terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Contraponto 4664 - "Padrão dólar na corda bamba: Sarkozy propõe nova ordem monetária

.
08/02/2011


Padrão dólar na corda bamba: Sarkozy propõe nova ordem monetária

Do Verrmelho - 7 de Fevereiro de 2011 - 19h18


O presidente da França, Nicolas Sarkozy, defende a criação de um novo sistema monetário internacional no qual o dólar dividiria a condição de principal moeda internacional com outras divisas, incluindo o yuan chinês.

Por Umberto Martins

A informação foi divulgada nesta segunda-feira (7) pelo Wall Street Journal, diário econômico conservador editado nos EUA. Atualmente, Sarkozy ocupa o cargo rotativo de presidente do G-20. Segundo o jornal, ele vai recomendar uma reforma profunda no grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo e, em sua opinião, deve operar de forma análoga ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Novo G-20

Wall Street Journal teve acesso aos principais pontos de um relatório que está sendo preparado com o aval do presidente francês e deve ser apresentado publicamente na reunião de ministros da Economia do G-20, convocada para 18 e 19 de fevereiro.

Os dois principais pontos do documento, de acordo com o jornal estadunidense, sugerem a criação de um novo sistema monetário e a transformação do G-20 em um órgão com efetivo poder de tomar decisões internacionais. Para isso, Sarkozy quer fazer com que cada membro do G-20 seja representante de um grupo de países, de modo que todas as 187 nações pertencentes ao FMI estejam representadas no grupo dos 20.

Necessidade objetiva

Sarkozy não é o primeiro a preconizar a substituição do dólar como padrão monetário internacional. Em 2009, a China propôs algo parecido e em 2010 o governo brasileiro foi na mesma direção. Todavia, o tema não chegou a ser debatido nas reuniões do G-20.

A necessidade de uma nova ordem monetária internacional não reflete apenas interesses políticos, econômicos e ideológicos divergentes daqueles que predominam nos Estados Unidos, nem é meramente teórica. Adquire um caráter objetivo em função da crescente instabilidade dos mercados cambiais.

Fundamentos corrompidos

Os desequilíbrios cultivados pelo império em suas relações comerciais e financeiras, especialmente com a China, corromperam os fundamentos econômicos do padrão dólar, tornando irresistível o declínio do seu valor relativo frente às demais moedas.

Os problemas foram agravados pela decisão do Federal Reserve (FED, banco central estadunidense) de emitir dólares em grande quantidade a pretexto de contornar a crise econômica que começou no final de 2007.

Inflação mundial

As emissões inundam o mundo de dólares e promovem sua desvalorização. Por esta razão, os EUA chegaram a ser acusados pela Alemanha de praticar a manipulação cambial de que acusam a China com o propósito de recuperar a competitividade perdida de sua decadente indústria.

Por definição, segundo os manuais de economia, desvalorização de moeda significa inflação. Como o dólar circula em todo o mundo, o resultado de sua queda é a inflação internacional e, uma vez que a variação dos preços relativos não é homogênea, esta se traduz hoje principalmente através da persistente alta das commodities, também respaldada pelo extraordinário crescimento da demanda chinesa.

Guerra cambial

A queda do dólar é uma das principais causas da inflação dos alimentos no mundo. Além disto, como os efeitos da inflação do dólar entre as nações são desiguais e sujeitos à influência das políticas cambiais, as emissões do FED estão resultando no que o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, caracterizou como guerra cambial.

Cada país busca uma ou outra forma de proteção para sua indústria (como o controle do fluxo de capitais e intervenção dos bancos centrais no mercado de moedas), sem considerar os efeitos de suas iniciativas sobre a economia mundial. Prevalece o ditado: cada um por si e o diabo pelo mundo. Há uma forte tendência de que a guerra de divisas se transforme numa guerra comercial mais séria, que pode ser o prenúncio de conflitos políticos e militares mais sérios no futuro.

A China, que dribla as pressões lideradas pelos EUA e mantém o câmbio sob rigoroso controle, considerando isto uma questão de soberania nacional, protege melhor os seus interesses econômicos da derrama promovida pelo império. O governo brasileiro, que transformou o câmbio flutuante (compromisso assumido na famosa carta aos brasileiros) num dogma, já não é tão feliz neste terreno.

Desindustrialização?

A indústria nacional, cuja saúde é fundamental para o desenvolvimento econômico, é de longe o setor mais afetado pela excessiva valorização do real. A perda de mercado, interno e externo, transparece no crescente déficit comercial de manufaturados, que em 2010 atingiu US$ 17,4 bilhões no ramo de máquinas e equipamentos; US$ 17,1 bilhões no ramo de material elétrico e de comunicações; US$ 11,9 bilhões no químico; US$ 3,6 bilhões em materiais de transportes e US$ 1,9 bilhão no ramo têxtil. É por isto que se fala em desindustrialização.

A volatilidade dos mercados cambiais decorrente da fragilidade do dólar e das emissões do FED perturba os negócios e embaralha as regras do jogo entre exportadores e importadores, semeando discórdia entre os preços relativos e fazendo com que a fortuna distribua seus favores de forma anárquica e assimétrica entre os diferentes ramos e setores da economia, beim como entre as nações.

Transição será pacífica?

É por esta e outras que cresce, no interior da chamada comunidade internacional, o clamor por uma nova ordem econômica e uma nova moeda mundial. Três vozes de peso na diplomacia internacional (China, França e Brasil) já se pronunciaram a favor da reforma do sistema monetário.

Os EUA estão calados, mas certamente não concordam com tais ideias, embora não se saiba o que possa fazer a este respeito. O fim da hegemonia do padrão dólar pode ser um passo irreversível na direção de uma nova ordem internacional na qual Tio Sam já não dará as cartas unilateralmente e terá de se conformar com uma posição bem mais modesta que a atual na geopolítica mundial.

As lições da história indicam que transformações desta envergadura não ocorrem sem guerras. Lembremos que o império real britânico (aquele que não conhecia o pôr do sol) ganhou uma breve e conturbada sobrevida com a derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial e só cedeu lugar ao americano depois da segunda grande conflagração bélica, nos acordos oficializados em 1944 na cidade de Bretton Woods.
.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista