06/12/2011
Estado Brasileiro anistia Carlos Marighella no seu centenário
Do Vermelho - 5 de Dezembro de 2011 - 21h57
Antes tarde do que nunca. Depois de 42 anos o Estado Brasileiro finalmente pediu desculpas aos familiares de Carlos Marighella pela sua execução no dia 4 de novembro de 1969 em uma emboscada em São Paulo. A anistia ao líder guerrilheiro foi aprovada por unanimidade durante a primeira sessão da 53º Caravana da Anistia realizada nesta segunda-feira (5/12), no teatro Villa Velha, em Salvador, cidade onde nasceu e começou sua militância política. A data também marca o centenário de Marighella.
O teatro ficou lotado de lideranças sociais e políticas, familiares, amigos de luta e muitos admiradores da trajetória de Carlos Marighella, um baiano que morreu em defesa do direito à liberdade de todo o povo brasileiro. O governador da Bahia, Jaques Wagner; o ex-governador Waldir Pires; o presidente do PCdoB na Bahia, Daniel Almeida; senadores, deputados e vereadores estavam entre as autoridades presentes ao evento.
A relatoria do pedido de anistia coube a Ana Guedes, militante do PCdoB na Bahia, que após ler o relato sobre a trajetória de Marighella desde o início da sua militância política em Salvador, passando pelas prisões até a sua morte votou pela anistia de Marighella. Segundo Ana, Marighella é um ícone, um herói do povo brasileiro. Foi um homem totalmente voltado para a defesa do povo brasileiro e por isso foi muito perseguido, preso, torturado e assassinado. “O maior significado deste ato está em reafirmar o nosso desejo de que a anistia vingue. A anistia é uma conquista do povo brasileiro, pois no momento que o Estado pede desculpas à família, isso vai ficar gravado na memória do povo brasileiro, que isso que aconteceu com Marighella e com tantos outros brasileiros não pode mais acontecer”, disse.
Unanimidade
O momento mais aguardado veio já no início da noite após muitos depoimentos emocionados sobre o homenageado e votação unânime da Comissão pela aceitação do parecer de Ana Guedes. “Pelos poderes a nós conferidos pelo Ministério da Justiça, a Comissão da Anistia declara anistiado pós-mortem Carlos Marighella. Com isso, Clara Charf e Carlos Augusto Marighella, pedimos as mais sinceras desculpas por tudo que o Estado Brasileiro fez contra seu companheiro e seu pai”, declarou o vice-presidente da Comissão da Anistia, Egmar Oliveira, para delírio da platéia.
“É muito importante que meus filhos estejam aqui para acompanhar este momento, que é o reconhecimento da trajetória de um grande homem. Há 42 anos, em um dia chuvoso, fui chamado a um jornal para reconhecer a foto de Marighella morto. Foi muito traumatizante, pois a foto era seguida de muitas mentiras sobre ele. Mentiras que foram sendo desmascaradas com o passar do tempo. Tudo porque Marighella sempre foi um herói e surge como inspiração para os jovens brasileiros. Eu estou muito feliz, porque são 40 anos lutando para que esta verdade seja reconhecida e este dia chegou”, afirmou o único filho do guerrilheiro, Carlos Augusto Marighella.
A felicidade também estava estampada no rosto de Clara Charf, viúva de Marighella e uma das pessoas que mais lutaram para que o Estado reconhecesse seu erro e a verdade sobre o companheiro fosse restabelecida. “Esta Comissão é resultado do processo de democratização, que permitiu que chegasse a este momento, em que o povo brasileiro pudesse saber a verdade sobre o que aconteceu. Porque durante muito tempo eles mentiram e tentaram desmoralizar a vida das pessoas. Porque eles queriam esconder a resistência do povo brasileiro, que é o povo mais resistente do mundo”, ressaltou Clara, acrescentando que o ato não é apenas importante para a família de Marighella, mas para todo os brasileiros.
De Salvador,
Eliane Costa.
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Tenho admiração por todos aqueles que lutaram e ariscaram suas vidas contra a ditadura militar. Marighella foi talvez o principal representante de oposição armada no período, mas a escolha belicosa foi sombria. É provável que tenha ajudado a prorrogar a bravata no poder. Eram nobres sentimentos, amalgamados com péssimas ideias reacionárias. Entretanto, aqueles homens, os fardados e os não fardados, não tinham o direito de usar nossos canhões, direcionados para o verde e amarelo. Sequer deveriam usurpar um poder legalmente constituído pelo povo. Além disso, rasgar a carne viva dos brasileiros que se dedicaram à resistência ao regime, não deixa de ser crime à humanidade, embora a estratégia de reação tivesse sido errada e suicida. Não caberia ao Estado colecionar chacinas, nem que fosse de cruéis assassinos, pois todo o exército reacionário não chegava a mil integrantes, contra um potencial de centenas de milhares de soldados das forças armadas e auxiliares, além do aparato logístico e técnico, auxiliado pela maior nação do mundo. Como se isso não bastasse, a tortura foi sistemática e detalhadamente planejada, em cruel ritual de perversidade, que certamente arregalou os olhos do Marquês de Sade em algum túmulo francês. O Estado é devedor pleno na causa. Portanto, torturadores e mandantes deveriam pagar pelo mal que fizeram à sociedade, ainda que a estratégia de reação tivesse sida inadequada para o contexto. P.S. E quem não se lembra daquele velho dito "Olhe, as paredes tem ouvidos", será que isto não foi tortura psicológica imposta a cada brasileiro? Fernando Cóe
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