quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Contraponto 4532 - "Nordeste ensina ao Sul convivência com a seca"

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27/01/2011

Nordeste ensina ao Sul convivência com a seca

Do Vermelho - 26 de Janeiro de 2011 - 10h54

A tecnologia de cisternas, desenvolvida no nordeste brasileiro para conviver com a seca, começa a ser repassada para o Sul do País. Perto da fronteira com o Uruguai as estiagens estão cada vez mais freqüentes: oito secas em 11 anos. Nessa região, os períodos sem chuvas também tendem a ser cada vez mais longos, a atual já chega a seis meses.


O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) prepara um edital para a construção de seis mil cisternas, o primeiro a ser elaborado para famílias agricultoras fora do semiárido nordestino. O público e os objetivos são semelhantes: fornecer uma alternativa a quem vive em sítios isolados e fica sem água para o consumo pessoal (beber, cozinhar e higiene). O projeto também inclui a capacitação do morador para receber o equipamento.

A reserva de água da chuva é suficiente para cerca de oito meses e deve ser protegida de qualquer contaminação, como o contato com insetos, ratos e outros animais. Bastante pura para ser armazenada sem problemas, ela não pode ser misturada com outra de fonte menos confiável. No Nordeste, essa água de má qualidade é vendida num mercado paralelo, por meio de caminhões pipa. Como essa cultura ainda não existe no Rio Grande do Sul, é possível que esse seja um problema a menos para transferir a tecnologia.

Segundo o coordenador-geral de Acesso à Água do Ministério, Igor Arsky, a iniciativa deve despertar na sociedade local uma necessária consciência ambiental, já que grande parte do problema enfrentado hoje pelos gaúchos se deve a um modelo inadequado de uso dos recursos naturais. O agricultor não poderá mais desperdiçar água na irrigação ou permitir a perda de cobertura do solo e erosão.

“A convivência com a seca implica gestão racional da água e não usar mais do que o necessário”, diz Arsky.

O próximo passo será levar as outras tecnologias, como barraginhas e cisternas de calçada (com mais capacidade para uso na agricultura), e a introdução de novas culturas mais resistentes. “Esse é o começo do processo, que visa salvar as famílias da sede, mas, com a nossa experiência acumulada no Nordeste, podemos esperar que outras boas práticas serão desenvolvidas em seguida”, avalia.

Qualidade de vida

No Nordeste, 470 mil famílias já receberam as cisternas destinadas a consumo humano, com a água coletada em telhados e capacidade para 16 mil litros. Isso é suficiente para uma família de cinco pessoas agüentar a seca. Em 2007, uma pesquisa com 4.189 domicílios rurais, atendidos ou não pelo programa, constatou as diferenças na qualidade de vida de quem tem acesso ao sistema.

A melhoria da qualidade da água consumida reduziu a frequência com que adultos e crianças adoecem. E houve uma redução do tempo dedicado para busca e transporte de água, reduzindo dramaticamente a carga de trabalho de mulheres e crianças. Sem a cisterna, o nordestino passa 36 dias no ano trabalhando para conseguir água.

A cisterna é construída por pedreiros e pelas próprias famílias, que escavam o buraco de dois metros de profundidade para a construção. Os pedreiros são remunerados pelo programa e a contribuição das famílias nos trabalhos de construção se caracteriza com a contrapartida no processo.

Além de água de beber, o nordeste já construiu 5,7 mil cisternas de 52 mil litros, o suficiente para garantir a produção de alimentos para a subsistência, hortas e criação de animais. A água neste caso é coletada numa calçada limpa ou de um tanque de decantação que coleta o fluxo de uma enxurrada.

Escolas com água

Unindo os acessos à água para beber e para produzir, o MDS desenvolveu o Programa Cisternas nas Escolas, em parceria com o governo da Bahia e o Ministério da Educação, que financiou 110 cisternas.

O projeto beneficia 13 municípios baianos com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Além das escolas, as famílias das crianças pertencentes a essas unidades educacionais também serão beneficiadas com a construção de mais 811 cisternas de consumo.

Fonte: Em Questão

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