10/08/2015
Dez razões que sepultam o golpe
Por Gisele
Cittadino e Rogerio Dultra dos Santos
A situação política no país assemelha-se a um intricado jogo, cujas peças movem-se em várias direções sem que tenhamos, a priori, a capacidade de bem calcular os efeitos de cada um desses movimentos. Entretanto, existem em alguns deles fortes sinais do início do fim do frenesi golpista.
Há, hoje, a possibilidade de que a ameaça de impeachment tenha sido antes uma estratégia para o enfraquecimento do governo do que uma intenção concreta de ruptura institucional. Noves fora as tresloucadas pretensões presidenciais de Aécio Neves e sua trupe senatorial.
Vejamos as jogadas lançadas no tabuleiro nos últimos dias.
Elas indicam no geral que a instabilidade econômica causada pelo golpismo encontrou resistências acentuadas.
São pelo menos 10 as razões pelas quais se pode antever que o país não tem mais o clima para o malfadado e radical impeachment de agosto:
1) O crime de Cunha.
Eduardo Cunha conseguiu aprovar açodadamente as contas dos governos de Itamar Franco, FHC e Lula no plenário da Câmara dos Deputados.
Aparentemente limpou a pauta para votar – e talvez rejeitar – as contas do primeiro mandato de Dilma Rousseff, não sem antes criar novas despesas públicas.
Romero Jucá informa que o Senado Federal não será pautado pelos “delírios” que chegam da Câmara.
A verdade por trás desta notícia é que Eduardo Cunha levou diretamente à Câmara contas que, segundo o art. 166, §1 da Constituição, deveriam passar pela Comissão Mista antes de seguir em frente. Ou seja: ele cometeu uma grave violação do ordenamento constitucional e pode ser diretamente responsabilizado por isto;
2) O inimigo de Cunha.
Na noite da quinta-feira, dia 06, Dilma decidiu reconduzir o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para um novo mandato de dois anos. Janot é o personagem contra quem Cunha declarou guerra. Janot recebeu uma votação expressiva no Ministério Público Federal e terá condição de colocar freio na caça às bruxas dos procuradores mais afoitos.
Mais. Janot tem o poder de denunciar o Presidente da Câmara dos Deputados ao STF – inclusive pela quebra de procedimento na votação das contas públicas (vide razão (1)).
A recondução de Janot, em tempo recorde, indica uma composição política central na contenção do golpe.
Como Dilma precisa da aprovação política do Presidente do Senado para o novo mandato de Janot acontecer politicamente sem atritos, isto significa de fato que Renan o aprovou. Numa reunião com Dilma nesta semana, Renan afirmou ter intenção de não atrasar a sabatina no Senado;
3) O parceiro de Dilma.
Renan Calheiros participa de um jantar “secreto” na casa de Tasso Jereissati, cujo objetivo é o de discutir a possibilidade do impeachment de Dilma, mas registra no Senado o compromisso, permitindo que o jantar se tornasse conhecido por todos.
Ao vazar publicamente a reunião dos golpistas para a qual foi convidado, Renan acenou para o governo que não é golpista. Tese confirmada pela movimentação descrita na razão (2).
Renan irá lutar pela aprovação das contas de Dilma Rousseff. Um movimento nesta direção foi a Senadora Rose Freitas (PMDB-ES) solicitar ao STF a anulação do ato de Eduardo Cunha de colocar as contas dos Ex-Presidentes na Câmara.
Base de Renan no Senado, Rose argumenta que a competência para a avaliação contábil é do Congresso Nacional e suspende a discussão das contas de Dilma por tempo indeterminado. O golpe por aí também não prospera;
4) O tarefeiro de Dilma.
A fala do Temer, chamando a oposição para a conciliação, parece ter sido mesmo articulada com o planalto, vide a fala do Mercadante (esta irritou a militância pelo tom entreguista, mas foi fundamental para indicar a parceria com o Temer). Jaques Wagner também defendeu o Vice-Presidente.
Temer chamou o apoio da FIESP, que chamou a FIRJAN. Ambas representam os interesses da indústria no país.
Divulgam uma nota pública que é, ao mesmo tempo, um resposta positiva ao pedido de Temer e uma crítica à irresponsabilidade de Eduardo Cunha que, para livrar-se da prisão, trabalha no sentido de inviabilizar a economia do país;
5) O “Ex”-Golpismo da mídia.
A Globo entendeu o recado da Indústria brasileira e o recado do Renan e no editorial desta sexta 07 fritou Eduardo Cunha em definitivo.
Este, junto com Collor (que chamou Janot de FDP), deverá ser processado pela PGR em 3, 2, 1…
A degola de EC foi, portanto, sacramentada oficialmente e passada em cartório.
Eduardo Cunha – uma ponta solta golpista – deverá ser “fuzilado” pela PGR (Janot), a despeito dos seus encontros com Merval Pereira na sede do Jornal O Globo.
Isto não significa que a Globo está de bem com o PT ou que desistiu de derrubar a Dilma. Apena que foi freada por forças maiores. Pelo menos, no momento;
6) O malogro das panelas.
O “panelaço” foi um ridículo fiasco, com cara de iogurte estragado. Com o Alkmin fora do golpe, somente a banda podre do PSDB concorrerá ao dia 16 (leia-se Aécio, Aloysio Nunes e Serra – a segunda ponta solta do golpismo).
Esta parcela do PSDB desespera-se e assume uma postura histriônica, pedindo, também em nota pública, a convocação de novas eleições.
A Globo provavelmente fará uma cobertura mais discreta das eventuais manifestações (se fizer estardalhaço, o objetivo geral não será golpe, mas sangramento do governo);
7) O novo Ministério e a Oposição Judicial.
O novo ministério de Dilma terá, provavelmente, nomes de peso.
Um deles seria o Senador Roberto Requião (PMDB-PR), homem forte no Paraná da “Operação Lava-Jato”.
Outro ministro pode ser Ciro Gomes (PROS-CE), que recentemente se lançou candidato a presidente.
Talvez até o próprio Lula fosse ministeriável. Lula ganharia holofotes gratuitos, iniciaria sua campanha numa posição qualificada (especialmente na Defesa ou nas Relações Exteriores) e, com foro privilegiado, escaparia da sanha fascista da República do Paraná, ficando submetido exclusivamente ao STF.
A antecipação da campanha de 2018, entretanto, é um peso para se levar em consideração. Estar no governo Dilma, já combalido, pode prejudicar mais que ajudar o pré-candidato com maior envergadura.
De qualquer sorte, este movimento de grandes forças políticas em direção a ministérios estratégicos, como a Casa Civil, inclusive, pode colocar a “Operação Lava-Jato” em marcha lenta, já que seu teto terá sido José Dirceu. Mais uma vez;
8) O controle da malta.
O PMDB, com a provável dança de cadeiras nos ministérios, acalmará a sanha do baixo clero na Câmara.
As prebendas serão redistribuídas e os deputados órfãos de Eduardo Cunha voltarão a votar no cabresto, controlados em sua maioria pelos líderes governistas, como sempre fizeram;
9) A divulgação do recado.
A Rede Globo de televisão dá um destaque absolutamente inédito a Dilma Rousseff e de forma positiva, permitindo que um vídeo com a fala da Presidente seja transmitido por longos segundos no JN e no Jornal da Globo.
As organizações Globo indicam que entenderam o recado do mercado e retiram a agenda golpista da programação;
10) Ao fim e ao cabo, é a economia.
A economia dá sinais de recuperação. O natal de 2015 será gordo. E a Petrobrás passará de 1.000.000 de barris por dia apesar do mimimi da oposição.
A Dilma poderá até fritar, mas o golpe, por enquanto, não prospera.
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Cittadino e Rogerio Dultra dos Santos
A situação política no país assemelha-se a um intricado jogo, cujas peças movem-se em várias direções sem que tenhamos, a priori, a capacidade de bem calcular os efeitos de cada um desses movimentos. Entretanto, existem em alguns deles fortes sinais do início do fim do frenesi golpista.
Há, hoje, a possibilidade de que a ameaça de impeachment tenha sido antes uma estratégia para o enfraquecimento do governo do que uma intenção concreta de ruptura institucional. Noves fora as tresloucadas pretensões presidenciais de Aécio Neves e sua trupe senatorial.
Vejamos as jogadas lançadas no tabuleiro nos últimos dias.
Elas indicam no geral que a instabilidade econômica causada pelo golpismo encontrou resistências acentuadas.
São pelo menos 10 as razões pelas quais se pode antever que o país não tem mais o clima para o malfadado e radical impeachment de agosto:
1) O crime de Cunha.
Eduardo Cunha conseguiu aprovar açodadamente as contas dos governos de Itamar Franco, FHC e Lula no plenário da Câmara dos Deputados.
Aparentemente limpou a pauta para votar – e talvez rejeitar – as contas do primeiro mandato de Dilma Rousseff, não sem antes criar novas despesas públicas.
Romero Jucá informa que o Senado Federal não será pautado pelos “delírios” que chegam da Câmara.
A verdade por trás desta notícia é que Eduardo Cunha levou diretamente à Câmara contas que, segundo o art. 166, §1 da Constituição, deveriam passar pela Comissão Mista antes de seguir em frente. Ou seja: ele cometeu uma grave violação do ordenamento constitucional e pode ser diretamente responsabilizado por isto;
2) O inimigo de Cunha.
Na noite da quinta-feira, dia 06, Dilma decidiu reconduzir o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para um novo mandato de dois anos. Janot é o personagem contra quem Cunha declarou guerra. Janot recebeu uma votação expressiva no Ministério Público Federal e terá condição de colocar freio na caça às bruxas dos procuradores mais afoitos.
Mais. Janot tem o poder de denunciar o Presidente da Câmara dos Deputados ao STF – inclusive pela quebra de procedimento na votação das contas públicas (vide razão (1)).
A recondução de Janot, em tempo recorde, indica uma composição política central na contenção do golpe.
Como Dilma precisa da aprovação política do Presidente do Senado para o novo mandato de Janot acontecer politicamente sem atritos, isto significa de fato que Renan o aprovou. Numa reunião com Dilma nesta semana, Renan afirmou ter intenção de não atrasar a sabatina no Senado;
3) O parceiro de Dilma.
Renan Calheiros participa de um jantar “secreto” na casa de Tasso Jereissati, cujo objetivo é o de discutir a possibilidade do impeachment de Dilma, mas registra no Senado o compromisso, permitindo que o jantar se tornasse conhecido por todos.
Ao vazar publicamente a reunião dos golpistas para a qual foi convidado, Renan acenou para o governo que não é golpista. Tese confirmada pela movimentação descrita na razão (2).
Renan irá lutar pela aprovação das contas de Dilma Rousseff. Um movimento nesta direção foi a Senadora Rose Freitas (PMDB-ES) solicitar ao STF a anulação do ato de Eduardo Cunha de colocar as contas dos Ex-Presidentes na Câmara.
Base de Renan no Senado, Rose argumenta que a competência para a avaliação contábil é do Congresso Nacional e suspende a discussão das contas de Dilma por tempo indeterminado. O golpe por aí também não prospera;
4) O tarefeiro de Dilma.
A fala do Temer, chamando a oposição para a conciliação, parece ter sido mesmo articulada com o planalto, vide a fala do Mercadante (esta irritou a militância pelo tom entreguista, mas foi fundamental para indicar a parceria com o Temer). Jaques Wagner também defendeu o Vice-Presidente.
Temer chamou o apoio da FIESP, que chamou a FIRJAN. Ambas representam os interesses da indústria no país.
Divulgam uma nota pública que é, ao mesmo tempo, um resposta positiva ao pedido de Temer e uma crítica à irresponsabilidade de Eduardo Cunha que, para livrar-se da prisão, trabalha no sentido de inviabilizar a economia do país;
5) O “Ex”-Golpismo da mídia.
A Globo entendeu o recado da Indústria brasileira e o recado do Renan e no editorial desta sexta 07 fritou Eduardo Cunha em definitivo.
Este, junto com Collor (que chamou Janot de FDP), deverá ser processado pela PGR em 3, 2, 1…
A degola de EC foi, portanto, sacramentada oficialmente e passada em cartório.
Eduardo Cunha – uma ponta solta golpista – deverá ser “fuzilado” pela PGR (Janot), a despeito dos seus encontros com Merval Pereira na sede do Jornal O Globo.
Isto não significa que a Globo está de bem com o PT ou que desistiu de derrubar a Dilma. Apena que foi freada por forças maiores. Pelo menos, no momento;
6) O malogro das panelas.
O “panelaço” foi um ridículo fiasco, com cara de iogurte estragado. Com o Alkmin fora do golpe, somente a banda podre do PSDB concorrerá ao dia 16 (leia-se Aécio, Aloysio Nunes e Serra – a segunda ponta solta do golpismo).
Esta parcela do PSDB desespera-se e assume uma postura histriônica, pedindo, também em nota pública, a convocação de novas eleições.
A Globo provavelmente fará uma cobertura mais discreta das eventuais manifestações (se fizer estardalhaço, o objetivo geral não será golpe, mas sangramento do governo);
7) O novo Ministério e a Oposição Judicial.
O novo ministério de Dilma terá, provavelmente, nomes de peso.
Um deles seria o Senador Roberto Requião (PMDB-PR), homem forte no Paraná da “Operação Lava-Jato”.
Outro ministro pode ser Ciro Gomes (PROS-CE), que recentemente se lançou candidato a presidente.
Talvez até o próprio Lula fosse ministeriável. Lula ganharia holofotes gratuitos, iniciaria sua campanha numa posição qualificada (especialmente na Defesa ou nas Relações Exteriores) e, com foro privilegiado, escaparia da sanha fascista da República do Paraná, ficando submetido exclusivamente ao STF.
A antecipação da campanha de 2018, entretanto, é um peso para se levar em consideração. Estar no governo Dilma, já combalido, pode prejudicar mais que ajudar o pré-candidato com maior envergadura.
De qualquer sorte, este movimento de grandes forças políticas em direção a ministérios estratégicos, como a Casa Civil, inclusive, pode colocar a “Operação Lava-Jato” em marcha lenta, já que seu teto terá sido José Dirceu. Mais uma vez;
8) O controle da malta.
O PMDB, com a provável dança de cadeiras nos ministérios, acalmará a sanha do baixo clero na Câmara.
As prebendas serão redistribuídas e os deputados órfãos de Eduardo Cunha voltarão a votar no cabresto, controlados em sua maioria pelos líderes governistas, como sempre fizeram;
9) A divulgação do recado.
A Rede Globo de televisão dá um destaque absolutamente inédito a Dilma Rousseff e de forma positiva, permitindo que um vídeo com a fala da Presidente seja transmitido por longos segundos no JN e no Jornal da Globo.
As organizações Globo indicam que entenderam o recado do mercado e retiram a agenda golpista da programação;
10) Ao fim e ao cabo, é a economia.
A economia dá sinais de recuperação. O natal de 2015 será gordo. E a Petrobrás passará de 1.000.000 de barris por dia apesar do mimimi da oposição.
A Dilma poderá até fritar, mas o golpe, por enquanto, não prospera.
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