terça-feira, 19 de setembro de 2017

Nº 22.331 - "A centralidade da disputa de governo no Brasil"

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19/09/2017


A centralidade da disputa de governo no Brasil


Brasil 247 - 18 de Setembro de 2017


Ricardo Stuckert
   Ricardo Stuckert

Emir Sader

A direita está reduzida à inércia, pelos próprios mecanismos que ela criou. A via para tirar o PT do governo foi a da constituição do governo mais corrupto da historia do pais, com suas duas dimensões: incapaz de conquistar legitimidade e apoio popular mas, ao mesmo tempo, por essa mesma corrupção que o caracteriza, consegue sobreviver, pela compra de apoios parlamentares.

A direita se une em torno da oposição ferrenha ao retorno do PT ao governo e do programa neoliberal levado a cabo por Meirelles. Até um certo momento, o preço de suportar um governo tão impopular e indefensável como o do Temer era a manutenção dessa política econômica, que requer o pacote de medidas antipopulares, uma parte das quais o governo conseguiu aprovar no Congresso. Mas sua continuidade está em risco, pela impopularidade das medidas – se trataria, agora, da reforma da previdência - e pela proximidade das eleições, com o desgaste que sua aprovação representaria para os parlamentares.

O pais está assim condenado à inércia, em meio a promessas não cumpridas de retomada do crescimento econômico, à extensão da popularidade do Lula e à falta de alternativas eleitorais da direita. A direita combina a ofensiva contra o Lula – praticamente o único objetivo em que demonstra forca e iniciativa – e a passividade da blindagem ao Meirelles. Vai tocando o dia a dia, alentada com a possibilidade do Lula ser inviabilizado como candidato, mas sem alternativas.

Enquanto isso os efeitos da destruição do Estado brasileiro, dos programas sociais, dos direitos dos trabalhadores e do prestigio externo do pais fazem sentir seus efeitos. O pais esta' reduzido a suas mínimas expressões, com recessão profunda e prolongada, com a retomada de acentuado processo de desigualdade social e de exclusão social, com alto desemprego, precarização das relações de trabalho, desprestigio externo.

Se joga o futuro do Brasil em toda a primeira metade do século XXI nos meses que transcorrem até as eleições de 2018. Ou a direita se consolida, via novo golpe que impeça uma solução democrática à crise, e o pais voltará a ser o mais desigual do mundo, o mais cruel, o mais desumano, o mais violento, o mais antidemocrático. Ou a democracia é reconquistada, o pais volta a ter um governo legitimo, em condições de fazer a economia voltar a crescer, com distribuição de renda.

No primeiro caso, o período dos governos do PT terá sido um parêntese, longo, mas na contramão da tendência histórica do capitalismo brasileiro de promover os interesses do capital financeiro, com concentração de renda e exclusão social. No segundo caso, o período do golpe terá sido um parêntese, que cortou bruscamente o caminho democrático do Brasil, mas não conseguiu se consolidar, por falta de qualquer proposta minimamente popular, e foi derrotado por um período longo.

Qualquer tendência a subestimar a disputa eleitoral é negativa, pretende pensar o futuro do pais sem a forma de disputa do governo nas atuais condições políticas. Subestima o caráter politico da crise atual, de como os enormes retrocessos impostos ao pais são decorrência direta do golpe e da mudança brusca e antidemocrática do governo. E de como nestes meses se decide o futuro do Brasil por muito tempo.

O resgate da democracia e do caminho do desenvolvimento econômico com distribuição de renda está em jogo no processo de disputa pelo governo do país. Dai a importância, para a direita, de inviabilizar a candidatura do Lula, via segura de derrota para ela. Dai a importância da luta pelo direito do Lula ser candidato ou ser o grande eleitor que permita a vitoria do projeto que ele representa.


Qualquer outra atitude recai num diversionismo que dificulta a compreensão política clara da parte de todos. Numa situação política tão complexa e difícil como a atual, é preciso não perder a centralidade da luta pelo resgate da democracia, que passa obrigatoriamente pelo direito do povo eleger livremente o governo do Brasil.


EMIR SADER. Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros.
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