segunda-feira, 28 de março de 2016

Nº 18.995 - "Boicote a grande mídia! "

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28/03/2016

Boicote a grande mídia


Colaborar com a mídia reacionária hoje é motivo de vergonha. Quem ainda faz isso está compactuando com o ataque à democracia encetado por estes meios. 

 

Carta Maior 27/03/2016

 


 reprodução


João Feres Junior

Há quinze dias tomei a decisão de não mais cooperar com qualquer meio de comunicação que estivesse em campanha aberta contra as instituições democráticas de nosso país. Fiz então um post no Facebook conclamando todos meus face-amigos, e particularmente os acadêmicos, a interromper a colaboração com a grande mídia. Dias depois, fui procurado por jornalista do Estadão por telefone para comentar o programa de ação afirmativa da USP. Neguei o convite dizendo não cooperar com um meio que ataca a democracia brasileira. Logo em seguida recebi e-mail de jornalista do site G1, da Globo, fazendo convite similar. Também neguei, usando o mesmo argumento. 


No mesmo dia o amigo Reginaldo Nasser, provavelmente sem sequer ter visto meu chamamento, recusou convite para participar de programa da Globonews e postou sua resposta no Facebook: “Não dou entrevista para um canal que além de não fazer jornalismo incita a população ao ódio num grave momento como esse”. Achei a ideia muito boa, e postei minha troca de e-mails com a jornalista da G1. O post viralizou na web e em poucas horas tínhamos uma campanha pública pelo boicote da mídia.

O conservadorismo das editorias dos grandes órgãos noticiosos brasileiros vem de várias décadas, mas é preciso dizer que, apesar deste viés (liberal, pró-mercado, anti-movimentos sociais), houve ao longo do processo de democratização bastante espaço na grande mídia para o debate de ideias, com a participação ativa e frequente de intelectuais. Essa esfera pública plural foi, contudo, se fechando, particularmente a partir da primeira vitória de Lula, na eleição presidencial de 2002.



Aos poucos, os grandes jornais foram substituindo seus colunistas e articulistas progressistas por conservadores, alguns com biografias abertamente ligadas ao principal partido da oposição, PSDB, ou por publicistas vitriolicamente reacionários, como Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, Diego Escosteguy, Kim Kataguiri e um rol imenso de outras figuras da mesma estirpe.

Mesmo com o gradual avanço da mídia em direção ao reacionarismo, alguns intelectuais ainda insistiam em colaborar com estes órgãos, quando instados. O motivo era mais propriamente a defesa estratégica de posições progressistas. Pensavam assim: “ainda que a barra esteja pesada neste jornal; ainda que meu texto seja publicado cercado por artigos de gente desqualificada e maliciosa; ainda assim, talvez consiga atingir alguns leitores, expondo-os a informações e pontos de vista que os façam pensar mais criticamente. 


Nada mais disso é possível. Com a radicalização política absurda em que nossa grande mídia embarcou não há espaço para posições estratégicas. A única coisa que resta é a vergonha. Repito mais claramente: colaborar com a grande mídia reacionária nos dias de hoje é motivo de vergonha. Quem ainda faz isso está compactuando com o ataque à democracia encetado por estes meios.


Não há inocentes úteis.

Veja, Época e Isto É, O Globo, Estadão adotam a postura franca de banir tudo que não seja reacionário de suas páginas de cobertura política. Tais mídias, e seus respectivos sites noticiosos, são um amontoado de reportagens, colunas de opinião, e editoriais militantemente oposicionistas, com imagens, títulos e manchetes cuidadosamente editados para produzir o maior efeito no leitor. 


A Folha de S. Paulo é diferente, pois conta com um pequeno time de intelectuais de esquerda, bem minoritário, mas que cumpre uma função importante para o jornal: permite que seus editores, ombudsman e demais jornalistas defensores da agenda patronal digam que a Folha é plural pois reproduz várias perspectivas e opiniões. Fazem papel de tolken leftists. 


Não há mais razão para o pequeno exército de acadêmicos que presta o serviço de reportar seus resultados de pesquisa e opiniões para artigos e reportagens da grande mídia, nem para os poucos acadêmicos colunistas de jornais como a Folha, continuarem essa colaboração voluntária. Não há mais sequer um simulacro de debate público. O que há é uma guerra política na qual a grande mídia já deu provas de sobra que está disposta a jogar as instituições democráticas que criamos com a luta de gerações de brasileiros na lata do lixo.

Por isso faço o chamamento: BOICOTE A MÍDIA.

E, de quebra, cancele todas assinaturas de jornais e revistas que tiver em casa ou em seu local de trabalho.

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