10/08/2015
Profissão de fé contra Dilma e PT virou salvo-conduto social
Eduardo Guimarães
Apesar de, originalmente, constituir-se em declaração pública de convicções religiosas, a “profissão de fé” vem servindo, através da história, para afirmar convicções políticas e ideológicas com vistas a resguardar o autor.
De Hitler a Stalin, os regimes autoritários sempre exigiram que as pessoas professassem sua fé em dogmas político-ideológicos obrigatórios, sob pena de expurgo ou até morte caso fossem suspeitas de pensar diferente da maioria oficial.
Um dos aspectos mais eloquentes da ascensão do fascismo em curso no Brasil é a necessidade que pessoas e instituições vêm demonstrando de fazer profissão de fé no criticismo a Dilma Rousseff e ao PT.
De um extremo a outro do espectro político, muitos sentem que têm que criticar a presidente da República e seu partido. Nesse processo, tanto a esquerda quanto a direita acabam professando as mesmas críticas.
Por exemplo: tornou-se obrigatório dizer que Dilma Rousseff geriu mal a economia e que é por isso que o desemprego e a inflação vêm subindo. Puxe pela memória e você descobrirá que essa crítica pode ser vista do PSDB ao PSOL, passando por setores do PT.
Para quem acompanha a política brasileira com olhos de ver, porém, essa é uma das críticas mais injustas que a presidente da República recebe.
Não existe paralelo na história recente do país de governos que sofreram tanta sabotagem quanto os de Lula e Dilma.
Enquanto os dois governos Fernando Henrique Cardoso afundaram apesar do apoio e da colaboração extrema da imprensa, do Judiciário, da Polícia Federal, do Congresso e da Procuradoria Geral da República, os governos do PT se viram alvo de uma campanha incessante para desacreditar tudo que fizeram ao longo dos últimos 12 anos.
O Programa de Aceleração do Crescimento, por exemplo, apesar da quantidade imensurável de realizações e do forte incremente que possibilitou à atividade econômica do país, sempre foi tratado como mera peça de marketing.
Programas exitosos como o Minha Casa, Minha Vida idem, apesar de o programa criado em 2009 já ter entregado (até março) 2,1 milhões de unidades e de ter mais de 1,6 milhão de casas e apartamentos contratados para construção.
O programa Mais Médicos, que logrou beneficiar 63 milhões de brasileiros – os quais, em grande parte, jamais tinham se consultado com um médico na vida –, é discutido na grande imprensa apenas pela ótica das condições de trabalho de parte dos médicos que emprega, os cubanos. E dane-se o benefício aos brasileiros pobres.
Nem os críticos de esquerda têm coragem de reconhecer que a situação política e econômica do país deriva de sabotagens infindáveis que vêm sendo praticadas contra os governos do PT desde 2005 e que, como foi previsto tantas vezes nesta página, acabaram surtindo efeito.
Na última quinta-feira, o programa eleitoral semestral do PT expôs a razão pela qual está sendo necessário fazer o ajuste fiscal, que une críticas idênticas da esquerda e da direita, ou seja, de que seria “estelionato eleitoral”.
O programa elencou a quantidade de reduções de impostos que o primeiro governo Dilma fez:
— 38 bilhões de reais de impostos foram cortados da folha de pagamento das empresas
— 17 bilhões de reais de impostos foram cortados da cesta básica
— 19 bilhões de reais de impostos foram cortados das pequenas empresas
— 32 bilhões de reais foi o tamanho da redução do IPI
Ao longo dos últimos anos, o governo brasileiro abriu mão de 106 bilhões de reais de impostos para estimular a atividade econômica. Enquanto isso, implantou programas custosos para manter a economia funcionando, como o PAC.
Em 2013, o governo reduziu de 20% a 30% o custo da energia elétrica. Os contratos com as empresas geradoras de energia haviam terminado e o novo preço autorizado pelo governo tinha que excluir a taxa de amortização de investimentos que esses contratos tinham, já que os custos dessas empresas com a construção das usinas já tinham sido amortizados.
Os aumentos da energia elétrica que vêm ocorrendo se devem exclusivamente à seca que se instalou no país e hoje estamos pagando praticamente o mesmo que pagávamos antes de o governo reduzir os preços para o consumidor, mas ninguém se lembra de quando esses preços baixaram, só de quando aumentaram.
Em 2012, Dilma fez bancos públicos liderarem queda nas taxas de juro ao consumidor. Essa política, ao lado da redução do preço da energia, foi considerada “esquerdista demais” pelo mercado e pela mídia enquanto a oposição de esquerda acusava o governo de ser “de direita”.
Até o início de 2013, o Brasil ia bem. Apesar dos vultosos gastos para manter a economia funcionando e para proteger o emprego e a renda, o investimento privado compensava. O Brasil atraía investimentos do mundo inteiro e do investidor nacional.
Por vinte centavos, porém, em junho daquele ano o país mergulharia em uma crise política que, hoje, está destruindo a economia.
As imagens das massas ensandecidas pelas ruas, incêndios, depredações, aquelas guerras campais desencadeadas para reduzir em alguns centavos o preço das passagens de ônibus em São Paulo, tiraram do país o instrumento que estava permitindo ao governo financiar políticas anticíclicas. O investidor tirou o pé do acelerador, parou no acostamento e não saiu mais.
Sem o investimento privado, os recursos do governo foram insuficientes para financiar aquelas políticas anticíclicas e as contas públicas começaram a naufragar.
Em 2014, os protestos contra a Copa do Mundo tiraram do país uma chance imensa de captar recursos do turismo. Brasileiros de esquerda e de direita começaram a produzir campanhas na internet, em vídeos bem elaborados, exortando os estrangeiros a não virem para o país porque, aqui, correriam até risco de morte devido à situação política.
Os governos do PT sofreram 12 anos de sabotagem ininterrupta. Porém, o bem-estar social que proporcionaram até 2014 foi suficiente para manter o povo ao lado de Lula e, depois, de Dilma.
Porém, como era absolutamente previsível – e isso foi dito aqui dezenas e dezenas de vezes desde 2005, quando esta página foi criada –, bastou a crise econômica internacional produzir efeitos internos e o governo não ter mais como distribuir bem-estar para que as oposições de direita e esquerda – e, principalmente, a oposição midiática – atingissem o objetivo de desmoralizar o governo petista e o PT.
Claro que houve casos de corrupção nos governos do PT, assim como existiram em governos anteriores desde o Descobrimento. A diferença é que Lula e Dilma inovaram, em relação aos antecessores, e jamais impediram investigações.
Nem o fato de que um dos principais opositores dos governos petistas na mídia internacional reconheceu publicamente que a presidente Dilma é responsável pelo enorme combate à corrupção que se vê hoje no país parece sensibilizar os críticos – à esquerda e à direita.
O jornal britânico Financial Times disse recentemente, em editorial, que Dilma “Tem tido uma postura inflexível” no combate à corrupção e que essa é “Uma ruptura muito bem-vinda em relação à atitude relaxada no que diz respeito à corrupção dos governos brasileiros” anteriores.
O jornal só pecou ao não reconhecer que essa postura do governo Dilma começou no governo Lula.
Mas como é possível que o governo que mais combateu a corrupção – e, nesse aspecto, o governo Dilma supera o de Lula – seja acusado justamente daquilo que combateu?
Os cínicos dizem que Dilma não combateu nada, que a Polícia Federal, o Ministério Público, a Controladoria Geral da União e tantos órgãos de controle são “órgãos de Estado” que atuariam independentemente da vontade do governo e que, por isso, este nada tem que ver com o intenso combate à corrupção, jamais visto na história do país.
Esses cínicos só não explicam por que PF, MPF, Justiça etc. nunca agiram com a mesma contundência no passado.
Alguns criminosos intelectuais chegam a dizer que é porque antigamente não havia “tanta corrupção”, quando se sabe que é justamente ao contrário, já que, no passado, o risco de existir uma Operação Lava Jato era ínfimo.
Lula e Dilma poderiam ter feito como FHC, por exemplo, que colocou o primo do seu vice-presidente na Procuradoria Geral da República e um colega de partido na Polícia Federal, mas, desde sempre, atuaram sob a convicção de que era preciso dar liberdade a toda e qualquer investigação de seus governos.
Quantos governos teriam resistido ao nível de sabotagem que os governos Lula e Dilma enfrentaram?
Sem essas sabotagens, o país, hoje, não saberia o que é crise.
Aliás, se não existisse a atual crise política o país poderia já estar crescendo de novo e as agruras que este povo está enfrentando – e irá enfrentar ainda mais, se não colocarmos um fim a essa loucura – nem existiriam.
O mais patético é que, em toda parte, mesmo aqueles que sabem disso tudo que vai escrito acima já tratam de fazer suas profissões de fé no criticismo a Dilma e ao PT – pelo menos na esquerda Lula ainda é preservado.
A histeria coletiva tornou-se tão aguda que as pessoas que não se rendem à maioria já enfrentam problemas em seus círculos de relação social e até no âmbito profissional.
Amontoam-se os casos de pessoas que têm tido problemas em seus empregos por conta de suas posições políticas. Muitos dos que enxergam os fatos têm que adotar a autocensura para evitar demissão por questões políticas.
Cresce o número de pessoas que usam perfis falsos na internet para simplesmente dizerem o que pensam. E muitas nem isso fazem por medo de virem a ser descobertas.
Não é novidade, neste país, que as pessoas tenham medo de assumir seus pontos de vista. O Brasil já enfrentou muitos períodos em que não havia liberdade de pensamento e de expressão.
O que é doloroso é ver que muitos vão ainda mais longe e, por isso, não se contentam com o silêncio.
Para se colocarem a salvo das patrulhas políticas na internet ou no mundo físico, tratam de professar algum nível de antipetismo, antidilmismo e, em menor grau, antilulismo.
A pressão é tanta que até no PT é possível ver esse tipo de coisa. Petistas esquecem reduções dos juros, do preço da energia, o protagonismo do Estado como investidor, os programas sociais e tratam de se unir à turba antipetista de esquerda que acusa o governo Dilma de adotar o programa dos adversários, como se ela não tivesse dito, durante a campanha do ano passado, que haveria que fazer um ajuste fiscal, mas que seria inferior ao que fariam um Aécio Neves ou uma Marina Silva.
Dilma não tenta fazer um ajuste igual ao que fariam os adversários da eleição passada. Alguém a viu propor independência do Banco Central ou interrupção dos aumentos reais do salário mínimo ou mesmo venda dos bancos públicos, como propuseram os adversários?
O mais desolador é que, além dos que temem repressão social e profissional, há os que simplesmente acham que se a maioria critica eles também têm que criticar.
Patético, não?
Os governos do PT fizeram o que foi possível fazer. O que está acontecendo na economia do país decorre de sabotagem. Além disso, Lula e Dilma combateram a corrupção como ninguém. Essa é a verdade, doa a quem doer.
Sempre que abrimos mão de nossas convicções por medo do que os outros pensam, tornamo-nos escravos. Cada vez que você critica Dilma ou o PT para não ser “governista demais”, abre mão de sua liberdade individual.
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