29/01/2011
Brasil descobre o EgitoEduardo Guimarães

Apesar de ser um dos berços da civilização humana, porém, até há pouco nada sabíamos sobre o país além de que tem pirâmides, esfinges e do que nos informou Hollywood no decorrer da vida com seus filmes bobalhões sobre múmias egípcias que ressuscitam para nos aterrorizar ou com aquelas versões pasteurizadas sobre a saga de Cleopatra, a Rainha do Nilo.
Somos mantidos na ignorância pela mídia ideológica que controla as comunicações e até a própria cultura, no Brasil. Por isso, temos conhecimentos seletivos e limitados sobre a geopolítica mundial.
Sobre um país como Irã, no entanto, onde as eleições, ainda que pouco transparentes, pelo menos têm candidatos de oposição, supostamente sabemos muito, mas o que sabemos são informações filtradas que nos dão só o lado oposicionista da história por lá.
Só poderia ser assim mesmo, porque o Egito, à diferença do Irã, é uma daquelas ditaduras “do bem” que os Estados Unidos e a mídia “brasileira” poupam de críticas porque se submetem aos interesses geopolíticos, comerciais e estratégico-militares dos americanos.
Então, de repente, com a verdadeira avalanche de imagens que se abateu sobre o mundo dando conta da repressão que o ditador egípcio desencadeou sobre um povo aparentemente disposto a não aceitar mais viver sob seu regime de força, a mídia serviçal dos EUA teve que expor uma de suas ditaduras de estimação, contra a qual não costuma dizer um A.
Os choques entre população egípcia e as forças de repressão da ditadura, portanto, estão sendo de um grande didatismo para a humanidade, ao deixarem claras as hipocrisias americana e midiática, que mantêm regimes contrários aos EUA sob fogo cerrado enquanto silenciam sobre os regimes simpáticos à potência decadente do Norte por mais criminosos que sejam.
O Brasil nunca conheceu o Egito para além da versão hollywoodiana de sua realidade e de sua história, mas a tecnologia, porém, vai mudando isso. Se após tanto tempo finalmente os brasileiros descobriram que há ditaduras criticáveis e acima de críticas no Oriente Médio, foi graças à internet, que permitiu aos egípcios reprimidos contarem ao mundo a versão deles.
Não esperem editoriais furiosos contra o Egito, porém. Nem aqui, nem nos EUA. Em breve, assim que o ditador Mubarak conseguir enquadrar a população por meio dos bilhões de dólares em armas que os americanos despejam anualmente naquele país, aquela ditadura voltará para debaixo do manto de silêncio midiático.
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