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06/04/2011Vitória do governo na batalha da Vale, que já tem novo presidente
Do
Vermelho - 05/04/2011
Prevaleceu a vontade do governo Dilma na batalha pela presidência da Vale. Por decisão dos acionistas, consagrada em reunião realizada na noite de segunda-feira (4), o cargo será ocupado pelo executivo Murilo Pinto de Oliveira Ferreira, que já trabalhou na empresa.
O desfecho irritou profundamente as viúvas do neoliberalismo tucano, que chegaram a classificar o fato de uma reestatização branca. O atual diretor-presidente, Roger Agnelli, que parece cultivar a fama de arrogante e autoritário, esperneou e prometeu mobilizar a diretoria executiva e funcionários da Vale em defesa da sua perpetuação no cargo, mas acabou isolado.
A decisão dos acionistas deve ser referendada pelo conselho administrativo da empresa. Ferreira assume em 22 de maio, quando expira o mandato de Agnelli.
Ofensiva midiáticaA briga pela sucessão transformou-se numa novela de poucos capítulos, narrada com paixão e sensacionalismo privatista pela mídia hegemônica, não só no Brasil como nos Estados Unidos e na Europa, onde jornais influentes, porta-vozes do capitalismo financeiro, destilaram comentários venenosos contra o governo Dilma.
“A expulsão do presidente da Vale [...] é um sinal terrível aos mercados sobre as intenções do governo brasileiro”, afirmou o New York Times, em reportagem publicada domingo (3).
Emprego versus lucroDe acordo com o diário estadunidense, os investidores foram forçados a abraçar uma estratégia que favorece em primeiro lugar os empregos e, depois disso, o lucro. “[A presidente Dilma Rousseff] está simplesmente dando continuidade a uma missão, iniciada por Lula, de usar a Vale e outras empresas brasileiras, como a Petrobras, como instrumentos de política social”, afirma.
Na segunda-feira (8) o britânico Financial Times critica a troca de comando na Vale destacando: “Investidores privados têm ações da Vale porque ela é a maior produtora de minério de ferro do mundo, não porque ela é uma ferramenta de política sócio-econômica do governo”.
Campanha reacionáriaNo Brasil, a mídia capitalista ecoou em uníssono a discordância com a decisão do governo, aproveitando a ocasião para desancar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que teria articulado a substituição do atual diretor presidente. Parlamentares do PSDB, como o senador Aécio Neves, e do DEM também foram mobilizados e nos bastidores, a campanha orquestrada contra Mantega contou com a contribuição do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, conforme denuncia a revista CartaCapital (27-3-2011.
A onda reacionária que se formou contra a mudança na Vale reflete a ideologia privatista que orienta as ações da direita neoliberal e sua capciosa mídia. Não é demais lembrar que tal ideologia e os interesses que representa foram rechaçados pelo povo brasileiro nas três últimas eleições presidenciais realizadas no Brasil (2002, 2006 e 2010).
Multinacional brasileiraPrivatizada na bacia das almas por US$ 3 bilhões durante o governo entreguista de FHC, a Vale obteve um lucro de US$ 30 bilhões no ano passado. A empresa cresceu consideravelmente ao longo dos últimos anos, beneficiada pela elevação dos preços das commodities, alavancados pela demanda chinesa, e se transformou numa grande multinacional brasileira.
O governo, neste caso, é acusado de ingerência indevida e inaceitável em negócios privados, numa ofensa aos princípios sagrados da iniciativa privada. O argumento neoliberal não procede, pois o Estado controla parte apreciável das ações com direito a voto. BNDES e fundos de pensão dos trabalhadores, que se aliaram ao governo no conflito, possuem 61% das ações e contaram com o apoio de outros acionistas para defenestrar Agnelli.
TucanagemA reação da mídia mostra que o executivo demitido é homem de confiança dos acionistas estrangeiros, dos tucanos e da grande mídia, mas os seus objetivos e métodos na direção da empresa não condizem necessariamente com os interesses nacionais.
As divergências entre ele e o governo transpareceram em diferentes episódios, inclusive quando os impactos da crise exportada pelo capitalismo estadunidense foram sentidos com mais força no Brasil, no segundo semestre de 2008.
ArrogânciaA primeira reação do executivo, à época, foi demitir, numa só tacada, 1200 trabalhadores. O fato despertou protestos no governo Lula, mas Agnelli fez ouvidos moucos à reclamação do presidente. Arrogante, ele também não topou mudar a estratégia de investimentos da empresa e seguir as sugestões de autoridades econômicas no sentido de implementar atividades produtivas que viabilizem uma maior agregação de valor ao minério de ferro, em vez de simplesmente extraí-lo e exportá-lo em forma bruta para a China e outros países.
Neste sentido, o BNDES, quando era dirigido por Carlos Lessa, chegou a propor a Agnelli um plano para que a Vale ajudasse a siderurgia brasileira a saltar de uma produção anual de 30 milhões de toneladas para 100 milhões até 2015. Tal projeto contemplaria a fusão de Usiminas, Açominas, CSN, Cosipa e CST.
Interesses nacionaisTal orientação, à qual o atual presidente da empresa se opôs, está mais afinada com os interesses nacionais e um novo projeto de desenvolvimento contrário ao ideário neoliberal. Depois de privatizada, a Vale também correu o risco de desnacionalização, afastado pela intervenção do BNDES.
Ao contrário do que propõe a mídia alienígena, a mineradora não deve buscar exclusivamente o lucro e dividendos para distribuir aos acionistas. Precisa priorizar o emprego, as políticas sociais e uma nova estratégia de desenvolvimento nacional, que compreende o projeto de reduzir a dependência da exportação de commodities e agregar maior valor às cadeias produtivas, o que no caso significa destinar parte expressiva dos investimentos à siderurgia em vez de continuar restrita à extração de minério de ferro.
O episódio mostra que os interesses privados nem sempre estão de acordo com os interesses maiores da sociedade, quase sempre ocorre o contrário. É indispensável a intervenção e o fortalecimento do Estado na economia e é isto que possibilitou a retomada do crescimento da economia e recolocou no horizonte a necessidade de transitar para um novo projeto nacional de desenvolvimento, com soberania e valorização do trabalho.
Da Redação, Umberto Martins, com agências .