26/01/2016
PDT, o plano B de Dilma e de Lula
Por Renato Rovai
A presidenta Dilma Roussef foi à reunião do Diretório nacional do PDT na semana passada e recebeu um caloroso beijo na mão do presidente da legenda, o carioca Carlos Lupi. Dilma, filiada do partido nos tempos de Brizola, saiu da legenda para participar mais ativamente do governo Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul. E filiou-se ao PT.
Mas, Dilma, nunca foi uma petista autêntica. E nem mesmo o fato de ter se tornado presidente pelo partido lhe deu a condição de se tornar uma liderança importante na legenda.
Dilma precisa de Lula para tudo que diga respeito ao PT.
E quando foi escolhida pelo ex-presidente para ser sua candidata em 2010, teve de superar preconceitos de todas as ordens.
Enquanto Dilma falava nos encontros do partido, as piadas sobre sua inabilidade discursiva corriam soltas. Alguns dirigentes a imitavam com galhardia.
Mas como o PT foi perdendo força no percurso dos governos Lula e Dilma, não havia o que fazer. O jeito sempre foi engolir Dilma e o seu estilo e jeito de fazer política.
Mas o que isso tem a ver com ida de Dilma ao encontro do Diretório Nacional do PDT?
Dilma há alguns anos vem lançando sinais ao partido de que um dia pode voltar à sua antiga casa. Os sinais mais fortes foram dados quando seu ex-marido, o advogado Carlos Araújo, se filiou ao partido e buscou articular uma recuperação da sigla para a ala histórica, mais trabalhista e menos pragmática. O que acabou levando a entrar em rota de colisão com Carlos Lupi.
Araújo é um crítico do PT. Em entrevista ao Terra Magazine em 2012, ele dizia:
“Eu sempre tive uma visão muito crítica
do PT. Uma coisa é a liderança do Lula, que é incontestável, mas o PT
hoje é muito mais uma força eleitoral do que uma força política. Não
diria que é uma falsa esquerda, mas as divergências dentro do partido
são tão grandes que está virando de tudo um pouco. Eu digo até que virou
um PMDB de esquerda, infelizmente”.
Dilma não pensa muito diferente de Araújo.
Evidente que um não fala pelo outro, mas quando ele deu essa entrevista
em 2012, o sinal amarelo acendeu no PT e nos círculos de amigos mais
próximos de Lula. Era um sinal de que se o ex-presidente buscasse voltar
ao cargo, Dilma poderia enfrentá-lo por outro partido. Naquele momento
Dilma tinha altos índices de popularidade.
Lula, porém, nunca aceitou que sua candidatura fosse colocada e operação de Araújo na retomada do PDT foi um fracasso.
Mas a entrada de Ciro Gomes no PDT muda as
coisas. Lupi continua mandando no partido, mas agora a sigla tem uma
pessoa com força para disputar eleitoralmente a presidência em 2018. E
isso pode lhe fazer abrir um pouco mais de espaço para que o PDT seja
menos refém de seus desejos.
Dilma não foi à toa a essa reunião do PDT. E
isso não tem só relação com o fato de a sigla ter adotado posição
anti-impeachment. O recado claro era que de há pontes possíveis com o
partido e com Ciro.
E engana-se quem acha que Dilma pode vir a
trair Lula nesta operação. O ex-presidente sabe de toda a movimentação e
tem conversado muito com Ciro.
Lula não tem vontade de ser candidato
novamente ao Palácio, mas pode vir a sê-lo. E neste caso, Ciro poderia
vir a ser o seu vice. Mas Lula também começa a achar que pode ser a vez
de Ciro. E neste caso, o PT ofereceria um vice a ele. Que pode ser
alguém do sudeste, como o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad,
caso este não venha a se reeleger.
Nesta operação, a ida de Dilma para o PDT seria algo para depois do governo.
Mas uma tese que volta e meia ganha força é a
de que se a crise se aprofundar e o PT vier a ser engolido por ela,
Dilma deveria mudar de partido ainda durante este mandato e buscar
construir uma nova base para governar. Atraindo setores que hoje estão
na oposição, como o PSB.
O próprio Ciro já tratou do assunto. E alguns ministros também falam disso em conversas reservadas.
Independente de qual cenário vai se impor, o
PDT deve ganhar filiações importantes de candidatos no país inteiro. A
perspectiva de poder com Ciro e o acordo com o governo permitem àqueles
que estavam insatisfeitos com o PT, por exemplo, pularem do barco, sem
dar um cavalo de pau.
O PDT que parecia morto ressurge das cinzas. E
pode vir a se tornar uma sigla forte. A conjuntura parece ser mais
favorável ao partido do que a qualquer outro neste momento.
E isso tem a ver com a perspectiva de candidatura de Ciro, mas muito mais com os movimentos de Lula e Dilma.
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