sábado, 31 de maio de 2014

Conraponto 13.926 - "Obama aperfeiçoa a globocolonização, denuncia Frei Betto"

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31/05/2014

 

Obama aperfeiçoa a globocolonização, denuncia Frei Betto

 

 
Adital - 30/05/2014


O teólogo da libertação brasileiro, que participou esta semana no Panamá de uma conferência internacional, afirmou à agência Prensa Latina que o presidente estadunidense, Barack Obama, não atribui importância à América Latina e, por isso, tem sido menos agressivo diretamente que os Bush ou Reagan e do que outros presidentes anteriores.

No entanto, tem sido um governo muito mau para o mundo porque aperfeiçoa o processo de "globocolonização”, de intervenção, por exemplo, na Ucrânia, na Síria, na Líbia e em outros países; é a polícia do mundo, sublinhou.
"Descaradamente”, Frei Betto expressou, tem se colocado acima de todas as leis e tratados internacionais, não dá nenhuma importância a esses acordos e não há como o sancionar.

Por sorte, há uma correlação de forças na América Latina, na contramão dos Estados Unidos. "Não somos aquele rebanho de ovelhas que baixava a cabeça ante o pastor da Casa Branca, temos mais soberania, mais independência e mais clareza de que caminhos libertadores queremos seguir”, apontou.

A respeito da Venezuela, Betto declarou que trata-se do principal foco da subversão estadunidense na América Latina, e isso passa por algo muito simples, ou seja, o petróleo venezuelano. Para ele, os Estados Unidos farão tudo o que puderem para desestabilizar a revolução bolivariana. Mas a Venezuela, destacou, conta com a solidariedade de todos os países que estão na Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe.

Frei Betto disse ainda nesta que a América Latina é o continente que tem mais esperança de futuro no mundo porque é uma região com mais democracia, maior participação política e que mais reduziu sua desigualdade social.

Com informações da agência Prensa Latina
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Contraponto 13.925 - "OS ORÁCULOS DA PILANTRAGEM"

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31/05/2014


OS ORÁCULOS DA PILANTRAGEM

 

Blog do Mauro Santayana - 30/05/2014

 


Mauro Santayana

 

(Hoje em Dia) - A Comissão Européia acusou, formalmente, na semana passada, os bancos HSBC, Crédit Agricole e JP Morgan, de promover acordos, por debaixo do pano, para manipular a taxa interbancária EURIBOR - que afeta diretamente o custo dos empréstimos para os tomadores.



Do golpe, participavam também o Barclays, o Societé Generále, o Royal Bank of Scotland, e o Deutsche Bank, já condenados, pelo mesmo crime, em dezembro, a pagar multa de mais de um bilhão de euros.

   

O Deutsche, maior banco da Alemanha, teve de ser capitalizado em 8 bilhões de euros, esta semana, para  para não quebrar. O Banco Espírito Santo, de Portugal, também a ponto de quebra, foi acusado, pela KPMG, de graves irregularidades em suas contas. E o Crédit Suisse foi condenado a pagar 2.6 bilhões de dólares à justiça dos EUA, por favorecimento ao desvio de divisas e à sonegação de impostos. 



Para Bertold Brecht, era melhor fundar um banco que assaltá-lo. E Bernard Shaw lembrava que não há diferença entre o pecado de um ladrão e as virtudes de um banqueiro.



O mundo muda. Hoje, uma diferença de menos de 2% separa o peso das seis maiores economias emergentes das seis maiores economias “desenvolvidas” e as reservas em mãos do primeiro grupo quase triplicam as do segundo.



Mas, no Brasil, continuamos ouvindo, como se fossem oráculos, a opinião dos banqueiros estrangeiros, que só estão em nosso país para organizar a espoliação sistemática de nossas riquezas e do nosso mercado.



Lá fora, a opinião pública chama essa gente de banksters (foto) unindo em uma só palavra o termo bankers (banqueiro) e gangsters (bandidos)



Aqui, o que diz um representante deles - que estão quebrando ou são acusados de crimes em seus países de origem - é sagrado.



Independente de quem estiver no poder no governo, o Brasil, se quiser continuar atraindo dinheiro externo, precisa estabelecer instrumentos próprios de defesa da imagem do país lá fora, criando, como se está projetando fazer com os BRICS, agências próprias de qualificação, bancos de fomento, fundos de reserva, etc.



Até mesmo porque a credibilidade das principais agências de qualificação que existem hoje está tão baixa, no exterior, quanto a dos bancos, aos quais tantas vezes se aliam e protegem, para enganar e pilhar países e correntistas.    



É preciso que aprendamos a não dar ouvidos aos enganosos oráculos da pilantragem.



Assim como no Brasil, na China os maiores bancos são estatais, e a dependência de capital externo no mercado financeiro é – até por uma questão estratégica - marginal e quase irrelevante.



A diferença que existe entre nós e eles – prestes a se transformar na maior economia do planeta – é que, no Brasil, a opinião de instituições externas, acusadas de envolvimento em duvidosos episódios e nas últimas crises internacionais, orienta e pauta as ações do governo, e vai para a primeira página dos jornais.



Em lugares como Pequim e Xangai, o país, os empreendedores e os consumidores, estão se lixando, redondamente, para a opinião dos bancos ocidentais.
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Contraponto 13.924 - "Desculpe, professor. É decente demais para não ser divulgado…"

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31/05/2014 

 

Desculpe, professor. É decente demais para não ser divulgado…

 
Tijolaço - 31 de maio de 2014 | 14:34
nilsonlage
 

Fernando Brito 

Não costumo fazer isso.

Muito menos sem a autorização do autor.

Mas, como ele publicou na sua página do Facebook, penso não estar quebrando a discrição.

Até porque ele tem muitos a acompanhá-lo, como professor que foi de várias gerações de jornalistas.

Fui um destes privilegiados.

Nílson Lage é um nome que, no meio acadêmico e profissional, mesmo que ele a recuse, provoca uma atitude reverencial.

Há mais de 50 anos largou um curso de Medicina para entregar-se à paixão de mais de meio século pelo Jornalismo.

É para fazer muita gente, me perdoem a expressão gaúcha, se enfiar no cu de um burro.


Um depoimento
Nílson Lage. no Facebook

Meu pai carregava sacos de cimento.

Estudei em grupo escolar.

Fiz o ginásio e o científico (segundo grau) no Colégio Militar do Rio de Janeiro.

Cursei duas graduações, na Uerj e na UFRJ.

Fiz mestrado e doutorado.

Jamais paguei um tostão para estudar.

Editei jornais, dirigi redações.

Não compactuei com a ditadura nem escrevi nada de que me arrependa.

Fiz carreira acadêmica sempre por concurso.

Jamais tive padrinho.

Organizei concursos públicos também, nenhum deles fraudado.

Estou velho. Conheço o mundo. Há corrupção em toda parte.

Mas sei que não teria em outra parte as oportunidades que tive.

E não terão em outras partes as oportunidades que têm.

Vejo gente reclamando, mas as ruas estão entupidas de carros novos, os aeroportos têm mais movimento do que nunca. No Facebook, anunciam apartamentos em Miami e em Paris.

Os pobres estão menos pobres, agora. Espalham-se as universidades. Que bom!

Quem insulta o Brasil, minha pátria, me insulta. O mínimo que posso fazer, aqui, é bloquear o canalha.

Hoje já bloqueei dois.


PS. Se o professor tiver o infortúnio de ler este blog, sei que vou tomar uma bronca por este “decente demais” do título. Ele rapidamente corrigiria: decente é ou não é, é feito gravidez, não tem “mais ou menos” grávida. Desculpe aí, mestre, vai ficar, tá?
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Contraponto 13.923 - "Lula: filho tem que saber que pai viveu num mundo pior"

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31/05/2014

Lula: filho tem que saber
que pai viveu num mundo pior

 

Diante do PiG (*), o Governo não soube se comunicar – do mesmo autor 


 Conversa Afiada - 30/05/2014





Amigo navegante enviou trechos da entrevista que o Nunca Dantes concedeu a Mino Carta e a Luiz Gonzaga Belluzzo, nesta edição da revista (que já nos ofereceu a reflexão do Mauricio Dias: “foi Barroso quem desmontou o Barbosa“):


Carta Capital n˚ 802

Lula em Campanha



Entrevista de Lula a Luiz Gonzaga Belluzzo e Mino Carta


Antes de mais nada, impressiona a paixão. Aos 68 anos, Luiz Inácio Lula da Silva não perdeu o vigor com que arengava à multidão reunida no gramado da Vila Euclides no fim dos anos 70. E nos momentos em que sustenta algo capaz de empolgá-lo, ocorrência frequente, aperta com força metalúrgica o pulso do entrevistador mais próximo, como se pretendesse transmitir-lhe fisicamente sua emoção. Assim se deu nesta longa entrevista que o ex-presidente Lula deu a CartaCapital. No caso de Mino, esta foi mais uma das inúmeras, a começar pela primeira, em janeiro de 1978.

CC: O senhor enxerga alguma relação entra a Copa do Mundo e a eleição? Se enxerga, por que e de que maneira?

Lula: Eu acho difícil imaginar que a Copa do Mundo possa ter qualquer efeito sobre a preferência por este ou aquele candidato. Por outro lado, se o Brasil perder, acho que teremos um desastre similar àquele de 1950. Temo uma frustração tremenda, e a gente não sabe com que resultado psicológico para o povo. Em 50 jogaram o fracasso nas costas do goleiro Barbosa.

CC: Em primeiro lugar o Barbosa.

Lula: O Barbosa carregou por 50 anos a responsabilidade, e morreu muito pobre, com a fama de ter sido quem derrotou o Brasil. É uma vergonha jogar a culpa num jogador. Se o Brasil ganha, a campanha passa a debater o futuro do País e o futebol vai ficar para especialistas como eu.

CC: E as chamadas manifestações?


Lula: Ainda há pouco tempo a gente não esperava que pudessem acontecer manifestações. E elas aconteceram sem qualquer radicalização inicial, porque as pessoas reivindicavam saúde padrão Fifa, educação padrão Fifa; poderiam ter reivindicado saúde padrão Interlagos, quando há corrida, ou padrão de tênis, Wimbledon, na hora do tênis. Eu acho que isso é até saudável, o povo elevou seu padrão reivindicatório. E é plenamente aceitável dentro do processo de consolidação democrático que vive o Brasil. Eu acho que, ao realizar a Copa, o governo assumiu o compromisso de garantir o bem-estar e a segurança dos brasileiros e dos torcedores estrangeiros. Quem quiser fazer passeata que faça, quem quiser levantar faixa, que levante, mas é importante saber que, assim como alguém tem o direito de protestar, o cidadão que comprou o ingresso e quer ir ver a Copa tenha a garantia de assistir aos jogos em perfeita paz.

CC: O povo brasileiro amadureceu e nós entendemos que o resultado da Copa será bem menos importante do que foi em 1950. Mesmo que a seleção perca, não haverá tragédia. Deste ponto de vista. Efeitos sobre as eleições podem ocorrer em função das chamadas manifestações.


Lula: Eu tenho certeza de que a presidenta Dilma e os governos estaduais estão tomando toda a responsabilidade para garantir a ordem. Com isso podemos ficar tranquilos, é questão de honra para o governo brasileiro. O que está em jogo é também a imagem do Brasil no exterior. De qualquer maneira, acho que não vai ter violência, e, se houver será tão marginal a ponto de ser punida pela própria sociedade. Agora se um sindicato quer fazer uma faixa “abaixo não sei o quê, 10% de aumento”, é seu direito. Eu me lembro que disse ao ministro José Eduardo Cardozo, quando começou a se aventar a possibilidade de uma lei contra os mascarados: “Olha, gente, nem brincar com lei contra mascarados porque a primeira coisa que iremos prejudicar vai ser o Carnaval, não os mascarados”. A Constituição e o Código Penal definem claramente o que é ordem e o que é desordem e, portanto, o governo tem mecanismos para evitar qualquer abuso. Recomenda-se senso comum. Nesses dias tentaram até confundir uma frase minha sobre uma linha de metrô até os estádios. Em 1950, no Maracanã cabiam 200 mil pessoas, mais de duas vezes as assistências atuais. É verdade, havia menos carros nas ruas, infinitamente menos carros, mas também não havia metrô.

CC: De todo modo, vale a pena realizar uma Copa?


Lula: Discordo daqueles que defendem a Copa no Brasil dizendo que vão entrar 30 bilhões, ou que geraremos novos empregos. O problema não é econômico. A Copa do Mundo vai nos permitir, no maior evento de futebol do mundo, mostrar a cara do Brasil do jeito que ele é. O encontro de civilizações, o resultado dessa miscigenação extraordinária entre europeus, negros e índios que criou o povo brasileiro. Qual é o maior patrimônio que temos para mostrar? A nossa gente.

CC: Em que medida essas manifestações nascem do fato de que houve uma ascensão econômica? Aqueles que melhoraram de vida reivindicam mais saúde, mais educação.


Lula: Eu acho que não há apenas uma explicação para o que está acontecendo. Precisamos aprender a falar com o povo, para que entenda o momento histórico. O jovem hoje com 18 anos tinha 6 anos quando ganhei a primeira eleição, 14 anos quando deixei de ser presidente da República. Se ele tentar se informar pela televisão, ele é analfabeto político. Se tentar se informar pela imprensa escrita, com raríssimas exceções, ele também será um analfabeto político. A tentativa midiática é mostrar tudo pelo negativo. Agora, se nós tivermos a capacidade de dizer que certamente o pai dele viveu num mundo pior do que o dele, e se começarmos a mostrar como a mudança se deu, tenho certeza de que ele vai compreender que ainda falta muito, mas que em 12 anos, passos adiante foram dados.

CC: O governo não soube se comunicar?

Lula: Eu acho. Eu de vez em quando gosto de falar de problema histórico, para a gente entender o que de fato aconteceu neste país. Já disse e repito: Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo, em 1492, e em 1507 ali surgia a primeira faculdade. No Peru, em 1550, na Bolívia, em 1624. O Brasil ganhou a primeira faculdade com dom João VI, mas a primeira universidade somente em 1930. Então você compreende o nosso atraso. Qual é o nosso orgulho? Primeiro, em 100 anos, o Brasil conseguiu chegar a 3 milhões de estudantes em universidades. Nós, em 12 anos, vamos chegar a 7,5 milhões de estudantes, ou seja, em 12 anos, nós colocamos mais jovens na universidade do que foi conseguido em um século. Escolas técnicas. De 1909 até 2002, foram inauguradas 140. Em 12 anos, nós inauguramos 365. Ou seja, duas vezes e meia o número alcançado em um século. E daí você consegue imaginar o que significa o Reuni ao elevar o número de alunos por sala de aula, de 12 para 18. Ou o que significa o Ciências Sem fronteiras, o Fies: 18 universidades federais novas. Pergunta o que o Fernando Henrique Cardoso fez? Se você pensar em 146 campi novos, chegará à conclusão de que foi preciso um sem diploma na Presidência da República para colocar a educação como prioridade neste País. Nós triplicamos o Orçamento da União para a educação. É pouco? É tão pouco que a presidenta Dilma já aprovou a lei permitindo 75% dos royalties para a educação. É tão pouco que a Dilma criou o Ciência Sem Fronteiras para levar 65 mil jovens a estudar no exterior. É tão pouco que ela criou o Pronatec, que já tem 6 milhões de jovens se preparando para exercer uma profissão. Isso tudo estimula essa juventude a querer mais. Tem de querer mais. Quanto mais ela reivindicar, mais a gente se sente na obrigação de fazer. Quem comia acém passou a comer contrafilé e agora quer filé. E é bom que seja assim, é bom que as pessoas não se nivelem por baixo. Eu sempre fui contra a teoria de que é melhor pingar do que secar. Quanto mais o povo for exigente e reivindicar, forçará o governo a fazer mais. O que é ruim? A hipocrisia. Nós temos um setor médio da sociedade, que ficou esmagado entre as conquistas sociais da parte mais pobre da população e os ricos, que ganharam dinheiro também. A classe média, em vários setores, proporcionalmente ganhou menos. Toda vez que um pobre ascende um degrau, quem está dez degraus acima acha que perdeu algumas coisas. A Marilena Chauí tem uma tese que eu acho correta: um setor da classe média brasileira que às vezes também é progressista, do ponto de vista social, mas não aprendeu a socializar os espaços públicos e então fica incomodado.

CC: Nós entendemos que o problema é representado pela elite brasileira. Quem se empenha contra a igualdade?


Lula: Eu sou o mais crítico do comportamento da elite brasileira ao longo da história. Este país foi o último a acabar com a escravidão, foi o último a ser independente. Só foi ter voto da mulher na Constituição de 34. Tudo por aqui resulta de um acordo, inclusive um acordo contra a ascensão social. Na Guerra dos Guararapes, quando pretos e índios quiseram participa, a elite disse “não, não vai entrar, porque depois que terminar essa guerra vão querer se voltar contra nós”. Esta é a história política do Brasil. Ocorre, porém, que a ascensão dos pobres levou empresas brasileiras a ganhar como nunca. Não sou eu quem lembra – em 1912, Ford dizia: “Quero pagar um bom salário para meus trabalhadores para que eles possam consumir”. Por exemplo, pobre em shopping dá lucro. Muitas vezes os donos não aceitam num primeiro momento, mas depois percebem que é bom. Tínhamos 36 milhões de brasileiros viajando de avião, agora temos 112 milhões.

CC: Notáveis avanços são inegáveis. Mas como vai ser daqui para a frente?

Lula: Eu fazia debates mundo afora, com o Mantega, o Meirelles, às vezes a Dilma. E eu dizia: esses ministros meus, eles falam de macroeconomia, mas o que eles não dizem é que essa macroeconomia só deu certo por causa da minha microeconomia. O que foi a microeconomia? Foi o aumento de salário, foi a compra de alimentos, a agricultura familiar, foi o financiamento, foi o crédito consignado, foi o Bolsa Família. Foi essa microeconomia que deu sustentabilidade à macroeconomia. Na Constituição de 46, quando o trabalho era o assunto, concluía-se: “Não pode dar 30 dias de férias para o trabalhador, porque o ócio o prejudica”. Chamavam férias de ócio. Agora, as pessoas dizem que o Bolsa Família cria um exército de vagabundos. E o futuro? Numa escada de dez degraus, os pobres só subiram dois, um e meio, ainda falta muito para subir. Por isso eu tenho orgulho da presidenta Dilma, ela sabe que muita gente vai se bater contra ela a sustentar que, para controlar a inflação e fazer o País crescer, é preciso ter um pouco de desemprego, arrocho no salário mínimo, ou seja, que é preciso fazer o que sempre foi feito neste País e que não deu certo. Então, o que o governo tem de garantir é o aumento da poupança interna, mais investimento do Estado, mais junção entre empresa privada e pública, mais capital externo para investir no setor produtivo. Para tanto, é indispensável dar continuidade à ascensão dos mais pobres. Porque é isso que também vai garantir a ascensão do Brasil no mundo desenvolvido, com alto padrão de qualidade de vida, renda per capita de 20 mil, 30 mil dólares, e até mais. O Brasil não pode parar agora. Está tudo mais difícil, mas temos agora o que a gente não tinha há cinco anos, vamos contar com o pré-sal daqui a pouco.

CC: Temos um agronegócio muito exuberante, muito produtivo e competitivo: é possível mobilizar essa capacidade para estimular a indústria de equipamentos agrícolas?


Lula: Nós já temos uma indústria de equipamentos agrícolas muito boa. Quando na Presidência, cansei de discutir com empresários que feiras de agronegócio nós precisamos é fazer na Argentina, no México, Nigéria, Angola, Índia. Temos de mostrar nossa capacidade nos outros mercados. Esta é uma área na qual o Brasil está pronto, não só porque tem conhecimento tecnológico, mas também porque tem capacidade de área agricultável, terra, sol e água. Sem a vergonha de dizer que exportamos commodities. Hoje, a commodity tem preço. O que nós precisamos é produzir não só o alimento, mas a indústria de alimentos, não só a soja, mas o óleo de soja.

CC: Permita-nos insistir: como vencer as resistências da elite, atiçada pela mídia?

Lula: No movimento sindical, em 1969, comecei a negociar com a Fiesp, certamente a elite era muito mais retrógrada do que hoje. Eu lembro quando nós constituímos a primeira grande comissão de fábrica na Volkswagen nos anos 80, nós fomos pedir a Antônio Ermírio de Moraes a criação de uma comissão de fábricas na sua indústria química de São Miguel Paulista, e significava trabalhador querendo mandar na empresa dele. Hoje tem uma classe empresarial, mais jovem, que já compreende a importância da negociação coletiva. Mesmo assim, permanecem setores retrógrados. Ainda temos coronel que mata gente por este Brasil afora por briga de terra. Nesses dias a Nissan americana não queria deixar seu pessoal sindicalizar-se por lá mesmo e eu tive de mandar uma carta para o presidente da empresa. Mas voltemos à mídia.

CC: A mídia nutre essa elite.

Lula: Eu certamente não sou especialista nesta questão da mídia e nunca tive muita simpatia dos seus donos. Toda vez que tentei conversar com eles, cuidei de explicar que ao governo não interessa uma mídia chapa-branca, como foram no governo Fernando Henrique Cardoso. Eu não quero isso, não quero que tratem o PT como trataram a turma do Collor nos dois primeiros anos do seu mandato. Agora, também é inaceitável a falta de respeito com Dilma. Se querem falar mal, façam-no no editorial do jornal. Na hora da cobertura do fato, publiquem o fato como ele é. Nunca liguei para o dono de mídia pedindo para fazer essa ou aquela matéria, mas o respeito há de ter, tanto mais por parte da comunicação, que é concessão do Estado. Respeito à instituição, e acho que eles saíram de um momento em que lambiam as botas da ditadura e evoluíram para o pensamento único a favor de FHC, e contra o meu governo e contra o da Dilma, e contra a presidenta com agressividade ainda maior.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

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Contraponto 13.922 - "Vídeo mostra as obras nas cidades da Copa que o Ronaldo disse que não existe."

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31/05/2014

 

Vídeo mostra as obras nas cidades da Copa que o Ronaldo disse que não existe.

 

 

 

Amigos do Presidente - sábado, 31 de maio de 2014


O panorama das sedes da Copa a 14 dias da abertura:


Imagens captadas em maio de 2014 pela equipe do Ministério do Esporte fazem um retrato de obras para a Copa do Mundo da FIFA 2014 nas 12 sedes. Os palcos dos 64 jogos, obras finalizadas em aeroportos, intervenções na reta final em portos e ações de mobilidade urbana estão retratadas. Em Belo Horizonte, o BRT Move está em fase de testes. No Rio de Janeiro, a Transcarioca, que já tem trechos operacionais, será entregue oficialmente neste fim de semana. O corredor Mario Andreazza já é usado pelos motoristas de Cuiabá. As obras de acesso ao aeroporto de Brasília foram entregues. As intervenções de mobilidade no entorno da Arena Corinthians aparecem em fase final.

A construção de um novo aeroporto no Rio Grande do Norte tornou-se realidade em São Gonçalo do Amarante. O início da operação oficial está agendado para este sábado (31.05). Também é possível ver detalhes dos novos terminais de Manaus, do Galeão (RJ), de Brasília (DF) e de Guarulhos (SP), além do Terminal Temporário de Fortaleza. Nas 12 sedes, a estrutura aeroportuária, segundo informações da Infraero, é superior à demanda exigida pelo Mundial. Os terminais de passageiros dos portos de Natal e Salvador têm previsão de entrega em junho. O de Fortaleza estará operacional para o Mundial. O de Recife funciona desde o ano passado.

As imagens também mostram os Campos Oficiais de Treinamento em Manaus à espera das equipes que jogarão na Arena da Amazônia. Os 12 estádios que receberão as partidas da Copa já passaram por testes oficiais e foram entregues para a gestão da FIFA. Obras no entorno das arenas, como a Passarela da Quinta da Boa Vista, ao lado do Maracanã, e os acessos à Arena Pernambuco, estão concluídas.
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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Contraponto 13.921 - "O assombro do craque Iniesta e a intolerância fascista das 'elites' brasileiras"

 

30/05/2014


 

O assombro do craque Iniesta e a intolerância fascista das “elites” brasileiras 

 



O craque Iniesta talvez saiba que a Copa não é responsável pelos problemas do Brasil. Quem não sabe são os coxinhas e parte das "elites".
Por Davis Sena Filho 
Iniesta, um dos craques do Barcelona, igualmente a outras pessoas famosas em suas atividades, diz não compreender tantos protestos no Brasil, porque, para ele, o povo deveria celebrar. O craque afirma essas palavras porque ele, sem sombra de dúvida, não desconhece a atuação da imprensa-empresa que viceja no Brasil, controlada por seis famílias bilionárias, sendo que a família mais rica deste País é composta pelos irmãos Marinho, que juntos têm um patrimônio estratosférico e particular de quase US$ 30 bilhões.

Essas pessoas por serem tão ricas e poderosas economicamente e financeiramente são capazes, por exemplo, de boicotar e sabotar durante 12 anos os governos trabalhistas de Lula e Dilma Rousseff, de caracteres populares e eleitos pelo povo sem a menor preocupação com a estabilidade política e a harmonia entre os Poderes da República. O que está em jogo no pensamento pernicioso e hegemônico dessa gente é a supremacia das classes sociais as quais representam, bem como manter intactos os benefícios e privilégios da Casa Grande, com o apoio incondicional das classes médias tradicionais, de maioria branca, responsável principal pela repercussão dos valores e dos princípios da grande burguesia.

O craque espanhol Iniesta não conhece (e não o critico) a história do Brasil e muito menos a vocação destrutiva, a língua ferina, o preconceito latente e o imenso desprezo que as classes dominantes e, por sua vez, privilegiadas sentem, demonstram e praticam contra o Brasil e a maioria de sua população. Desde que o Brasil conquistou o direito de realizar a Copa do Mundo e também as Olimpíadas aconteceu uma grande festa popular no País, inclusive com o apoio e a cobertura da Rede Globo, que, por exemplo, cobriu jornalisticamente a grande festa que houve nas areias das praias de Copacabana.

Com o passar do tempo e a demonstração de força do crescimento do Brasil, em todos os campos e segmentos econômicos e sociais — uns mais e outros menos —, os magnatas bilionários de imprensa ou de todas as mídias, à escolha, perceberam que apoiar a Copa, celebrá-la e dar um enfoque positivo para tal evento histórico, a ser realizado no Brasil, poderia prejudicar seus interesses políticos. Até porque os econômicos, realmente, vão ser atendidos, pois os lucros gigantescos que essas corporações midiáticas privadas vão auferir é para fazer com que os outros setores da economia sintam inveja e vontade de mudar de ramo.

A verdade é que o jogador Iniesta, instintivamente, sabe que uma Copa é momento de celebração, independente de questões sociais e econômicas que determinado país enfrenta, afinal todas as sociedade e nações enfrentam problemas, inclusive as consideradas ricas e desenvolvidas. Os EUA e os europeus ricos da Europa ocidental realizaram, no decorrer das décadas, inúmeros eventos, e em muitos desses países foram observados pela imprensa e pelos governos atrasos em obras, falhas em determinados setores e, evidentemente, que aconteceram protestos e enfrentamentos entre policiais e manifestantes.

Se algum leitor duvida, que pesquise e verifique. Ponto! Contudo, transformar a Copa de 2014 em um evento desprezível e que por isso não deveria acontecer no Brasil é um desejo de uma minoria radical, insuflada há sete anos ininterruptamente por uma mídia venal e historicamente golpista, que, apesar de encher seus cofres com bilhões de reais por causa dos jogos, considera que desacreditar ou infamar a Copa é a opção plausível para que a direita brasileira, uma das mais perversas do mundo, conquiste pontos junto ao eleitorado desavisado, e, obviamente, conservador.

A imprensa que luta para atrair os incautos e ignaros, principalmente os jovens, que conhecem pouco da história do Brasil e quase nunca estão dispostos a ler, além de se transformar em massa de manobra de uma imprensa burguesa, a que eles têm acesso e que somente ouve um lado, porque tem preferência partidária e cor ideológica. A imprensa-empresa do jornalismo meramente declaratório e evidenciado por intermédio de offs — o que é por de mais questionável. A imprensa alienígena, de péssima qualidade editorial, que se recusa a discutir e a debater o País de forma séria, para que a sociedade brasileira possa crescer e se desenvolver, e, por seu turno, conquistar definitivamente a sua emancipação política e econômica. 

Às vezes fico a rir. E explico. É sobre a frase que virou bordão nas redes sociais, na imprensa e nos protestos. “Quero o padrão Fifa!” Não há nada mais ridículo e equivocado. Os grupos de extrema esquerda exemplificados em militantes do PSTU e, principalmente, no que tange aos integrantes do PSOL, além dos Black Blocs, que cometem, sim, senhor, atos de terrorismo — explodir coquetéis molotovs em recintos fechados, públicos e privados, ônibus, ruas e praças ocupadas por pessoas é uma temeridade, além de ser crimes que não deveriam ser tolerados e punidos exemplarmente com a força da lei —, estão a exigir o “padrão” Fifa, juntamente com os coxinhas de classe média, que detestam esses grupos, mas os apoiam pelas redes sociais porque desejam a derrota do PT e do Governo Trabalhista nas eleições presidenciais, que acontecerão em outubro.

Como afirmei antes, o bordão é ridículo e sem sentido, porque a Fifa é considera por essas pessoas, mascaradas ou não, uma instituição corrupta, criminosa, uma verdadeira máfia, que só pensa em lucro, além de não ter quaisquer compromissos com países, governos e sociedades. Enfim, a Fifa é um “covil de ladrões e bandidos”, como apregoam esses mesmos grupos radicais e que são financiados pela extrema esquerda, com a participação da direita, que utiliza “seus” meios de comunicação privados (televisões, rádios, internet, redes sociais etc.) para disseminar notícias negativas contra o Governo Trabalhista e apoiar os movimentos de rua.

Uma imprensa comercial e privada detestada pelos movimentos de classe, os sociais e reivindicatórios, que, temendo ser agredida, bem como ouvir palavras de ordem e palavrões resolveu realizar suas coberturas jornalísticas por intermédio de helicópteros, porque sabe e compreende que os mesmos grupos, que atacam o Governo Federal, também conhecem o papel da imprensa corporativa e sectária, que jamais vai estar, de fato, ao lado dos trabalhadores, como nunca esteve em toda sua nada honrada história.

Entretanto, com o propósito de derrotar o Governo Dilma, os magnatas bilionários, além de dar voz às greves de categorias que ocupam as ruas, de forma autoritária, a prejudicar a rotina das grandes e médias cidades, porque a verdade é que as greves se tornaram não mais um meio para forçar o diálogo e conquistar benefícios junto aos patrões e governantes, mas, evidentemente, muitas delas se transformaram apenas em luta política, o que é um erro, sendo que o brado mais ouvido é sobre a queda, a derrubada de governantes eleitos dentro de um processo democrático, a ter a Constituição e as leis eleitorais como inspiração.

Todo trabalhador tem direito à greve. Mas, nem toda greve é direcionada para os legítimos direitos de o trabalhador viver com dignidade e respeito. O que eu mais faço em décadas é defender o trabalhador. Todavia, é visível a intenção de algumas poucas categorias no que diz respeito a paralisar as cidades por meio da ocupação de suas principais vias. Como também é visível, mas nem sempre transparente as ações violentíssimas dos Black Blocs e de grupos menos expressivos no que concerne à violência, a exemplo dos coxinhas fantasiados com máscaras do anonymous, a portar cartazes ridiculamente e que praticamente sumiram das ruas.

E por quê? Porque coxinha gosta de reclamar, falar mal e demonstrar sua violência e seus preconceitos de classe, de credo, de raça e de nacionalidade por intermédio da internet. Lá, o coxinha reacionário, egoísta e presunçoso se agiganta, e, geralmente, de maneira anônima, porque coxinha de classe média que se preza não mostra sua cara, porém, evidencia, com prazer e brutalidade, sua língua ferina, sua mente corrompida e seu coração perverso. O coxinha é o black bloc em online — virtual. Trata-se de um covarde e oportunista. Tanto o é que logo no início das primeiras manifestações de junho de 2013, a classe média tradicional saiu à ruas, a aproveitar a oportunidade que o Movimento Passe Livre (MPL (entidade de esquerda) “proporcionou” a eles.

Explico melhor: quando o MPL saiu às ruas e foi atacado pela polícia, os meios de comunicação privados cobriram o episódio de forma a fazer com que houvesse mais do que uma questão reivindicatória, mas, sim, de ordem emocional. Quando grupos da esquerda radical saíram para apoiar, os coxinhas, antes mesmo de os black blocs aderirem ao movimento, saíram às ruas, com cartazes e algumas máscaras do anonymous. A partir da intervenção dos grupos vestidos de preto e mascarados, o pau quebrou.

A classe média que é tão violenta, sectária e reacionária em pensamento e na internet recuou e foi dar continuidade ao que ela já faz há muito tempo, que é xingar, ofender e demonstrar todo seu descontentamento com a ascensão de brasileiros pobres, remediados ou cuja origem é a classe média baixa. Além disso, como já afirmei várias vezes, a classe média tradicional se considera a porta-voz dos valores ocidentais, ou seja, da sociedade estadunidense e dos ricos do Brasil.(Os grifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)

Além de ela ser portadora de um incomensurável e inenarrável complexo de vira-lata, a classe média tradiconal se considera também a responsável pelos valores cristãos, apesar de Deus ou Jesus pregarem que a intolerância, o racismo, a violência, o preconceito de classe e o ódio às minorias e aos desiguais e diferentes são pecados, o que, indubitavelmente, não foi compreendido pelos coxinhas, que, no fundo, são ideologicamente mais violentos que os black blocs. Que o digam suas mensagens intolerantes e rastaqueras veiculadas pelas redes sociais. Fascismo na veia. Bingo!

O craque do Barcelona e da Seleção da Espanha, Iniesta, tem razão, mas se ele conhecesse a sociedade brasileira com profundidade não ficaria tão surpreso. Aqui vicejam os que reclamam com a barriga cheia, mas não querem que todos os brasileiros enchem as suas. O Brasil tem uma “elite” acostumada a ter tudo somente para ela e por causa disto não está acostumada a dividir. Apesar dos avanços formidáveis nos últimos 12 anos, ainda somos um sociedade injusta e desigual. Uma Nação que ao mesmo tempo foi vítima e algoz da escravidão de quase 400 anos.

A maioria dos burgueses e dos pequenos burgueses é um retrocesso quando se trata de compreender historicamente e politicamente o Brasil para que se possa construir uma sociedade humanitária e solidária. Eles reagem fortemente mesmo sabendo que dividir, promover a igualdade e a justiça social vai favorecer e beneficiar a sociedade. Sempre me “surpreendo” e fico indignado com tanta intolerância e ausência de senso crítico por parte de grupos sociais que há cerca de 150 anos frequentam as universidades brasileiras e estrangeiras. É um contrassenso total. Iniesta é grande jogador e não compreende. Não poderia ser diferente. Eu compreendo e por isto é mais do que necessário que o campo da esquerda e trabalhista vença as eleições de outubro. É isso aí. 
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Contraponto 13.920 - "O NOVO PAPEL DE JOAQUIM"

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30/05/2014

 

O NOVO PAPEL DE JOAQUIM

Ao deixar STF, ministro ficará longe de cenas constrangedoras que aguardam futuro da AP 470



ISTOÉIndependente -  30/05/2014

 Paulo Moreira Leite


A saída de Joaquim Barbosa do STF representa um alívio para a Justiça do país e é uma boa notícia para os fundamentos da democracia brasileira. Abre  a oportunidade para a recuperação de noções básicas do sistema republicano, como a separação entre poderes, e o respeito pelos direitos humanos – arranhados de forma sistemática no tratamento dispensado aos réus da Ação Penal 470, inclusive quando eles cumpriam pena de prisão. 

Ao aposentar-se, Joaquim Barbosa ficará longe dos grandes constrangimentos que aguardam “o  maior julgamento do século,” o que pode ser util na preservaçãdo do próprio mito. 

Para começar, prevê-se, para breve, a absolvição dos principais réus do mensalão PSDB-MG, que sequer foram julgados – em primeira instância – num tribunal de Minas Gerais. Um deles, que embolsou R$ 300 000 do esquema de Marcos Valério – soma jamais registrada na conta de um dirigente do PT -- pode até sair candidato ao governo de Estado. 

Joaquim  deixa o Supremo depois de uma decisão que se transformou em escândalo jurídico.  Num gesto que teve como consequencia real manter um regime de perseguição permanente aos condenados da AP 470, revogou uma jurisprudência de quinze anos, que permitia a milhares de réus condenados ao regime semi-aberto a trabalhar fora da prisão -- situação que cedo ou tarde iria incluir José Dirceu, hoje um entre tantos outros condenados. Mesmo Carlos Ayres Britto, o principal aliado que Joaquim já fez no STF, fez questão de criticar a decisão. Levada para plenário, essa medida é vista como uma provável derrota de Joaquim para seus pares que, longe de expressar qualquer maquinação política de adversários, apenas reflete o desmonte de sua liderança no STF. 

Em outro movimento na mesma direção,  o Supremo acaba de modificar as regras para os próximos julgamentos de políticos. Ao contrário do que se fez na AP 470 – e só ali -- eles não serão julgados pelo plenário, mas por turmas em separado do STF. Não haverá câmaras de TV. E, claro:  sempre que não se tratar de um réu com direito a foro privilegiado, a lei será cumprida e a ninguém será negado o direito de um julgamento em primeira instância, seguido de pelo menos um novo recurso em caso de condenação. É o desmembramento, aquele recurso negado apenas aos réus da AP 470 e que teria impedido, por exemplo, malabarismos jurídicos como a Teoria do Domínio do Fato, com a qual o Procurador Geral da Republica tentou sustentar uma denúncia sem provas consistentes contra os principais réus.  

 Hoje retratado como uma autoridade inflexível,   incapaz de qualquer gesto inadequado para defender interesses próprios – imagino quantas vezes sua capa negra será exibida nos próximos dias, num previsível efeito dramático  – Joaquim chegou ao STF pelo caminho comum da maioria dos mortais. Fez campanha. 

 Quando duas aguerridas parlamentares da esquerda do PT – Luciana Genro e Heloísa Helena – ameaçaram subir à tribuna do Congresso para denunciar um caso de agressão de Joaquim a sua ex-mulher, ocorrido muitos anos antes da indicação, quando o casal discutia a separação,  o presidente do partido José Genoíno (condenado a seis anos na AP 470) correu em  defesa do candidato ao Supremo. Argumentou que a indicação representava um avanço importante na vitória contra o preconceito racial e convenceu as duas parlamentares. (Dez anos depois desse gesto, favorável a um cidadão que sequer conhecia, Joaquim formou sucessivas juntas médicas para examinar o cardiopata Genoíno. Uma delas autorizou a suspensão da prisão domiciliar obtida na Justiça).

 O diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato (condenado a 12 anos na AP 470) foi procurado para dar apoio, pedindo a Gilberto Carvalho que falasse de seu nome junto a Lula. José Dirceu (condenado a 10 anos e dez meses, reduzidos para sete contra a vontade de Joaquim), também recebeu pedido de apoio. Dezenas – um deputado petista diz que eram centenas – de cartas de movimentos contra o racismo foram enviadas ao gabinete de Lula, em defesa de Joaquim. Assim seu nome  atropelou outro juristas negros – inclusive um membro do Tribunal Superior do Trabalho, Carlos Alberto Reis de Paula – que tinha apoio de Nelson Jobim para ficar com a vaga. 

Quando a nomeação enfim saiu, Lula resolveu convidar Joaquim para acompanha-lo numa viagem presidencial a África. O novo ministro recusou. Não queria ser uma peça de marketing, explicou, numa entrevista a Roberto dÁvila. Era uma referência desrespeitosa, já que a África foi, efetivamente, um elemento importante da diplomacia brasileira a partir do governo Lula, que ali abriu embaixadas e estabeleceu novas relações comerciais e diplomáticas. 

  De qualquer modo, se era marketing convidar um ministro negro para ir a África, por que não recusar  a mesma assinatura da mesma autoridade que o indicou   para o Supremo?
    
À frente da AP 470, Joaquim Barbosa jamais se colocou na posição equilibrada que se espera de um juiz. Não pesou os dois lados, não comparou argumentos. 

Através do inquérito 2474, manteve em sigilo fatos novos que poderiam embaralhar o trabalho da acusação e que sequer chegaram ao conhecimento do plenário do STF – como se fosse correto selecionar elementos de realidade que interessam a denúncia,  e desprezar aqueles que poderiam, legitimamente, beneficiar os réus.   Assumiu o papel de inquisidor, capaz de tentar destruir, pela via do judiciário, aquilo que os adversários do governo se mostravam incapazes de obter pelas urnas.
     
Ao verificar que o ministro era capaz de se voltar em fúria absoluta contra as forças políticas que lhe deram sustentação para chegasse a mais alta corte do país, os adversários da véspera esqueceram por um minuto as desconfianças iniciais, as críticas ao sistema de cotas e todas políticas compensatórias baseadas em raça. 

Passaram a dizer, como repete Eliane Cantanhede na Folha hoje, que Joaquim rebelou-se contra o papel de “negro dócil e agradecido.” Rebelião contra quem mesmo? Contra o que? A favor de quem?

Já vimos e logo veremos.

Basta prestar atenção nos sorrisos e fotografias da campanha presidencial.



Paulo Moreira Leite. Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa". 
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Contraponto 13.919 - "O acordo de Alcântara e a diplomacia da sabujice"

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30/05/2014

O acordo de Alcântara e a diplomacia da sabujice


Sugerido por Assis Ribeiro
Da Carta Capital

A diplomacia da sabujice contra-ataca


Por Roberto Amaral

Acordo firmado entre o governo FHC e os EUA para a cessão de parte do território de Alcântara só se assina de cócoras

Às vezes pequenos gestos, ou gestos aparentemente pequenos, são a medida de grandes políticas, em cujo rol incluo a política externa independente estabelecida a partir do primeiro dia do governo Lula. Ela remonta às formulações de Afonso Arinos e San Tiago Dantas, continuadas por Hermes Lima, Evandro Lins e Silva e Araújo Castro. Dela, uma de suas fundamentais iniciativas foi o defenestramento de Washington (é só um exemplo de outras remoções necessárias aos interesses nacionais) do embaixador brasileiro que lá se encontrou a serviço da subserviência. Serviço que prestava, ressalte-se, gratuitamente, por pura sabujice e satisfação interna, assim como age todo colonizado em frente ao seu senhor colonizador, máxime quando todo poderoso. Franz Fanon – leitura reatualizada como neocolonialismo– trabalhou muito bem  essa categoria de dominado que assume por prazer a ideologia (donde o discurso) do dominante, reproduzindo-o como passiva correia de transmissão. Aliás, esses pobres diabos não reconhecem seu próprio  papel ideológico, e, como se não soubessem o que é  ideologia, classificam como ideológico tudo aquilo que não segue o catecismo no qual aprenderam os mandamentos do servilismo. Para eles, por exemplo,  toda ação de defesa dos interesses do país – o nacionalismo, vá lá — é carregada por uma pulsão ideológica, e a única formulação ideológica que  conhece é a do esquerdismo. O entreguismo, não. Esse é puro sentimento ou ciência.

Antigos embaixadores de carreira, particularmente os que andaram por Washington, Londres, Paris e Berlim,  que serviram com denodo à lastimável política externa de FHC, aproveitam-se  da aposentadoria merecida para, na imprensa que lhes abre espaços generosos, combater, os interesses nacionais, a pretexto de fazerem oposição à atual política externa brasileira por eles estigmatizada como ideológica, e ideologia cai no dicionário dos adjetivos pejorativos. Como se a própria crítica não fosse uma ideologia a serviço de um interesse.

Em espaço latifundiário num grande jornal paulista, o candidato a ministro das Relações Exteriores em eventual governo do ex-governador mineiro (o que é em si uma ameaça),  reclama da recusa do Congresso Nacional em ratificar o Acordo firmado entre o governo FHC e os EUA para a cessão de parte da soberania brasileira sobre o território de Alcântara, no Maranhão, para a instalação de uma base de lançamentos de foguetes. Acusa o governo Lula de haver agido por ‘razões ideológicas’. Ora, o ex-embaixador, convenientemente, esquece-se de dizer que a ratificação do Acordo fôra rejeitada por 23 dos 25 integrantes da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em rara demonstração de convergência suprapartidária naquela Casa, fundamentada em primoroso voto do então deputado Waldir Pires.

O ex-embaixador, que, aliás, e por coerência, preside a Câmara de Comércio Brasil-EUA, não se dá ao trabalho de explicar que sorte de acordo era este firmado por FHC. Para suprir sua omissão, informemos algumas de suas características, negadas aos seus leitores. Vejamos.

O acordo leonino previa a possibilidade de veto político (sem necessidade de justificativa) dos EUA a lançamentos, brasileiros ou não, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, empreendimento brasileiro em território brasileiro, hoje uma base da Força Aérea Brasileira (art.III, A); proibia nosso país de cooperar (entenda-se como tal aceitar ingresso de equipamentos, tecnologias, mão-de-obra ou recursos financeiros) com países não membros do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis –Missile Techonology Control Regime-MTCR (art. III, B); proibia o Brasil de incorporar ao seu patrimônio ‘quaisquer equipamento ou tecnologia que tenham sido importados para apoiar Atividades de Lançamento’ (art. III, C); proibia o Brasil de utilizar recursos decorrentes dos lançamentos no desenvolvimento de seus próprios lançadores (artigo III, E); obrigava o Brasil a assinar novos acordos de salvaguardas com outros países, de modo a obstaculizar a cooperação tecnológica (art.III, F); proibia os participantes norte-americanos de prestarem qualquer assistência aos representantes brasileiros no concernente ao projeto, desenvolvimento, produção, operação, manutenção, modificação, aprimoramento, modernização ou reparo de Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins (art. V, 1); concedia a pessoas indicadas pelo governo dos EUA  a exclusividade do controle, vinte e quatro horas por dia, do acesso a Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, dados Técnicos e ainda o acesso às áreas restritas referidas no artigo IV, parágrafo 3, bem como do transporte de equipamentos/componentes, construção/instalação, conexão/desconexão, teste e verificação, preparação para lançamento, lançamento de Veículos de Lançamento/Espaçonaves, e do retorno dos equipamentos e dos dados Técnicos (art.VI, 2);  negava aos brasileiros e fazia concessão exclusiva aos servidores dos EUA do  livre acesso, a qualquer tempo, ao Centro de Lançamento para inspecionar Veículos etc. (art.VI, 3); exigia do governo brasileiro a garantia de que todos os representantes brasileiros portariam, de forma visível, crachás de identificação enquanto estiverem cumprindo atribuições relacionadas com Atividades de Lançamento; referidos crachás, porém,  seriam emitidos unicamente pelo governo dos EUA, ou por Licenciados Norte-Americanos (art. VI, 5).

Este é um típico acordo de lesa-pátria que só se assina de cócoras e só pode sentir-se bem em firmá-lo um governo cujo chanceler se dispôs a tirar os sapatos para ingressar no sagrado solo dos EUA.
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Tenho a honra de, como Ministro da Ciência e Tecnologia,  na digna companhia dos ministros  Celso Amorim (Itamaraty) e José Viegas (Defesa), haver solicitado ao governo da República a retirada desse acordo do Congresso. O objetivo era cuidar da soberania nacional, nosso dever funcional que não alcança determinados embaixadores, e assegurar, no futuro, a possibilidade de o Brasil possuir um Programa Espacial Autônomo. Projeto ao qual, claramente, sem tergiversações, sempre se opuseram e se opõem os EUA. Assim, já no distante 1997 -- trata-se apenas de um exemplo, um em cem--, nos primórdios do Projeto Cyclone-IV, decorrente do acordo Brasil-Ucrânia (que o embaixador malsina simplesmente porque ele inviabilizou ou atrasou o acordo com os EUA), a FIAT-Avio, que dele participava, desligou-se ao ser notificada de que os EUA não viam com bons olhos o programa espacial brasileiro. (‘Para que os brasileiros querem ter um programa espacial próprio se podem comprar nossos serviços de lançamento?’). Quando da homologação pelo Congresso brasileiro do Acordo com o Brasil, a Ucrânia foi informada de que os EUA não ofereciam óbices à cooperação, ‘mas continuavam entendendo que o Brasil não deveria ter programa espacial próprio’. (Tenho cópia deste documento.) E enquanto não tem, depende dos lançadores e dos satélites dos EUA e da China. O Brasil despende, por lançamento realizado em sitio de terceiros, algo entre 25 e 50 milhões de dólares.

Nosso atual programa compreende satélites lançados lá fora: dos EUA – um satélite pequeno, mas cujo lançamento nos custou 100 milhões de reais; a classe dos CBERS – satélites construídos por Brasil e China, mas lançados da China, com seu veículo Longa Marcha; e outros, fabricados para nós no Canadá, ainda nos EUA e na França, e lançados todos da base de Kourou, na Guiana Francesa.
O acordo rejeitado era e é só e tão só um instrumento a mais, que se associava às pressões diplomáticas desde cedo levadas a cabo, pois, como todo mundo sabe, sabem até as esculturas de Bruno Giorgio que embelezam os jardins do Itamaraty, os EUA possuem vários centros de lançamentos e não carecem do nosso. Seu objetivo era e é simplesmente inviabilizar nosso projeto de desenvolvimento autônomo, ou fazer com que o Centro de Lançamentos de Alcântara, uma vez construído,  não fosse nosso, mas deles, ou que, na última das hipóteses, estivesse sob seu absoluto controle.

Este é o cerne da questão. As distorções ideológicas ficam por conta do embaixador amuado pela perda do posto.
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Contraponto 13.918 - "Brasil guardou duas Copas para juro e investiu mais duas, até abril. FH vendeu a Vale por 1/2…"


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30/05/2014

 

Brasil guardou duas Copas para juro e investiu mais duas, até abril. FH vendeu a Vale por 1/2…

 
Tijolaço - 30 de maio de 2014 | 00:23 Autor: Fernando Brito 
emcopas2
 


Fernando Brito 

Se a gente considerar os gastos do Governo Federal com a Copa do Mundo – mesmo somando o que foi aplicado em obras de mobilidade urbana que tem bem pouco a ver, senão a oportunidade, com os jogos de futebol e os financiamentos do BNDES para os construtores dos estádios, que voltarão ao cofres do Banco – tem-se, segundo a Folha, R$ 13,1 bilhões

O jornal mostrou que, mesmo juntando estados e municípios e gastos privados na conta,  para chegar a R$ 25,8 bilhões, não daria para um mês dos gastos públicos com educação.

Mas alguns argumentaram que isso inclui pessoal, encargos e outros gastos de custeio, que não são, como aqueles, investimentos novos.

Muito bem.

Então fui comparar aos investimentos.

Até abril, segundo dados apresentados hoje pelo Tesouro Nacional, os programas de investimento federais desembolsaram, desde janeiro, R$ 27,4 bilhões, com destaque para o PAC (R$ 19, 9 bilhões) e o Minha Casa, Minha Vida.

Mais de duas Copas, ao longo de sete anos, portanto, apenas como investimento, obras, sem contar salários e outros gastos de custeio, em apenas quatro meses.

Se somarmos as outras despesas de custeio, o dispêndio com a Saúde, sem contar o transferido para Estados, só em março e abril ( R $ 7,05 bi e R$  6, 85 bi) é outra Copa.

Se a isso somarmos o que se destina à saúde pela renúncia fiscal federal em favor de planos de saúde e despesas médicas, só em 2011 (hoje certamente será bem mais), que somou R$ 15,8 bi, dá mais outra Copa ainda, com sobras.

Haja Copa!

Mas é possível fazer outra conta, também, esta bem triste.

É que de janeiro a abril acumulamos um superavit primário de R$ 29, 7 bilhões, mais de duas Copas.
É dinheiro que deixamos de gastar em saúde, educação, estradas, portos. E que não vai nem deixar estádios ou metrô, linhas expressas e outras obras “da Copa”.

Vai para a turma da “bufunfa” padrão Fifa, na forma de juros e encargos da dívida brasileira.

O olha que isso não chega para cobrir nem a metade dos cerca de R$ 80 bilhões que o país pagou de juros, quase seis Copas.

Mas essa despesa é boa, bonita e agradável ao poder econômico e à mídia, deus os livre de fazerem tal comparação.

Daqui a pouco vai aparecer um inconveniente dizendo que, nos sete anos de preparação para a Copa, o dinheiro que ganharam com juros daria para construir algo como mil e quinhentos estádios de R$ 1 bilhão cada!

A única comparação que não dá para fazer é quantas Copas daria para fazer com o dinheiro pelo qual Fernando Henrique vndeu a Vale, maior empresa de minério de ferro do mundo.

É que foram só US$ 3 bilhões, ou R$ 6,4 bilhões em dinheiro ao câmbio de hoje.

Não dá meia Copa sequer.
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Contraponto 13.917 - "Para calcular o futuro"


30/05/2014 

Para calcular o futuro


Carta Maior - 29/05/2014 


José Luís Fiori

José Luís FioriO Brasil é hoje um dos países do mundo com maior potencial de crescimento pela frente, se tomarmos em conta seu território, sua população e seus recursos.

“As “grandes potências” se protegem coletivamente, impedindo o surgimento de novos estados e economias líderes, através da monopolização das armas, da moeda e das finanças, da informação e da inovação tecnológica. Por isto, uma “potencia emergente” é sempre um fator de desestabilização e mudança do sistema mundial, porque sua ascensão ameaça o monopólio das potências estabelecidas”.
 
J.L.F. “História, Estratégia e Desenvolvimento. Para uma Geopolítica do Capitalismo”, Editora Boitempo, 2014, SP, p: 35 ( no prelo )

No Século XX,  o Brasil deu um passo enorme e sofreu uma transformação profunda e irreversível, do ponto de vista econômico, sociológico e político. No início do século, era um país agrário, com um estado fraco e fragmentado, e com um poder econômico e militar muito inferior ao da Argentina.  Hoje, na segunda década do século XXI, o Brasil é o país mais industrializado da  América Latina, e a sétima maior economia do mundo; possui um estado centralizado e democrático, uma sociedade altamente urbanizada – ainda que desigual - e é o principal player internacional do continente sul-americano.

Além disso, é um dos países do mundo com maior potencial de crescimento pela frente, se tomarmos em conta seu território, sua população e  sua dotação de recursos estratégicos, sobretudo se for capaz de combinar seu potencial exportador de commodities com a expansão sustentada do seu próprio parque industrial e tecnológico. Tudo isto são fatos e conquistas inquestionáveis, mas estes fatos e conquistas colocaram o Brasil frente a um novo elenco de desafios internacionais, e hoje, em particular, o país está enfrentando uma  disjuntiva extremamente complexa.

As próprias dimensões que o Brasil adquiriu, e as decisões que tomou no passado recente, colocaram o país dentro do grupo dos estados e das economias nacionais que fazem parte do núcleo de poder do “caleidoscópio mundial”: um pequeno número de estados e economias nacionais que exercem - em maior ou menor grau - um efeito gravitacional sobre todo o sistema, e que são capazes, simultaneamente,  de produzir um “rastro de crescimento” dentro de suas próprias regiões.

Queiram ou não queiram, estes países criam em torno de si “zonas de influência”, onde tem uma responsabilidade política maior que a dos seus vizinhos, enquanto são chamados a se posicionar sobre acontecimentos e situações longe de suas regiões, o que não acontecia antes de sua ascensão. Mas ao mesmo tempo, os países que ingressam neste pequeno “clube” dos países mais ricos e poderosos tem que estar preparados, porque entram automaticamente num novo patamar de competição, cada vez mais feroz, entre os próprios membros desse “núcleo” que lutam entre si para impor a todo o sistema, os seus objetivos e as suas estratégias nacionais de expansão e crescimento.

Neste momento o Brasil o já não tem como recuar sem pagar um preço muito alto. Mas por outro lado, para avançar, o Brasil terá que ter uma dose extra de coragem, persistência e inventividade. Além disto, terá que ter objetivos claros e uma coordenação estreita, entre as agências responsáveis pela política externa do país, envolvendo a sua diplomacia, a sua política de defesa, articuladas com sua política econômica e com sua política de difusão global de sua cultura e dos seus valores. E o que é mais importante, o Brasil terá que sustentar uma “vontade estratégica” consistente e permanente, ou seja, uma capacidade social e estatal de construir consensos em torno de  objetivos  internacionais de longo prazo,  junto com a capacidade de planejar e implementar  ações de curto e médio prazo,  mobilizando os atores sociais, políticos e econômicos  relevantes, frente a cada situação e desafio em particular.  

Mais difícil do que tudo isto, entretanto, será o Brasil descobrir um novo caminho de afirmação da sua liderança e do seu poder internacional, dentro e fora de sua zona de influência imediata. Um caminho que não siga o mesmo roteiro das grandes potências do passado, e que não utilize a mesma arrogância e a mesma  violência que utilizaram os europeus e os norte-americanos para conquistar, submeter e “civilizar” suas colônias e protetorados.

Em segundo lugar, como todo país que ascende dentro do sistema internacional, o Brasil terá que questionar de forma cada vez mais incisiva, a ordem  institucional estabelecida e os grandes acordos geopolíticos em que se sustenta. Mas o Brasil terá que fazê-lo sem o uso das armas, e através de sua capacidade de construir alianças com quem quer que seja desde que o Brasil mantenha seus objetivos e valores, e consiga expandir-se e conquistar novas  posições dentro da hierarquia política e econômica internacional. Este objetivo  já não obedece mais a nenhum tipo de ideologia nacionalista, nem muito menos a qualquer tipo de cartilha militar, obedece a um imperativo “funcional”’ do próprio “sistema interestatal capitalista”: neste sistema, “quem não sobe cai” [1]. Mas ao mesmo tempo, “quem sobe”, tem que  estar preparado, porque será atacado e desqualificado inevitavelmente e de forma cada vez mais intensa e coordenada, dentro e fora de suas próprias fronteiras, caso não se submeta  à vontade estratégica dos antigos donos do poder global. Em qualquer momento da história é possível acovardar-se e submeter-se, mas atenção, porque o preço desta humilhação será cada vez maior e insuportável  para a sociedade brasileira.


[1] Elias, N. O Processo Civilizador, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, vol 2, p: 134
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