28/03/2016
Dois dedos de Prosa com Reginaldo Nasser
Jornal O Povo - 27/03/2016
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“Percebi que em alguns temas polêmicos eu não era mais convidado”
OPOVO - Qual a importância da mídia em momentos de crise?
Reginaldo Nasser - A mídia sempre tem, desde que existem os meios de comunicação e principalmente a sociedade de massas, uma grande importância da divulgação dos temas, seja qualquer assunto. Nos momentos como agora, de crise, e diria mais que crise, de tensão social, porque às vezes você tem crise que se restringe ao âmbito institucional ou política partidária, essa tensão se disseminou na vida das pessoas. Têm sido frequentes os relatos de agressões físicas, verbais, de violência. Em um momento como esse, é importante, mais ainda, estar precavido. Portanto, se exige da mídia, assim como qualquer pessoa com responsabilidade, que se tenha ponderação. Que apure fatos corretamente, divulgue as informações, mas sempre de forma cuidadosa, equilibrada.”.
OPOVO - Por que recusar a entrevista à GloboNews?
Reginaldo Nasser - Eu participo já há muitos anos de programas da GloboNews, principalmente do Globonews Painel, e sempre gostei muito de participar desses programas. Mas, há alguns anos, desde 2010 para cá, começaram a aparecer alguns probleminhas que fui relevando. Houve uma edição de uma fala minha em um debate importante, onde isso não ocorreu com meu debatedor, mas ocorreu com a minha fala. Depois disso percebi que, em alguns temas polêmicos, eu não era convidado, e fui vendo que esses programas foram tendo um tom quase uníssono, sendo em temas nacionais e internacionais. A gota d’água foi o que tem sido feito ultimamente. A cobertura sobre a crise política no Brasil é péssima, em todos os programas. Se fosse só isso, mas está tendo repercussões na sociedade, nessa tensão toda. Vejo, por exemplo, de uma completa irresponsabilidade divulgar conversas privadas de pessoas, fora de contexto, como no caso dos grampos da Lava Jato.
OPOVO - Por que tornar pública a recusa?
Reginaldo Nasser - Resolvi divulgar porque achei ser importante uma manifestação política, dar uma concretude a esse gesto. Não é uma questão individual, não se refere aos jornalistas, que respeito, mas à instituição como um todo. Avaliei que, em muitos momentos, a emissora passava 23 horas dedicada a um tom, um tipo de informação, mas depois dedicava alguns minutos para outro ponto de vista, divulgando assim a ideia de que ela seria plural. E eu percebi que estava ali nessa condição, de alguém para dar legitimidade à instituição, o que não farei.
Carlos Mazza
Repórter
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