Do O Povo on line - 28/08/2011
Valdemar Menezes
Não há nenhuma segurança de que os novos donos do poder, na Líbia, seguirão caminho diferente do antecessor, em termos de pouco apreço à democracia. A diferença, talvez, é que será um regime dócil aos interesses das grandes potências e, assim, bem-quisto, como o é a ditadura da Arábia Saudita - que inferniza a vida de seu povo - e outros regimes igualmente despóticos, mas que entregam suas riquezas de mãos beijadas aos ocidentais. Fosse sincero o objetivo democrático dos interventores, as demais ditaduras estariam com os dias contados. Mas, não é isso o que acontece: não se mexe em quem fecha os olhos ao saque da riqueza nacional por forças estrangeiras. O escândalo maior é o descaramento com que as grandes potências trataram a resolução do Conselho de Segurança da ONU que impunha limites à intervenção.
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Valdemar Menezes
Há exatos 50 anos, a democracia brasileira sofria uma tentativa de golpe realizada por facções direitistas militares e civis. Desconcertados pela falta de apoio popular a Jânio Quadros, depois que este anunciou a renúncia ao cargo presidencial (na verdade esperavam que o povo exigisse a volta de Jânio e este então regressaria com todos os poderes e fecharia o Congresso, onde não tinha maioria), os três ministros militares, passando por cima da Constituição, vetaram a posse do vice-presidente constitucional João Goulart (Jango), odiado pelas forças conservadoras por ter sido ministro do Trabalho de Getúlio e ter perfil nacionalista. Não imaginavam deparar-se com a resistência de Leonel Brizola (foto), governador do Rio Grande do Sul, do próprio povo gaúcho e do III Exército. Mas foi o que aconteceu.
RESISTÊNCIA E DECEPÇÃO
Brizola entrincheirou-se no Palácio Piratini e de lá formou uma rede de emissoras de rádio – a Cadeia da Legalidade – pregando resistência ao golpe e o respeito à Constituição. Ficou ao seu lado, o comandante do III Exército, general Machado Lopes e a Brigada Gaúcha (Polícia). Armas foram distribuídas ao povo. Em todo o país, as forças democráticas manifestaram apoio à posse de Jango. À beira da guerra civil, os golpistas pensaram duas vezes e quando já temiam que o confronto lhes fosse desfavorável, João Goulart, de maneira decepcionante, aceitou um acordo pelo qual assumia o poder, mas dentro de um regime parlamentarista, onde deveria ser apenas uma figura decorativa.
ALERGIA À DEMOCRACIA
A crise de 1961 era apenas mais uma investida das forças golpistas conservadoras que não se haviam conformado com a redemocratização de 1946. De novo, as elites tradicionais, aliadas à Washington, tentavam travar um caminho de desenvolvimento nacional independente. Nunca aceitaram a democracia, em todas as suas consequências, pois esta sempre lhes tinha sido desfavorável. Em 1954, encurralaram Getúlio Vargas, que vinha sendo alvo de uma campanha infamante, desde que se decidira pela criação da Petrobras. Cercado, o velho presidente preferiu matar-se a ser deposto. Isso provocou uma enorme onda de indignação popular contra os golpistas, impedindo-os de assumir o poder.
DERROTA DA DEMOCRACIA
Tentaram, então, impedir a eleição de Juscelino Kubistchek. Falharam. Tramaram contra sua posse. Empossado, promoveram duas sublevações para derrubá-lo. Com a eleição de Jânio Quadros, pensava-se que tinham amainado a sede de poder. Engano: queriam poder absoluto. Nada de Congresso. Falhado o golpe da renúncia, os ministros militares tentaram impedir a posse do vice Jango. Não o conseguiram, diante da resistência popular. Três anos depois, em 1964, finalmente obtiveram o que queriam, com o auxílio da CIA e do Pentágono, inaugurando uma ditadura que durou mais de 20 anos..
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