21/12/2016
Previdência: o povo não merece pagar o pato. Por Paulo Paim
Do senador gaúcho Paulo Paim, hoje, no Jornal do Brasil:
Todos os governos que foram eleitos 
após a redemocratização tentaram reformar a Previdência Social com a 
alegação de que ela é deficitária e a qualquer momento pode explodir. O 
atual, tendo à frente, Michel Temer, vem agora como uma avalanche a 
atacar os direitos dos aposentados e dos trabalhadores.  A proposta de 
emenda à Constituição (PEC 387/2016) tramita na Câmara dos Deputados e 
já recebeu parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça.
Há dois objetivos nesta reforma. O 
primeiro é o da retirada de direitos dos trabalhadores, enrijecendo as 
regras para a concessão de aposentadorias, aumentando a idade mínima 
para 65 anos, desvinculando a correção dos benefícios previdenciários do
 salário-mínimo e do crescimento do PIB. A reforma vai prejudicar a 
todos os aposentados, os trabalhadores da ativa e aqueles que se 
preparam para entrar no mercado de trabalho. O segundo objetivo é para 
beneficiar o sistema financeiro e os bancos. A estratégia é desmoralizar
 a previdência pública brasileira para fortalecer a previdência privada.
Outros pontos a serem observados: fim
 da aposentadoria por tempo de contribuição. Unificação com 
aposentadoria por idade com carência de 25 anos; fim da aposentadoria 
especial por atividade de risco para policiais; limitação da redução da 
idade e contribuição para aposentadoria especial a 5 anos; proibição de 
acumulação de pensões e aposentadorias; fim do regime de contribuição do
 trabalhador rural com base na produção comercializada; entre outros. Já
 os militares das Forças Armadas e das Polícias Militares e Corpo de 
Bombeiros não foram incluídos nesta reforma.
Agora, você deve estar se 
perguntando. Sim, mas o que tudo isso vai influenciar na minha vida? Um 
homem ou uma mulher que começar a trabalhar com 16 anos, por exemplo, 
para se aposentar com 65 anos, como quer o governo, terá que contribuir 
praticamente por 50 anos. Quem começar a trabalhar com 20 anos vai 
ultrapassar os 70 anos para poder se aposentar, e assim por diante.  Com
 todo respeito, mas isto é quase na hora da morte. Já trabalhador rural 
começa a trabalhar muito antes dos 16 anos de idade, segundo o IBGE. E 
nós sabemos que é um trabalho muito mais penoso. Portanto, o que está em
 jogo é a garantia de uma vida com dignidade.  
Observem também o horizonte dessa 
reforma. Hoje, são pagos 32,7 milhões de benefícios, incluindo 9,7 
milhões de aposentadorias por idade, 7,4 milhões de pensões por morte, 
5,4 milhões de aposentadorias por tempo de contribuição e 3,2 milhões 
por invalidez, entre outros. O peso desses números é enorme, com impacto
 social e econômico.
A reforma vai atingir os municípios. 
Hoje, dos 5.566 municípios, em 3.875 (70%) o valor dos repasses aos 
aposentados e demais beneficiários da Previdência supera o repasse do 
Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Mais ainda, em 4.589, ou 82%
 do total, os pagamentos aos beneficiários do INSS superam a arrecadação
 municipal. É com o pagamento aos aposentados que a economia e o 
comércio dessas cidades giram.
Importante destacar que existe uma 
relação de causa e efeito entre a PEC 55 do teto, já sancionada, e a 
reforma da Previdência. É através dessa reforma que o governo tapará o 
buraco criado com a lei do teto. Em tempo: a PEC 55 limitou os 
investimentos públicos, por 20 anos, em saúde, educação, segurança, 
infraestrutura, entre outros. Ou seja, ela comprometeu os direitos 
sociais da Constituição.     
A Previdência integra o sistema de 
proteção criado na Constituição de 88, chamado de Seguridade Social, que
 inclui o tripé Previdência, Saúde e Assistência Social. A Previdência 
tem caráter contributivo e filiação obrigatória, a Saúde é um direito de
 todos e Assistência Social, destinada a quem dela precisar.
Esse sistema tem recursos próprios, 
conta com diversas fontes de financiamento, como contribuições sobre a 
folha de pagamento, sobre o lucro e faturamento das empresas, a 
contribuição de empregado e empregador, sobre importações e mesmo parte 
dos concursos de prognósticos promovidos pelas loterias da Caixa 
Econômica. Se há anos eles dizem que há déficit, há anos os números 
mostram justamente o contrário.
A Associação Nacional dos Auditores 
Fiscais da Receita Federal do Brasil divulga anualmente a publicação 
Análise da Seguridade Social e os superávits são sucessivos, a saber: 
saldo positivo de R$ 59,9 bilhões em 2006; R$ 72,6 bilhões, em 2007; R$ 
64,3 bi, em 2008; R$ 32,7 bi, em 2009; R$ 53,8 bi, em 2010; R$ 75,7 bi, 
em 2011; R$ 82,7 bi, em 2012; R$ 76,2 bi, em 2013; R$ 53,9 bi, em 2014.
Em 2015 não foi diferente. O 
investimento nos programas da Seguridade Social, que incluem as 
aposentadorias urbanas e rurais, benefícios sociais e despesas do 
Ministério da Saúde, entre outros, foi de R$ 631,1 bilhões, enquanto as 
receitas da Seguridade foram de R$ 707,1 bi. O resultado, mais uma vez 
positivo, foi de R$ 24 bilhões – nada de déficit!
E para agravar ainda mais o cenário, o
 Congresso promulgou uma proposta de Emenda à Constituição prorrogando a
 Desvinculação das Receitas da União (DRU) até o ano de 2023, e 
ampliando de 20% para 30% o percentual que o governo pode retirar dos 
recursos sociais. Isso significa a saída de R$ 120 bilhões por ano do 
caixa da Seguridade.
Todos esses números aqui expostos 
mostram que a Previdência Social garante cidadania e movimenta a 
economia. O atual governo não pode mais encobrir os problemas do país, 
como assim fizeram os anteriores, e colocar a conta nas costas do 
trabalhador.  
Em vez de buscar soluções para o 
crescimento econômico, como uma efetiva e verdadeira reforma tributária,
 a revisão do pacto federativo, o estabelecimento de taxas de juros que 
estimulem o mercado sem empobrecer a população, a valorização do salário
 mínimo, a cobrança de sonegação de impostos, que hoje ultrapassa a casa
 de 1 trilhão de reais, o governo do presidente Temer, infelizmente, 
ataca o seguro social dos brasileiros.
Não precisamos reformar a 
previdência. Os trabalhadores e o povo brasileiro não merecem pagar o 
pato pelo descaso dos governantes. A incompetência, a disputa do poder 
pelo poder, a ganância da corrupção, a falta de vergonha na cara de quem
 governa, independentemente de partido político, a apropriação do Estado
 por grupos como fosse um bem privado, leva, sem dúvida alguma, qualquer
 país do mundo ao fundo do poço.
Faz-se necessário uma grande 
mobilização com a realização de congressos estaduais, objetivando a 
criação de uma frente ampla nacional e a coleta de assinaturas para a 
apresentação de uma emenda popular contra esta reforma.
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