domingo, 23 de novembro de 2014

Contraponto 15.421 - " 'Mostra fotos do filho para ela chorar' "

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23/11/2014

“Mostra fotos do filho para ela chorar”




Maria e Casé a Globo, nos dias de comoção pela morte do dançarino DJ
Maria e Casé na Globo, nos dias de comoção pela morte do dançarino DJ

Paulo NogueiraUm vídeo comoveu as pessoas neste final de semana nas redes sociais.
A estrela é Maria, mãe do dançarino DG, assassinado pela polícia do Rio há alguns meses.

Num debate sobre questões dos negros, ela falou sobre a maneira como a mídia tratou a morte de seu filho.

Mais especificamente, a Globo e Regina Casé. Regina Casé comanda o Esquenta, programa da Globo no qual DG fazia algumas participações.

Não impressiona a forma como a Globo e Regina Casé exploraram a dor de Maria.

No calor da revolta da sociedade, Maria foi levada ao programa de Regina Casé, na louca e cruel cavalgada pela audiência.

Maria foi usada e abandonada ainda no palco. Terminado o programa, ela conta que Regina Casé simplesmente a largou.

“Estou esperando até agora”, disse Maria.

Ela não precisou o que esperava. Imagino que fosse algum tipo de solidariedade. Não me pareceu, pelo que vi de Maria, que ela estivesse atrás de dinheiro ou coisas materiais.

Mas nada.

O máximo que ofereceram a ela foi produzi-la para o programa em que ela falaria do filho assassinado, como se fosse uma atriz. Ela rejeitou a suprema dádiva de fazer unha e cabelo num salão global. “E eu queria lá unha e cabelo?”, diz ela no vídeo.

Se a atitude da Globo e de Regina Casé absolutamente não me surpreendem, a firmeza lúcida de Maria me impressionou.

Ela representa um novo brasileiro simples, muito distante do “bovino” na já célebre definição de Diogo Mainardi.

É lúcida, sabe o que quer, não se deixa enganar – e fala com um tipo de clareza sincera que eu gostaria de ver, por exemplo, nos juízes do STF.

É este novo brasileiro que impediu que, nas últimas eleições, as manobras da mídia para eleger seus amigos não funcionassem.

Ele sabe que, no fundo, estão tentando bater sua carteira quando fazem campanhas pseudomoralistas em épocas de eleições.

Maria é Maria e milhões de brasileiros iguais a ela, que despertaram de um longo torpor do qual a mídia e seus amigos sentem uma torrencial saudade.

Eles votam não em quem seus patrões gostariam que votassem, mas em quem melhora sua vida.
No vídeo, uma parte, especificamente, me doeu. É quando Maria conta que, para fazê-la chorar, e assim conseguir mais audiência, a instrução era mostrar a ela fotos do filho morto.

Não vou retornar a um tema que trago sempre à discussão no DCM: 600 milhões em dinheiro público vão dar, na forma de publicidade federal, na Globo todos os anos.

Para fazer este tipo de coisa.

Procurada, a Globo disse que as acusações de Maria não têm fundamento.

Mas quem acredita nisso, para usar a grande frase de Wellington, acredita em tudo.

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Paulo Nogueira. Jornalista,  fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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