quinta-feira, 30 de junho de 2011

Contraponto 5653 - "Concessionárias de telefonia fixa devem começar a oferecer internet a R$ 35,00 em três meses"

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30/06/2011


Concessionárias de telefonia fixa devem começar a
oferecer internet a R$ 35,00 em três meses

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Em até 90 dias, as concessionárias de telefonia fixa deverão começar a disponibilizar para os clientes a internet com velocidade de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 35 por mês. O acordo foi fechado hoje (30) entre as operadoras Telefônica, Oi, Sercomtel e CTBC e o Ministério das Comunicações.

As empresas devem assinar ainda hoje um termo de compromisso com o governo para oferecer a banda larga nos moldes combinados. Também deve ser assinado um decreto presidencial que institui o novo Plano Geral de Metas de Universalização da Telefonia Fixa (PGMU 3), que faz parte da renovação dos contratos de concessão.

Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o cronograma de oferta do serviço ainda não foi fechado, mas o serviço deve estar disponível em todo o país e em cerca de 70% dos domicílios até 2014. A velocidade também deve aumentar para até 5 Mbps.

Na avaliação do ministro, o acordo com as empresas é um “grande negócio”, pois o preço é a metade da média adotada no país. “Achamos que isso vai ser muito atraente, claro que se fosse mais barato seria melhor, mas não conseguiríamos fazer isso sem subsídio e não optamos por isso neste momento. Este plano não terá recursos públicos”, disse Bernardo.

O acordo com as empresas não estabelece metas de qualidade da internet a ser ofertada, mas Paulo Bernardo garantiu que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai votar até outubro um regulamento para estabelecer regras que devem ser seguidas por todas as empresas que oferecem a internet fixa e móvel.

Bernardo também explicou que as sanções a serem aplicadas às empresas, por descumprimento do acordo com o governo, podem ser convertidas em obrigações de novos investimentos e, em último caso, em multas pecuniárias. Nos locais onde as empresas não conseguirem oferecer o serviço banda larga fixa, haverá a possibilidade de oferta de internet móvel.

O presidente da Telefônica, Antonio Carlos Valente, disse que, por não ter subsídios do governo, as empresas terão que “usar técnicas criativas” para atender aos termos do acordo. “Esses novos valores vão possibilitar que novas famílias possam ter acesso a esse serviço, e esse é o principal objetivo”, disse.

Edição: Aécio Amado

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Contraponto 5652 - "Folha quer 'desacelerar' a economia"

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30/06/2011

Folha quer “desacelerar” a economia

Por Altamiro Borges

A mídia nativa não esconde seus vínculos orgânicos com o capital financeiro. Mesmo com as medidas do governo Dilma Rousseff de restrição ao crédito, de aumento recorrente das taxas de juros e de drásticos cortes no orçamento, ela não está satisfeita e exige mais arrocho monetário e fiscal. Na prática, a mídia rentista serve como porta-voz da oligarquia financeira.

Em seu editorial de ontem (29), intitulado “desaceleração inconclusa”, a Folha mais uma vez explícita esta posição. Para ela, “a diminuição do crédito ajuda no combate à inflação, mas o Banco Central precisa estar atento para a retomada da alta dos preços no futuro próximo”. Com esse discurso terrorista, o jornal neoliberal clama por medidas mais duras de restrição ao consumo.

Efeitos danosos da retração do crédito

O BC divulgou, nesta semana, novos dados sobre a redução do crédito. Eles apontam para a inevitável retração da economia. Em maio último, a velocidade dos empréstimos para pessoas físicas caiu para 8% - até dezembro último o volume da liberação crescia ao ritmo anualizado de 30%. No Brasil, o consumo das famílias representa mais de 60% da formação do Produto Interno Bruto (PIB). Um corte tão drástico no crédito tem reflexos no consumo e, como efeito, na geração de emprego e renda.

Mas apesar destas conseqüências danosas, a mídia rentista quer mais arrocho. Para a Folha, a política aplicada no governo Lula, “da concessão de crédito com regras frouxas e juros menores, estimulava o consumo e aumentava a pressão sobre a inflação”. A sua receita, tipicamente neoliberal, é por mais aperto monetário e fiscal. Dane-se o emprego e a renda dos brasileiros!

Torcida pelo desemprego

A Folha não vacila sequer em dizer que o desemprego ajuda a conter a inflação. Para ele, “o emprego formal continua crescendo ao ritmo de quase 2 milhões de vagas ao ano em um contexto de escassez de mão de obra e salários pressionados” – o que seria preocupante para o “deus-mercado”. Diante deste cenário, o jornal repete o discurso dos rentistas e agiotas financeiros: “A trégua atual no campo da inflação é passageira e novas medidas de restrição ao crédito podem se tornar necessárias”.
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Contraponto 5651 - "Gastos em conflitos já superam 2ª Guerra Mundial"

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O projeto Cost of War (www.costsofwar.org), de especialistas da Universidade Brown, de Rhode Island, Estados Unidos, divulgou seu estudo sobre a “guerra ao terror” americana no Iraque, Afeganistão e Paquistão.

Em termos financeiros, de 3,7 trilhões a 4,4 trilhões de dólares, o dobro do PIB brasileiro e mais que a Segunda Guerra Mundial (4,1 trilhões em moeda de hoje).

Em termos humanos, 224 mil a 258 mil mortos (dos quais ao menos 137 mil civis), 620 mil soldados feridos e 7,8 milhões de refugiados. O relatório completo lista ainda custos políticos, sociais e ambientais. A Al-Qaeda gastou entre 400 mil e 500 mil dólares e matou 2.995 no atentado de 11 de setembro. Para cada uma de suas vítimas, os EUA fizeram pelo menos 73 e para cada dólar do inimigo, gastaram cerca de 10 milhões.

*Antonio Luiz M.C.Costa é editor de internacional de CartaCapital e também escreve sobre ciência e ficção científica.

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PITACO DO ContrapontoPIG.

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra o líder da Líbia, Muamar Kadafi, nesta segunda-feira.

Pergunta: Será que o Tribunal não se enganou e mandou prender o presidente errado.

O Bush pai, o Clinton, o Bush filho e o Obama não mereciam um mandadozinho também?

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Contraponto 5650 - "A alienação da classe média de esquerda nas críticas ao PNBL"

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30/06/2011

A alienação da classe média de esquerda nas críticas ao PNBL

Do Amigos do Brasil - Quinta-feira 30, junho 2011

Quem da classe média de esquerda se habilita a desligar sua banda larga PRIVADA, em protesto, para exigir uma banda larga provida apenas pela estatal Telebras?

Acho que ninguém.

Pois esta mesma classe média de esquerda (que já tem banda larga privada), está se comportando como alienada em suas críticas, querendo negar ao pobre o que ela já tem e usa. Para o pobre, que no Brasil sempre “tinha que esperar”, ter uma opção agora e já de banda-larga a R$ 35,00 resolve seu problema imediato.

Hoje, os planos mais baratos que existem são em venda casada, e o cidadão tem que pagar pelo menos uns R$ 70,00 nos planos mais baratos que incluem assinatura de telefonia fixa ou “combos” com TV a cabo (não vale aquelas promoções cujo baixo valor é só nos 3 primeiros meses, nem anúncios enganosos que não avisam que se trata de venda casada). Isso em capitais, onde há concorrência e ampla oferta.

Nas capitais é bem evidente o contraste dos com banda-larga e dos sem-banda larga. A rede já existe em frente grande parte das casas do cidadão de baixa renda, e ele não tem porque é caro e não por ausência de infra-estrutura. No interior a coisa se agrava, pois a velocidade é reduzida para 600 Kbits pelo mesmo pacote. E tem cidades do interior que ainda nem tem banda-larga.

Pode ser que as teles não cumpram todas as metas. Pode ser que não cumpram metas de qualidade. Mas e daí? A fila de problemas andou. Pelo menos grande parte da população já será incluída na banda-larga com a infra-estrutura que já passa na porta da casa, e grande parte da população de baixa renda não terá que ficar esperando pelo Orçamento da União, aprovação no Congresso, licitações e embargos na justiça, concursos para contração de pessoal na estatal, aumentos de capital e assembléia de acionistas de uma empresa estatal que tem ações em bolsa de valores, etc. Enquanto isso, a cada ano que passa, a Telebrás já estará melhor estruturada em 2012, 2013, etc. para fazer novas ofensivas sobre as teles privadas.

Em tempo: as críticas ao PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) lembram muito as feitas ao governo Lula quando foi lançado o ProUni (que aproveitava vagas ociosas nas universidades privadas). Enquanto milhares de pobres já se formaram no ProUni, em paralelo era feito o REUNI, que ampliou também as vagas nas federais. Mas o cidadão pobre não teve que esperar por vagas nas universidades federais, e foi estudando através do ProUni mesmo, enquanto isso.

Por Zé Augusto

Por Helena

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30/06/2011

Pobre não vai ter que esperar: Banda Larga a R$ 35,00 chega em julho

Do Amigos do Brasil - Quinta-feira 30, junho 2011

Oi, Telefônica, CTBC e Sercomtel já fecharam acordo com o governo federal, para iniciar a oferta de conexão de 1 Mbps a R$ 35 em um mês sem isenção de ICMS, ou R$ 29,80 nos Estados que isentarem o imposto.

Sem dinheiro público.

O acordo que o governo está fazendo com as empresas de telecomunicações representará a duplicação da velocidade mínima inicialmente prevista para o PNBL (512 Kbps) já a partir de 2011, colocando como meta para 2014, velocidades de 5 megabis/s, ou seja, 10 vezes o que havia sido definido quando do lançamento do PNBL.

Além disso, haverá a redução pela metade do preço médio da banda larga de 1 Mbps praticado no Brasil. Pesquisa realizada pela FIRJAN, em março, apontou que o preço médio da conexão com velocidade de 1 mega, no Brasil era de R$ 70,85. O preço de R$ 35,00, estabelecido no acordo, será ligeiramente inferior ao cobrado por velocidade equivalente nos EUA, por exemplo.

Governo Dilma vai duplicar a velocidade, pela metade do preço. E sem dinheiro público.

“O governo vai concentrar seus esforços na solução de gargalos nas redes de telecomunicações, e em garantir oferta de comunicações velozes para os próximos anos, com foco especial nos mega eventos esportivos que realizaremos aqui”, diz Paulo Bernardo, ministro das Comunicações.

Segundo o ministro, a Telebrás tem um plano de investimentos que chega perto de 10 bilhões, até 2015, sendo a maior parcela, de cerca de 7 bilhões em backhaul (redes regionais de fibras óticas). Além do backhaul, a Telebrás planeja investimentos nas 12 cidades-sede da Copa 2014, novos cabos submarinos ligando o Brasil aos EUA, à Europa e à Africa, bem como conexões com os países vizinhos.

Houve um debate acirrado com as empresas sobre a questão da qualidade dos serviços de internet, pois a presidenta Dilma exige atenção para esse quesito. Em conversa com o presidente da ANATEL, embaixador Sardembergh, ficou acertado que a agência aprovará até 31/outubro deste ano, os regulamentos sobre a qualidade na internet, com o padrões mínimos que serão exigidos dos prestadores de serviços.

A presidenta Dilma insiste em garantias de que a velocidade de 1 Mbps seja real e não nominal. Hoje as teles só se comprometem a entregar no mínimo 10% da velocidade contratada. A presidenta quer que as operadoras assumam a obrigação de garantir, no mínimo, 40% da velocidade contratada e 70% de velocidade média até 2014. As empresas alegaram que estas metas superam os padrões internacionais e que não teriam condições de avaliar tão rapidamente os riscos financeiros.

Para resolver o impasse, o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, teve de se comprometer com Dilma a colocar em vigor até outubro um novo regulamento de qualidade dos serviços incluindo a obrigação das teles entregar o mínimo de 30% nos horários de pico.

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Contraponto 5649 - "A Redução da pobreza extrema na Bolívia"

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Esta é para os "Chjicago Kids" aqui do portal:

Bolívia consegue reduzir número de pessoas na pobreza extrema, diz FMI

30/6/2011 4:35,

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Mais de 1 milhão de bolivianos deixaram a faixa de pobreza extrema no período de 2007 a 2009, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). A informação foi divulgada ontem (29) pelo chefe da missão do FMI em La Paz, Gabriel Lopetegui. Segundo ele, 37% da população na Bolívia viviam com menos de US$ 1 dólar por dia até 2007 e, em 2009, esses números caíram para 26%.

De acordo com o chefe do FMI, os esforços devem ser mantidos. "O desafio é continuar nesse caminho e essa é a tendência para consolidar ainda mais o combate à pobreza no país", disse ele. "A implementação de políticas sociais é fundamental para atender às necessidades básicas, a saúde e a educação", acrescentou. Ele alertou, porém, que apesar dos progressos, 26 de cada 100 bolivianos ainda sobrevivem com menos de US$ 1 dólar por dia.

Lopetegui disse ainda que 11% da população da Bolívia, cerca 1,1 milhão dos 10 milhões de habitantes, saíram da linha de extrema pobreza de 2007 a 2009. Segundo ele, uma das razões dessa mudança foi a adoção de um programa de transferência de renda que beneficia os bolivianos com mais de 60 anos – cerca de 800 mil adultos.

O chefe do FMI na Bolívia disse ainda que houve melhora também nos números referentes às crianças e aos adolescentes em idade escolar. Um dos principais problemas no país era a elevada taxa de abandono. Segundo ele, a ajuda financeira para as famílias que têm estudantes conseguiu reverter a tendência.

Porém, as taxas de analfabetismo no país, conforme dados de 2006, mostram que 27 dos 100 bolivianos e um em cada dois alunos do ensino médio devem ser apontados como analfabetos funcionais, pois não compreendem o que leem. Em 1996, houve registros de que vários alunos repetiram até 13 vezes as primeiras séries primárias.

De acordo com dados do FMI e das agências multilaterais de financiamento, o número de pessoas no mundo que vivem com menos de US$ 1 dólar por dia deve chegar a 880 milhões em 2015. As informações são da agência estatal de notícias da Bolívia, a ABI.

Edição: Graça Adjuto

http://correiodobrasil.com.br/bolivia-consegue-reduzir-numero-de-pessoas...

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PITACO DO ContrapontoPIG.

Quem, afinal, está na contramão da história: Grécia ou Bolívia? UE ou AL ?

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Contraponto 5648 - "O país real"

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30/06/2011

O país real


Do Direto da Redação - Publicado em 29/06/2011

Mair Pena Neto*

Uma transformação de grande magnitude está em curso no país. A frase é do economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, diante dos dados revelados pelo estudo "Os Emergentes dos Emergentes: Reflexões Globais e Ações Locais para a Nova Classe Média Brasileira", realizado pela respeitada instituição.

Neri baseia sua afirmação na redução significativa da desigualdade no Brasil, que cresce nos demais Brics, países com quem o Brasil mais pode ser comparado. O sucesso do modelo brasileiro tem sido conciliar o crescimento econômico com a redução das desigualdades sociais. Entre 2003 e 2007, a renda dos 20% mais pobres da população brasileira avançou em média 6,3% ao ano, enquanto a dos 20% mais ricos subiu apenas 1,7%.

O Brasil é o único dos Brics a registrar tal fenômeno. Na China, a renda dos mais pobres subiu até mais que a dos brasileiros (8,5%), mas a dos 20% mais ricos evoluiu 15%. É por isso que se ouve falar tanto de novos milionários e até bilionários na China e não tanto de uma mobilidade social como a verificada no Brasil. Na Índia, os 20% mais pobres tiveram uma evolução de renda de apenas 1%, contra 2,8% dos mais ricos, e na África do Sul a relação foi de 5,8% para os mais pobres e 7,6% para os mais ricos.

O Brasil encontrou um caminho de inclusão social, superando os temores do crescimento e de receitas obsoletas como a de que era preciso primeiro crescer para depois distribuir a riqueza. A pirâmide social brasileira muda de configuração, com a consolidação de uma robusta classe média capaz de contribuir efetivamente para a manutenção deste ciclo de desenvolvimento. De 2003 até agora, 48,7 milhões de brasileiros ascenderam paras as classes A,B e C, o que equivale a uma África do Sul ou a uma Espanha.

Os mais ricos também crescem, mas o importante é que os mais pobres diminuem. As classes D e E se reduzem e a classe C engorda. O Brasil se torna cada vez mais um país de classe média e precisa continuar avançando sem medo de ser feliz. A mobilidade social implica em mais consumo e é preciso estar preparado para absorvê-lo. O debate não deve ser sobre os riscos de inflação e sim sobre ampliação da capacidade produtiva para gerar mais emprego e renda e atender as aspirações dessa nova leva de brasileiros.

Marcelo Neri não vê qualquer sinal de desaquecimento do aumento da renda, e a população está confiante. O estudo da FGV também revela que os brasileiros são os mais otimistas quanto ao seu futuro. Num ranking de felicidade futura que a FGV elaborou a partir de dados de uma pesquisa mundial do Gallup, de 2009, com 146 países, os brasileiros dão nota média de 8,7 à expectativa de satisfação com a vida em 2014. Quem mais se aproxima dos brasileiros são os jamaicanos, com 8,3.

Este é o país real e não o que se lê diariamente nos noticiários, repleto de futricas políticas, crises artificiais e problemas. Não que o Brasil esteja livre deles. Apesar das melhorias, a desigualdade ainda é gritante e a miséria, por exemplo, continua a existir entre parcela significativa da população (8,5%). A eliminação das desigualdades vai exigir políticas mais transformadoras e para combater a miséria já existe um plano em curso. Que não seja afetado pela pequenez política dos que se preocupam apenas com poder e ganhos e não com a melhoria de vida da população.


Mair Pena Neto. Jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia.
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Contraponto 5647 - "A Universidade e as leis para a comunicação"

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30/06/2011
A Universidade e as leis para a comunicação

A fundamentação existente na Ley dos Médios argentinos tem grande contribuição acadêmica e poderia servir como referência para a Universidade brasileira. Ao invés de infindáveis e insossas discussões sobre “teorias da recepção”, teríamos o pulsar da vida real das nossas sociedades.

Da Carta Maior - 29/06/2011

Passou desapercebido por aqui. Não fosse a menção feita pelo jornalista Eric Nepomuceno, na revista Carta Capital, poucos ficariam sabendo que a Ley de Médios argentina está sendo implantada, apesar da oposição feroz dos grandes grupos de comunicação locais.

No noite de 21 de junho, a presidenta Cristina Kirchner apareceu em rede nacional de televisão para fazer um anúncio capaz de tirar o sono dos controladores monopolistas da radiodifusão. O governo abria, naquela data, uma licitação para a concessão de 220 novas licenças de serviço de audiovisual no país.

Como determina a lei metade dessas concessões será destinada a emissoras privadas e a outra metade dividida entre os governos estaduais, o federal e as organizações sem fins lucrativos. Fórmula encontrada para romper com oligopólio existente hoje na comunicação argentina.

Claro que a mídia comercial brasileira esconde esses avanços e quando fala da Ley de Médios argentina é para atacá-la, chegando habitualmente a taxá-la de censura, quando trata-se exatamente do oposto. Seu papel é o de permitir o acesso aos meios de comunicação de um número muito maior de atores sociais, hoje sem voz.

Mas aos que se opõem à lei interessa a omissão e a desinformação. Para isso usam uma estratégia eficiente: apropriam-se de um símbolo facilmente compreensível, como é a censura, e com ele carimbam a lei, interditando o debate de forma liminar.

A legislação argentina mereceria no Brasil estudos e debates mais sérios e aprofundados. As criticas feitas por aqui são superficiais, ecoando apenas o temor dos controladores da mídia nativa com o possível contágio da experiência vizinha.

Não é levado em conta o formidável trabalho de pesquisa realizado para se chegar ao texto final. Seus 166 artigos não caíram do céu. São resultado de um levantamento minucioso daquilo que existe de mais avançado no mundo, em termos de legislação para área das comunicações.

Dos meios comerciais não se pode esperar nada, além das críticas habituais. Os meios públicos pouco se dedicam ao tema e a internet o trata de forma esporádica. Mesmo as redes sociais, com conteúdos mais críticos, não tem como aprofundar a discussão e acabam, em determinados momentos, dialogando com os grandes meios nos mesmos níveis por eles impostos.

Resta como alternativa a Universidade, teoricamente menos sujeita às imposições externas. Mas parece que, no geral, ela não despertou ou não se interessou pelo assunto. Falo, obviamente, dos setores universitários ainda não cooptados pela grande mídia, propiciadora de cursos e eventos destinados ao conformismo e a alienação.

Fico a pensar na riqueza de um debate não só da Ley de Médios argentina, mas das experiências de democratização das comunicações que vêm sendo articuladas na Venezuela, Bolívia, Equador, Paraguai e Uruguai, por exemplo.

Ao invés de infindáveis e insossas discussões sobre “teorias da recepção”, tão ao gosto dos acadêmicos alinhados com “status quo” da comunicação, teríamos o pulsar da vida real das nossas sociedades.

A Universidade – pública ou privada – repousa sob um tripé formado pelo ensino, a pesquisa e a extensão. Um tema como o aqui proposto atenderia com desenvoltura esses três objetivos.

Colocaria o aluno em contato com a disputa que se trava no continente em torno do papel social da comunicação, deixando mais claro o cenário onde se dará, no futuro, sua atuação profissional.

Propiciaria uma ampliação no campo das pesquisas, necessitadas cada vez mais de interdisciplinaridade. O estudo da comunicação só ganha concretude quando dialoga com o Direito e as Ciências Sociais em geral.

E finalmente, a extensão se daria com a formulação de projetos e propostas capazes de contribuir para o debate político que se trava na sociedade em torno das novas leis para a comunicação.

A fundamentação existente na Ley dos Médios argentinos tem grande contribuição acadêmica e poderia servir como referência para a Universidade brasileira.

A íntegra de Lei de Meios da Argentina está disponível neste endereço: http://www.infoleg.gov.ar/infolegInternet/anexos/155000-159999/158649/norma.htm

*Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

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Contraponto 5646 - “Dilma e eu temos orgulho, mesmo com erros

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30/06/2011
“Dilma e eu temos orgulho, mesmo com erros”


Do Tijolaço - 29/06/2011


Brizola Neto

Carlos Araújo, um dos militantes que construiu o PDT no Rio Grande do Sul e que hoje está afastado da vida pública, noticiam os sites, gravou um depoimento para a novela Amor e Revolução, do SBT. Ex-marido e sempre amigo da presidenta Dilma Rousseff, Araújo é um homem de grande lucidez e coragem pessoal, de quem muito me orgulha a amizade com que nos trata, a mim e a meus irmãos Juliana e Leonel.

Segundo do site SessãoTV.br, dividido em cinco partes, em capítulos sucessivos, seu depoimento está reproduzido abaixo:

Capítulo 65, segunda-feira, 4 de julho

Relação de companheirismo com Dilma – “Eu tenho muito orgulho de ser companheiro da Dilma. Sempre nos identificamos. O nosso bom companheirismo persiste até hoje. Eu sempre fui advogado de gente pobre. Sempre fui uma pessoa de esquerda. Com a ditadura não vi outra saída a não ser partir para a luta armada. Formamos uma organização chamada Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), e praticávamos ações de desapropriação de bancos. Buscávamos dinheiro no banco para comprar armas. Também fizemos algumas ações em quartéis para pegar armas. Praticamos ações sociais também: pegávamos caminhões de carne na Baixada Fluminense e distribuíamos em favelas.”

Capítulo 66, terça-feira, 5 de julho

Prisão de Dilma Rousseff – “A Dilma foi presa em frente ao Jornal O Estado de S. Paulo. Como todos os demais, foi torturada na Oban (Operação Bandeirante). Ela foi condenada por 3 anos e cumpriu toda a pena… A Dilma sente muito orgulho do que fez! Ela não ficou com sequelas. Felizmente. Ela entrou na cadeia nova e saiu nova… Não deixa de ser uma ironia… Eu moro aqui nessa casa na beira do rio em frente à Ilha do Presídio (Porto Alegre), onde fiquei preso por quase um ano.”

Capítulo 67, quarta-feira, 6 de julho

Roubo do cofre de Adhemar de Barros – “Conforme aumentava o número de clandestinos, de pessoas procuradas, tínhamos que planejar ações em bancos e pegar dinheiro para sustentar o pessoal. O Adhemar de Barros tinha o monopólio do jogo do bicho no Rio de Janeiro; não era só São Paulo. Tínhamos a informação de que o dinheiro do jogo do bicho era recolhido mensalmente e levado para a casa de Dona Ana Capriglione, no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, e depois mandado para o exterior. Soubemos disso, fomos lá e pegamos o cofre. Naquela época tinha aproximadamente US$ 2 milhões. O mais interessante é que Dona Ana nunca pôde denunciar nenhum companheiro. Ela sempre negava o roubo. Então, ninguém foi denunciado processualmente por essa ação. É como se não tivesse existido. Dona Ana não podia denunciar… Como ela justificaria o dinheiro?”

Capítulo 68, quinta-feira, 7 de julho

Tentativa de suicídio “Fui pego em São Paulo e me levaram para o Dops. Fui torturado violentamente! Durante o processo de tortura tomei uma decisão: a de me matar. Durante um depoimento eu menti, e disse que tinha um encontro marcado com o Lamarca no dia seguinte pela manhã. Escolhi um lugar que era fácil para me matar: uma avenida da Lapa (Bairro de São Paulo) que passava carros em altíssima velocidade. Eu havia decidido me jogar. E foi o que aconteceu comigo: eu me atirei embaixo de uma Kombi e fiquei bastante ferido. Fiquei no hospital, mas depois de um tempo voltei para a tortura na Operação Bandeirante (Oban).”

Capítulo 69, sexta-feira, 8 de julho

Dilma não participou de ações armadas – “A Dilma não participou de ação nenhuma. Não existe nenhum processo. Ela não participou de nenhuma ação armada porque não era o setor dela. Ela atuava em outros setores. Nos orgulhamos do que fizemos, mas isso não quer dizer que somos desprovidos de uma visão crítica. Tínhamos uma visão idealista que entrava em choque com a realidade. Mas não renunciamos nada; temos orgulho do que fizemos. Mesmo agindo incorretamente, às vezes.”

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Contraponto 5645 - Charge on line do Bessinha

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30/06/2011
Charges do Bessinha (404.405,406)








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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Contraponto 5644 - "Dilma fez um gol na banda larga: Em seis meses de governo,uma negociação com as teles levará a internet ao andar de baixo"

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.29/06/2011

Dilma fez um gol na banda larga:Em seis meses de governo,uma negociação com as teles levará a internet ao andar de baixo


Do Amigos do Brasil - Quarta-feira 29, junho 2011

O GOVERNO DESATOU o nó da expansão do acesso à internet de banda larga em todos os municípios brasileiros. No anedotário de Brasília, essa iniciativa era conhecida como “Xodó 2.0″ de Dilma Rousseff. É boa notícia para ninguém botar defeito. Depois de uma negociação com as operadoras, chegou-se a um acordo pelo qual até 2014 todas as cidades brasileiras terão conexões rápidas. Cumprida a meta, será uma das joias da coroa do atual governo. O serviço, com 1 megabyte de velocidade, custará R$ 35 por mês, ou R$ 29, caso os governos estaduais abram mão da cobrança do ICMS.

A internet brasileira vive num estado de apagão geográfico, social e econômico. De cada quatro municípios, um não tem conexão de cabo. Ela só atende a 27% dos domicílios e, quando o faz, a ligação custa na média R$ 48 por mês, segundo o sindicato das operadoras. Há pelo menos seis anos o governo tentava expandir essa rede, mostrando que ela traça uma linha de exclusão, deixando de fora regiões, bairros e domicílios do andar de baixo.

Embrulhadas na bandeira da infalibilidade do mercado, as operadoras diziam que não havia como investir onde não há retorno. Para resolver esse problema, queriam avançar sobre uma parte dos R$ 9 bilhões entesourados pelo Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações.

Enquanto o governo aceitou passivamente as leis da privataria, o apagão persistiu. Repentinamente, mudou-se a conversa. Se a iniciativa privada não podia fazer o serviço, a Telebrás voltaria ao mercado, fazendo-o. Mais: havia empresas estrangeiras interessadas no negócio. Nesse cenário, as teles ficariam no pior dos mundos, carregando a urucubaca da ineficiência produzida pela ganância. Fez-se um acordo e todo mundo ganha, sobretudo o brasileiro que não tem acesso ao serviço.

Quando o governo faz seu serviço, as coisas acontecem. Em 1995, a Embratel estatal tinha o monopólio do acesso à internet. Havia 30 mil pessoas na fila, e os teletecas prometiam zerá-la no ano seguinte. Era o tempo das estatais que faziam o que bem entendiam. O tucano Sérgio Motta jogou detergente no dilema, liberou o mercado e a rede aconteceu. Passaram-se 11 anos e a situação inverteu-se: as concessionárias privadas fazem o que bem entendem, mas, no caso da banda larga, a ação do Estado induziu-as a mudar seus costumes. Ficam na fila os concessionários de energia elétrica e de transportes.

A conexão de R$ 35 não chegará de uma vez e pode-se temer que venha com velocidades inferiores ao megabyte prometido. (Quem quiser mais velocidade continuará pagando caro, mas esse limite dá para o gasto de um usuário médio.) O que parece ser um problema será uma solução, pois a patuleia ganhará o direito de cobrar. Se a rede não chegar a um bairro ou a um município, o governo ficará na posição de ter feito propaganda enganosa. Se chegar, mas for lenta, a operadora terá que se explicar.

O mais importante está feito: pelas regras do jogo, o brasileiro terá acesso à banda larga, sem estar amaldiçoado por ter pouca renda ou por viver numa localidade pobre. Hoje há 14 milhões de pontos de banda larga no país. Se eles chegarem a 20 milhões, o Brasil encostará nos números franceses de 2009.-Por, Elio Gaspari

Por Helena
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Contraponto 5643 - "O filho da Grande Imprensa"

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29/06/2011

O filho da Grande Imprensa

Da Carta Maior 28/06/2011

Causa espanto que uma imprensa sempre tão ciosa de ter seu direito à liberdade de expressão cassado, censurado, suprimido, tenha de livre e espontânea vontade desistido de divulgar assunto tão mobilizador de corações e mentes como o do "filho de FHC". Quando foi para falar sobre Lurian Cordeiro, filha de Lula, o comportamento foi bem distinto.

Causa espanto a desfaçatez com que a grande imprensa decide tratar, destratar, maltratar ou não tratar assunto que por algum infinitésimo de segundo lhe cause incômodo na esfera política. Refiro-me ao filho adulterino do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com a jornalista Miriam Dutra, então funcionária da Rede Globo de Televisão. A vida do inocente filho sempre foi permeada por mistério, muitos silêncios, excessivas pausas e imoderada paciência em levar a público o que já era de conhecimento de meia Brasília política, de meio país dos mexericos e se podiam contar nos dedos os jornalistas desinformados de paternidade tão noticiada nos bastidores do Poder quanto sigilosa nos meios noticiosos de circulação nacional e de maior audiência radiofônica e televisiva.

Causa espanto a desfaçatez com que a grande imprensa vem, com atraso de 19 anos, dar conta que o filho do experiente político com a renomada jornalista na verdade não é seu filho biológico: dois exames de DNA deram negativo. E o mesmo espanto é estendido à informação de que este filho, mesmo não sendo seu do ponto de vista biológico é assumido plenamente pelo velho patriarca como seu por “laços afetivos e emocionais”. E o assunto somente terá seu capítulo final após sua morte que é quando seus três filhos legítimos com D. Ruth Cardoso irão tratar do sensível tema chamado direito à herança. Até lá, este mais novo desdobramento de uma notícia há tanto tempo vetada de vir à luz pública, não por força de monstruosos sensores, e sim, de decisão editorial envolvendo os principais jornais do eixo Rio-São Paulo, as revistas de maior circulação nacional e as redes de televisão de maior audiência.

Causa espanto a desfaçatez com que a grande imprensa aceitou ser “furada” por uma revista de modesta circulação nacional e, para completar o contraste do furo, de regularidade mensal – a Caros Amigos. E foi em sua edição nº 37, de abril do ano 2000, que o editor de Caros Amigos Palmério Dória publicou a matéria “Por que a Imprensa esconde o filho de oito anos de FHC com a repórter da Globo?”. A revista questionava o silêncio concedido pela grande imprensa ao assunto, e apontava o grave contraste com o estardalhaço com que esta mesma grande imprensa tratara de filhos ilegítimos de outras personalidades do mundo político como Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, não por acaso, também ex-presidentes da República.

Causa espanto que uma imprensa sempre tão ciosa de ter seu direito à liberdade de expressão cassado, censurado, suprimido, tenha de livre e espontânea vontade (editorial) desistido de divulgar assunto tão mobilizador de corações e mentes. Vale registrar que, à época, não foram poucos os jornalistas que se apressaram a não acusar o golpe – no caso o furo protagonizado por Caros Amigos – e deixando claro que o “filho ilegítimo de FHC” se tratava tão-somente de um “assunto pessoal”, desprovido de qualquer “teor jornalístico” e não oferecendo aqueles características basilares que têm o poder de converter a mera informação de bastidor em “notícia capaz de interessar à opinião pública”.

Causa espanto que o assunto, desde seu nascedouro, no caso, desde o nascimento do pequeno Tomás Dutra Schmidt, o tema já se impunha com todos os ingredientes com que uma informação assume ares e jeito de notícia e mesmo assim foi escanteado para o misterioso arquivos dos “assuntos que são, mas não deviam ser notícia”. Tinha a marca da novidade, relevância, importância (por se tratar de filho do Presidente da República); configurava aspectos de raridade (porque não é comum deixar de noticiar a existência de filho ilegítimo de um Presidente da República), trazia a força capaz de atiçar a curiosidade (porque era filho de famosa jornalista da principal rede de televisão do Brasil, a Globo); era, sobretudo, oportuna (porque na campanha eleitoral de 1989, um dos maiores escândalos era nada menos que a existência da jovem Lurian Cordeiro, igualmente filha ilegítima do segundo candidato mais votado à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em resumo, noticiar a existência de Tomás não poderia ser chancelado, sob qualquer hipótese como “evento pouco significativo, banal ou corriqueiro”. Muito menos ainda vir a ser tratada como notícia destinada a passar ao largo do chamado interesse do público. E, no entanto, assim foi tratada. E não apenas pela Rede Globo de Televisão, como também pelo SBT, pela Record e pela Band. Deixou de ser impressa tanto nas páginas de Estado de São Paulo quanto nas de O Globo e da Folha de S.Paulo. Nenhuma emissora de rádio registrou algum locutor dando conta do assunto. E quando se levanta a tese da existência de personalidades premiadas com a blindagem da imprensa é óbvio que esta não surge do nada, do encontro do vento sudeste com o noroeste, do acaso com a mera coincidência. É que existe blindagem mesmo.

Causa espanto que somente no domingo, 15 de novembro de 2009, reportagem da jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo, dava conta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceria oficialmente Tomas Dutra Schmidt como filho. E agregava que “Tomas, que hoje tem 18 anos, nasceu da relação amorosa que FHC teve com a jornalista Mirian Dutra, da TV Globo.”. A jornalista informava ainda que “FHC consultou advogados e viajou na semana passada para Madri -- onde vive a jornalista -- para cuidar do reconhecimento do filho.” Cuidadosa na apuração de suas notícias exclusivas, Mônica Bergamo informava também que “FHC negou a informação e disse que estava na cidade para a reunião do Clube de Madri. Procurada pela Folha, Mirian disse que quem deveria falar do assunto seria ele e a família dele.” Com este punhado de informações parecia que, finalmente, nove anos após a alentada reportagem do jornalista Palmério Dória em Caros Amigos, um dos nossos grandes diários trazia à luz o mais comentado e também o quase-nunca-noticiado segredo da República. Outros veículos de comunicação fizeram o de sempre: repercutiram a notícia sem agregar qualquer nova informação.

É curioso observar como o mexerico, desde o início, recebeu as tintas da autenticidade. Bergamo não deixa margem à dúvidas quanto à paternidade de Tomás: “Tomás, que hoje tem 18 anos, nasceu da relação amorosa que FHC teve com a jornalista Mirian Dutra, da TV Globo.” E escancara nas entrelinhas a quantidade de energia despendida pelo ex-presidente para despistar nossos argutos jornalistas sobre o assunto, quando mesmo há poucos dias de reconhecer oficialmente o filho, na verdade encontrava-se na capital espanhola apenas para atender “a reunião do Clube de Madri”.
Causa espanto, e põe espanto nisso!, as três notas publicadas pela revista Veja (Edição 2223, de 29/6/2011), na coluna Radar, do jornalista Lauro Jardim. São elas:

DNA revelador 1
Dois exames de DNA, o último deles feito no início do ano, deram um desfecho surpreendente a uma história envolta em muita discrição há duas décadas: Tomás, de 19 anos, o rapaz que FHC reconheceu oficialmente como filho em 2009 em um cartório espanhol, não é filho do ex-presidente.

DNA revelador 2
Embora só tenha perfilhado Tomás há dois anos, FHC sempre ajudou a jornalista Miriam Dutra, sua mãe, a sustentá-lo. Como morava entre Portugal e Espanha, para onde Míriam foi enviada pela Globo pouco antes do seu nascimento, Tomás tinha contato com FHC quando o ex-presidente viajava para a Europa - tendo eles se encontrado também várias vezes no Brasil durante a passagem de FHC pela Presidência. A situação, porém, sempre foi envolta em total reserva, quebrada somente com a publicação pela Folha de S.Paulo, em 2009, de uma reportagem sobre o reconhecimento de Tomás.

DNA revelador 3
No ano passado, mesmo sem nenhuma contestação da paternidade, FHC e Tomás, hoje estudando relações internacionais nos EUA, decidiram fazer exames de DNA. Eles foram juntos ao laboratório. Antes, no entanto, FHC disse a Tomás que, qualquer que fosse o resultado, nada mudaria na relação entre os dois. Com o inesperado resultado dos exames em mãos, FHC reafirmou o que dissera. Portanto, nada muda na vida do rapaz no que diz respeito a seu ex-pai biológico.

Nenhuma das notas, com o que agora soa como irônico título “DNA revelador”, revelou algo que capaz de jogar luzes sobre o DNA da nossa grande imprensa: quais os reais motivos para sonegar do público a existência do filho ilegítimo de Fernando Henrique Cardoso? E, se optasse por condensar as três notas em apenas uma, o jornalista poderia ter brindado seus sonolentos leitores com informações como:

(1) Por quê o tratamento desigual concedido aos filhos ilegítimos de outros ex-presidentes da República?

(2) Por quê não buscar alguma declaração de Miriam Dutra sobre a real identidade do pai biológico de Tomás Dutra Schmidt?

(3) Quanto custou a Fernando Henrique Cardoso o peso de tão longevo silêncio por parte de nossa grande imprensa acerca de suas estripulias extramatrimoniais?;

(4) Por quê a revista Veja desconheceu o furo de Caros Amigos – ocorrido com antecipação de no mínimo 9 anos? - e oferece atestado de paternidade do referido furo ao jornal Folha de S.Paulo, que, a bem da verdade, publicou informações da jornalista Mônica Bergamo, apenas em sua edição de 15/11/2009?

Aberta a temporada de celebrações por ocasião dos 80 anos do pai-afetivo, mas não biológico do jovem Tomás, há que se inferir que seria tremendo mau gosto incluir o exame de DNA tão diligentemente divulgado por Lauro Jardim como... parte das comemorações.

Sem dúvida, o assunto que ainda parece longe de ter seu desfecho, oferece ensejo para alentada reflexão do papel de nossa grande imprensa e sua perigosa opção por continuar se equilibrando entre o bom e o mau jornalismo.

Até o momento, o mau jornalismo parece estar ganhando. E de goleada.


*Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil, Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com

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Contraponto 5642 - "A fome e FAO não existem para o conservadorismo"

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29/06/2011

Quando o êxito da diplomacia brasileira se consumou – ancorado, em boa parte, na credibilidade decorrente dos resultados sociais do governo Lula, reconhecimento esse doloroso para a mídia - partiu-se então para tentativas explícitas de desqualificar a escolha do ex-ministro José Graziano da Silva para dirigir o principal organismo voltado à luta contra a fome no mundo.

Omite-se nessa toada de preconceito e preguiça a real dimensão de um deslocamento diplomático importantíssimo, marcado pela rearticulação do G-77, que, afinal deu a vitória a Graziano. O fato é que o grupo dos países pobres e em desenvolvimento (G-77) uniu-se como raras vezes nos últimos anos para viabilizar o resultado que colocou pela primeira vez um brasileiro e um latinoamericano no comando da FAO.

Algo de crucial relevância que escapou ao colunista negligente é que esses países não estavam se opondo apenas aos blindados diplomáticos dos países ricos e protecionistas. Mas, sobretudo, à lógica de uma hegemonia esférica cujo resultado mais reluzente foi o colapso financeiro mundial que gerou 30 milhões de desempregados no planeta e elevou o contingente de famintos a 1 bilhão de pessoas em pleno século 21.

Entre os argumentos arrolados pelos ‘colunismo isento’ para justificar o apequenamento da cobertura listam-se o dito fracasso do Fome Zero e a suposta irrelevância da FAO, fechando-se assim um círculo de ferro no qual se esmaga o protagonista, a instituição e a dinâmica histórica que pode mudá-la.

Duas das mais importantes dificuldades enfrentadas para a implantação do Fome Zero, em 2003, são omitidas por esse raciocínio que mais esconde do que informa.

O Fome Zero, na verdade, enfrentou um cerco brutal dessa mídia que instaurou um ambiente de terceiro turno no país no início do 1º mandato de Lula. Sob o pano de fundo um conservadorismo ferido e virulento, o Fome Zero foi escolhido como alvo preferencial para reverter a derrota da candidatura da direita, recorrendo-se à desqualificação do eleito pelas urnas.

Recorde-se que já durante a campanha, expoentes do tucanato, como o próprio candidato derrotado José Serra, ameaçavam a sociedade com truques correlatos. A ‘argentinização’ do país (leia-se, a mazorca, a desordem’) puniria os eleitores se o escolhido fosse Luiz Inácio Lula da Silva. Era esse o clima. E foi sob esse diapasão que se montou um torniquete político e midiático em torno do Fome Zero.

A própria denominação do principal programa social do novo governo incomodava.

Vamos ser claros: elites, aqui e alhures, jamais aceitaram a existência da fome como expressão da miséria social por elas produzida. Não deixa de ser sintomático, por exemplo, que no seu desdém pela vitória brasileira na FAO, o articulista da Folha, Hélio Schwartsman retome essa negativa classista.

No comentário “FAO e Fome Zero não podem ser chamados de casos de sucesso” (Folha, 28/06), ele sapeca ligeiro: "em 2003 a obesidade já era um problema mais grave que a desnutrição". Ou seja, o Fome Zero, nome fantasia para uma política de segurança alimentar que o país jamais tivera e que hoje é uma questão prioritária no mundo— errara feio no diagnóstico. A fome era uma ficção esquerdista. O governo devia é ter liberado a lipoaspiração no SUS.

O mesmo articulista que revoga a fome en passant visualizou uma pandemia de gripe suína no país em 2009.

No dia 19 de julho, aquecendo os motores para a nova tentativa de colocar Serra na Presidência , o sábio Schwartsman assinava o texto da manchete da Folha, na 1º página: "Gripe suína deve atingir ao menos 35 milhões no país em 2 meses”. No título interno: “Gripe pode afetar até 67 milhões de brasileiros em oito semanas”.

O alarmismo progressivo com tema tão delicado de saúde pública foi duramente criticado pela comunidade médica.

O próprio ombudsman da Folha de então, Carlos Eduardo Lins e Silva, questionaria o jornal em comentário corajoso do dia 26 de julho, com o título: "No limite da irresponsabilidade". Trecho: "‘...A reportagem e principalmente a chamada de capa sobre a gripe A (H1N1) no domingo passado constituem um dos mais graves erros jornalísticos cometidos por este jornal desde que assumi o cargo, em abril de 2008..”.

É do alto desse patrimônio de isenção e rigor jornalístico associado ao elevado senso ético de quem fez da gripe suína uma estratégia de pânico desfrutável pelo ex-ministro da Saúde e então pré-candidato presidencial, José Serra, que se pontifica agora a irrelevância da FAO, do Fome Zero e, naturalmente, da própria fome.

A implicância com a fome não é uma originalidade do pontífice da Barão de Limeira. Quando o médico Josué de Castro (1908-1973) escreveu Geografia da Fome, em 1946, tratando pioneiramente do tema, ele também sofreu pressões para que o título – lançado pela editora O Cruzeiro - fosse substituído por outro mais ameno.

O livro e a militância progressista do autor foram responsáveis pelo exílio que o golpe de 1964 impôs a esse pernambucano ilustre, que por sinal dirigiu a estrutura nascente da FAO e teve duas indicações ao Nobel da Paz. Morreu no exilo, em Paris, em setembro de 1973, depois de ter seu pedido de regresso recusado pelo governo Médici. Não por acaso. O interdito à discussão da fome ganhou selo oficial na ditadura militar, quando a censura vetou inúmeros textos jornalísticos na tentativa de calar a palavra de incisiva contundência.

À censura policial, lembra a pesquisadora Ana Claudia da Silva, em seu artigo "Fome, história de uma cicatriz social", sobreveio a “higienização ideológica”.

Nos anos 70/80, adotou-se oficialmente o termo médico “desnutrição” para descrever o problema, como se a questão de fundo fosse mais de biologia clínica do que de política econômica.

A resistência das elites em admitir a existência de um Brasil mergulhado até o pescoço na insegurança alimentar não hesitaria ainda em recorrer ao argumento do determinismo biológico.

O estigma de um Jeca Tatu anêmico, permanentemente desleixado, inspirado nas idéias de Gobineau, cuidava de atribuir a penúria do homem do campo a ele mesmo. Soa familiar quando se ouve dizer que o Bolsa Família deixa o pobre preguiçoso, como sentenciam alguns tucanos e democratas.

Para resumir: o problema não está sociedade; a fome não tem origem na história, mas biologia. A circularidade do raciocínio reforça a legitimidade do preconceito ainda latejante. Os famintos, afinal, são a causa da fome.

Em 2003, sessenta e três anos depois do lançamento do livro de Josué de Castro, a palavra maldita continuava a carregar esse fardo de uma potente denúncia contra as elites e sua obra. No caso, aquela legada pelo governo cujo candidato tivera o apoio irrestrito da mídia. E mesmo assim fora rechaçado pela opinião pública majoritária.

Foi nesse ambiente que o Fome Zero cometeu alguns erros graves.

O primeiro deles foi de comunicação. A sociedade não foi informada de sua verdadeira natureza abrangente. Sob o cerco da mídia e da hesitação do governo em desfechar um poderoso mecanismo de comunicação de massa, a política de segurança alimentar foi soterrada pelo debate distorcido de um mata-fome imediatista e amador, como a mídia tentou vendê-lo.

Ao contrário do que se cristalizou como sendo a história contada pelos vencedores, o Fome Zero não foi um truque de improviso na trajetória do PT.

Em outubro de 1991, em plena vigência da vaga neoliberal, o Governo Paralelo do PT –criado para fazer oposição propositiva a Collor - apresentou à sociedade a primeira proposta de uma Política Nacional de Segurança Alimentar para o Brasil.

O trabalho foi coordenado pelo agrônomo José Gomes da Silva, pai do agora eleito diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.

Retomava-se ali a importância do Estado e do planejamento na superação dos gargalos do desenvolvimento, sendo a fome caracterizada como o núcleo duro de desequilíbrios históricos, que não seriam superados com respostas assistenciais.

Para assegurar a todos os brasileiros o acesso a uma alimentação suficiente, regular e saudável, o país e a política econômica teriam de mudar. Era o que dizia o Fome Zero, ou melhor, a proposta de Política Nacional de Segurança Alimentar do PT em 1991.

O enfoque do Governo Paralelo tinha como pressuposto que a lógica de mercado, vedete absoluta nos círculos oficiais e midiáticos então, era incapaz de vencer os obstáculos como a concentração de renda, os conflitos fundiários e os desequilíbrios regionais.

A fome era o estuário silencioso dessa correnteza profunda.

A politização do tema evidenciava justamente o oposto da abordagem assistencial que tanto se criticaria, indevidamente, no Fome Zero em 2003.

A primeira proposta nacional de segurança alimentar do PT previa políticas que levassem a um crescimento sustentado, com elevação do emprego; gradativo aumento do poder de compra do salário mínimo; um plano nacional de reforma agrária; medidas de fortalecimento da agricultura familiar; política agroindustrial e políticas de comercialização agrícola, com garantia de preços mínimos e a formação de estoques reguladores.

O projeto do Governo Paralelo do PT preconizava, ademais, inúmeras providências operacionais e políticas consolidadas nos últimos anos. Entre elas, a criação de um marco institucional, uma parceria institucionalizada com a sociedade civil por meio da criação de um Conselho de Segurança Alimentar, o Consea.

Tudo isso estava condensado sob o nome fantasia de Fome Zero lançado em 2003, cuja segunda falha, essa de consequências dramáticas, foi subestimar o sucateamento do Estado brasileiro, após oito anos de administração tucana.

A verdade é que a máquina pública em 2003 não dispunha sequer de um cadastro único da população brasileira miserável.

Em que pese um esforço feito pelo Comunidade Solidária ao final do governo FHC, cada ministério - caso da Saúde, por exemplo,ocupado por Serra - tinha seu próprio cadastro. E controlava sua própria contabilidade de ‘gastos’ sociais, a serviço do titular de cada área, não raros com atritos entre eles.

É conhecido o comentário da atual presidenta Dilma Rousseff sobre o desmonte que encontrou no ministério das Minas e Energia, quando assumiu a pasta em 2003: ‘Tinha 20 motoristas; apenas um engenheiro’.

O PT, portanto, negligenciou seu próprio diagnóstico.

Um Estado recém saído de um ciclo neoliberal não poderia ter recursos materiais e humanos para sustentar uma política de segurança alimentar com a abrangência e a profundidade condensadas no Fome Zero, em 2003.

Acrescente-se a isso o cerco da oligarquia conservadora ao programa.

A concepção original do Fome Zero pressuponha a organização dos beneficiários que, progressivamente, assumiriam o seu controle como antídoto ao clientelismo e à manipulação política. Nada mais democrático. Tal horizonte, porém, atiçado pela mídia, assumiu contornos de ‘semente do chavismo’. Excitaria assim os sucos gástricos do anti-comunismo conservador e da resistência oligárquica – inclusive da Igreja Católica - em abdicar da ‘administração de seus pobres’.

Foi essa pá de cal que exigiria um recuo cirúrgico, com fatiamento do Fome Zero em políticas setoriais, cuja unidade estrutural acabaria sendo retomada apenas no segundo mandato de Lula. Ainda assim, foi preciso uma crise mundial igual ou superior a de 1929 para que as políticas sociais desdobradas do plano original – como a recuperação do salário mínimo, o Bolsa Família, o fortalecimento da agricultura familiar, o reforço a merenda escolar etc - ganhassem legitimidade, funcionando como robusto contrapeso de mercado de massa à contração econômica internacional.

Ao final de 2002, após oito anos de FHC, o IBGE havia divulgado uma pesquisa em que apontava a existência de 54 milhões de brasileiros – mais de um terço da população então – vivendo em estado de penúria, com até meio salário mínimo por mês. Havia fome bruta entre eles, por mais que o colunismo da Folha, sabidório, confunda saciamento e obesidade às custas de comida barata (gordura e refrigerantes) com nutrição e ausência de fome. Agora, em junho de 2011, a Fundação Getúlio Vargas acaba de divulgar um estudo que resume o que se passou após a longa caminhada de regeneração do Estado e das políticas públicas afilhadas do primeiro plano de segurança alimentar criado pelo PT, em 1991, base ao Fome Zero.

A renda per capta dos brasileiros mais ricos, informa a FGV, cresceu 10% na última década; a dos mais pobres aumentou 68%. O ganho de renda dos brasileiros mais ricos foi inferior à média registrada nos demais integrantes do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul). Em contrapartida, o crescimento da renda dos 20% mais pobres só perdeu para a China. No governo Lula, o mercado de consumo incorporou um contingente da ordem de 50 milhões de brasileiros - o equivalente a uma Espanha demográfica.

Foram essas as credenciais que levaram o Brasil e Graziano à direção da FAO. E é a experiência dramática que elas condensam – de erros, acertos e potente sabotagem conservadora - que dão a ele a possibilidade de sacudir a letargia dessa organização, irrelevante, segundo a direita – como irrelevante para ela são todas as instituições que possam se opor à lógica dos livres mercados.

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Contraponto 5641 - "Não deu no Jornal Nacional: déficit da Previdência diminui 58% de abril para maio"

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29/06/2011

Não deu no Jornal Nacional: déficit da Previdência diminui 58%
de abril para maio


Do Brasil Brasil - 29/06/2011

Luciene Cruz, Agência Brasil

“A Previdência Social registrou déficit de R$ 2,419 bilhões em maio. O valor é resultado de uma arrecadação líquida de R$ 19,039 bilhões e de despesa com pagamentos de benefícios previdenciários de R$ 21,459 bilhões. O déficit de maio é 58% menor que o de abril, quando a diferença entre a arrecadação e os pagamentos ficou deficitária em R$ 5,762 bilhões. Em comparação a maio de 2010, o déficit ficou 12,2% menor.

Já no acumulado de cinco meses, o déficit atingiu R$ 17,836 bilhões, com redução de 16,5% ante o resultado negativo de R$ 21,369 bilhões do mesmo período do ano passado. Os dados foram divulgados hoje (28) pelo Ministério da Previdência Social.

O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho, atribuiu a redução do déficit ao aumento da arrecadação. “O crescimento da arrecadação é o mais significativo. O aumento da arrecadação foi 9% real [descontada a inflação] no acumulado de cinco meses, em função do aumento do salário médio e do aumento da formalidade”, disse.

O déficit da Previdência no setor urbano ficou em R$ 1,778 bilhão em maio, maior que o déficit de maio do ano passado, que ficou em R$ 1,223 bilhão – variação de 45,4%. O pagamento de passivos judiciais somou R$ 234,8 milhões. A arrecadação do setor urbano ficou em R$ 18,542 bilhões. As renúncias previdenciárias somaram R$ 1,542 bilhão, enquanto as despesas com benefícios previdenciários registraram R$ 16,763 bilhões.

Em contrapartida, o resultado da Previdência rural ficou deficitário em R$ 4,198 bilhões. A arrecadação líquida rural teve aumento de 9,5% em maio quando comparada ao mesmo mês do ano passado. Foram arrecadados R$ 497,6 milhões. As despesas com benefícios previdenciários rurais somaram R$ 4,695 bilhões. A diferença entre a arrecadação e a despesa gerou necessidade de financiamento para o setor rural de 13,4%, na comparação com abril.”
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Contraponto 5640 - "A Grécia pode sobreviver? A União Europeia pode sobreviver?"


29/06/2011


A Grécia pode sobreviver? A União Europeia pode sobreviver?

Da Carta Maior 28/06/2011

Muitos desejam impor uma austeridade equivalente às sangrias “terapêuticas” medievais. Sustentam que o problema real é a falta de autodisciplina nos países periféricos. E essa ideia é amplamente compartilhada pelas elites desses mesmos países. Essas elites parecem se sentir felizes lançando seus próprios países no abismo da depressão, a fim de desbaratar toda resistência aos cortes salariais e ao fim de todos os programas sociais em favor da população trabalhadora. Essa é sempre a solução preferida pelas elites ignaras. Com este método pretende-se rebaixar os custos salariais nas nações periféricas e tornar a produção mais competitiva. O artigo é de Randall Wray.

Para quem entende a Teoria Monetária Moderna (TMM) sempre foi óbvio que o lançamento da União Monetária Europeia cometeu erros fatais. Sabíamos que na primeira crise financeira e econômica séria, sua própria existência já se veria ameaçada. Em certo sentido, repetiu-se o que ocorreu nos EUA de 1929, às vésperas da Grande Depressão: uma fraude creditícia excessiva, uma excessiva dívida das famílias e das empresas e um boom econômico que durou muito tempo. Qualquer coisa poderia ter disparado a crise que se seguiu, mas foi a descoberta de que a Grécia estava “cozinhando” sua contabilidade o que selou o destino da Eurolândia. E como nos EUA pós-1929, a Eurolandia luta para compreender e para lidar com a crise. Neste momento, desliza rumo a outra grande depressão.

Muitos economistas e autoridades políticas – inclusive alguns suficientemente ortodoxos – começam a reconhecer que o obstáculo atravessado no caminho é a incapacidade para armar uma resposta em termos de política fiscal efetiva. Essa incapacidade nasce da ausência de uma autoridade fiscal em nível europeu. Daí as “semi-medidas” tomadas pelo BCE e outras autoridades para pôr remendos no problema da dívida.
Há um conflito entre as autoridades a respeito da solução do problema, como não poderia ser diferente, dada a ausência de uma autoridade fiscal.

Muitos desejam impor uma austeridade equivalente às sangrias “terapêuticas” medievais. Sustentam que o problema real é a falta de autodisciplina nos países periféricos. E essa ideia é amplamente compartilhada pelas elites desses mesmos países. Essas elites parecem se sentir felizes lançando seus próprios países no abismo da depressão, a fim de desbaratar toda resistência aos cortes salariais e ao fim de todos os programas sociais em favor da população trabalhadora. Essa é sempre a solução preferida pelas elites ignaras. Com este método pretende-se rebaixar os custos salariais nas nações periféricas e tornar a produção mais competitiva.

Essa é também, cabe dizer, a posição dos membros mais poderosos da União Europeia. A prudente Alemanha segurou os salários durante a década passada, fazendo disparar a produtividade. Conseguiu assim converter-se no país com o menor custo de produção na Europa e, passo a passo, pode chegar mesmo a competir com a Ásia. Não na produção baseada em trabalho intensivo barato, mas sim na produção do setor exportador de alto valor agregado.

E essa é também a perspectiva mais comum entre as classes trabalhadoras nos países centrais que compartilham o prejuízo de populações periféricas tanto ociosas como "exageradamente" remuneradas. Mais assombroso ainda que a falsidade dessa atitude é o fato de que se a sangria fiscal e o corte dos salários forem efetivamente implementados nos países periféricos, não demorará para que fábricas comecem a sair da Alemanha, buscando trabalhadores menos custosos. Em outras palavras, o êxito da periferia seria a custa dos trabalhadores alemães que teriam que aceitar salários mais reduzidos para poder competir. O que de todo o modo ocorrerá, estimulado pela perda de postos de trabalho, se a Alemanha não conseguir encontrar mercado para seus produtos fora da União Europeia, onde a demanda cairá indefectivelmente a medida que as nações periféricas mergulhem ainda mais na depressão. O resultado será uma bonita corrida rumo ao abismo, da qual só se beneficiará a elite europeia. Muito bonito.

Para dizer de modo claro, eu não creio que a União Europeia possa chegar a sugar sangue suficiente dos gregos (e dos espanhóis, italianos, irlandeses e portugueses) para que isso possa funcionar. Seria muito mais razoável agora um aumento salarial na Alemanha para conseguir competitividade dentro da União Europeia pela via de elevar o nível geral. Mas tampouco isso parece provável, levando em conta que a Alemanha olha para além das fronteiras europeias, sobretudo na direção do Leste. Por conseguinte, seguirá empenhada em cortar seus próprios custos trabalhistas, e as nações periféricas nunca conseguirão arrastar a Alemanha para um desfiladeiro comum.

Isso deixa somente duas alternativas. A primeira é uma reestruturação contínua da dívida, com compras do Banco Central Europeu (BCE) pela porta traseira (permitindo que os bancos centrais nacionais comprem a dívida) e com garantias e empréstimos do próprio BCE. Tudo na esperança de que as instituições financeiras portadoras de toda a dívida pública periférica possam, ou bem retirá-la de sua contabilidade, ou bem servir-se do método norteamericano de ir propondo o ajuste na baixa de seus balanços, alargando indefinidamente o processo de ajuste para não reconhecer sua insolvência. O problema é que quase todos os dados econômicos das últimas semanas são ruins – em praticamente todo o mundo – o que torna mais provável que se produza algum tropeço em algum lugar e que isso se propague através dos mercados financeiros tão rapidamente como ocorreu na Crise Financeira Global de 2007.

Muitos bancos europeus ficaram com as nádegas de fora como insolventes sem remédio e a dívida pública dos PIIGs (Portugal, Irlanda, Itália e Grécia) será um problema adicional. O BCE está legitimamente preocupado com os “precedentes” e com os “efeitos de incentivos”. Não se trata das normas reguladoras do que o BCE pode ou não fazer: tem tanta permissão como a Federal Reserve para intervir em uma crise e comprar ou emprestar em troca de praticamente qualquer tipo de ativo. Trata-se daquilo que o BCE entende ser a sua independência. Os mercados veriam um resgate de estilo norteamericano do sistema financeiro europeu (com garantia da dívida pública das distintas nações, por acréscimo) como uma perda da independência. O certo é que o BCE já a entregou, mas se agarra à esperança de poder recuperar de algum modo a virgindade perdida.

Isso deixa somente uma terceira possibilidade: criar a necessária autoridade fiscal. Isso permitiria ao BCE limitar-se à política monetária, cedendo ao Tesouro europeu as rendas para lidar com a crise. Venho sustentando desde 1996 que este é o único caminho para tornar viável o projeto da UE. A teoria econômica subjacente a esse ponto de vista é simples e é a que vale em todos os países desenvolvidos. Com efeito, os EUA são, na verdade, uma União Monetária Norteamericana, mas uma união monetária bem constituída, que dispõe de um Banco Central e de um Tesouro. No entanto, por razões políticas, isso não vai ocorrer na União Monetária Europeia. Estamos agora ainda mais longe disso do que estávamos em 1996, porque a crise fez crescer a hostilidade entre seus membros. Ninguém quer ceder poderes ao centro.

Assim, pois, nada disso vai acontecer. O que resta? Sair da união.

(*) Randall Wray é Professor de Economia da Universidade de Missouri, Pesquisador Sênior do Center for Full Employment and Price Stability, Pesquisador visitante da Jerome Levy Economics Institute da Bard College, Ex-Presidente da Association for Institutionalist Thought (AFIT) e ex-Diretor da Association for Evolutionary Economics (AFEE). Possui Doutorado e Mestrado em Economia pela Universidade de Washington. É autor de diversos livros e artigos na área econômica.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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Contraponto 5639 - "Pré-sal: Petrobras anuncia maior descoberta na Bacia de Campos"

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.29/06/2011

Pré-sal: Petrobras anuncia maior descoberta na Bacia de Campos

Plataforma em Campos (RJ)

Do Vermelho - 28 de Junho de 2011 - 17h0

Um consórcio formado pela Petrobras e pelas empresas Repsol Sinopec e Statoil anunciou nesta terça-feira (28) a descoberta de um novo reservatório em águas ultraprofundas na Bacia de Campos. Segundo nota divulgada pela estatal brasileira, trata-se da maior descoberta na camada pré-sal de Campos.

A espanhola Repsol Sinopec é a operadora do consórcio, com 35% de participação. A norueguesa Statoil tem 35% e a Petrobras, 30%. Entre março e abril deste ano, as empresas comunicaram às autoridades brasileiras haver de indícios de hidrocarbonetos na área.

O poço exploratório, conhecido como Gávea, está localizado a 190 quilômetros da costa do Rio de Janeiro e tem uma profundidade total de 6.851 metros. Foi perfurado pelo navio sonda de última geração Stena Drillmax I, em águas de 2.708 metros e atingiu a profundidade final de 6.851 metros, disse a Petrobras.

Segundo a estatal, foram descobertos "dois níveis de petróleo de boa qualidade no poço”, e o óleo é considerado de boa qualidade. “Esta descoberta é a principal realizada no pré-sal da Bacia de Campos", diz nota no site da Petrobras. O consórcio está analisando os resultados obtidos no poço, antes de continuar com o processo de exploração e avaliação da área.

Até o momento, o chamado Parque das Baleias é o maior reservatório do pré-sal da bacia de Campos, com estimativa de reservas de 3,5 bilhões de barris de petróleo equivalente após a abertura de seis poços, segundo a Petrobras. Só nos dois primeiros poços abertos estimava-se uma reserva de 1,5 bilhão a 2 bilhões de barris de petróleo equivalente.

De acordo com o comunicado pela Petrobras, o consórcio analisa os resultados do óleo extraído do poço antes de dar continuidade ao trabalho de exploração e avaliação da área.

A Repsol Sinopec é a companhia estrangeira líder em direitos de exploração nas Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, participando em 16 blocos, dos quais é operadora em seis. A descoberta no poço Gávea ocorre num momento em que a Repsol, como outras companhias do setor, centram foco na pesquisa de petróleo em lugares onde a extração é mais difícil, como águas profundas.

Teste de longa duração

A Petrobras anunciou também o início hoje da produção de petróleo na área de Aruanã, na Bacia de Campos. Por enquanto, segundo a empresa, a produção está sendo usada para teste de longa duração (TLD), que vai avaliar o potencial e as condições do reservatório e do petróleo daquele bloco. Só depois do TLD, que deve durar seis meses, o campo começa a produzir em escala comercial.

O teste está a cargo da plataforma FPSO Cidade de Rio das Ostras, que vai extrair petróleo da camada pós-sal. Durante o TLD, serão produzidos 12 mil barris de óleo por dia. Os testes preliminares, que antecederam o TLD, mostraram que essa área tem um óleo de 27º API e volumes recuperáveis de 280 milhões de barris.

O bloco fica entre os campos de Pampo e Espadarte, no sul da Bacia de Campos, localizado entre 350 metros e 1,5 mil metros de profundidade de água.

Da Redação, com agências
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Contraponto 5638 - "Mercosul quer Bolívia e Equador, diz Patriota"

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29/06/2011

Mercosul quer Bolívia e Equador, diz Patriota

Do Amigos do Brasil - Terça-feira 28, junho 2011

O ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que o Mercosul pretende convidar a Bolívia e o Equador a ingressar no bloco.

“Existe um sentimento de que talvez tenha chegado o momento para uma aproximação maior com potenciais candidatos a membros plenos do Mercosul, e dois países surgiram no radar: Bolívia e Equador”, disse o ministro, em entrevista coletiva, na capital paraguaia, onde particiá da 41ª Cúpula do Mercosul.

Bolívia, Equador, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela já são Estados associados do Mercosul. A Venezuela depende apenas do aval do Congresso paraguaio para ingressar no bloco como membro pleno.

Uma delegação do Mercosul deve visitar em breve a Bolívia e o Equador para discutir a viabilidade do ingresso de ambos. Os dois países manifestaram interesse em pertencer ao bloco.

A presidente Dilma Rousseff chega em Assunção na noite desta terça-feira para cúpula do Mercosul.

Ele aproveitará para fazer uma reunião bilateral com o governo do Paraguai, quando assinará atos de cooperação nas áreas de segurança, pesca e de televisão digital.

É o primeiro encontro de Dilma com o presidente paraguaio, Fernando Lugo, após o Brasil aprovar o aumento nos valores pagos ao Paraguai pelo uso da energia da usina hidrelétrica de Itaipu. (Com informações da BBC Brasil)

Contraponto 5637 - "Olívio Dutra, o anti-Palocci"

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29/16/2011

Olívio Dutra, o anti-Palocci

D0 Viomundo - 28/06/2011

por Lucas Azevedo, de Porto Alegre, em CartaCapital

Em um velho prédio numa barulhenta avenida de Porto Alegre, em companhia da mulher, vive há quatro décadas o ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra. Em três ocasiões, Dutra abandonou seu apartamento: nas duas vezes em que morou em Brasília, uma como deputado federal e outra como ministro, e nos anos em que ocupou o Palácio do Paratini, sede do governo gaúcho. Apesar dos diversos cargos (também foi prefeito de Porto Alegre), o sindicalista de Bossoroca, nos grotões do Rio Grande, leva uma vida simples, incomum para os padrões atuais da porção petista que se refastela no poder.

No momento em que o PT passa por mais uma crise ética, dessa vez causada pela multiplicação extraordinária dos bens de ex-ministro Palocci, Dutra completou 70 anos. Diante de mais uma denúncia que mina o resto da credibilidade da legenda, ele faz uma reflexão: “Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade”.

De chinelos, o ex-governador me recebe em seu apartamento na manhã de terça-feira 14. Sugeriu que eu me “aprochegasse”. Seu apartamento, que ele diz ter comprado por meio do extinto BNH e levado 20 anos para quitar, tem 64 metros quadrados, provavelmente menor do que a varanda do apê comprado por Palocci em São Paulo por módicos 6,6 milhões de reais. Além dele, o ex-governador possui a quinta parte de um terreno herdado dos pais em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, e o apartamento térreo que está comprando no mesmo prédio em que vive. “A Judite (sua mulher) não pode mais subir esses três lances de escada. Antes eu subia de dois em dois degraus. Hoje, vou de um em um.” E por que nunca mudou de edifício ou de bairro? “A vida foi me fixando aqui. E fui aceitando e gostando”.

Sobre a mesa, o jornal do dia dividia espaço com vários documentos, uma bergamota (tangerina), e um CD de lições de latim. Depois de exercer um papel de destaque na campanha vitoriosa de Tarso Genro ao governo estadual, atualmente ele se dedica, como presidente de honra do PT gaúcho, à agenda do partido pelos diretórios municipais e às aulas de língua latina no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “O latim é belíssimo, porque não tem nenhuma palavra na sentença latina que seja gratuita, sem finalidade. É como deveria ser feita a política”, inicia a conversa, enquanto descasca uma banana durante seu improvisado café da manhã.

Antes de se tornar sindicalista, Dutra graduou-se em Letras. A vontade de estudar sempre foi incentivada pela mãe, que aprendeu a ler com os filhos. E, claro, o nível superior e a fluência em uma língua estrangeira poderiam servir para alcançar um cargo maior no banco. Mas o interior gaúcho nunca o abandonou. Uma de suas características marcantes é o forte sotaque campeiro e suas frases encerradas com um “não é?” “Este é o meu tio Olívio, por isso tenho esse nome, não é? Ele saiu cedo lá daquele fundão de campo por conta do autoritarismo de fazendeiro e capataz que ele não quis se submeter, não é?”, relembra, ao exibir outra velha foto emoldurada na parede, em que posam seus tios e o avô materno com indumentárias gaudérias. “É o gaúcho a pé. Aquele que não está montado no cavalo, o empobrecido, que foi preciso ir pra cidade e deixar a vida campeira”.

Na sala, com exceção da tevê de tela plana, todos os móveis são antigos. O sofá, por exemplo, “tem uns 20 anos”. Pelo apartamento de dois quartos acomodam-se livros e CDs, além de souvenires diversos, presentes de amigos ou lembrança dos tempos em que viajava como ministro das Cidades no primeiro mandato de Lula.

Dutra aposentou-se no Banrisul, o banco estadual, com salário de 3.020 reais. Somado ao vencimento mensal de 18.127 reais de ex-governador, ele leva uma vida tranquila. “Mas não mudei de padrão por causa desses 18 mil. Além do mais, um porcentual sempre vai para o partido. Nunca deixei de contribuir”.

Foi como presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em 1975, que iniciou sua trajetória política. Em 1980, participou da fundação do PT e presidiu o partido no Rio Grande do Sul até 1986, quando foi eleito deputado federal constituinte. Em 1987, elegeu-se presidente nacional da sigla, época em que dividiu apartamento em Brasília com Lula e com o atual senador Paulo Paim, também do Rio Grande do Sul. “Só a sala daquele já era maior do que todo esse meu apartamento”.

Foi nessa época que Dutra comprou um carro, logo ele que não sabe e nem quer aprender a dirigir. “Meu cunhado, que também era o encarregado da nossa boia, ficava com o carro para me carregar.” Mas ele prefere mesmo é o ônibus. “Essa coisa de cada um ter automóvel é um despropósito, uma impostura da indústria automobilística, do consumismo”. Por isso, ou anda de carona ou de coletivo, que usa para ir à faculdade duas vezes por semana.

“Só pra ir para a universidade, gasto 10,80 reais por dia. Como mais de 16 milhões de brasileiros sobrevivem com 2,30 reais de renda diária? Este país está cheio de desigualdades enraizadas”, avalia, e aproveita a deixa para criticar a administração Lula. “O governo não ajudou a ir fundo nas reformas necessárias. As prioridades não podem ser definidas pela vaidade do governante, pelos interesses de seus amigos e financiadores de campanha. Mas, sim, pelos interesses e necessidades da maioria da população”.

O ex-governador lamenta os deslizes do PT e reconhece que sempre haverá questões delicadas a serem resolvidas. Mas cabe à própria sigla fazer as correções. “Não somos um convento de freiras nem um grupo de varões de Plutarco, mas o partido tem de ter na sua estrutura processos democráticos para evitar que a política seja também um jogo de esperteza”.

Aproveitei a deixa: e o Palocci? “Acho que o Palocci fez tudo dentro da legitimidade e da legalidade do status quo. Mas o PT não veio para legitimar esse status quo, em que o sujeito, pelas regras que estão aí e utilizando de espertezas e habilidades, enriquece”.

E o senhor, com toda a sua experiência política, ainda não foi convidado para prestar consultoria? Dutra sorri e, com seu gestual característico, abrindo os braços e gesticulando bastante, responde: “Tem muita gente com menos experiência que ganha muito dinheiro fazendo as tais assessorias. Mas não quero saber disso”.

Mas o senhor nunca recebeu por uma palestra? “Certa vez, palestrei numa empresa, onde me pagaram a condução, o hotel e, depois, perguntaram quanto eu iria cobrar. Eu disse que não cobro por isso. Então me deram de presente uma caneta. E nem era uma caneta fina”, resumiu, antes de soltar uma boa risada.

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