Miguel do Rosário
Lembrete: quarta-feira é dia de economia no Cafezinho.
A notícia não mereceu uma mísera notinha na capa. Escondida na página B5 do Estadão, ela surpreendeu este analista, que não viu qualquer menção a ela em outro grande jornal. Se fosse negativa, com certeza viraria manchete. Segundo o Ibope, o consumo das famílias brasileiras cresceu 10,5% em 2011 e deverá crescer 13,5% em 2012.
O aumento do consumo das famílias é um número socialmente mais importante que o crescimento do PIB, porque indica uma melhora concreta na vida das pessoas. Se estão consumindo mais, é porque há mais crédito, mais renda, mais emprego.
A redistribuição de renda continuará acentuada, segundo o Ibope. A prova está no fato de que as regiões mais pobres serão as que deverão apresentar taxas de crescimento mais substanciais. O consumo das famílias do Norte deverá crescer 26,5% em 2012! É mais que o triplo do crescimento chinês previsto para este ano!
Se fosse um pouquinho mais interessado no Brasil, o Estadão poderia dar a seguinte manchete:
Consumo de famílias do Norte e Nordeste deverá crescer perto de 25% em 2012
Se Globo e Folha dessem a notícia, e ela parasse no Jornal Nacional, provocaria uma onda de otimismo saudável, porque realista, fundamentado numa pesquisa séria. Otimismo gera decisões de investimentos, e estimula o espírito empreendedor na sociedade, produzindo um ciclo virtuoso. De vez em quando, ouço alguém perguntar porque os EUA se tornaram tão ricos, e o resto da América Latina tão pobre, se temos a mesma idade. Há muitos fatores históricos que explicam, mas o otimismo e o subsequente empreendedorismo do povo americano certamente participaram do processo. É muito difícil ter sonhos grandiosos e lutar para realizá-los no Haiti; num país rico, como os EUA, ou como é o Brasil agora, é outra história. Isso vale para todas as atividades.
Por sorte, os brasileiros já entenderam o recado, e o pessimismo patológico da mídia não tem mais a influência que tinham antigamente. De qualquer forma, o que importa não é ser otimista, já que ser um otimista imbecil e desinformado também não ajuda. O importante é obter informação de qualidade e interpretá-la judiciosamente.
A informação do Ibope fornece subsídios para, mais uma vez, questionarmos um “cacoete” da imprensa e até mesmo de fontes oficiais, em algumas análises econômicas. Penso especialmente nos números do desemprego. Conforme a massa de empregados cresce e o país se aproxima-se do chamado “emprego pleno”, é óbvio (matematicamente falando) que os saldos positivos ficarão cada vez menores. Se já está todo mundo empregado, não tem porque haver saldo. No máximo, há migrações internas de um setor para outro, em geral da agricultura e indústria, que tendem a adotar sistemas cada vez mais robotizados, para os serviços. Além, é claro, dos problemas da concorrência internacional, que vem criando dificuldades para alguns segmentos industriais em todo planeta. A China vem fechando fábricas em toda parte.
Hoje saiu o número do Dieese, mostrando um crescimento, em janeiro deste ano, de 4,5% na geração de empregos com carteira assinada nos últimos 12 meses. Cotejado com a queda no desemprego, vemos um cenário de sólida estabilidade econômica. Os jornais falarão em “arrefecimento na geração de emprego”, porque em janeiro do ano passado o crescimento foi de 9,3%.
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