranhava Dirceu estar preso e Palocci não.

Respondi que estranho mesmo era a Folha não dar nada sobre o documentado escândalo da sonegação da Globo.

Primeiro, ela revelou ignorância sobre o caso. Atribuiu-o a uma “teoria da conspiração”, a despeito de todos os fatos amplamente comprovados.

Depois, disse, em tons heroicos, que em 30 anos de colunismo na Folha jamais foi censurada.

Respondi que isso se devia apenas a que ela jamais escrevera nada que incomodasse a família Frias.

Foi então que o analfabetismo político de Barbara Gancia gritou: ela citou, como evidência de que é independente, um texto em que dizia que nos protestos de fora as pessoas são chamadas de manifestantes e no Brasil de vândalos.

Bem, onde uma afirmação dessas poderia incomodar os Frias?

Somente o analfabetismo político poderia enxergar numa banalidade daquelas prova de independência editorial.

Coragem seria, para voltar ao caso, reclamar esclarecimentos sobre a sonegação da Globo.

Muitos leitores vêem coragem onde não há nada que mereça uma única palma.

Isso se manifesta com frequência entre os leitores de outro analfabeto político do jornalismo, Reinaldo Azevedo.

“Parabéns pela coragem, Tio Rei”, gostam de dizer os obtusos leitores dele.

Coragem?

Ora, ele está sempre defendendo os interesses das empresas para as quais trabalha. É um bajulador dos poderosos.

Coragem?

Se ele tivesse escrito qualquer coisa que contrariasse os interesses dos que lhe pagam, aí sim, ele seria corajoso.

É o famoso chapa branca vestido de rebelde, aspas e pausa para rir. Como todo chapa branca, ganha duas vezes: primeiro, indiretamente, do Estado, pelas mamatas desfrutadas por quem o emprega. Depois, pelas próprias empresas.

Faça um teste. Azevedo poderia - liberal que é, aspas novamente - questionar a reserva de mercado para as companhias de mídia.

Mas tente encontrar uma única linha sobre o assunto na vasta, tediosa, repetitiva obra de Azevedo.

Provavelmente ele ignore a reserva de mercado da mídia. E também não saiba das mamatas estatais concedidas às companhias jornalísticas.

Saberá Reinaldo Azevedo que o papel de cada página da Veja é imune de impostos? Saberá que o dinheiro público – empréstimos do BNDES e do Banco do Brasil a juros maternais, anúncios oficiais pagos com tabela cheia, lotes de assinaturas de governantes amigos – paga boa parte de seu salário?

Talvez não. Por isso ele é um AP, um analfabeto político.

O que ele sabe, quase certamente, é que nem o dinheiro dos anúncios de Alckmin bastaram para salvar a revista política na qual ele teve sua única experiência de comando.

Nela, ele aprendeu com seu mecenas na ocasião, Luís Carlos Mendonça de Barros, a arte da grosseria, da insolência e da mistificação.

A convivência entre os dois terminou na ruína de uma revista que, repito, não se sustentou sequer com dinheiro público.

Mendonça não pode ser acusado de AP. É esperto demais para isso. Mas ele não ensinou seu pupilo nesse quesito, e hoje o aprendiz nos atormenta com suas demonstrações cotidianas de analfabetismo político.
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Contraponto 12.783 - "Brasil entra em caminho sem volta, por Hildegard Angel"

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29/11/2013 

Brasil entra em caminho sem volta, por Hildegard Angel

Do blog da Hildegard Angel

 

Hildegard Angel

Recebo diariamente comentários carregados de ódio contra José Genoíno, que me abstenho de publicar até por vergonha de seu teor, vergonha pelo desequilíbrio e o descontrole dos remetentes. A falta de discernimento, querendo atribuir a este homem combativo todos os males do país. Daí que a prisão não basta. É preciso a morte. A imolação final. A cruz.
É preciso a volta das torturas. Da ditadura. Este, o subtexto das tantas mensagens enviadas.
A que ponto essa mídia manipuladora, essa pseudo esquerda democrática, esse suposto “centrão” levaram o nosso país!
A que abismo a omissão daqueles que poderiam se posicionar, protestar e agir, está levando a nossa Nação.
A quanto estamos chegando com o silêncio dos nossos formadores de opinião influentes, nossos artistas politicamente conscientes e articulados. Os intelectuais, pensadores, jornalistas de porte.
São tão poucos os que ousam falar, se manifestar. Um, dois, três, quatro ou cinco. A pasmaceira, a imobilidade, o acomodamento prevalecem. O Brasil que pensa e raciocina está congelado, em estado de letargia.
Os com bagagem intelectual, política, de memória, conhecimento histórico e político para se manifestar se calam. Certamente envelhecidos, provavelmente acomodados, talvez acovardados, quem sabe desesperançados.
Os jovens de nada sabem. Não viveram a História recente do país. Não lhes deram a chance de saber. Lhes sonegaram o conhecimento nas escolas sobre os fatos. O patriotismo caiu em desuso. Os sonhos globalizaram. Soberania virou palavra empoeirada que se encontra no sótão – se é que ainda existe sótão -, dentro de algum baú – se é que há baú -, no interior de um papel amarelado, se houver ainda alguma folha de papel sobrevivente nessa era digital.
Os velhos sábios não falam. Se calam. Voam para Nova York, refugiam-se em Paris. Precisamos dos velhos, imploramos aos velhos. Falem, reajam!
Não é questão mais de uma posição partidária, trata-se de uma postura de Soberania brasileira, de Pátria, de Estado de Direito.
Triste ver crescer sobre nosso Céu, nossos tetos, nossa alma, nossos ambientes, nossa consciência, a mancha escura da obtusidade, do receio da livre manifestação, do silêncio, do embrutecimento coletivo. Do medo.
Quando eu me vejo, aqui, escolhendo palavras para não resvalar num erro, num equívoco, num excesso que me possa custar a liberdade ou que me valha antipatias graves, retaliações, sinto a gravidade do momento que estamos vivendo.
Quando uma única cidadã de bem não respira a liberdade, a Pátria não está mais livre.
Quem permitiu, por omissão, inoperância, ambições e conveniências políticas que o Brasil caminhasse para trás, chegando a tal retrocesso de consciência, a ponto de apagar os méritos de sua própria História e ao extremo de aclamar a vilania de seus opressores, ainda vai se arrepender demais. Pagará alto preço por isso. Estamos entrando num caminho sem volta. E que Paris tenha muitos apartamentos charmosos para acolher a todos os valorosos omissos.
Perdoai-os, Senhor, por sua omissão!
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Contraponto 12.782 - " 'Não penso, logo relincho': os maiores clichês dos papagaios da direita "

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29/11/2013

 


"Não penso, logo relincho": os maiores clichês dos papagaios da direita

 

Do Tudo em Cima - quarta-feira, 27 de novembro de 2013

 

- por Matheus Pichonelli
Dizem que uma mentira repetida à exaustão se transforma em verdade. Pura mentira. Uma mentira repetida à exaustão é só uma mentira, que descamba para o clichê, que descamba para o discurso.
E o discurso, quando mal calibrado, é o terreno para legitimar ofensas, preconceitos, perseguições e exclusões ao longo da História. Nem sempre é resultado da má fé. 

Por estranho que pareça, é na maioria das vezes fruto da indigência mental – uma indigência mental que assola as escolas, a imprensa, as tribunas, as mesas de bares, as redes sociais.
Com os anos, a liberdade dos leitores para se manifestar sobre qualquer assunto e o exercício de moderação de comentários nos levam a reconhecer um clichê pelo cheiro.
Listamos alguns deles abaixo com um apelo humanitário: ao replicar, você não está sendo original; está apenas repetindo uma fórmula pronta sem precisar pensar sobre tema algum. E um clichê repetido à exaustão, vale lembrar, não é debate. É apenas relincho*.

“Negros tem preconceitos contra eles mesmos”

Tentativa clássica de terceirizar o próprio racismo, é a frase mais falada das redes sociais durante o Dia da Consciência Negra. É propagada justamente por quem mais precisa colocar a mão na consciência em datas como esta: pessoas que nunca tomaram enquadro na rua nem foram preteridas em entrevistas de emprego sem motivos aparentes. O discurso é recorrente na boca de quem jamais se questionou por que a maioria da população brasileira não circula em ambientes frequentados pela elite financeira e intelectual do País, como universidades, centros culturais, restaurantes, shows e centros de compra. Tem a sua variação homofóbica aplicada durante a Parada Gay. O sujeito tende a imaginar que Dia Branco e Dia Hétero são equivalentes porque ignora os processos históricos de dominação e exclusão de seu próprio país.

“Não precisamos de consciência preta, parda ou branca. Precisamos de consciência humana”

Eis uma verdade fatiada que deixa algumas perguntas no contrapé: o manifestante a exigir direitos iguais não é gente? O que mais se busca, nessas datas, se não a consciência humana? Ou ela seria necessária, com ou sem feriado, caso a cor da pele (ou o gênero ou a sexualidade) não fosse, ainda hoje, fatores de exclusão e agressão?

“Heteros morrem mais do que homossexuais. Portanto, somos mais vulneráveis”

É o mesmo que medir o volume de um açude com uma régua escolar. Crimes como homicídio, latrocínio, roubo ou furto têm causas diversas: rouba-se ou mata-se por uma carteira, por ciúmes, por fome, por motivo fútil, por futebol, mas não necessariamente por causa da orientação sexual da vítima. O argumento é utilizado por quem nunca se perguntou por que ninguém acorda em um belo dia e decide estourar uma barra de ferro na cabeça de alguém só porque este alguém gosta e anda de mãos dadas com alguém do sexo oposto. O crime motivado por ódio contra heterossexuais é tão plausível quanto ser engolido por uma jaguatirica em plena Avenida Paulista.

“Estamos criando uma ditadura gay (ou racial) no Brasil. O que essas pessoas querem é privilégio”

Frase utilizada por quem jamais imaginou a seguinte cena: o sujeito acorda, vê na tevê sempre os mesmos apresentadores, sempre as mesmas pautas, sempre as mesmas gracinhas. No caminho do trabalho, ouve ofensas de pedestres, motoristas e para constantemente em uma mesma blitz que em tese serviria para todos. Mostra documento, RG. Ouve risada às suas costas. Precisa o tempo todo provar que trabalha e paga imposto (além, é claro, de trabalhar e pagar imposto). Chega ao trabalho e é recebido com deferência: “oi boneca”; “oi negão”; “veio sem camisa hoje?”. Quando joga futebol, vê a torcida imitando um macaco, jogando bananas ao campo, ou imitando gazelas. E engasga toda vez que vira as costas e se descobre alvo de algum comentário. Um dia diz: “apenas parem”. E ouve como resposta que ele tem preconceito contra a própria condição ou está em busca de privilégio. Resultado: precisamos de um novo glossário sobre privilégios.

“A mulher deve se dar o valor”

Repetida tanto por homens como por mulheres, é a confissão do recalque, em um caso, e da incompetência, no outro: o homem recorre ao mantra para terceirizar a culpa de não controlar seus próprios instintos; a mulher, por pura assimilação dos mandamentos do pai, do marido e dos irmãos. Nos dois casos o interlocutor acredita que, ao não se dar o valor, a menina assume por sua conta e risco toda e qualquer violência contra sua pretensão. Para se vestir como quer, andar como quer, dizer e fazer o que quer com quem bem quiser, ouvirá, na melhor das hipóteses, que não é a moça certa para casar; na pior, que foi ela quem provocou a agressão.

“Os homens também precisam ser protegidos da violência feminina”

Na Lua, é possível que a violência entre gêneros seja equivalente. Na Terra, ainda está para aparecer o homem que apanhou em casa porque foi chamado de gostoso na rua, levou mão na bunda, ouviu assobios ou ruídos com a língua sem pedir a opinião da mulher. Também não há relevância estatística para os homens que tiveram os corpos rasgados e invadidos por grupos de mulheres que dominam as delegacias do País e minimizam os crimes ao perguntar: “Quem mandou tirar a camisa?”.

“Se ela se deixou ser filmada, é porque quis se exibir”

Verdade. Mas não leva em conta um detalhe: existe alguém do outro lado da tela, ou da câmera. Este alguém tem um colchão de conforto a seu favor. Se um dia o vídeo vazar, será carregado nos braços como comedor. Ela, enquanto isso, vai ser sempre a exibida. A puta. A idiota que deixou ser flagrada. A vergonha da família. A piada na escola. Parece uma relação bastante equilibrada, não?

“O humor politicamente correto é sacal”

É a mais pura verdade em um mundo no qual o politicamente incorreto serve para manter as posições originais: ricos rindo de pobres, paulistas ridicularizando nordestinos, brancos ricos fazendo troça de mulatos pobres, machões buscando graça na vulnerabilidade de gays e mulheres. As provocações são brincadeiras saudáveis à medida que a plateia não se identifica com elas: a graça de uma piada sobre português é proporcional à distância do primeiro português daquele salão. Via de regra, a frase é usada por quem jura se ofender quando chamado de girafa branca tanto quanto um negro ao ser chamado de macaco. Só não vale perguntar se o interlocutor já foi chamado de “elemento suspeito”, com tapas e humilhações, pelo simples fato de ser alto como o artiodátilo.

“Bolsa Família incentiva a vagabundagem. Pegar na enxada e trabalhar ninguém quer”

Há duas origens para a sentença. Uma advém da bronca – manifestada, ironicamente, por quem jamais pegou em enxada – por não se encontrar hoje em dia uma boa empregada doméstica pelo mesmo preço e a mesma facilidade. A outra origem é da turma do “pegar o jornal e ler além do horóscopo ninguém quer”; se quisesse, o autor da frase saberia que o Bolsa Empreiteiro (que também dispensa a enxada) consome muito mais o orçamento público do que programa de transferência de renda. Ou que a maioria dos beneficiários de Bolsa Família não só trabalha como é obrigada a vacinar os filhos, manter a regularidade na escola e atravessar as portas de saída do programa. Mas a ojeriza sobre números e fatos é a mesma que consagrou a enxada como símbolo do nojo ao trabalho.

“Na ditadura as coisas funcionavam”

Frase geralmente acolhida por pacientes com síndrome de Estocolmo. Entre 1964 e 1985, a economia nacional crescia para poucos, às custas de endividamento externo e da subserviência a Washington; universalização do ensino e da saúde era piada pronta, ninguém podia escolher os seus representantes, a imprensa não podia criticar os generais e a sensação de segurança e honestidade era construída à base da omissão porque ninguém investigava ninguém. Em todo caso, qualquer desvio identificado era prontamente ofuscado com receitas de bolo na primeira página (os bolos eram de fato melhores).

“Você defende direito de presos porque ele não agrediu ninguém da sua família”

É o sofisma usado geralmente contra quem defende o uso das leis para que a lei seja garantida. Para o sujeito, aplicação de penas e encarceramentos são privilégios bancados às custas dele, o contribuinte. Em sua lógica, o Estado só seria efetivo se garantisse a sua segurança e instituísse a vingança como base constitucional. Assim, a eventual agressão contra um integrante de uma família seria compensada com a agressão a um integrante da família do acusado. O acúmulo de experiência, aperfeiçoamento de leis e instituições, para ele, são papo de intelectual: bons eram os tempos dos linchamentos, dos apedrejamentos públicos, da Lei de Talião. Falta perguntar se o defensor do fuzilamento está disposto a dar a cara a tapa, ou a tiro, quando o filho dirigir bêbado, atropelar, agredir e violentar a família de quem, como ele, defende penas mais duras para crimes inafiançáveis.

“A criminalidade só vai diminuir quando tiver pena de morte no Brasil”

Frase repetida por quem admira o modelo prisional e o corredor da morte dos EUA, o país mais rico do mundo e ao mesmo tempo o mais violento entre as nações desenvolvidas. Lá o crime pode não compensar (em algum lugar compensa?), mas está longe de ser varrido junto com seus meliantes.

“Político deveria ser tratado por médico cubano”

Tradução: “não gosto de política nem de cubano”. Pelo raciocínio, todo paciente tratado por cubanos VAI morrer e todo político que precisa de tratamento médico DEVE morrer. Para o autor da frase, bons eram os tempos em que, na falta de médico brasileiro, deixava-se o paciente morrer – ou quando as leis eram criadas não pelo Legislativo, mas pelo humor de quem governa na canetada.

“Deveriam fazer testes de medicamento em presidiários, não em animais”

Também conhecida como “não aprendemos nada com a parábola do filho Pródigo que tantas vezes rezamos na catequese”. É citada por quem não aceita tratamento desumano contra os bichos, mas não liga para o tratamento desumano contra humanos. É repetida também por quem se imagina livre de todo pecado e das grandes ironias da vida, como um certo fiscal da prefeitura de São Paulo que um certo dia criticou o direito ao indulto de presidiários e, no outro, estava preso acusado de participação na máfia do ISS. É como dizem: teste de laboratório na cela dos outros é refresco.

“Por que você não vai para Cuba?” 
Também conhecida como “acabou meu estoque de argumentos. Estou andando na banguela”.
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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Contraponto 12.781 - "PSDB e Globo se unem para esvaziar o trensalão tucano"

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 28/11/2013
 

PSDB e Globo se unem para esvaziar o trensalão tucano

 
Do Brasil 247
Ao invés de Aécio Neves e seus correligionários chamarem a imprensa para dar uma coletiva para acusar o PT, por que não aproveitaram para oferecer ao contribuinte seus sigilos fiscais, bancários e telefônicos?

 DAVIS SENA FILHO


Davis Sena FilhoOs caciques do PSDB se reuniram e chamaram a imprensa de mercado para repercutir suas queixas quanto às denúncias sobre corrupção de executivos das multinacionais Siemens e Alstom, além do Ministério Público Federal da Suíça. O chororô tucano uma grande pantomima, em público e transmitido pelas televisões, bem como publicados pelos jornais de seus principais aliados, que são os magnatas bilionários e proprietários da imprensa de negócios privados.

O que se viu foi um verdadeiro show de manipulações e distorções da verdade e da realidade, de gente quando é pega com as mãos na botija e não tem outra saída, a não ser acusar terceiros, neste caso o Governo trabalhista e popular de estar por trás dos malfeitos tucanos. Tais políticos acusam, de forma cínica e inconsequente, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo de ter montado e se aproveitado de um dossiê para incriminar pessoas honestas, probas, éticas e sérias, a exemplo de Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, além de outros, que fazem parte da confraria tucana.

É sempre assim: tucanos nada assumem; nem para o bem e nem para o mal. São conhecidos também como "murilos", ou seja, aqueles que vivem em cima do muro. Se porventura cometem erros, equívocos e até mesmo crimes, não os assumem. Ao contrário, imputam suas malfeitorias aos adversários, principalmente quando o inimigo ocupa a cadeira da Presidência da República. Tucano não assume nada, mesmo quando controla o poder em âmbito federal, pois se recusa a governar de forma republicana, porque representa a burguesia, trabalha para ela, concede-lhe benefícios e mantém seus privilégios, pois governa para poucos, os ricos, seu público-alvo e essência de sua visão social sectária e míope.

As denúncias sobre o propinão tucano de R$ 577 milhões, valores que significam mais de dez mensalões do PT, tornaram-se conhecidas porque autoridades do Ministério Público da Suíça cobraram do MPF em São Paulo respostas quanto aos seus pedidos de investigação, o que não aconteceu. O motivo: o procurador Rodrigo de Grandis, velho conhecido dos políticos tucanos e envolvido no passado em polêmicas em que pessoas do PSDB foram indevidamente protegidas, simplesmente engavetou as solicitações dos suíços e, posteriormente, deu como desculpa esfarrapada ter arquivado os pedidos em uma pasta errada. Durma-se com um barulho desse.

Contudo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, interveio e ordenou que o caso seguisse seus trâmites legais, bem como afastou De Grandis do processo. A "falha" ou o desleixo proposital do procurador causou espanto ao Judiciário da Suíça e ao do Brasil, além de deixar segmentos organizados da sociedade brasileira de queixo caído. Estarrecedoras as condutas do procurador Rodrigo de Grandis, que se aproveitou de sua posição e cargo para abafar supostos crimes cometidos pelos governantes do PSDB de São Paulo no decorrer de duas décadas.

Segundo funcionários da Siemens e da Alstom que confessaram seus crimes para terem benefícios da Justiça, o esquema de pagamentos de propinas a quadros ligados ao PSDB tinha a finalidade de favorecer as empresas estrangeiras em licitações. O miliardário propinoduto tucano era uma fonte de recursos ilegais para alimentar a máquina política tucana. O Metrô de São Paulo e a CPTM, duas companhias poderosas, ricas e caixas inesgotáveis de dinheiro público foram dilapidadas pelos políticos e membros do PSDB paulista, o que me leva a afirmar que o "mensalão" do PT, que nunca foi comprovado como rezam os autos dos processos, é uma gota no mar de corrupção tucana. Não esqueçamos, jamais, das privatizações efetivadas pelo neoliberal FHC.

E a pantomima, as caras e bocas, os dedos em riste, os cenhos fechados, a falsa comoção e a indignação de atores canastrões em um filme de comédia pastelão não convenceram o público e muito menos o Ministério da Justiça, que rebateu, prontamente, as intenções dos tucanos, à frente o pré-candidato a presidente, Aécio Neves. A intenção é transferir suas responsabilidades e culpabilidades para seus adversários e como sempre aconteceu se livrarem de verdadeiras bombas prestes a explodir em seus colos.

Essas estratégias tucanas de tergiversar sobre os fatos e falsear a verdade são recorrentes. Como não assumem nada na vida e se comportam como "coxinhas" mimados que erram sem parar e nunca são corrigidos ou punidos pelos pais, os tucanos, nas esferas políticas e administrativas, acreditam que são inimputáveis, livres para agir da forma que lhes convier sem, no entanto, subjugarem-se às leis do País.
Comportam-se como "mauricinhos", verdadeiros "miamiplayboys" que tem o apoio, incondicional, das Organizações(?) Globo e da imprensa de negócios privados em geral, que dão sustentação às suas armações, a exemplo da "coletiva" que os tucanos realizaram para acusar o Governo popular e o ministro da Justiça de usarem dossiês para incriminar os tucanos paulistas que mandam há 20 anos em São Paulo e não pedem licença a ninguém para cometerem seus desmandos administrativos e associações espúrias como as efetivadas com a Siemens e a Alstom.

Na edição de hoje o jornal "O Globo" dá a entender que o propinão do PSDB, o trensalão, de R$ 577 milhões, resume-se a uma guerra entre petistas e tucanos. Tal jornal, que abandou o jornalismo e passou, juntamente com o STF, a fazer política contra os governantes trabalhistas deve considerar todo mundo ingênuo ou irremediavelmente alienado, É evidente que o ministro da Justiça, depois de receber formalmente as denúncias, iria repassar o caso à Polícia Federal, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e ao Ministério Público Federal. Se a autoridade não o faz, ela prevarica e comete crime de responsabilidade, o que é gravíssimo em um sistema republicano, que tem como pilar o estado democrático de direito.

Quem finge não entender essas razões são exatamente quem deveria entendê-las: os políticos tucanos, pois ocupam ou ocuparam cargos administrativos, a exemplo de José Serra, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab (DEM/PSD), e os jornalistas, comentaristas e colunistas da imprensa corporativa, afinal esses órgãos comerciais e privados estão repletos de "especialistas". De prateleiras, mas especialistas. A verdade é que a "coletiva" dada pelos tucanos apenas foi uma tentativa de desviar o foco das atenções e fazer com que o governo petista seja responsabilizado pelos supostos crimes do PSDB enquanto partido que administra o Estado de São Paulo. Seria cômico se não fosse trágico.

A imprensa alienígena e de passado e presente golpista mais uma vez se coloca à disposição para levar confusão à sociedade brasileira. Mas não vai colar. Os supostos crimes perpetrados pela Siemens e Alstom tem autoria, pessoas envolvidas, denúncias e investigações no Brasil e no exterior., com direito à delação premiada por parte de funcionários estrangeiros. Somente a imprensa, o PSDB e o doutor Rodrigo de Grandis não enxergam o que é visível e por isso tentam justificar o injustificável.

O que esses grupos esperavam? Que a administração do prefeito Fernando Haddad se calasse e se tornasse cúmplice de supostos crimes de R$ 577 milhões? Valores investigados até o momento, porque o rombo pode ser muito maior, afinal são quase duas décadas de administrações tucanas, que em âmbito federal venderam o Brasil na década de 1990.

O dinheiro arrecadado não foi investido na infraestrutura do País ou em saúde e educação, mas até hoje os tucanos se exibem e deitam falação sobre seus feitos, como se eles fossem dignos de admiração ou aplausos. Vendaram o Brasil. O submeteram ao FMI três vezes, porque o País quebrou três vezes e os tucanos e a imprensa de mercado ainda cantam loas e boas sobre as privatizações, uma verdadeira pirataria ao patrimônio nacional, e à falta de perspectiva de melhorar de vida por parte do povo brasileiro.

O Globo apostou hoje em dossiês e coisa e tal. Pura armação para confundir a sociedade e manipular a verdade. Os crimes, se aconteceram, tem a digital tucana e a cumplicidade dos magnatas bilionários da imprensa hegemônica de caráter imperialista. Então vamos à pergunta que teima em não se calar para sabermos se os políticos do PSDB estão a ser sinceros: Por que ao invés de Aécio Neves e seus correligionários chamarem a imprensa para dar uma coletiva para acusar o PT do que o partido não fez, porque eles não aproveitaram a oportunidade para oferecer ao contribuinte seus sigilos fiscais, bancários e telefônicos?

Os cidadãos e trabalhadores brasileiros e principalmente os paulistas agradeceriam pelo espírito público dos tucanos. Todavia, nenhum deles apresentou qualquer intenção de abrir seus sigilos. Os tucanos realmente consideram que seus atos e ações são realmente inimputáveis e, por sua vez, inventam, sistematicamente, a criação de dossiês para acobertar seus supostos crimes.

É sempre assim que eles agem, pois essa estratégia já ocorreu em inúmeros episódios do passado. No final, tucano que comete crime vira vítima e os órgãos de controle e fiscalização que investigam são condenados pela imprensa empresarial como orquestradores de planos para incriminar os homens e mulheres honestos, éticos e republicanos do PSDB. Mas dessa vez não vai colar. É isso aí.

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Contraponto 12.780 - A hipocrisia e a estupidez do Império

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28/11/2013

 

Por que o embargo econômico imposto pelos EUA a Cuba nunca tem fim?


Cuba Revolution at 50


Fabiano Amorim


Fabiano AmorimEm junho de 2012, o banco holandês ING foi multado em 619 milhões de dólares pelo governo dos Estados Unidos. Essa multa não foi por ter feito lavagem de dinheiro, sonegado impostos, nem mesmo por lesar clientes. O grande crime cometido foi fazer negócios com Cuba.

Punir bancos estrangeiros que negociem com Cuba é o meio que o governo americano encontrou para impedir que esse país tenha acesso a crédito; algo fundamental para um país pobre se desenvolver.

O impedimento do acesso ao crédito é apenas uma pequena parte do embargo econômico imposto a Cuba. O governo americano impõe a todas as empresas do mundo a seguinte condição: “Se você fizer negócios com Cuba, não fará negócios comigo”. Como os EUA são o maior mercado consumidor do mundo, isso faz com que muitas empresas se afastem completamente de Cuba, restringindo bastante o mercado ao qual o país tem acesso. Isso prejudica o país de diversas formas, desde a aquisição de veículos até a compra de equipamentos para a indústria ou para os hospitais. Cuba tem um excelente sistema de saúde pública e ótimos médicos, mas possui grande dificuldade de aparelhar os hospitais de forma adequada, pois é comum ter o dinheiro para comprar os equipamentos de que precisa e não encontrar vendedores disponíveis. (Todos os grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)


Mesmo após encontrar um vendedor e efetuar a compra, surge um novo problema: se um navio for até Cuba entregar alguma coisa, durante 6 meses não poderá desembarcar nos EUA. Isso restringe a quantidade de navios disponíveis para a entrega e obriga o governo cubano a pagar bem mais caro para que algum dono de navio se disponha a fazer o frete.
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Não satisfeitos com todas essas medidas, os EUA também atrapalham e muito o comércio exterior cubano, através da proibição da entrada nos EUA de qualquer produto que tenha sido fabricado com alguma matéria prima cubana. Por exemplo, se a montadora japonesa Nissan fabricar um carro usando o níquel extraído em Cuba, esse carro não poderá ser vendido nos EUA. Nem precisa pensar muito para perceber que nenhuma montadora de carro no mundo usará qualquer minério extraído em Cuba. Domesmo modo, nenhuma bebida poderia ser vendida nos EUA se fosse fabricada usando o açúcar cubano.
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Tudo isso estrangula e muito a economia desse pequeno país caribenho. Você considera possível que algum país pobre se desenvolva tendo pouquíssimo acesso a crédito, tendo pouco acesso ao mercado mundial para comprar o que necessita, pagando bem mais caro pela entrega das compras e ainda por cima tendo um mercado consumidor bem restrito para os seus produtos? O embargo causa todos esses problemas a Cuba..
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Na última terça-feira, 29 de outubro, a assembléia geral da Organização das Nações Unidas (ONU) votou pelo fim do embargo americano à Cuba pelo 22o ano consecutivo. Foram 188 países votando pelo fim do embargo, contra apenas dois países (EUA e Israel) favoráveis à manutenção dessa política.

Apesar de termos quase 99% dos países do mundo contrários ao embargo, isso não faz a menor diferença para o governo dos EUA, que decide manter essa absurda política ano após ano, mesmo sem ter quase nenhum apoio internacional.
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A ONU tem poder para punir países pequenos, quando essa é a vontade dos países mais ricos, mas não tem poder algum para punir um país poderoso como os EUA, a Inglaterra, a Rússia ou a França. Cuba é um país minúsculo, com apenas 11 milhões de habitantes, ou seja, uma população quase do tamanho da cidade de São Paulo e com um PIB de apenas 121 bilhões de dólares (2012). É um país tão pequeno que não representa nem de longe qualquer ameaça militar ou econômica aos Estados Unidos. Mesmo assim, os EUA mantêm contra Cuba um embargo econômico de uma dimensão que normalmente só é vista em situações em que um país está em guerra contra os EUA. Qual o sentido disso?
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A justificativa que é sempre usada pelo governo norte-americano é a de que o embargo é mantido pelo fato de Cuba manter um governo ditatorial. Porém eles nunca tiveram qualquer problema de consciência em fazer negócios com a Arábia Saudita, o Bahrein, a Líbia, o Egito e tantos outros países que mantinham (ou mantêm) ditadores ferozes no poder. Como os ditadores desses países se alinham politicamente com os EUA, o comércio com eles é mantido. Como o governo de Cuba, desde a revolução cubana, nunca se alinhou com a política norte-americana, o país recebe até hoje esse enorme castigo.
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Essa estratégia de prejudicar a economia de um país é utilizada para jogar a população contra o governante local. Ela já foi usada diversas vezes na história. Uma bem conhecida ocorreu no Chile, com o presidente Salvador Allende. O governo americano, através da CIA, financiou uma greve de empresas de transporte, que causou um enorme problema de abastecimento no país, gerando uma grande crise interna e jogando parte da população contra o presidente.
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No caso específico de Cuba, está mais do que provado que o embargo econômico quase não afeta a popularidade do governo cubano. O efeito do embargo é exatamente o contrário: joga a população contra o governo americano, culpando-o pela sua pobre economia, que tem enormes dificuldades de se erguer. No fim das contas, o governo americano aparece para os cubanos como o vilão da história e o governo cubano ganha a imagem de grande herói, que protege o povo cubano contra o imperialismo americano...

Havava  parece parada no tempo

Isso é visto com muita clareza na quase total ausência de protestos contra o governo em Cuba. É raro ver esse tipo de protesto por lá e mesmo quando ocorre, têm aproximadamente de 100 a 200 pessoas, nem chegando próximo do que se vê nos EUA, Europa, Brasil e tantos outros países com democracias ou ditaduras.
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Por outro lado, as manifestações a favor do governo cubano e contra o governo dos EUA têm proporções monumentais. As manifestações de 1o de maio levam centenas de milhares às ruas. Os vídeos no Youtube e fotos publicadas das manifestações demonstram claramente a absurda diferença entre a quantidade de apoiadores e de dissidentes do governo em Cuba.
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Hoje até mesmo boa parte dos dissidentes do governo já são contra o embargo, pois está mais do que provado que ele não tem força alguma para derrubar o governo. A conhecida blogueira dissidente Yoani Sanchez, em uma entrevista concedida nos EUA em março deste ano, manifesta sua opinião de que uma mudança de regime só poderia ocorrer após o fim do embargo econômico.
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Se quase todos os países do mundo e parte dos dissidentes cubanos são contra o embargo, por que razão os EUA continuam mantendo essa política ano após ano.
Fernando Morais, em seu livro “Os últimos soldados da Guerra Fria” explica as razões:
Nenhum presidente americano havia chegado à Casa Branca sem antes se submeter ao beija-mão dos chefões da diáspora cubana em Miami. A cada quatro anos, um Comitê de Ação Política [...] irrigava com doações que chegavam a 10 milhões de dólares as campanhas eleitorais de cerca de 400 candidatos a deputado federal e senador [...]. Bastava que defendessem os pontos de vista da diáspora cubana, que fossem comprometidos com a manutenção do bloqueio a Cuba e com todas as formas de luta para pôr fim ao regime comunista que imperava na ilha. Segundo a unanimidade dos observadores políticos, o poder do lobby cubano no congresso só perdia para o multimilionário AIPAC [lobby pró-Israel]…”

Independente de você ser defensor ou opositor do atual modelo político cubano, você deveria ser favorável ao fim do embargo econômico à ilha, pois Cuba só terá condições de se desenvolver, seja pela via socialista ou capitalista, a partir de quando o embargo não mais existir.
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Com o fim do embargo, uma série de leis existentes que retiram liberdades dos cubanos não teriam mais sentido de existir. Hoje elas são claramente justificáveis e aceitas pelos cubanos, pelo permanente estado de guerra em que se sentem inseridos graças ao governo americano. É semelhante às leis absurdas aprovadas nos EUA, como o “Ato Patriótico”,  aceito pela maioria, sob a justificativa do medo por causa da guerra ao terrorismo.
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No dia seguinte ao fim do embargo, provavelmente a sociedade iria pressionar o governo para que pusesse fim às restrições restantes que impedem a livre entrada e saída do país, o trabalho no exterior, a livre associação, a atividade comercial por conta própria, entre outras questões. A partir do momento em que o congresso americano pusesse fim ao bloqueio econômico, seria iniciada uma corrida contra o tempo em Cuba.
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O governo cubano seria obrigado a desenvolver a economia o mais rápido possível, para provar que a culpa dos problemas econômicos era dos americanos e não do governo local. Caso não conseguisse desenvolver a economia em um tempo aceitável pela população, iria sucumbir, pois ficaria a impressão de que a culpa sempre foi do governo e não do embargo.
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Caso o governo viesse a fazer concessões e permitisse mais liberdades na ilha,  como a permissão para que os cubanos se associassem livremente, independentemente do Estado, provavelmente novas forças políticas surgiriam, algumas favoráveis ao atual regime e outras contrárias, à esquerda e à direita, mas desta vez bem organizadas e legalizadas.
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O que de fato acontecerá após o fim do embargo é imprevisível. O atual sistema político cubano pode acabar, ser reformado ou se tornar ainda mais aceito pela população. Tudo dependerá da capacidade do governo cubano em atender as necessidades da população. O governo não mais poderá usar a justificativa do embargo. Portanto terá de fazer o melhor trabalho possível ou a população não irá suportar viver na pobreza por muito tempo e poderá decretar o fim do domínio do Partido Comunista Cubano.
Fabiano Amorim é nascido em Palmeiras dos Índios, e atualmente mora em Maceió, Alagoas. Ele escreve no blog http://fabiano-amorim.blogspot.com.br. É autor do aclamado documentário “Derrubaram o Pinheirinho”, sobre a reintegração de posse do acampamento Pinheirinho em São Jose dos Campos.

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PITACO DO ContrapontoPIG 
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Há pouco tempo do Governo de Cuba quis melhorar o seu rebanho bovino adquirindo matrizes e reprodutores no Canadá. Nenhuma companhia de transporte atreveu-se a realizar o transporte deste rebanho com medo de retaliações do embargo americano.
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Além da hipocrisia e da estupidez, há muita maldade neste embargo também.  
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Contraponto 12.779 - Covardia suprema

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28/11/2013 
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Mundo jurídico contesta desmandos de Barbosa, 

mas ministros do STF se calam

 

Juristas das mais diversas correntes, associações de magistrados e OAB já contestam publicamente o modus operandi do presidente do Supremo. 

 




Carta Maior 26/11/2013

Arquivo  

Najla Passos


Brasília - Embora boa parte da grande imprensa ainda lute para dar um caráter lícito e regular aos desmandos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na condução das prisões dos condenados pela ação penal 470, quase todo o mundo jurídico já se deu conta que é impossível permanecer calado diante de tantas irregularidades.  Juristas das mais diversas correntes, associações de magistrados e OAB já contestam publicamente o modus operandi do presidente do Supremo. O que permanece cada vez mais ensurdecedor é o silêncio dos demais ministros da corte.

Barbosa determinou a prisão de parte dos condenados às vésperas do feriado da república, sem sequer ter proclamado o resultado do julgamento dos segundos embargos declaratórios em plenário, como ele próprio havia prometido fazer. Os réus foram presos no feriado, contrariando a constituição, e transferidos dos seus estados de origem para Brasília no meio do final de semana, em uma operação midiática, sem nenhuma justificativa legal. Os condenados ao regime semiaberto foram alocados em regime fechado, o que também contraria a legislação.

Entre eles, o ex-presidente do PT, José Genoíno, em comprovado estado de debilidade de saúde, que passou mal no voo que o conduziu à Brasília e, posteriormente, por duas vezes, na cela do complexo Penitenciário da Papuda, enquanto seu pedido para cumprir pena em prisão domiciliar dormia na mesa de Barbosa. Só foi levado a uma unidade de saúde pública quando os médicos do presídio diagnosticaram suspeita de enfarto. E tudo isso enquanto demais condenados, obviamente de outras agremiações partidárias, continuam soltos. Um deles, o ex-deputado Pedro Correia (PP-PE), chegou a pedir oficialmente para começar a cumprir logo a sua pena.

Como se não bastasse, Barbosa determinou que o juiz titular da Vara de Execuções Penais do Dsitrito Federal, Ademar Vasconcelos, fosse substituído na condução do caso pelo juiz substituto Bruno André Silva Ribeiro, filho do ex-deputado do PSDB que atuou no primeiro escalão do governo Arruda, aquele político afastado do cargo em função da suspeita flagrada em vídeo do seu envolvimento no “mensalão do DEM”, ocorrido há quatro anos e ainda não julgado. A operação do substituição do juiz titular foi classificada pela Associação Juízes para a Democracia de “coronelismo eletrônico” e pelo presidente eleito da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) de “canetaço”.

Na segunda (25), o pleno da OAB, reunido em Salvador (BA), decidiu pedir explicações ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a regularidade da substituição do juiz. Na prática, exigiu que o órgão investigue o presidente da corte máxima do país, já praticamente isolado no seu autoritarismo. O próprio Ministério Público, em parecer do dia 19/11, já opinava que a condução da execução das penas deveria ficar a cargo do juiz Ademar, como antecipou Carta Maior na matéria “PGR quer decisão sobre Genoíno fora das mãos de Barbosa”.

No STF, entretanto, o assunto é tabu entre os demais ministros, que não se posicionam sobre ele. Nem uma palavra dos outros 10 ministros sobre as prisões irregulares, sobre a substituição do juiz, sobre a correria para prender uns e o esquecimento de determinar a prisão dos que continuam soltos, dez dias depois. Nem mesmo a não proclamação da decisão dos embargos em plenário foi contestada por eles. No mínimo estranho, na corte que se notabilizou pelos bate-bocas públicos entre os seus ministros.
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Contraponto 12.778 - "A recuperação bizarra da Europa"

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28/11/2013


A recuperação bizarra da Europa

Mas é duro tapar o sol com a peneira. Três anos depois de iniciados os programas de “austeridade” no Velho Continente, uma série de dados está demonstrando que a queda da qualidade de vida é mais dramática que se pensava. Além disso, não há sinais de recuperação das economias – um sinal de que o sacrifício irá se prolongar, a menos que haja revolta social. Eis alguns dados, elencados pelo jornalista Bernard Cassen, no site internacional Mémoire des Luttes:

Contraponto 12.777 - "O tratamento privilegiado dado pela mídia a Aécio no caso dos Perrellas"

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28/11/2013


Aécio entre os Perrelas numa comemoração do cruzeiro
 Aécio entre os Perrelas numa comemoração do cruzeiro


por :

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Aécio Neves é um cara de sorte.

Quer dizer, sorte sob o ângulo do tratamento que recebe da mídia.

Ele soube cultivá-la, é certo. Roberto Civita, por exemplo, não raro ia passar finais de semana na fazenda de Aécio, em Minas.

Pulitzer, o maior editor, disse que jornalista não tem amigo.

Isso porque amizades influenciam a maneira de um jornalista tratar alguém ou algum assunto.

Mas Aécio tem amigos entre os jornalistas. Ou melhor: entre os patrões dos jornalistas.

Como Churchill, ou como Serra, se quisermos ficar no Brasil, é daqueles que falam diretamente com os donos das empresas jornalísticas.

Pode evitar intermediários, os jornalistas propriamente ditos.

Poderosos desta natureza enfeitiçam os jornalistas das grandes companhias. Se telefonam, eventualmente, para um jornalista, em vez de ir direto ao patrão, o jornalista se sente desvanecido, homenageado, premiado.

Sou importante.

O jornalista premiado vai contar detalhes do telefonema a seu círculo de amizades, provavelmente com algum enfeite que o coloque numa posição mais elevada que a realidade.

Bem, tudo isso para explicar, a quem não conseguiu entender, por que Aécio vem sendo tão poupado no caso do helicóptero dos Perrellas.

Foi uma apreensão extraordinária de cocaína. Não é todo dia que a polícia apreende quase 500 quilos.
E isso se deu na ‘jurisdição’ de Aécio. Os Perrellas são amigos e aliados políticos de Aécio.

Há fotos que mostram a imensa camaradagem entre Aécio e os Perrelas, pai e filho. São unidos pela paixão ao Cruzeiro, do qual Perrella pai foi presidente, fora as conveniências políticas.

A pergunta vem sendo feita por muita gente na única e real tribuna livre jornalística nacional, a internet: e se o helicóptero fosse de um amigo de Dirceu? E se houvesse fotos de Dirceu com os Perrellas como as que existem de Aécio?

Como estaria se comportando o Jornal Nacional? E qual seria a próxima capa da Veja?

Causou indignação, na internet, a ausência da apreensão espetacular – pelo volume, pelos proprietários do helicóptero etc – no Jornal Nacional no dia em que o assunto surgiu.

Quem conhece a vida nas redações pode imaginar o que houve. Ali Kamel, o diretor de jornalismo da Globo, não é nenhum Pulitzer, mas cego não é.

O JN certamente terá outros jornalistas capazes de distinguir uma notícia que pede, suplica por 30 segundos de atenção ou mais.

Mas um telefonema ao dono pode evitar que qualquer reportagem vá ao ar. Ou, ao menos, pode retardá-la na esperança de que o assunto morra.

Quem acredita que a não inclusão do helicóptero foi uma decisão meramente jornalística do JN acredita em tudo, para parafrasear Wellington.

Não se trata de incriminar, levianamente, ninguém.

Mas a amizade entre Aécio e os Perrellas é notícia, e omitir isso ao tratar do assunto é um pecado jornalístico em que o leitor é a vítima.

Indiretamente, e por força da internet, brasileiros fora de Minas puderam conhecer um pouco mais da política mineira.

Perrella, o pai, é acusado de não declarar uma fazenda avaliada em 60 milhões de reais. A fazenda, apenas para efeito de comparação, representa cerca de 80% do total do Mensalão, tal como os juízes do STF e a mídia afirmaram.

Isto tem um nome: corrupção.

Aécio combateu a corrupção em Minas? Investigou uma história esquisita como a de seu amigo Perrella? Há denúncias dele que envolvem até a negociação de jogadores.

Mesmo o silêncio inexpugnável da mídia, mesmo a proteção dada a Aécio, mesmo com tudo que se faz e fez para impedir que os brasileiros tenham informações relevantes sobre seus líderes – mesmo com tudo isso, a sociedade aprendeu muita coisa no episódio do helicóptero.

Graças a algo que rompeu o monopólio da voz dos Marinhos, Frias, Civitas etc: a internet.

Leia mais: Quem são os Perrelas, envolvidos no ‘escândalo do helicóptero’

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Paulo Nogueira. Jornalista baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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