terça-feira, 21 de junho de 2011

Contraponto 5586 - "As lições do caso Palocci"



Gostei dessa matéria do Valor Econômico de hoje. Ela me dá novas esperanças sobre o governo Dilma.

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http://www.valoronline.com.br/impresso/politica/100/444147/dilma-surpree...

Governo: Presidente demonstra abertura para negociar e convoca ministros para auxiliar relação com Congresso

Dilma surpreende governadores na articulação

Cristiano Romero | De Brasília
20/06/2011

"Senhores: os senhores têm problemas e eu também." Com esta frase, a presidente Dilma Rousseff abriu o café da manhã com governadores do Norte e do Nordeste na quarta-feira, no Palácio da Alvorada, inaugurando nova fase do seu governo. Apesar da sinceridade, fez o introito sem ser rude, com bom humor, surpreendendo, inclusive, governadores de oposição.

A celeridade com que o café da manhã foi agendado chamou a atenção. Os governadores se reuniram na terça-feira, em Brasília, em clima de rebelião. Preocupados com a proposta de reforma tributária em gestação no Ministério da Fazenda e com o andamento no Congresso de projetos que afetam negativamente as finanças estaduais, elaboraram um documento - a Carta de Fortaleza - com uma lista de reivindicações.

Durante o dia, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, acompanhava a reunião por meio de telefonemas a governadores do PT. No fim da tarde, a presidente telefonou para o aliado e amigo Jaques Wagner, governador da Bahia (PT), para informá-lo de que, a partir dali, a interlocução seria conduzida pela ministra da Coordenação Política, Ideli Salvati, recém-empossada. Acertou também que a ministra encontraria os governadores à noite, durante jantar na sede da representação do governo do Ceará em Brasília.

Ideli foi ao evento com a missão de convidar os governadores para tomar café da manhã com a presidente no dia seguinte, no Alvorada. O gesto, inesperado, mostrou agilidade, senso de oportunidade e uma novidade: o interesse da presidente em sair do isolamento que caracterizou os primeiros cinco meses de sua gestão e tratar pessoalmente de questões políticas.

Para os conhecedores da liturgia de Brasília, a opção pelo café da manhã revelou a tática de desarmar espíritos. "Café da manhã é quase uma coisa íntima. Almoço é para fora, para o público", elogiou um governador aliado. "Ela foi muito rápida. O pessoal chegou na terça-feira, ela resolveu abrir a agenda na quarta e liderou um diálogo muito positivo."

Governadores de oposição ficaram particularmente satisfeitos com a iniciativa de Dilma. "Só de entrar aqui [no Palácio da Alvorada] já estou gostando", comentou a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM), ao chegar à residência oficial da presidente. "Mudei minha opinião sobre essa mulher", confidenciou, após o encontro, o vice-governador de Alagoas, José Thomaz Nonô (PSDB). "Não ficou nada sem falar. Ela demonstrou saber de tudo o que estava se discutia na mesa", observou outro tucano, o governador do Pará, Simão Jatene.

Durante a conversa, a presidente ouviu pacientemente queixas e preocupações, mas aproveitou também para falar de suas dificuldades. Uma delas, contou um participante, é "combater a inflação sem derrubar o PIB (Produto Interno Bruto)".

A "nova" Dilma nasceu da crise que resultou na demissão de seu principal ministro (Antônio Palocci, da Casa Civil) e na maior derrota sofrida por ela, até agora, no Congresso - a votação do Código Florestal. Não se trata de uma transformação completa, está longe disso, mas já mostra uma presidente menos ressabiada com parlamentares e mais próxima da articulação política.

Um governador ressalva que o encontro de quarta-feira deu certo porque, ali, o ambiente era favorável a Dilma. Os assuntos eram originalmente técnicos, embora tivessem forte repercussão política. "Era quase uma reunião de CEOs [sigla em inglês de Chief Executive Officer]", comentou o interlocutor, acrescentando, no entanto, que Dilma começou a demonstrar qualidades políticas. "Ela disse: 'Vamos ver onde podemos nos solidarizar'".

Nos primeiros meses de governo, Dilma se isolou no Palácio do Planalto, delegando inteiramente a articulação política a Palocci. Na verdade, lembra um aliado, o controle político do ex-ministro começou já na campanha eleitoral. O modelo alienou a presidente da classe política e deu a Palocci um enorme poder, embora menor, dizem hoje aliados de Dilma, do que ele imaginava ter.

"Ela tinha e tem essa tendência [ao isolamento]. O Palocci exacerbou essa tendência para ser o interlocutor único e exclusivo dela", critica um auxiliar da presidente.

Dilma não tem paciência para colóquios com deputados e senadores. Logo no início do mandato, mandou avisar que não receberia políticos do chamado "baixo clero". E considerava o influente líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), representante desse grupo. Foi com essa postura que ordenou a Palocci que telefonasse ao vice-presidente Michel Temer, ameaçando demitir ministros do PMDB caso o partido votasse contra o governo no Código Florestal.

Se Palocci realmente tivesse poder, explicam governistas, não teria telefonado para Temer. Em vez disso, teria convencido Dilma a desistir da ameaça ou, no limite, recusado a missão. Já enfraquecido por causa da crise deflagrada pela revelação de seu patrimônio pessoal, o ex-ministro cumpriu a ordem, aumentando a gravidade da turbulência.

"Aquilo mostrou o erro terrível dessa estratégia isolacionista. O Palocci nunca poderia ter envolvido o Temer nessa bravata, afinal, ele é a âncora que a gente tem para, numa crise com o PMDB, chamar e dizer: 'Michel, nos ajude agora'", critica um integrante do governo.

Agora, Dilma, mesmo sem ter mudado suas preferências, está entrando na articulação. Mudou o tom e o comportamento. Está afável, bem-humorada, controlando a rispidez. Um aliado conta que reunir-se com senadores, como ela tem feito seguindo recomendação do ex-presidente Lula, é um "esforço porque ela não gosta".

"A entrada dela na vida política cotidiana é um processo. Ela já está migrando para uma posição mais razoável, do jeito dela", afiança um político próximo da presidente. "Ela tem uma preocupação correta em blindar o erário, exigir conduta no preenchimento dos cargos, mas não pode governar sem política. E isso passa pela cessão de espaços a aliados", diz um governador.

Ao escolher os substitutos de Palocci e Luiz Sérgio, a presidente não ouviu os partidos aliados e contrariou principalmente seu partido. Evitou nomear, para a articulação política, um deputado do PT para não arbitrar a disputa intestina em curso na bancada petista da Câmara. Rejeitou também a hipótese de convidar um deputado de outro partido da base, para evitar "desequilíbrios".

Como as ministras Gleisi Hoffman e Ideli Salvati têm pouca experiência política e não têm trânsito na Câmara, já se avalia no governo a possibilidade de criação de uma força-tarefa de ministros e deputados influentes para ajudar na articulação. O grupo seria composto por Paulo Bernardo (Comunicações), Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Édison Lobão (Minas e Energia) e Fernando Bezerra (Integração Nacional).

Na Câmara, a ideia é recorrer a deputados como João Paulo Cunha, ex-presidente da Casa que tem trânsito nas bancadas. O grupo não se reuniria em torno de Dilma, que está mais aberta aos políticos mas nem tanto assim, mas ao lado de Ideli.

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Um comentário :

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