segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

BLOGUEIRO NO ESTALEIRO

.
30/01/2017




BLOGUEIRO NO ESTALEIRO

TENTAREMOS VOLTAR AMANHÃ

Resultado de imagem para GRIPE
.

.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Nº 20.809 - "Doria e Eike, 'amigos desde criança': Síntese da hipocrisia da elite brasileira; vídeo imperdível"

29/01/2017

Doria e Eike, “amigos desde criança”: Síntese da hipocrisia da elite brasileira; vídeo imperdível

Do Viomundo - 28 de janeiro de 2017 às 12h58

doriaeike

Imperdível: João Doria Jr entrevista Eike Batista
Na manhã de anteontem (26), a Polícia Federal foi cumprir o mandado de prisão contra o dono do grupo EBX, Eike Batista, e ele já estava em algum outro lugar do mundo. O mandado, porém, havia sido expedido pelo juiz Marcelo Bretas no dia 13.
Mas isso não vem ao caso, convenhamos, afinal a Polícia Federal da dupla Temer/Alexandre de Moraes é absolutamente séria e comprometida com a Lava Jato.
O que vem ao caso é uma entrevista histórica feita, em 2011, pelo atual prefeito de São Paulo, João Doria Jr (PSDB), com o então homem mais rico do país e um dos mais ricos dos mundo.
Ele mesmo, o sir Eike Batista.
Logo na primeira parte da conversa, Doria se desmancha em elogios não só a Eike, como também a Sérgio Cabral, que, segundo o prefeito cinza seria seu “amigo desde de menino”.
Será que o prefeito já foi ao menos visitá-lo em Bangu? Doria deve essa ao Cabral.
Num momento de entusiamo da entrevista, Doria ainda diz: “O Rio é do Brasil e o Eike também é do Brasil!”, E ainda concorda com Eike que “cinco anos foram o suficiente para mudar sua opinião sobre o ex-presidente Lula”.
Ou seja, que aquele a quem ele chama hoje de cara de pau, era um cara legal.
Não deixe de assistir.
Essa entrevista é a síntese do comportamento doentio da nossa elite.
Amigos, amigos, negócios à parte.
Hoje, Doria faz de conta que não teve negócios com Eike e Cabral. E que também não foi amigo deles.
Leia também:
.

Nº 20.808 - " CIRO: ELEIÇÃO DE EUNÍCIO PARA PRESIDÊNCIA DO SENADO SERIA UMA 'VERGONHA' "


29/01/2017


CIRO: ELEIÇÃO DE EUNÍCIO PARA PRESIDÊNCIA DO SENADO SERIA UMA “VERGONHA”


Brasil 247 - 29 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 16:38



Eventual candidato à presidência da República pelo PDT, o ex-ministro Ciro Gomes (CE) afirmou que, se o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) se eleger presidente do Senado será "uma prova de que há uma maioria de corruptos dominando o Brasil"; o comentário foi feito após as denúncias sobre a fortuna do peemedebista; o segundo senador mais rico no exercício do cargo, com um patrimônio declarado de R$ 99 milhões em 2014; o parlamentar também foi citado nas delações da Lava Jato por dois executivos de diferentes empresas

Ceará 247 - O ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) considera uma "vergonha" que os senadores venham a eleger Eunício Oliveira (PMDB-CE) para presidência do Senado Federal. Após matéria divulgada hoje na imprensa sobre a fortuna do senador, Ciro Gomes comentou a denúncia em sua página no Facebook. "Vergonha a maioria dos senadores elegerem uma figura destas para a presidência. Prova de que há uma maioria de corruptos dominando nosso País".

Até o momento, Eunício é o favorito para suceder Renan Calheiros na presidência do Senado, com o apoio do Palácio do Planalto. A eleição será na próxima quarta-feira (1º).

Eunício Oliveira é o segundo senador mais rico no exercício do cargo, com um patrimônio declarado de R$ 99 milhões em 2014. Parte da fortuna de Eunício Oliveira foi ampliada por meio de negócios com o governo federal, enquanto exercia funções públicas. As duas principais empresas do peemedebista têm contratos de R$ 703 milhões com bancos controlados pela União.

As empresas Confederal e Corpvs, controladas pela holding Remmo Participações, na qual o senador tem 99% de controle, têm contrato com o Banco do Brasil, no valor de R$ 542,8 milhões por serviços contratados em dez Estados e no DF, entre 2015 e 2019. A Caixa, que tem parte da cúpula loteada pelo PMDB, vai desembolsar outros R$ 147 milhões entre 2011 e 2019. O Banco Central fechou outro contrato, de R$ 14 milhões, entre 2014 e 2017. Somam-se a essas cifras os valores pactuados com diversos outros órgãos da administração direta, a exemplo do Ministério da Saúde e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que renderam R$ 70 milhões à Confederal nos últimos dois anos.

Entre 2010 e 2014, o patrimônio declarado por Eunício quase triplicou. Em 2010, quando concorreu ao Senado, ele reportou à Justiça eleitoral ter bens de R$ 36,7 milhões, valor que saltou para os R$ 99 milhões informados quatro anos depois, época da campanha derrotada ao Governo do Ceará.

Além de questionar a fortuna de Eunício Oliveira, as matérias divulgadas hoje, também relembram que o senador é citado em delações da Lava Jato pelo ex-diretor da Hypermarcas Nelson Mello e pelo executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho.

.

Nº 20.807 - "Sob Temer, os mais pobres desistem do celular"


..
29/01/2017

Sob Temer, os mais pobres desistem do celular



Brasil 247- 28 de Janeiro de 2017


Brazil Photo Press/CON


Tereza Cruvinel


A recessão da era Temer-Meirelles já ampliou o desemprego, tirou o Bolsa-Familia de 1,5 milhão de famílias, reduziu o acesso aos planos de saúde, ao ensino privado e aos aviões, cortou milhares de aposentadorias por invalidez e auxílios-saúde.

Agora, mais uma revelação sobre o retrocesso social: os brasileiros estão falando menos ao célular, depois do exuberante crescimento do número de linhas e aparelhos no país nos últimos anos.  Em 2016 houve uma redução de 5,33% na base de clientes das telefônicas, com perda de 13,747 milhões de linhas.  Segundo a Anatel, esta involução na conectividade dos brasileiros foi mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste.

Os mais pobres, que sempre se valeram mais de linhas pré-pagas, foram os que mais desistiram do celular, com uma redução de 10,7% no número de linhas ativas.   Quando um usuário cadastrado deixa de alimentar seu celular com créditos por período prolongado, tem a linha desligada pela operadora, acabando com a modalidade “pai de santo”, o celular que só recebe chamadas e nada rende para as telefônicas.  A modalidade pós-pago, mais utilizada pelas camadas de maior renda, até passou por uma expansão moderada. Oi, Claro e Tim foram as que mais perderam clientes, enquanto a Telefônica Vivo manteve sua base estável.  O número de celulares fixos continuou caindo, mas esta é uma tendência mais ditada pela tecnologia do que pela crise.


Tereza Cruvinel. Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
.

Nº 20.806 - "Temer será a vingança de Marcelo Odebrecht por ter sido obrigado a delatar?"


29/01/2017

Temer será a vingança de Marcelo Odebrecht por ter sido obrigado a delatar?


Do Tijolaço · 29/01/2017


marcelotemer


por FERNANDO BRITO


Avolumam-se as informações de que Michel Temer terá presença marcante na delação de Marcelo Odebrecht e na de alguns diretores que se sentem ainda ligados ao antigo e deposto chefe da empreiteira.

É coerente com a misteriosa nota publicada  por Lauro Jardim sobre o rompimento entre Marcelo e o pai, Emílio, a mãe, Regina e os irmãos.

Marcelo, que não tinha ilusões do que o aguardava com Sérgio Moro, preferia aguardar a ida de seu caso a tribunais superiores, aos quais irá agora como confesso.

O clã achou melhor perder muitos anéis e conservar os dedos, iniciando um processo de alienação da empresa.

Marcelo Odebrecht, porém, o único que purgou cadeia –  e 19 meses, não é pouco –  entendeu que o que se queria dele – denúncias contra Dilma e Lula – manteria o caso exclusivamente nas mãos de Moro.

E resolveu atirar mais em cima, em Temer e seus Ministros.

Não quer sair de “big boss” de um esquema de décadas, que herdou na empresa.

Cármem Lúcia, agora senhora dos conteúdos das delações de Marcelo e dos outros diretores que seguiram sua orientação, viu a possibilidade de, as homologando antes da redistribuição do caso, virar o jogo sobre Temer que, via Gilmar Mendes, pretendia tornar-se “dono” do STF com a indicação do novo ministro.

Especulações?

Em 48 horas vamos saber.

.

Nº 20.805 - "Hildegard faz chorar. Viva D Marisa!"



28/01/2017

Hildegard faz chorar. Viva D Marisa!

Como se sabe, D Marisa já está na conta do Moro


Conversa Afiada - publicado 28/01/2017


HIldegard.jpg

O Conversa Afiada reproduz uma das mais lindas páginas dessa blogosfera poluída.

O texto da insuperável Hildegard Angel sobre D. Marisa, escrito em 2011, quando D Marisa não era mais a Primeira Dama da República, mas de um apartamento em São Bernardo.

(O ansioso blogueiro, que não dispõe dos talentos da Hildegard tinha, antes, dito que a D Marisa já foi para a conta do Dr Moro.)


Marisa Letícia Lula da Silva: as palavras que precisavam ser ditas

Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de “a Cara” por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À “companheira” número 1 da República, muito osso, afagos poucos. Ah, dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E – pior de tudo – os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família? Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve.

Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade. Depois, implicaram com o silêncio dela, a “mudez”, a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão? Ah, mas tudo que “eles” queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar poderoso de doutorados e mestrados. Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia. E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom?

Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade. Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e as brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto. Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar “emergentes” metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo “arrodeado” de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.

Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada. No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita. Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor!

Cobraram de Marisa Letícia um “trabalho social nacional”, um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social. Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo. Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam.

Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.
.

Nº 20.804 - "Janot vai tomar a grana do Cerra"


29/01/2017

Janot vai tomar a grana do Cerra

Como se ainda estivesse na Suíça...​


Conversa Afiada - publicado 29/01/2017


Bessinha SP.jpg


Informa Jamil Chade, no Estadão, que Janot - o do terceiro mandato - "vai pedir (sic) que Suíça investigue aliado (sic) de Serra".

"Procurador (que procura o que quer achar)-Geral da República suspeita (sic) de irregularidades (sic) em repasses (sic) feitos pelo PSDB ao ex-deputado Ronaldo Cezar Coelho."


NAVALHA



É bem provável que a grana não esteja mais na Suíça.

E mais provável que, no rachuncho, o Careca tenha levado uma parte para o restaurante Cafe Boulud no upper East Side, entre a Quinta e a Madison, em Nova York, embaixo do hotel The Surrey.

Provavelmente, a busca do Janot, aquele que defendeu o "mercado"em Davos, resultará em outra absolvição do Careca, um inimputável.


PHA

.

Nº 20.803 - "Governo Temer já iniciou desmonte de bancos públicos (com apoio da mídia)"


29/01/2017

Governo Temer já iniciou desmonte de bancos públicos (com apoio da mídia)


Cafezinho - 28/01/2017 Escrito por Miguel do Rosário, Postado em Redação


(Observação do blog: o BB está fechando duas agências em Copacabana. Duas. E no shopping Rio Sul, um dos principais shoppings da zona sul, o BB está fechando até mesmo as caixas eletrônicas de autoatendimento).

O CERCO AOS BANCOS PÚBLICOS E O FUTURO DO BRASIL

Por Mauro Santayana, em  seu blog


(Revista do Brasil) – Nos últimos meses, o governo brasileiro não apenas está tomando medidas temerárias do ponto de vista estratégico como também o está fazendo na contramão do mundo, em um momento em que o nacionalismo e o Estado se fortalecem, como reação à globalização, até mesmo pelas mãos da extrema direita, nos países mais desenvolvidos.

O que vem sendo apresentado, com a cumplicidade de uma mídia imediatista, irresponsável e descomprometida com os objetivos nacionais, não passa de uma sucessão de “negócios” apressados e empíricos que têm como único norte o acelerado desmonte, esquartejamento e inviabilização em poucos anos, do Estado, com deletérias, estratégicas, e talvez irreversíveis consequências para o futuro.

Estamos entregando o país aos negócios privados, principalmente estrangeiros, em transações gigantescas, feitas a toque de caixa, que envolvem bilhões de dólares. Na maioria das vezes, à revelia da sociedade brasileira, a ponto de muitas estarem sendo realizadas até mesmo sem licitação, como está ocorrendo com a “venda” e desnacionalização de poços do pré-sal e de outros ativos.

Tudo isso com uma fúria privatista que só encontra paralelo nos nefastos mandatos de Fernando Henrique Cardoso, que tiveram como principais consequências econômicas a duplicação da dívida líquida pública e a queda do crédito, do PIB, da renda assalariada e do trabalho formal ao fim de seus oito anos de governo.

Se o recuo estratégico é grave em setores primordiais, como energia, infraestrutura e defesa, ele atinge também, drasticamente, os bancos públicos.

Assim como não existem grandes países sem grandes empresas nacionais, também não existem grandes nações que possam prescindir de um forte sistema financeiro público para que se desenvolvam estratégica e soberanamente.

Não se trata apenas, como ocorria no passado, do direito de cunhar moeda, mas de ter instrumentos que possam garantir que a roda da economia continue girando.

Nos últimos anos, o BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil foram cruciais para manter o país crescendo, investindo na “bancarização” da população e na expansão do crédito.

O volume de crédito em circulação, que caiu de 36% para 23,8% do PIB nos governos de FHC, mais do que duplicou nos governos do PT, até atingir 54,2% em dezembro de 2015.

Sem o financiamento à indústria e à agricultura teria sido impossível, para o país, enfrentar a longa sucessão de graves crises que vêm atingindo o mundo ocidental e o capitalismo desde 2008, quando a banca privada se retraiu, deixando de emprestar dinheiro e passou a investir, como sempre fez historicamente, basicamente em títulos do governo.

Com isso, embora o lucro dos bancos tenha aumentado mais de 400% na era Lula com relação ao governo anterior, as instituições públicas se expandiram mais do que as particulares, aumentando a variedade e quantidade dos serviços prestados a seus clientes, sua oferta de crédito, seus lucros e sua presença na economia nacional.

E como o atual governo responde a esse imprescindível papel estratégico?

Pega carona e incentiva a campanha, com forte componente ideológico, que se está desenvolvendo na mídia e nas redes sociais, contra o BNDES.

Promove a estúpida, suicida e inexplicável eliminação de R$ 100 bilhões dos ativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que estão sendo repassados ao Tesouro, para suposto “abatimento” cosmético e irrelevante da dívida pública, em um momento em que o país é apenas a 40ª nação do mundo em endividamento, e se encontra mergulhado em grave recessão.

Reforça essa política de terra arrasada com a interrupção e eliminação, pela atual diretoria do BNDES, de projetos de exportação de serviços de engenharia de empresas já atingidas em bilhões de dólares, pelo tsunami punitivo da Operação Lava Jato.

Com isso, morrem no nascedouro milhares de empregos que poderiam surgir por meio de alguns dos maiores expoentes da engenharia nacional e de centenas de médias e pequenas empresas de sua cadeia de fornecedores.

O governo estende os nefastos efeitos dessa abordagem destrutiva do Banco do Brasil e da Caixa – apelando para a velha desculpa da busca de “eficiência” – promovendo seu desmanche e “enxugamento”, com o já anunciado fechamento de centenas de agências e a demissão “incentivada” de milhares de funcionários, em um momento em que dezenas de municípios, para o enfrentamento da crise, não poderiam prescindir da presença e do apoio dessas instituições.

Quais são as razões que se escondem por trás disso? Por que e para que torcer o pescoço das galinhas dos ovos de ouro da economia nacional que, além de manter o país funcionando, deram altíssimos retornos para seus acionistas e para a União e estão ligadas a conquistas de enorme importância social, como a construção de 3,5 milhões de casas populares nos últimos anos?

De 2010, para cá, o BNDES, além de emprestar centenas de bilhões de reais para grandes, médias e pequenas empresas, teve mais de R$ 40 bilhões de lucro. O Banco do Brasil alcançou, em 2011, um lucro líquido de mais de R$ 12 bilhões e chegou a mais de R$ 14 bilhões em 2015. Os seus ativos, que eram de quase R$ 1 trilhão em 2011, chegam a quase R$ 1,5 trilhão este ano. A Caixa Econômica Federal lucrou quase R$ 4 bilhões em 2011 e expandiu seus resultados para 7,2 bilhões em 2015.

De que tipo de “reestruturação” esses bancos precisam? De mandar gente embora para fazer com que os que vão ficar trabalhem o triplo – cada funcionário de agência do Banco do Brasil já é responsável, em média, pelo atendimento a quase 450 contas da instituição – e comecem a cometer falhas, e fazer os clientes pensarem em migrar para os bancos privados?

Não se pode compreender esse cerco à banca pública a não ser como um desejo subjacente de abrir mercado para a banca privada, embora esta não tenha deixado de multiplicar também seus ganhos.

Deve assustar, sobretudo, a possibilidade que os bancos públicos têm, a qualquer momento, de regular indiretamente o mercado, sempre que necessário, baixando as suas taxas de juros e as tarifas que cobram da população.

Mas essa deliberada e injustificável estratégia de sabotagem e sufocamento dos bancos públicos pode ter, também, outras intenções.

Como sempre ocorre, ela abre caminho para que se possa dizer que eles estão operando mal ou perdendo dinheiro, e que devem ser privatizados a médio prazo, eliminando-os totalmente, da economia nacional.

Assim como ocorre no caso da Petrobras, a sociedade brasileira precisa responder ao desmanche e à campanha contra a banca pública decisivamente.

Os bancários e os municípios prejudicados devem entrar na Justiça contra o fechamento de agências, levando ao Judiciário e ao Ministério Público informações relativas à verdadeira situação financeira dos bancos estatais e sua importância econômica e social no contexto do processo de desenvolvimento brasileiro.

É preciso que aqueles que dizem que é necessário aumentar a “eficiência”, expliquem onde está a ineficiência de instituições que praticamente salvaram o país durante a crise de 2008, que contribuíram para a expansão do crédito, da produção e da infraestrutura e que, na última década, deram dezenas de bilhões de reais em lucro.

Enquanto o sistema financeiro privado internacional, por ineficiência, desonestidade e fiscalização, levava a economia global ao colapso.
.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Nº 20.802 - "Este é um país que foi para trás"

.

28/01/2017

Este é um país que foi para trás

Do Tijolaço  · 28/01/2017


jangada


por Fernando Brito



Ao contrário da marchinha da ditadura – “este é um país que vai prá frente…” –  o Brasil do golpe é, sem qualquer dúvida, um país que vai para trás: para trás no tempo, no grau de civilização e de convívio, tanto quanto vai nos indicadores econômicos.


Não vou tratar dos aspectos de psicologia coletiva, coisa que o Xico Sá faz, maravilhosamente, no artigo que publicou no El País, sobre a mobilização das “brigadas do ódio” diante do fato de Chico Buarque ter ganho o  prêmio de literatura Roger Caillois, na França:

Tudo bem que o xará não seja aquela unanimidade do tempo dos festivais, a unanimidade nacional da frase sacana de Nelson Rodrigues, mas, peraí, colega, esse ódio todo ao Chico é sintoma de que o país perdeu de vez o rumo das ventas e a ideia de delicadeza.

Fico na política e na economia, onde minhas limitações são menos graves.

Basta que a gente olhe o que são a nossa política institucional e a política econômica para que a gente veja para que a gente veja a que profundidade geológica chegamos.

Somos presididos por um personagem de terceiro time, como Michel Temer, que não teve, jamais, nem luz própria nem mesmo brilharecos em sua longa carreira política.

Em torno dele, os membros da quadrilha partidária e  governamental que ampara, personificados por Moreira Franco e Eliseu Padilha.

Estamos, nessa matéria, piores que no período Sarney, quando ao menos havia uma reação  à hegemonia da mediocridade.

Na economia, abandonamos de vez qualquer  veleidade de termos um projeto nacional e cuidamos, exclusivamente, do que “vai dar” o IPCA e  a taxa de juros, como se uma visão estratégica do Brasil dependesse apenas disso – e do câmbio – para que o santificado tripé macroeconômico  virá nos salvar e escancarar as portas do futuro.

Até Fernando Henrique Cardoso poderíamos dizer que era o deslumbramento sabujo ao mercado, mas depois do fracasso do que fizeram, persistir nisso é mais que burrice, é masoquismo.

As questões institucionais do país afundaram a um grau em que se chega, a sério, a discutir a indicação de um fundamentalista da Opus Dei para o Supremo, embora não seja para revogar o divórcio de Nélson Carneiro, mas a CLT de Vargas.

Em apenas três anos e meio desde que a mobilização antidemocrática iniciada em 2013 – e que só iria vestir plenamente sua natureza golpista em 2015 –  tenho, por vezes, a impressão que regredimos três décadas, ou pior. Talvez não (ou ainda não) em termos de liberdades políticas. Mas, certamente,  tanto ou mais em matéria de capacidade de convívio, de identidade nacional e certamente mais em visão de um futuro próprio para este país.

Nem mesmo a visão de “Brasil Grande” da ditadura, ou sequer a de “sócio menor” do período Fernando Henrique Cardoso temos.  Somos apenas um espaço de predação, um campo de caça do capital.

Dói, dói, dói ver o Brasil possuído por esta mediocridade enquanto dos digladiamos em querelas menores. Quem acha que vai, num quadro de desastre nacional, conquistar avanços setoriais não entende a sabedoria expressa no dito popular de que “casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão”. Que no Brasil do atraso  só haverá mais segregação, mais racismo, mais fobias por orientação sexual, por tudo o que possa servir para diferenciar e tornar excluído.

A recuperação de uma identidade nacional, de uma visão una de povo brasileiro – falta pouco, nessa segmentação, para que alguns achem que somos “povos brasileiros” – é uma chave para nosso país, porque é neste caldo pátrio que todos podemos brotar, nesta  primavera é que todos podemos florescer.

Mas no Brasil degradado, degradamo-nos todos, inclusive os que tem mais e não percebem o quanto são selvagens por escolherem viver numa selva.

O maestro Tom Jobim, tão lembrado nesta semana  dos seus 90 anos, escreveu: é impossível ser feliz sozinho.

.

Nº 20.801 - "JANOT PEDE BLOQUEIO DA CONTA USADA POR SERRA E PELO PSDB NA SUÍÇA"


28/01/2017


JANOT PEDE BLOQUEIO DA CONTA USADA POR SERRA E PELO PSDB NA SUÍÇA



Brasil 247 - 28 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 19:28


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu pedir o bloqueio das contas do empresário Ronaldo Cezar Coelho, tesoureiro e operador do PSDB, na Suíça; foi por meio de Cezar Coelho que o atual chanceler José Serra recebeu R$ 23 milhões que saíram do departamento de propinas da Odebrecht na disputa presidencial de 2010; o pedido de Janot deveria ocorrer num encontro previsto para o dia 20 com Michael Laub, procurador-geral da Suíça, mas foi adiado em razão da morte de Teori Zavascki; desde que a história da propina de R$ 23 milhões da Odebrecht veio à tona, nem José Serra pediu demissão nem Michel Temer fez qualquer movimento para exonerá-lo; ao contrário: o governo federal aprovou um projeto de repatriação que permitiu a Cezar Coelho esquentar o dinheiro ilícito, mas Janot pretende agora estragar o que seria um crime quase perfeito 


247 – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu pedir o bloqueio das contas do empresário Ronaldo Cezar Coelho, tesoureiro e operador do PSDB, na Suíça, segundo informa o jornalista Jamil Chade, correspondente do jornal Estado de S. Paulo em Genebra.

Foi por meio de Cezar Coelho que o atual chanceler José Serra recebeu R$ 23 milhões que saíram do departamento de propinas da Odebrecht na disputa presidencial de 2010 (saiba mais aqui).

O pedido de Janot deveria ocorrer num encontro previsto para o dia 20 deste mês com Michael Laub, procurador-geral da Suíça, mas foi adiado em razão da morte de Teori Zavascki.

Desde que a história da propina de R$ 23 milhões da Odebrecht veio à tona, nem José Serra pediu demissão nem Michel Temer fez qualquer movimento para exonerá-lo.

Ao contrário: o governo federal aprovou um projeto de repatriação que permitiu a Cezar Coelho esquentar o dinheiro ilícito, mas Janot pretende agora estragar o que seria um crime quase perfeito.

Por meio de seu advogado, o criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, Cezar Coelho admitiu que recebeu recursos do PSDB em uma conta na Suíça a título de ressarcimento por gastos que teve na campanha, da qual foi coordenador político.

 “É preciso que se tenha presente que os recursos da conta bancária na Suíça foram devidamente regularizados no Brasil e são fruto de suas atividades empresariais e do ressarcimento do PSDB em razão de despesas arcadas por Ronaldo Cézar Coelho durante a campanha em 2009 e 2010”, disse Mariz. “Qualquer investigação apenas e tão somente irá verificar a veracidade do que já foi por ele declarado”, afirmou o criminalista.

.

Nº 20.800 - "RELATOR NO TSE VAI PROPOR A CASSAÇÃO DE TEMER"


28/01/2017

RELATOR NO TSE VAI PROPOR A CASSAÇÃO DE TEMER


Brasil 247 - 28 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 18:59 


A homologação das 77 delações premiadas da Odebrecht – o que deve ocorrer até a terça-feira 21 – podem ser fatais para Michel Temer; isso porque, ato contínuo, o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, irá pedir que as delações que atingem Temer (são pelo menos quatro) sejam anexadas no processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer; além disso, já foram identificadas doações fruto de propina que teriam sido articuladas por Temer e um de seus principais aliados, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que hoje está preso em Curitiba; uma delas, no valor de R$ 1 milhão, foi feita pelo grupo Libra para renovar suas concessões portuárias, após um jantar entre o empresário Gonçalo Torrealba, chefe da empresa, Temer e Cunha


247 – A homologação das delações premiadas da Odebrecht, que deverá ser feita pela presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, até a terça-feira 31 (saiba mais aqui) tem potencial para derrubar Michel Temer.

Isso porque, ato contínuo, o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, irá pedir que as delações que atingem Temer (são pelo menos quatro) sejam anexadas no processo que pede a cassação da chapa Dilma-Temer.


Além disso, já foram identificadas doações fruto de propina que teriam sido articuladas por Temer e um de seus principais aliados, o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que hoje está preso em Curitiba.
Uma delas, no valor de R$ 1 milhão, foi feita pelo grupo Libra para renovar suas concessões portuárias, após um jantar entre o empresário Gonçalo Torrealba, chefe da empresa, Temer e Cunha.
Temer irá pedir a separação entre suas contas e as da presidente deposta Dilma Rousseff, mas o ministro Benjamin não acatará esta tese e deve propor a cassação da chapa.
Neste cenário, o Brasil poderá ter eleições indiretas em 2017, com um novo presidente sendo escolhido por um Congresso com mais de 200 parlamentares investigados, ou diretas, caso haja um novo pacto político no País.
Os detalhes da ação no TSE estão em reportagem de Daniel Pereira, na revista Veja deste fim de semana.
.
.

Nº 20.799 - "Marisa e Lula: o que tentaram destruir"


28/01/2017

Marisa e Lula: o que tentaram destruir

Uma entrevista rara: os passos iniciais de uma trabalhadora!

Conversa Afiada  - 27/01/2016

Lula e Marisa.jpg

Crédito: Carta Maior
Conversa Afiada reproduz da Carta Maior texto de Saul Leblon e uma rara entrevista de D Marisa.
Por causa disso, a Carta Maior foi invadida, agredida e ameaçada por "milhares e milhares", ativados por robots, segundo o depoimento de Joaquim Palhares, editor da Carta Maior.
Ontem, 27/I, a Carta Maior ficou fora do ar por 20', entre 16h30 e 17h00.
O que publicou a Carta Maior:

'Marisa e Lula'


Chegará o dia em que o enredo pronto que existe dentro da legenda ‘Marisa e Lula’ merecerá o olhar de um cineasta brasileiro.

Um diretor atento a um Brasil contra o qual a mídia sempre manteve, e intensificou, uma relação depreciativa, mais belicosa e obsessiva que a dispensada agora aos veículos de comunicação por Trump, enxergará neles a personificação de um dos períodos mais generosos e vitais da vida nacional.

O improvável revestirá os passos iniciais na trajetória deste casal de trabalhadores no maior polo industrial do Brasil.

Um homem e uma mulher de origem simples, jovens mas viúvos, apetrechados no máximo de um cristianismo ingênuo a revestir a luta pela sobrevivência, um dia abriram a porta de sua casa a uma visitante ilustre, para nunca mais fechá-la.
Era a história.

E ela os arrebatou.

Surpreendentemente, porém, e nisso reside o magnetismo da trama há léguas de ser uma fábula de seres perfeitos, também foi arrebatada por eles, com todos os riscos inerentes a uma coisa e outra num dos períodos mais turbulento da vida nacional. 

Estamos no Brasil de 1974, em plena ditadura militar. 

Nesse enredo de carne e osso as cenas se desenrolam quase prontas aos olhos de quem quiser enxerga-las.

É uma história de resistência e luta, de coragem e medo, curtida em derrotas e superação, temperada de doses  de grandezas e fraquezas, cuja soma conflituosa afronta a prateleira do previsível e do edulcorado para arrombar a fronteira que dividia o passo seguinte do país.

Contra todas as probabilidades eles não foram derrotados pela avalanche que recobriria seu destino pelo resto da vida.

Marisa e Lula afrontaram a hierarquia inoxidável do mundo burguês, patronal e conservador e também do universo pequeno burguês no qual poderiam ter se acomodado na ampla sala de estar reservada aos mansos.

Para a surpresa de uns –deles mesmos, talvez--  e horror de outros, lograram tomar as rédeas do cavalo xucro da histórica que passou na sua frente, mudando a direção dele e o enredo de suas vidas

Estão juntos há 43 anos assim. Sem parar o trote agalopado.

Um ano depois de se casarem, em 1975, Lula seria eleito presidente do mais estratégico sindicato de trabalhadores do país, inserido  no maior polo automobilístico da América Latina.

Lula assumiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo quando o general Geisel era o ditador do Brasil.

O país ingressava num ciclo vertiginoso de luta por democracia e de levantes operários contra o arrocho econômico e sindical.

O ABC era o coração da impaciência operária. Mas a opressão patronal assegurada pelos militares empurrava velozmente a reivindicação salarial para a confrontação política.

Não era o que eles preconcebiam. Longe disso. Mas era o que se impunha como um efeito dominó a cada passo do embate.

Pois bem, Marisa e Lula não se deixaram encurralar pelos repetidos chamados do toque de recolher que dispara na vida de um casal nas situações de perigo que ameaçam o teto e a prole.

Logo, muito logo, nas mãos de Lula, o sindicato dos metalúrgicos ficaria nacionalmente conhecido como uma das principais fortalezas da frente ampla de luta por liberdades democráticas que se esparramava pelo país irradiando a audiência da voz rouca do mar ao sertão. 

As ruas eram uma extensão dessa consciência que se adensava contra o que não era mais tolerável, a censura, a tortura, a repressão, o arrocho, enfim, a interdição do futuro na vida de uma nação.

O lar de Marisa, 25 anos, e Lula, 30 anos, foi arrebatado por esse turbilhão da história que entrou pela sala, logo estava na cozinha tomando sopa de madrugada, esparramou colchonetes e fez dali um acampamento de prontidão permanente por democracia e justiça social.

Era assim a casa de Marisa recém-casada.

Ou melhor, a casa da senhora hoje com  66 anos e uma hemorragia cerebral  -- que respira por aparelhos na UTI de um hospital, em cuja entrada o ódio escarnece de seu drama e ergue cartazes em que pede a prisão de seu marido.

Sua casa tornou-se uma arriscada trincheira da luta por democracia e justiça social, num tempo em erguer cartazes por democracia e justiça social dava cadeia, não raro, pancada e tortura.

O lar dessa senhora em coma induzido era um gigantesco cartaz de audácia operária na noite do Brasil.

O filme à espera de um diretor abriria com a leitura vagarosa dos estandartes de ódio, solitários, mas exclamativos de um sentimento incontido das elites e do seu entorno contra tudo o que se refira àquela casa, à mulher e ao homem que a partir dela os desafiou e venceu.

No ambiente frio da UTI desta São Paulo cinzenta de janeiro de 2017, o silêncio só é entrecortado pelos equipamentos que monitoram o metabolismo fragilizado pelo aneurisma rompido.

O boletim médico informa que o quadro da paciente Marisa Letícia é estável.

O que se luta para preservar ali, porém, é justamente algo que se mexe como a história e que por se mexer opõe-se ao cerco que pretende afoga-lo numa grande hemorragia de demonização e esquecimento.

O alvo é certeiro.

A memória é um pedaço do futuro.

A daquele período, sobretudo preciosa para o presente.

Não apenas para entender o Brasil atual, a partir dos protagonistas  ora capturados pela máquina avassaladora de picar e reconstruir reputações e legados deformando-os.

Não só para repor o que está sendo lixiviado, sangrado diariamente na mídia.

Mas ela, a memória, também é crucial para repor o orgulho, a credibilidade, a confiança e, sobretudo,  a faísca  capaz de religar a esperança que respirava naquela casa onde brotariam as sementes do país que trinta anos depois vicejaria.

Esse que está sendo ceifado agora com rancor inaudito, um Brasil que ainda não somos, mas que poderemos ser no século XXI.

A metamorfose do improvável nas ruas do país naqueles primórdios contradiz o impossível hoje elevado à condição de permanente.

Não é hagiografia filmada.

É uma história real, de gente de carne e osso.

Que se entregou sem se perguntar onde era a porta de saída de volta à rotina, e o fez de peito aberto, pondo na mesa empregos, filhos, o presente e o futuro,  numa aposta contra o estabelecido, com os riscos e a violência sabidos.

Gente comum se agiganta em circunstancias incomuns, ao não recuar diante delas.

Esse resgate feito de carne e osso é indispensável para repor a grandeza e as fraquezas da carne e do osso humano na fricção da história brasileira hoje sufocada pela mentira e o ódio.

Carta Maior recuperou uma das raras entrevistas em que a personagem que hoje luta pela vida em uma UTI, assim como lutou pela sua e a de milhões nesses 43 anos, rememora o seu olhar sobre os acontecimentos desse início, cujo epílogo persiste em disputa.

A resistência ao esquecimento é um pedaço dessa disputa.

A entrevista é de 2002, feita durante a campanha que levaria o PT pela primeira vez ao governo.

É atual porque devolve a Marisa o direito de se proteger daquilo que os indígenas mais temem diante de uma câmera:  o roubo de alma.

Da alma da mulher que ia visitar o marido preso pela polícia política da ditadura sem fraquejar nem lhe pedir que fraquejasse; da esposa e mãe, sozinha, que, ao contrário de todos os prognósticos, quando o sensato era recuar e sumir, abriu a casa para ser o sindicato quando os três sindicatos de metalúrgicos do ABC sofreram intervenção na grande greve de 1979, coroada pelas lendárias assembleias de 60 mil pessoas no estádio da Vila Euclides; a alma da mulher que organizou com outras mães e esposas uma audaciosa passeata  de mulheres e filhos em uma São Bernardo tomada por tropas da repressão, em defesa dos maridos, dos operários e sindicalistas presos; a alma da Marisa que costurou a primeira bandeira do PT; e que se politizou assim, como protagonista de uma história feita com as próprias mãos, sobre a qual nem ela, nem ele, Lula, jamais seriam convidados a opinar se ficassem esperando o convite dos que agora tomaram se assalto a engrenagem e a reescrevem com fel, ferro e fogo.

Repita-se, não é uma elegia à pureza dos oprimidos. 

É um enredo de luta entre opressores e oprimidos.

Nessa fricção, virtudes e defeitos se misturaram na implacável máquina de mastigação que é a experiência da política e do poder no capitalismo que eles encararam sem se despir da única armadura que sempre os acompanhou: a consciência de que viver é lutar.  

A memória da senhora de 66 anos que hoje trava a batalha pela vida não vale pelo saldo de pureza que ela até possa externar.

Vale pelo legado desse percurso inconcluso.

Feito de instituições e direitos que ajudou a demarcar.

E de possibilidades que contribuiu para esboçar na vida brasileira.

É nesse legado que repousa a possibilidade deste país de presos degolados se tornar um dia uma sociedade virtuosa.

Pautada em pedra e cal por direitos entre iguais e por democracia entre diferentes, que só pode ser democracia se for levada às últimas consequências na repartição do bem comum.

Inclusive para garantir a expressão de quem hoje se posta diante do hospital onde Marisa e Lula travam a batalha de vida e morte para persistirem nessa busca.

E ali destilar a represália dos que rugem contra o enredo de filme à procura de um diretor que se desata aos nossos olhos à simples menção da legenda indivisa: ‘Marisa e Lula’. 

Abaixo,a entrevista de Marisa Letícia ao site da campanha do PT de 2002.
(...)
Para Marisa Letícia Lula da Silva, 52 anos, esposa de Luiz Inácio Lula da Silva, 57, o candidato a presidente pela Coligação PT-PL-PCdoB-PC -PMN, a casa nunca foi apenas o refúgio familiar, mas também um ponto de intersecção de alguns dos fatos políticos mais importantes que mudariam a face do Brasil nas últimas três décadas. 

As greves do ABC, a repressão do regime militar, a luta pelas Diretas, a fundação do PT e as campanhas presidenciais do marido ganharam as ruas e viraram História, mas antes atravessaram a soleira da porta e transitaram pela sala e a cozinha de Marisa. Em 1975, com um ano de casamento, Lula chegou à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP). Três anos depois, começaria o ciclo histórico de greves no ABC paulista.

A política incorporou-se assim a sua vida como algo natural, quase uma extensão da rotina doméstica frequentemente adaptada para abrir novos espaços à mesa do almoço, ou receber visitantes que desde os anos 70 passaram a ter na casa do líder metalúrgico um ponto de referência nacional. 

Lá estiveram senadores, deputados, vereadores, personalidades de todos os matizes. Alguns se incorporaram à família definitivamente. Frei Betto, por exemplo, cansou de dormir no chão da sala durante as greves metalúrgicas dos anos 78/80, designado especialmente pelo então Bispo de Santo André, Dom Cláudio Hummes, hoje arcebispo de São Paulo, para ajudar na segurança de Lula.

Tornar-se a primeira-dama, a partir de 1 de janeiro, portanto, é uma hipótese que não chega a sobressaltar essa neta de italianos, mãe de quatro filhos, avó de dois netos, que começou a ganhar a vida muito cedo. 

Aos nove anos Marisa já trabalhava como pajem; aos 13, ainda sem carteira regular de trabalho, empregou-se na fábrica de chocolates Dulcora, em São Bernardo, onde ficou até os 21 anos. 

Casada, tornou-se funcionária da rede municipal de ensino, que deixou para cuidar dos filhos.

Nem sempre, porém, o trânsito do país para dentro da casa foi tranquilo. Na greve de abril de 1980, Marisa e Lula acordaram sobressaltados pelos gritos dos agentes do Dops -Departamento de Ordem Política e Social. 

Eram cinco e meia da manhã, ainda estava escuro. A residência cercada por homens de metralhadoras em punho foi despertada por berros no portão: -Cadê o Lula? Viemos buscar o Lula, viemos buscar o Lula. 

“Foi terrível, mas mantivemos a tranqüilidade. Lembro-me que ele ainda disse --calma, vou tomar um café antes de sair, enquanto eu arrumava a mala”. Lula ficou preso 31 dias, saiu duas vezes nesse intervalo. Uma para visitar a mãe agonizante; outra, para o funeral de dona Lindu.

Diante da crescente exposição pública do marido, Marisa preferiu a discrição aos holofotes. Mas por trás deles ajudou a organizar passeatas de mães e filhos de metalúrgicos, em 1980, quando os líderes estavam presos e o sindicato sob intervenção. Foi ela também que de forma pioneira inaugurou o hábito da participação feminina na vida sindical do ABC. Foi Marisa, ainda, quem cortou e costurou a primeira bandeira do PT --feita em sua casa, claro--, quando da fundação do partido, em fevereiro de 1980.

Hoje, ela tenta preservar um pouco mais a fronteira familiar, pelo menos nos raros fins de semana em que o marido está no apartamento onde residem, em São Bernardo. “Proíbo conversa política e filtro as ligações telefônicas. Notícia ruim, à noite, fica para o dia seguinte”, sentencia com a voz firme mas serena. Mais que simplicidade, seu jeito reflete a maturidade de quem aprendeu na prática que tudo tem um tempo e nada vinga sem esforço. “As coisas foram acontecendo aos poucos na nossa vida, ao longo de anos de luta. A projeção do Lula foi a evolução natural de uma pessoa de muita persistência. Quando quer algo, ele consegue”, diz com conhecimento de causa. 

Em 1973, viúva, mãe de um filho do primeiro casamento, ela conheceu de perto a tenacidade do galante diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. 

Foi um namoro rápido. Um cerco telefônico e uma manobra ousada de ocupação do terreno do rival definiram as núpcias, sete meses depois do primeiro encontro. 

“Lula chegou em casa um dia e avisou meu namorado que precisava tratar um assunto muito sério comigo. Mandou o sujeito embora --pode?”, balança a cabeça ainda perplexa com a lembrança. Perseverança equivalente ela identifica na sua trajetória política. “Em 1980, quando fui a Brasília pela primeira vez, disse a Lula: eles não vão abandonar o poder nunca. Hoje tenho certeza de que ele vai chegar lá. E espero que faça algo pela juventude --tenho certeza que o fará. A violência me assusta. Quando leio os jornais já nem presto atenção nos nomes, fixo apenas a idade das vítimas. É terrível o que está acontecendo com os jovens no Brasil”, desabafa.

Aqui os principais trechos da sua entrevista 

Qual a origem da sua família? 

Meus pais são descendentes de italianos. O sobrenome do meu pai é Casa; o da minha mãe, Rocco. Meus avós, tanto do lado paterno, como os do lado materno, conheceram-se no navio vindo da Itália. Conheceram-se no mar, casaram-se em São Bernardo e tiveram vários filhos. Foram posseiros e para não dividir as terras faziam casamentos entre eles, algo que naquele tempo era normal. Tenho várias primas-irmãs: os irmãos de meu pai casavam-se com as irmãs de minha mãe e vice-versa.

Em que bairro eles moravam? 

Atualmente chama-se bairro dos Casa, em São Bernardo do Campo, antigo sítio dos Casa, onde meu avô fez a capela de Santo Antônio, que está lá até hoje. A maioria dos irmãos do meu pai chama-se Antônio; os de minha mãe também; o meu avô, idem.

Eles plantavam o quê?

De tudo um pouco. Batata doce, batatinha, milho. Tinha gado, tinha galinha, pato. Saí do sítio com cinco anos de idade.

Vocês são em quantos irmãos?

Minha mãe teve quinze filhos. Três morreram ao nascer. Vivos, hoje, somos em nove. Mamãe trabalhava na lavoura, os maiores ajudavam e os menores ficavam num chiqueirinho cavado na terra. Minha mãe deixava a gente ali dentro, para não fugir. Eu tinha uns dois ou três anos. Sou a penúltima dos irmãos. Tenho irmã que poderia ser minha mãe, pela diferença de idade.

Qual é o nome dos seus pais?

Regina Rocco Casa e Antonio João Casa.

Foi uma infância difícil?

Não, em casa tinha fartura. Como minha mãe plantava e colhia e também tinha criação, nunca ninguém passou fome. Ela fazia aquela galinhada, galinha com polenta para o jantar ou a minnestra, um caldo de feijão com muito legume, arroz, carne...

Vocês frequentavam a cidade?

A gente só saía para ir a capela. A cidade era longe. Só por volta de 1955, quando minhas irmãs mais velhas começaram a trabalhar nas tecelagens a gente saiu do sítio, aí em definitivo. Meus irmãos também estavam buscando emprego nas fábricas de móveis. Mudamos para o bairro Assunção. Meu pai comprou uma casa muito grande, com quintal onde ele continuou criando seu porquinho, galinha, horta. Ficou sempre nessa vida. Mas ainda não tínhamos luz, a água era de poço. Minha mãe cozinhava no fogão à lenha. Foi nessa época que comecei a estudar, numa escolinha de madeira. Só na terceira série é que fui para um colégio no centro, o Grupo Escolar Maria Iracema Munhoz.

Qual era teu sonho de vida?

Eu queria dar aula, gostava muito de criança. Meu pai achava que mulher tinha que aprender a lavar, cozinhar e costurar. Educação rígida, à antiga. Aos nove anos as meninas começavam a ajudar dentro de casa. Eu não gostava muito dessas coisas, mas fiz cursinhos de corte e costura, culinária...

Você começou a trabalhar com que idade? 

Aos nove anos. Fui ser pajem dos filhos do sobrinho do Cândido Portinari, um dentista muito famoso em São Bernardo, o Jaime Portinari. Ele tinha três filhas. Eu tomava conta dessas meninas porque a mãe dava aula. Ela trabalhava à tarde e eu estudava de manhã, as duas no mesmo colégio. Depois nasceu mais uma menina e eu com nove anos tomava conta de uma recém-nascida. Morava nesse emprego, dormia lá.

Ficou muito tempo?

Saí mocinha para trabalhar em fábrica, na Fábrica de Chocolates Dulcora. Tinha 13 anos. Foi necessário tirar uma carteira especial de menor, com autorização do pai. Tenho essa carteira até hoje. Depois, com 14 anos, você já tirava a carteira normalmente. Eu comecei como embaladora de bombom alpino.

Como era para você trabalhar assim tão criança? 

Sempre gostei de ser útil, adorava isso. Era um sonho trabalhar fora, ter o próprio dinheirinho. Fazia com prazer, mas hoje tenho consciência de que lugar de criança é mesmo na escola, com tempo para brincar e aprender. Trabalhei na Dulcora oito anos. Saí para casar.

Seus pais eram bravos?

Meu pai era muito enérgico, minha mãe contornava as coisas. Mas namorar não podia, imagine! Minha mãe inventava historinhas para a gente poder sair, mas era difícil. Das irmãs eu era a mais rebelde. Gostava de participar de tudo, reuniões, centro cívico, festinhas de igreja, meu pai não deixava...

E para namorar?

Namorar naquela época era bate-papo, dava a mão, ele levava você até a esquina de casa e ponto.

Você tem alguma lembrança política dessa época? 

Não, nenhuma. A gente não tinha televisão e meu pai proibia falar de política dentro de casa. Ele não gostava. Nunca comentou o porquê. A gente sabia é que os avós tinham passado momentos difíceis na Itália, vieram fugidos por causa de política e proibiam de falar no assunto. Meu pai seguiu a regra. Televisão em casa só entrou quando eu já era bem mocinha. Mas nós ainda rezávamos toda tarde, às seis horas. Paquera então, só longe de casa, na Marechal Deodoro (rua central de São Bernardo), logo após o cinema, à tarde. Comprava-se pipoca e depois era sobe e desce a Deodoro...

Com que idade você teve o seu primeiro casamento?

Casei com o primeiro namorado, o Marcos, aos 19 anos. Casei e continuei trabalhando. Só saí da Dulcora quando engravidei. Marcos era motorista de caminhão, transportava areia. Como a gente queria comprar casa própria, ele pegava o táxi do pai, que só trabalhava à noite, para fazer bicos à tarde e nos fim de semana. Ficamos casados apenas seis meses. Marcos foi assassinado quando eu estava grávida de quatro meses. Trabalhava com o táxi num domingo à tarde quando foi assaltado e morto. Meus sogros queriam demais essa criança, aí praticamente me adotaram. Fiquei morando com eles até o Marcos completar um aninho. Então fui trabalhar num colégio de Estado, como inspetora e substituta, mas contratada pela prefeitura. Aí voltei para a casa de minha mãe, porque ela tinha mais tempo para tomar conta do nenê, enquanto eu estivesse no serviço.

Como você conheceu o Lula?

Eu recebia uma pensão de viúva. Naquela época você tinha que passar em qualquer sindicato para recolher um carimbo e depois receber no INPS. Costumava ir ao sindicato dos marceneiros. Mas houve umas mudanças de local e a sede dos metalúrgicos passou a ficar mais perto para mim. Foi assim que conheci o Lula, que trabalhava no Serviço de Assistência Social do sindicato.

O Lula já conhecia seu sogro? 

É o que ele conta. Diz que eles se conheciam porque tomava o táxi do seu Cândido às vezes. Os dois conversavam sobre a nora viúva etc, mas ele não me conhecia, nem houve nenhum arranjo para esse encontro entre nós. Foi pura coincidência a ida ao sindicato.

Ele atendeu você?

Não, foi um menino, um mocinho chamado Luisinho. Expliquei que precisava do carimbo para receber a pensão. Diz o Lula que já havia avisado a esse rapaz: assim que chegasse uma viuvinha nova, era para chamá-lo porque ele também era viúvo (a primeira esposa de Lula, Maria de Lurdes, operária tecelã, faleceu grávida e o filho também morreu).

O tal Luisinho chamou mesmo o Lula?

Exato. Inventou que o carimbo estava com um probleminha, foi lá dentro e quem voltou foi o Lula. Chegou e já senti que havia algo diferente. Percebi logo, porque nunca precisou tanta cerimônia para receber uma pensão que eu já tinha há três anos. O Lula disse que havia mudado a lei, eu teria que deixar o carnê para renovar etc... E pediu meu telefone. Caí que nem uma bobinha. Trabalhava na secretaria de uma escola na época. Desse dia em diante o telefone não parou mais de tocar.

E você não atendia?

Um dia atendi. Ele disse que já podia passar para assinar a papelada. Cheguei, começou tudo de novo. Senta um pouquinho; vou te explicar; aquele papo... Vamos tomar um cafezinho? Foi nessa hora que deixou cair a carteirinha do sindicato e falou: tá vendo, eu também sou viúvo. Respondi: ah é?

Nenhuma simpatia nesse primeiro contato?

Não, naquele tempo, o que uma mulher mais queria na vida era casar e ter um filho. Eu já tinha passado por essa experiência. Mas ele não desistiu. Telefonava, insistia, por fim, marcamos um almoço no São Judas, no bairro Demarchi (tradicional restaurante do ABC).

O Lula sabia que você era nora do tal chofer de táxi?

Ele diz que ficou desconfiado, porque as histórias batiam. Mas foi tudo coincidência. Jamais foi montado um encontro.

E o namoro como começou?

Eu já tinha um namorado, vizinho da família que eu conhecia desde criança. Uma coisa assim descompromissada. Mas o Lula não queria saber. Um dia descobriu a minha rua. Chegou com um TL azul turquesa. Viu uma senhora, pediu informações. Era justamente minha mãe. Eu estava tomando banho para encontrar o namorado. Quando saio, quem está lá com a minha mãe? O Lula. Pedi que fosse embora porque tinha um compromisso, mas ele só deu uma voltinha com o TL e retornou. Chegou e foi logo dizendo para o meu namorado dar licença, que tinha assunto muito sério a tratar comigo. Mandou o cara embora. Pode? Aí já havia conquistado a simpatia de minha mãe porque era um sujeito mais alegre, mais dado que o outro. Ela ofereceu um aperitivo, o Lula entrou e, bom, tive que acabar o namoro porque ele já não saía mais de casa...

Casaram-se rápido?

Depois de sete meses. Mas não casei grávida não (risos). O Fábio, meu primeiro filho com o Lula, nasceu com nove meses e nove dias depois do casamento. Depois, com um ano de casado, em 1975, ele ganhou a eleição para a presidência do sindicato dos metalúrgicos.

Como foi essa coisa de ele virar uma figura pública?

Eu não estranhei muito porque, como disse, comecei a acompanhá-lo. Levava as esposas dos trabalhadores, organizava festas, projetos sociais. Passamos a reivindicar a presença de mulheres nas chapas. Então foi uma evolução junto.

E quando começam as greves, veio o medo?

Medo a gente sempre tem um pouquinho. Mas o dia a dia vai mostrando tanta força que muitas vezes você se pergunta: será que eu fiz isso mesmo? Por exemplo, nós fizemos aquela passeata das mulheres em 1980, quando os dirigentes sindicais estavam todos presos. Hoje, você pensa, parece uma loucura. Encheu de polícia. Os homens queriam dar apoio, mas nós dissemos, não, e saímos. Fizemos só com as mulheres. Botei as crianças na rua, meus filhos no meio daquela multidão, polícia para tudo quanto é lado.

Como era para eles ver o pai na televisão?

Tive que fazer um trabalho com isso mas acho que ficaram com uma cabeça boa. As coisas foram acontecendo aos poucos, fomos nos adaptando. Quando ele aparecia na tevê eu brincava com os meninos: querem ver seu pai, olha ele aí, porque eles já quase não viam mais o pai.

Você virou mãe e pai?

É, mas foi tranqüilo. Tinha reunião de pais na escola, lá ia eu. Tinha joguinho dos pais, lá ia a mãe. Não tinha problema, eu sabia que era importante.

A sua casa também virou uma sucursal do sindicato? 

Virou mesmo. Em 1980, tomaram o sindicato da gente com a intervenção. Não tínhamos para onde ir. Desocupei a sala da frente e disse: pronto, aqui é o sindicato. E a secretária era eu. Vinham políticos, almoçavam, alguns dormiam lá em casa. Depois, montamos um fundo de greve na Igreja, para arrecadação de alimentos. Aí desconcentrou um pouco. Quem ajudou muito nessa época foi Dom Cláudio Hummes, que era bispo de Santo André e hoje é arcebispo de São Paulo.

Vocês acabaram conhecendo muita gente nesse processo. O Fernando Henrique Cardoso também?

Sim, sim, em 1978 quando ele foi candidato ao Senado, o Lula apoiou, demos o maior apoio a ele. Foi nessa época também que conhecemos os deputados do PMDB, Suplicy, Geraldinho Siqueira, Sérgio dos Santos... Mas a gente ficava com um pezinho atrás, porque nós éramos sindicalistas e eles, políticos.

E a prisão do Lula, em 1980?

Nossa casa estava cercada há muito tempo. Policiais na esquina, gente rondando à noite. Eu tinha um pouco de medo pelas crianças. Mas tinha consciência de que estávamos mudando alguma coisa importante. Depois, o irmão do Lula, o Frei Chico, já havia sido preso. Preso político. Fomos visitá-lo, conversamos muito. Aquilo tudo foi deixando um sentimento de revolta em mim. Eu sabia que era preciso mudar. E para mudar alguém tinha que enfrentar aquela situação porque se ficasse pensando como meu pai, que não queria nada com política, as coisas não sairiam do lugar nunca.

Quando o Lula decolou como liderança, o que você sentiu?

Achei que era isso mesmo, um momento importante, algo que alguém precisava assumir. Tinha orgulho. Mas também sentia falta dele, claro, sentia falta de ter alguém com quem conversar, discutir...

E a prisão?

Então, a casa estava cercada há várias semanas. Frei Betto, Geraldinho Siqueira, o Jacó Bittar, o Olívio Dutra e vários outros dormiam lá para nos dar alguma cobertura.

Como é que vocês conheceram o Frei Betto?

Olha, foi até gozado. Um dia o Lula avisou: vem um frei almoçar aqui. Para mim, tudo bem, almoçava tanta gente lá que não fazia diferença. Come o que tem. O Lula precisou sair e lá pelas tantas me aparece na porta um jovem. Eu estava esperando um frei, com aquela bata, chinelo, um velhinho, enfim, com roupa toda marrom. Então me aparece um rapazinho e diz: ---Sou o frei Betto, trouxe uma pasta para o almoço. Respondi brincando: você pensa que nesta casa não tem comida? Somos grandes amigos até hoje.

E quando a polícia chegou?

Bom, primeiro,ligaram dizendo que o motorista do deputado Geraldinho Siqueira havia sumido. Saiu para buscar jornais e sumiu. Fomos dormir. Cedinho bateram no portão. Era umas cinco e meia. Tudo escuro. Frei Betto atendeu -Cadê o Lula, nós vamos levar o Lula, nós vamos levar o Lula.... Um bando de homens armados de metralhadora com uma Veraneio que fechou a saída da garagem, onde ficava o nosso Fiat. Meu quarto dava para a rua. Acordei assustada, chamei --Lula, Lula, estão aí atrás de você.

E ele, apavorou?

Nada. Falou exatamente assim -- Calma, calma, vou tomar meu café, trocar de roupa, manda esperar. Eu queria que o Frei Betto e o Geraldinho acompanhassem a viatura, mas eles já tinham prendido o motorista do deputado justamente por isso. E barraram a saída do nosso Fiat. Foi uma cena horrorosa, metralhadoras para tudo quanto é lado, mas as crianças não acordaram, graças a Deus. Pegaram o Lula, enfiaram dentro do carro e sumiram. Não falaram nada, na-da. A gente não sabia para onde o levariam. Até o Fiatizinho esquentar, já tinham desaparecido. Então começamos a ligar para Deus e o mundo, e descobrimos que estava no DOPS. Ele e vários outros. Foram pegando todo mundo da diretoria do sindicato.

Lula tomou o tal café?

Tomou, trocou de roupa...

E as crianças?

Não falei sobre a prisão num primeiro momento. Dei um tempo em banho-maria, depois expliquei devagarzinho, direitinho para não assustar. Mas eu tive problemas com o mais velho na escola. O Marcos se recusava a ir à aula. Quando fui saber, eram colegas que acusavam: seu pai é bandido. Está preso, é bandido. O Marcos sentava lá na frente, eles jogavam aviãozinho dizendo essas coisas. Acabei permitindo que ele se afastasse por um tempo, o que o levou perder o ano letivo. No semestre seguinte fui à escola e falei com a diretora. Expliquei o que havia acontecido e disse que elas deveriam esclarecer as crianças. Esse tipo de preconceito não podia continuar. Só então o Marcos voltou aos estudos.

O Marcos era filho do seu primeiro casamento?

É. Eu o ensinei a chamar o Lula de tio, mas ele preferia pai mesmo. Aos nove anos, disse ao Lula que queria ter o mesmo sobrenome dele. E o Lula assumiu isso legalmente com alegria, com a maior satisfação. Hoje ele é Marcos Cláudio Lula da Silva.

Nesse período da prisão morreu a mãe do Lula?

Ela já estava muito mal, com câncer, queria ver o filho. Nós conseguimos que o Lula saísse uma vez da prisão, antes da morte, coisa que pouca gente sabe. Convencemos o Romeu Tuma (diretor do Dops na ápoca) a permitir essa visita. Depois, ele voltou para o velório. Saí do Dops com o Lula. Mas quando chegamos ao enterro os trabalhadores cercaram o carro da polícia. Estavam revoltados. Lula pedia calma. Mas os operários haviam parado as fábricas, eram ônibus e ônibus que chegavam, uma situação tensa, de nervos à flor-da-pele, que exigiu muita habilidade e liderança do Lula.

As crianças foram visitar o pai no Dops?

Foram. Preparei os meninos. Expliquei como era para eles não terem medo. Disse que tinha polícia, mas que o papai estava bem, contei sobre o lugar, enfim, tentei evitar surpresas que assustassem uma criança. Quando chegamos, o Tuma disse: --Olha, dona Marisa, é melhor a senhora ir para a minha sala com as crianças que eu vou buscar o Lula. Quando ele apareceu na porta, o Fábio pensou que a cela era ali e falou -- Papai você não tá preso, você tá num hotel! Tinha quatro aninhos.

Quando você ouviu falar em PT pela primeira vez?

Nesse tempo a discussão já havia começado, em pequenos grupos, lá em casa. No início, muitos políticos diziam: Lula, para que criar outro partido, basta entrar num dos que já existem. Mas ele respondia: quero criar um partido diferente de todos, um partido dos trabalhadores. A primeira bandeira do PT eu é que fiz.

Como é essa história?

Eu tinha um tecido vermelho, italiano, um recorte guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca no fundo vermelho. Ficou lindo. A gente não tinha núcleo, não tinha nada. Minha casa era o centro. Começamos então a estampar camisetas para arrecadar fundos. Vendíamos uma para comprar duas. Estampava a estrelinha, vendia, comprava mais. Foi assim que começou o PT.

Você se lembra da primeira vez em que se falou de Lula na Presidência?

Em 1980, Lula foi julgado no Superior Tribunal Militar, em Brasília. Foi a primeira vez que visitei a capital. Fizemos um passeio e o guia foi mostrando as mansões, aquela ostentação toda. Quando acabou eu disse - Lula, vamos parar com tudo isso: esses caras não vão deixar você chegar ao poder nunca. Eles não vão largar isso aqui jamais. Fazem qualquer coisa, mas não abandonam essa vida...

Você mantém essa opinião?

Não, hoje não mais. O PT cresceu muito e na verdade já começou a mudar o país. Tem prefeituras, tem governos de estado. A mudança começou. Mas ainda vão resistir muito. Vão lutar muito para deixar a gente chegar ao poder. Mas hoje temos chance. O povo está descontente demais. Além do que, existe uma característica do Lula que pesa muito. É algo que vem de berço: o Lula quando quer uma coisa consegue. E ele vai conseguir melhorar esse país.Ele mudou na época da ditadura militar, não mudou?

O que te dá mais medo no Brasil hoje?

A violência. Os nossos jovens são a principal vítima. Quando leio os jornais já não olho nem nome, nada. Me fixo na idade: uns moleques, viu? Só moleques. É o que me dá mais medo, me dá dó, dá pena. Mas eu sei que se essa juventude tiver a chance de uma escola, uma boa educação e trabalho, o país muda. 

Muda. Tenho certeza que muda.