segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Contraponto 4505 - "Desconstruindo FHC"

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24/01/2011
Desconstruindo FHC

Enviado por luisnassif, seg, 24/01/2011 - 18:00

Por Gunter Zibell - SP

O estilo de fantasiar sobre o passado contando com o beneplácito da mídia atrapalha um pouco o PSDB e seu líder.

Disse recentemente FHC à GNT : "Eu mudei o Brasil, vamos dizer com clareza aqui, sem falsa modéstia. O Brasil era um antes da consolidação da economia e passou a ser outro"

É fato. Mudou o Brasil.

O Brasil vendeu boa parte de seu patrimônio público para pagar juros, a dívida pública triplicou como proporção do PIB (de 1994 a 2002) e o país submeteu sua independência monetária a crises cambiais.

Também se verificou o mais longo período de estagnação (1996-2003) da história econômica brasileira como conseqüência da política de juros exagerada, que o foi para não arriscar o único trunfo do governo, a estabilização da moeda. Oito anos com um crescimento da renda per capita de 0,5% ao ano, o que talvez não tenha paralelo em nenhuma outra economia emergente de expressão.

Quando defendeu – em 2009 - a descriminalização da maconha, com o que concordo, FHC argumentou que a sociedade vivia presa a medos manipulados, com o que também concordo. Deve entender do que fala, pois também houve em 3 ocasiões (1994/1998/2002) a manipulação dos juros e do câmbio – e o medo assim sossegado ou estimulado - para fins eleitorais.

Não há nada mais superestimado que o Plano Real. Vários países na mesma época estabilizaram suas moedas aproveitando as condições favoráveis do mercado externo de capitais. Em nenhum deles (Argentina, Peru, Bolívia, entre outros) a agremiação política governista de então utiliza isso como argumento eleitoral hoje, afinal, foi mais ou menos o mínimo que um governo devia fazer.

Algumas realizações efetivas (Bolsa-escola, Lei de Responsabilidade Fiscal, Reforma da Previdência) ficaram empanadas pela deficiente discussão com a sociedade (discussão essa que poderia aprimorar ou tornar menos draconianas algumas das iniciativas) e falta de oposição, afinal governou-se com 80% do Congresso + mídia + sindicatos patronais.

Não comento sobre reeleição porque isso nunca me incomodou.

Até os resultados econômicos de 1993-1995 podem mais bem ser vistos como utilização da capacidade ociosa deixada pela recessão de 1990-1992 do que qualquer outra coisa. É dessa época que veio a mais intensa desindustrialização (a participação da manufatura no PIB passou de 30% em 1989 para 15% em 1996 (atualmente está em 13%)

Ao final das contas, em 2002/2003 (primeiro ano de Lula, em função de herança adversa) o Brasil viveu seu recorde histórico de desemprego e a renda per capita estava, veja-se só, apenas 4% superior a de 1989, quando começou a aventura neoliberal. 14 anos sem crescimento substantivo, duas vezes as pragas do Egito...

Entre os principais erros na implantação do Plano Real podemos apontar a taxa de câmbio escolhida para seu início, já valorizada, e a exagerada perseguição de rapidez na redução do ritmo de inflação, através da adoção de taxas reais de juros de 16% a.a. por 4 anos. Nos momentos que podiam ser usados para a correção de rumo, como as crises em outros países emergentes, preferiu-se optar por não comprometer a popularidade política (com vistas à reeleição) e escamotear as contas externas até depois da segunda posse.

FHC talvez só não tenha tido piores resultados na gestão da economia que Collor, mas pelo menos este, hoje, é falso modesto.

Desconstruindo FHC
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