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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Contraponto 5978 - "Vídeo: Globo ataca Celso Amorim. O Rodrigo Vianna avisou !"

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12/08/2011
Vídeo: Globo ataca Celso Amorim.
O Rodrigo Vianna avisou !

Do Conversa Afiada - Publicado em 12/08/2011

Saiu no Blog do Nassif:

A Globo implacável contra Amorim

Por Marco Antonio L.

Prezado Nassif,

O Rodrigo Vianna matou a pau. Veja o vídeo abaixo.



Parece que o Rodrigo Vianna tinha razão…

Clique aqui para ler “Rodrigo: Globo vai para cima do Amorim”.

E aqui para ler “Nassif: Globo caça quem vazou caça a Amorim”.
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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Contraponto 5929 - "A Globo vai partir pra cima de Amorim: isso prova que Dilma escolheu bem!"

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.05/08/2011
Novo Ministro
A Globo vai partir pra cima de Amorim:
isso prova que Dilma escolheu bem!


Do Escrivinhador - publicada sexta-feira, 05/08/2011 às 18:52 e atualizada sexta-feira, 05/08/2011 às 18:27

por Rodrigo Vianna

Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.

O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha. (o grifo em verde negritado é do ContrapontoPig)

Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.

Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido (da Globo) no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.

No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantem o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão. (o grifo em verde negritado é do ContrapontoPig)

Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”. (o grifo em verde negritado é do ContrapontoPig)

Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.”

A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).

Nada disso surpreende, na verdade.

O que surprendeu foi ver Dilma na tentativa de se aproximar dessa gente no primeiro semestre. Alguém vendeu à presidenta a idéia de que “era chegada a hora da distensão”. Faltou combinar com os russos.

A realidade, essa danada, com suas contradições, encarregou-se de livrar Dilma de Palocci, Jobim e de certa turma do PR. Acho que aos poucos a realidade também vai indicar à presidenta quem são os verdadeiros aliados. Os “pragmáticos” da esquerda enxergam nas demissões de ministros um “risco” para o governo. Risco de turbulência, risco de Dilma sofrer ataques cada vez mais violentos sem contar agora com as “pontes” (Palocci e Jobim eram parte dessas pontes) com a velha mídia (que comanda a oposição).

Vejo de outra forma. Turbulência e ataques não são risco. São parte da política.

Ao livrar-se de Jobim (que vai mudar para São Paulo, e deve ter o papel de alinhar parcela do PMDB com o demo-tucanismo) e nomear Celso Amorim, Dilma fez uma escolha. Será atacada por isso. Atacada por quem? Pela direita, que detesta Amorim.

Amorim foi a prova – bem-sucedida – de que a política subserviente de FHC estava errada. O Brasil, com Amorim, abandonou a ALCA, alinhou-se com o sul, e só cresceu no Mundo por causa disso.

Amorim é detestado pelos méritos dele. Ou seja: apanhar porque nomeou Amorim é ótimo!

Como disse um leitor no twitter: “Demóstenes, Álvaro Dias e Reinaldo Azevedo atacam o Celso Amorim; isso prova que Dilma acertou na escolha”.

Não se governa sem turbulência. Amorim é um diplomata. Dizer que ele não pode comandar a Defesa porque “diplomatas não sabem fazer a guerra” (como li num jornal hoje) é patético.

O Brasil precisa pensar sua estratégia de Defesa de forma cada vez mais independente. É isso que assusta a velha mídia – acostumada a ver o Brasil como sócio menor e bem-comportado dos EUA. Amorim não é nenhum incediário de esquerda. Mas é um nacionalista. É um homem que fala muitas línguas, conhece o mundo todo. Mas segue a ser profundamente brasileiro. E a gostar do Brasil.

O mundo será, nos próximos anos, cada vez mais turbulento. EUA caminham para crise profunda na economia. Europa também caminha para o colpaso. Para salvar suas economias, precisam inundar nosso crescente mercado consumidor com os produtos que não conseguem vender nos países deles. O Brasil precisa se defender disso. A defesa começa por medidas cambiais, por política industrial que proteja nosso mercado. Dilma já deu os primeiros passos nessa direção.

Mas o Brasil – com seus aliados do Cone Sul, Argentna à frente - não será respeitado só porque tem mercado consumidor forte, diversidade cultural e instituições democráticas. Precisamos, sim, reequipar nossas forças armadas. Precisamos fabricar aviões, armas. Precisamos terminar o projeto do submarino com propulsão nuclear.

Não se trata de “bravata” militarista. Trata-se do mundo real. A maioria absoluta dos militares brasileiros – que gostam do nosso país – não vai dar ouvidos para Elianes e Alis; vai dar apoio a Celso Amorim na Defesa, assim que perceber que ele é um nacionalista moderado, que pode ajudar a transformar o Brasil em gente grande, também na área de Defesa.

O resto é choro de anões que povoam o parlamento e as redações da velha mídia.
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Contraponto 4330 - "2010: ano dos blogs sujos e do Sujinho; ano da bolinha, da Dilma e da nova direita"

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29/12/2010

2010: ano dos blogs sujos e do Sujinho; ano da bolinha, da Dilma e da nova direita

Do Escrivinhador -publicada quarta-feira, 29/12/2010 às 01:34 e atualizada quarta-feira, 29/12/2010 às 01:32

por Rodrigo Vianna

Esse foi dos anos mais duros – e mais ricos – na minha vida de jornalista, blogueiro e cidadão.

Fui a Johannesburgo, no meio de 2010, cobrir a Copa do Mundo. Adorei ver de perto a engrenagem do futebol – essa mega empresa mundial. E adorei, sobretudo, conhecer a África – ainda que de forma limitada, com as lentes embaçadas pelo espetáculo da bola.

Muitas lembranças boas ficaram.

Uma tarde de rugby no Soweto – o bairro negro tomado pelos torcedores brancos! Negros abriram suas casas para os brancos – muitos nunca tinham pisado ali. Cena inusual. Emoção verdadeira.

Depois, a boa conversa com a bailarina que, durante o apartheid, dava aula de dança para negros e brancos, desafiando o regime racista. Detalhe: a bailarina era judia, ouvira do pai o que significava viver em guetos. Resistiu com a dança.

A visita ao Cabo da Boa Esperança, ou Cabo das Tormentas. As histórias de navegantes portugueses sempre me emocionam. Mar bravio, terrível. Paisagem maravilhosa. E a Cidade do Cabo tão linda. Quero voltar pra lá em breve.

Foram 50 dias longe de casa. E antes disso o ano já tinha sido cheio. De coisas boas. E de alguns sustos na vida familiar (já superados).

No primeiro semestre, fundamos o Centro de Estudos Barão de Itararé. Idéia do Altamiro Borges. Quando ele me ligou, no fim de 2009, com o convite para que eu entrasse na diretoria do Barão, cheguei a desdenhar: “Mas, Miro, pra que outra entidade na área de comunicação?” Ele me convenceu. E o Barão já fez muito. Foi no lançamento do instituto que surgiu a idéia de organizar um Encontro Nacional de Blogueiros. Idéia do Azenha – que viu esse movimento florescer nos Estados Unidos. E nós botamos em prática aqui no Brasil.

Foi uma delícia organizar o encontro. Primeiro, pelas reuniões. Todas elas no glorioso “Sujinho”, o bar-restaurante paulistano. Serra deve ter ficado sabendo, por isso resolveu chamar (acusar?) os blogueiros de ”sujos”. Assumimos o apelido, como uma medalha!

Mas o melhor foi ver o evento acontecer em São Paulo, no mês de agosto. 300 e tantos blogueiros de 19 estados. Uma trabalheira organizar isso tudo. Mas uma delícia conhecer tanta gente boa.

Logo depois,a pauleira da eleição. A mais suja da história: e aí a culpa não foi nossa. Era bola cantada. O embate entre Serra e Aécio já fora sujíssimo (todo mundo conhece os bastidores: dossiês, ameaças, “pó parar, governador” etc e tal). Quando Dilma disparou nas pesquisas, em agosto, era só esperar. Serra não decepcionou quem conhecia a fama dele – desde os anos 80. Foi uma campanha tensa, a mexer com os nervos e o estômago de qualquer um.

Tive a o orgulho e a felicidade de participar das batalhas – ajudando a desmontar farsas, e a iluminar um pouco o caminho: a bolinha de papel, o aborto, a gráfica dos panfletos…

Naquele sábado em que os panfletos foram encontrados em São Paulo, passei a madrugada com mais dois companheiros internéticos fuçando arquivos e documentos que ajudaram a descobrir a verdade: a gráfica pertencia à irmã de um dos coordenadores de campanha de Serra. Foi furo nosso, da blogosfera, e o Escrevinhador deu a história em primeira mão!

Tenho orgulho também de ter dito, três semanas antes do primeiro turno, que a bala de prata não era uma só. Mas uma sequência de balas. Dilma – que se preparara pra responder aos ataques sobre o passado de guerrilheira – não percebera o trabalho sujo feito nas igrejas, nos púlpitos, no boca a boca que disseminou o medo e o ódio religioso. Aqui no blog, gastei o verbo falando sobre isso. É a força da internet. Leitores de várias partes do país me avisavam: olha, a coisa está feia nas igrejas. Simplesmente registrei e dei o alerta. Mas a campanha de Dilma só acordou na última semana do primeiro turno, quando o estrago já estava feito.

Aí veio o segundo turno. Horrível. Mas com momentos hilários – como a tentativa de Serra de virar um Lacerda. Em vez de tiro no pé, levou bolinha de papel na cabeça. De todo jeito, foi tiro no pé.

A vitória de Dilma foi importante. Histórica. Todos os grandes jornais alinhados com o adversário, a Globo com o adversário… E Dilma ganhou. Derrotou Serra, derrotou a direita religiosa. Mas derrotou também Ali Kamel, Otavinho e o bando tresloucado de colunistas de “Veja”, “Estadão” e adjacências.

O que não deve nublar a verdade: o PT tentou ganhar sem fazer política. Tentou ganhar no embalo da popularidade de Lula. Quem politizou a eleição de 2010 foi Serra. Pela direita. Obrigando (?!) Dilma a buscar apoio da militância no segundo turno.

O Brasil conheceu uma nova direita. Parte da velha classe média tem medo e raiva – e a velha imprensa espelha esse setor. Mas a nova classe média – gestada na era Lula – nasceu já conservadora. A médio prazo, a equação pode não fechar para a esquerda. Isso ficou claro na campanha dominada por aborto, bispos, padres, pastores e reuniões com milicos de pijama.

O PT mostrou-se uma máquina eleitoral: cada vez mais afastado do “voto de opinião” e das antigas bases. Elegeu bancada forte, com apoio do prestígio de Lula. Mas abriu mão de sustentar valores de esquerda. Essa omissão (ou opção) pode custar caro mais tarde. Mas esse é tema para outros textos…

Novembro ainda foi mês cheio de emoções: a entrevista de Lula aos blogueiros foi histórica. Um marco que muitos não entenderam. “O Globo” entendeu, e desceu o sarrafo, passou recibo com chamada em primeira página. Algo se moveu na comunicação.

Tive a alegria, também, de ver uma série de reportagens sobre sítios clandestinos de tortura ser premiada pelo Movimento de Direitos Humanos, de Porto Alegre. Foi trabalho árduo: começou antes da Copa, e enquanto eu estava na África correndo atrás do Dunga uma equipe grande da TV Record seguia apurando e produzindo -com destaque para Luiz Malavolta e Tony Chastinet.

No mesmo ano, o trabalho na TV me deu a alegria de ir à Copa e de recontar um pedaço perdido da história da ditadura. Nada mal. Sem falar em mais uma meia dúzia de séries de reportagens especiais e de entrevistas (na “Record News”) das quais – quase sempre – só tenho motivos para orgulho.

2010 foi também o ano em que passei a escrever para a revista “Caros Amigos”. Estreei a coluna “Tacape” no mês em que meu ídolo -o doutor Sócrates – era capa da revista. E o mais curioso: o “colega de página” era Fidel Castro. Que responsa!

Cheguei a dezembro quase sem gás. Tirei uma semanade férias no Uruguai. Visitei as ruas, os cafés e as livrarias de Montevidéu, conheci praias lindas e travei de novo contato com a prosa e a poesia de Mario Benedetti. Um respiro, ao lado de minha mulher.

Quando voltei ao Brasil, havia se instalado um pandemônio na blogosfera. Tiroteio geral. Mais desgaste… A crise passou, felizmente. Mas o ano não terminou.

Descanso agora em São Paulo - a cidade está estranhamente vazia, uma delícia. Mas, no dia 30, pego o avião pra cobrir a posse de Dilma e a despedida de Lula – para a Record. De lá, pretendo atualizar o blog com as impressões do dia primeiro de janeiro. A era Lula acabou. Acabou? tenho dúvidas…

Obrigado a todos os leitores que fizeram o Escrevinhador explodir de audiência em 2010. Especialmente em outubro – quando passamos de 1 milhão de “páginas vistas” e batemos em 600 mil visitantes. O blog saiu do ar duas vezes: uma por ataque de hackers; a outra por execesso de tráfego!

Obrigado aos que me ajudam a fazer o blog, especialmente ao Leandro Guedes e à Juliana Sada – além dos colunistas e amigos mais próximos.

2010 foi intenso. Só comparável a 1989, quando eu ainda era um estudante e militante nas ruas – sem internet, com mais esperanças e também com mais ilusões. Daquela vez, senti o gosto da derrota. Dessa vez, sinto-me vitorioso – como tantos brasileiros. Mas sem ilusões. O que talvez seja uma vantagem.

Até 2011. É logo ali!

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sábado, 11 de dezembro de 2010

Contraponto 4191 - "De Marti a Fidel - Revolução Cubana"

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11/12/2010
De Marti a Fidel - Revolução Cubana


O “Wikileaks” de Moniz Bandeira

publicada sexta-feira, 10/12/2010 às 20:50 e atualizada sexta-feira, 10/12/2010 às 20:27

por Rodrigo Vianna*

Não consigo desgrudar – há duas ou três semanas – do belíssimo livro de Moniz Bandeira sobre a Revolução Cubana: “De Marti a Fidel”. Foi presente de um grande amigo que – socialista na juventude – hoje assumiu posições bem mais moderadas.

Dizer que Moniz Bandeira escreveu sobre a Revolução Cubana é na verdade profundamente simplificador. O livro é muito mais interessante que isso. Narra o percurso das lutas nacionalistas na América Latina. E mostra como a Revolução Cubana foi o desdobramento (um deles apenas, ao lado de tantos outros movimentos ocorridos na Guatemala, Peru, Bolívia, Argentina, Brasil…) dessa luta de dois séculos contra o Imperialismo.

Há – na universidade e entre esquerdistas arrependidos – um certo medo de usar a palavra “Imperialismo”. Soa como bravata juvenil, como simplificação da realidade.

O livro de Moniz Bandeira recupera a história dos Estados Unidos na sua relação com a América Latina, e mostra – com uma riqueza “wikileakiniana” de documentos – que o Imperialismo não é só uma palavra solta, que serve para enfeitar discursos em assembléias estudantis.

Não. A história dos EUA é – também – a história do Imperialismo. E de como a América Latina reagiu bravamente à tentativa dos Estados Unidos de controlar a economia, o território, a política em nosso continente.

Moniz Bandeira transcreve telegramas de diplomatas (ôpa), desde ó século XIX, e mostra a intersecção dos interesses do Estado norte-americano com as corporações que ganhavam dinheiro a rodo na América Central. Não é discurso. Não é bravata. É a história. Documentada fartamente.

Aliás, não há nisso nenhuma grande novidade. Qualquer estudante medianamente informado já leu sobre a United Fruit e outras companhias que ocupavam porções imensas do território centro-americano. O mérito de Moniz Bandeira é não ficar nas generalizações. Ele desce ao detalhe, ao papel das embaixadas, do Departamento de Estado, mostra o dia-a-dia da administração imperialista.

A leitura permite compreender melhor porque, na América Latina, é impossível ser de esquerda sem ser nacionalista. Gente que faz política apenas com base em teorias européias costuma torcer o nariz diante de posições nacionalistas. Nacionalismo, na Europa, é associado a fascismo. Na América Latina, ser nacionalista é a melhor forma de lutar por países mais fortes, menos desiguais.

Moniz Bandeira – que, além de brilhante intelectual, foi muito próximo de Brizola e Jango – sabe bem disso.

Evidentemente, nem todos os problemas da América Latina devem-se ao “malvado” Imperialismo. Esse não é um conceito para explicar tudo. Mas explica muita coisa.

Moniz Bandeira mostra como – desde o século XIX – os interesses de produtores de açúcar no sul do Estados Unidos enraizaram-se em Cuba, mesclando-se aos interesses de parte da elite agrária cubana. E narra – com precisão - a forma como altos funcionários dos Estados Unidos representavam na verdade as grandes corporações privadas: a promiscuidade entre o aparato de Estado dos EUA e a indústria bélica daquele país, no início do século XXI, não foi uma invenção de Bush Junior. Não. Essa é a tradição da política externa dos EUA.

Mas a intenção de controlar a maior ilha do Caribe não tinha só motivos mercantis – ligados ao açúcar. Quando os EUA concluíram a expansão para o Oeste, consolidando o gigantesco território banhado por dois Oceanos, tornou-se primordial encurtar a distância entre Pacífico e Atlântico. O canal do Panamá – sonho antigo – virou rota estratégica que precisava ser vigiada. Cuba era uma espécie de porta-aviões – imenso – garantindo o controle dessa rota.

Fidel era essencialmente um político nacionalista. Che Guevara e (talvez) Raul Castro já eram socialistas em 1959. Fidel era antes de tudo um herdeiro da luta nacionalista de Marti. Caminhou para o marxismo para sobreviver.

Não estou entre os que fazem a defesa unilateral do regime cubano. Lá, vive-se em ditadura. E ponto. Mas é preciso compreender a história de Cuba, plantada a menos de cem milhas do Império, para entender a façanha da Revolução de 1959.

Na Bolívia, na Guatemala e no Peru, movimentos de cunho nacionalista muito parecidos com o cubano foram massacrados com ajuda dos EUA. O caso guatemalteco é conhecidíssimo. Nos anos 50 do século passado, Juan José Arévalo foi eleito presidente. Era um moderado, social-democrata, que ousou aprovar leis trabalhistas e uma reforma agrária que contrariava os interesses da United Fruit.

Os EUA (e boa parte da imprensa brasileira, claro, reverberava os interesses dos Estados Unidos) chamavam Arevalo de “comunista”. Arevalo foi sucedido por Jacobo Arbenz, um militar nacionalista, que acabou derrubado com ajuda dos EUA, depois que o Exército guatemalteco recusou-se a defendê-lo.

Che Guevara vivia na Guatemala na época. Quando a Revolução Cubana triunfou, Che foi dos maiores defensores da necessidade de armar o povo e criar milícias que defendessem a Revolução. Para não cair no mesmo erro da Guatemala.

Tudo isso – e muito mais – está no livro de Moniz Bandeira. Que além de tudo traz fotos saborosas – como a de Fidel almoçando com JK no Brasil, em maio de 1959, apenas cinco meses após a Revolução: o prato de Juscelino aparecia vazio, enquanto o de Fidel seguia intocado no momento da foto, porque o líder cubano desde aquela época já falava horas sem parar – preferia o discurso ao almoço. Segundo Moniz Bandeira, JK (perspicaz) observou na oportunidade: “Fidel Castro não compreende o diálogo. É homem de monólogo”.

O livro, até por esses detalhes, está longe da hagiografia. Não transforma Fidel e os guerrilheiros que chegaram ao poder em “heróis”. Mas mostra como eles foram os representantes vitoriosos de uma corrente de pensamento que tem mais de 2 séculos de história: o nacionalismo latino-americano. Corrente que segue firme com Chavez, Evo, Kirchner e (por que não?) Lula

Só que no Brasil o nacionalismo é mais discreto. E talvez, por isso mesmo, muito mais eficaz.

Lembro-me sempre de uma noite de 2002 quando eu estava em Buenos Aires, gravando reportagem sobre grupos que tentavam manter a coesão social no meio do caos provocado pelo “corralito” e a bancarrota argentina. Antes da assembléia, os argentinos cantaram o hino nacional, de forma fervorosa. Eu comentei com o velho militante que comandava a assembléia popular: “como vocês, argentinos, são nacionalistas”.

Bem informado, ele devolveu: “Nós? Não. Nacionalistas são os brasileiros, que fizeram a Petrobrás, Banco do Brasil, não venderam todas suas empresas nos anos 90… E não precisam cantar hino nacional nem bater no peito para defender seus interesses. Vocês é que sabem ser nacionalistas”.

Lembro sempre disso. Temos nossos empresários e jornalistas colonizados. Sempre tivemos. Mas soubemos preservar um Estado relativamente independente, mesmo nos piores momentos. Não tivemos Fidel. Não fizemos Revolução. Mas, pelas beiradas, construímos uma escola nacionalista – sustentada pela tradição de independência do Itamaraty.

Tradição de independência que também aparece na obra de Moniz Bandeira. Ele traz dezenas de transcrições de telegramas de diplomatas brasileiros. Quase sempre, faziam uma leitura bastante diferenciada da linha oficial sustentada pelos EUA. Defendiam o interesse brasileiro.

Nos anos 90, por alguns momentos, o Brasil esteve a um passo de jogar fora essa tradição. Mas voltamos ao velho trilho. Independência e nacionalismo. Um Brasil e uma América Latina mais justos passam pela defesa desses valores – que não saíram de moda. E nem vão sair. Gostem ou não jornalistas e intelectuais entregues a devaneios colonizados.
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