02/02/2011
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AS MEIAS VERDADES DA ORTODOXIA
A ortodoxia midiática se lambuza com ‘vazamentos' propiciados por círculos "muito próximos da Presidência" --afirma-se-- destinados a adestrar a opinião pública para cortes de gastos públicos a caminho. O anúncio está no forno e deve sair até meados de fevereiro. "Será forte', salivam uns; "já está perto de R$ 40 bi", aplaudem outros; "pode chegar a R$ 50 bi", exultam os ventríloquos na tentativa de contagiar o ânimo do enforcado rumo ao cadafalso. À população, sonega-se, todavia, o fundamental: grandezas comparativas indispensáveis a uma avaliação criteriosa da pertinência desse ou daquele corte. Por exemplo, o que pensaria a opinião pública se lhe facultassem saber que a conta dos juros pagos pelo Estado brasileiro aos rentistas, detentores da dívida pública, somou a estonteante cifra de R$ 195,369 bilhões no ano passado -- os maiores gastos com juros da história do país, uma elevação de 14,24% sobre o ano anterior? Trata-se de um valor três vezes maior que a soma dos investimentos públicos previstos no orçamento deste ano (R$ 63,5 bi), e cuja plena execução é tida como inviável pelos mãos de tesoura de sempre. ‘Na área técnica', informa o jornal Valor, ‘a avaliação é que, sem restringir os investimentos do PAC, os cortes dificilmente passariam de R$ 30 bilhões. Esse valor seria insuficiente para cumprir a meta de superávit primário (economia de recursos públicos para pagar juros), fixada em 3% do PIB este ano". O raciocínio ortodoxo diz que as pressões inflacionárias decorrentes da manutenção dos investimentos públicos (estamos falando de investimento, não corte de despesas inconseqüentes) forçariam novas altas dos juros, atraindo capitais especulativos com a inevitável valorização do Real e asfixia das exportações. A opção de enfrentar esse dilema com medidas como controle de capitais --leia manifesto de economistas nesta pág-- não cabe no repertório das meias-verdades ortodoxas. Sobra, assim, cortar ou morrer sob um tsunami de importações baratas, capaz de desbaratar a industrialização brasileira. O mesmo ardil das meias-verdades explica a rigidez na definição do novo salário mínimo em R$ 545,00. Um aumento adicional de R$ 5, soletra o dispositivo ortodoxo, teria um impacto de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão nas contas públicas em 2011, por conta do gasto com aposentados. De fato. Omite-se, porém, de novo, a referência incômoda às meias-verdades: essa despesa representa um valor cento e nove vezes menor que o destinado ao pagamento de juros em 2010. Em tempo: a presidenta Dilma Rousseff repetiu três vezes esta semana que o PAC não será contingenciado. A ver.
(Carta Maior, 4º feira, 02/02/2011)
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A ortodoxia midiática se lambuza com ‘vazamentos' propiciados por círculos "muito próximos da Presidência" --afirma-se-- destinados a adestrar a opinião pública para cortes de gastos públicos a caminho. O anúncio está no forno e deve sair até meados de fevereiro. "Será forte', salivam uns; "já está perto de R$ 40 bi", aplaudem outros; "pode chegar a R$ 50 bi", exultam os ventríloquos na tentativa de contagiar o ânimo do enforcado rumo ao cadafalso. À população, sonega-se, todavia, o fundamental: grandezas comparativas indispensáveis a uma avaliação criteriosa da pertinência desse ou daquele corte. Por exemplo, o que pensaria a opinião pública se lhe facultassem saber que a conta dos juros pagos pelo Estado brasileiro aos rentistas, detentores da dívida pública, somou a estonteante cifra de R$ 195,369 bilhões no ano passado -- os maiores gastos com juros da história do país, uma elevação de 14,24% sobre o ano anterior? Trata-se de um valor três vezes maior que a soma dos investimentos públicos previstos no orçamento deste ano (R$ 63,5 bi), e cuja plena execução é tida como inviável pelos mãos de tesoura de sempre. ‘Na área técnica', informa o jornal Valor, ‘a avaliação é que, sem restringir os investimentos do PAC, os cortes dificilmente passariam de R$ 30 bilhões. Esse valor seria insuficiente para cumprir a meta de superávit primário (economia de recursos públicos para pagar juros), fixada em 3% do PIB este ano". O raciocínio ortodoxo diz que as pressões inflacionárias decorrentes da manutenção dos investimentos públicos (estamos falando de investimento, não corte de despesas inconseqüentes) forçariam novas altas dos juros, atraindo capitais especulativos com a inevitável valorização do Real e asfixia das exportações. A opção de enfrentar esse dilema com medidas como controle de capitais --leia manifesto de economistas nesta pág-- não cabe no repertório das meias-verdades ortodoxas. Sobra, assim, cortar ou morrer sob um tsunami de importações baratas, capaz de desbaratar a industrialização brasileira. O mesmo ardil das meias-verdades explica a rigidez na definição do novo salário mínimo em R$ 545,00. Um aumento adicional de R$ 5, soletra o dispositivo ortodoxo, teria um impacto de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão nas contas públicas em 2011, por conta do gasto com aposentados. De fato. Omite-se, porém, de novo, a referência incômoda às meias-verdades: essa despesa representa um valor cento e nove vezes menor que o destinado ao pagamento de juros em 2010. Em tempo: a presidenta Dilma Rousseff repetiu três vezes esta semana que o PAC não será contingenciado. A ver.
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(Carta Maior, 4º feira, 02/02/2011)
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