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17/08/2015
É fácil saber quem e quantos estiveram na Paulista, por Percival Maricato
O setor conservador da sociedade saiu da clandestinidade, imposta desde a queda da ditadura, e mostra sua força
Percival Maricato
Como sempre discute-se quantas pessoas estiveram na Avenida Paulista durante a manifestação deste domingo. Pela Folha de São Paulo, no pico, 120 mil, pela Polícia Militar, 350 mil, segundo os organizadores, hum milhão.
Há uma forma fácil de demonstrar que , quando muito, é o número da Folha o correto. Basta comparar com o que esteve na Arena Palmeiras um pouco antes, 38 mil pessoas, ocupando todo o entorno de cadeiras enfileiradas, as pessoas tão próximas uma das outras como na manifestação.
Se fôssemos desdobrar as fileiras de cadeiras na horizontal, ao rés do chão, a começar de baixo até em cima, daria bem mais que a largura da Av Paulista, e em extensão pelo menos umas quatro quadras. Na Paulista os espaços realmente ocupados iam da Av Brigadeiro até a Rua Augusta, ou seja, o equivalente a 8 quadras. Portanto, dificilmente poderia haver 120 mil pessoas.
Nos demais estados também ficou visível os exageros dos cálculos da Policia Militar, que deveria se abster de fazê-los oficialmente, pois na forma como calcula, está se metendo em política. Aliás, na Av Paulista costuma multiplicar 5 pessoas por m2 por 200 mil m2, que haveriam na avenida, quando segundo técnicos, ela tem no máximo 120 mil m2. Segundo a Folha, 20% a mais do que na manifestação anterior. Havia muita gente em alguns estados, nunca porém como diziam os tais cálculos da PM. As ruas gritaram mas devem manter-se calmas por alguns dias. Haverá um fôlego para Dilma, começar a governar, dialogando (inclusive com a oposição, para não depender tanto da fisiologia).
Outra característica na Av Paulista, era a massiva presença da classe média, um povo branco, saudável, alegre, bonito, bem com a vida. Havia um ou outro negro ou mulato e sabemos que estes são maioria da população. A classse meda deu uma demonstração de força, mostrou o quão numerosa é atualmente, exigiu respeito para cálculos de qualquer partido, respeito imenso e desproporcional, enquanto os de baixo não se mobilizarem.
Ao fazerem política, o que agora é inevitável, os jovens dos movimentos da Paulista logo descobrirão as faixas da população que forma a maioria do povo, quem sabe tentem descobrir o que ela pensa e quer, considerá-la antes de sair tentado impor suas palavras de ordem, dizendo que governo querem, como se representassem a totalidade do país.
Havia de um lado o Vem Pra Rua, que insiste em sua matriz democrática, civilizada, apesar de errarem no mérito das análises (querem oimpeachment legalmente, só não sabem explicar o fundamento) e os raivosos e curtos de pavio e conhecimentos políticos, que o querem porque querem, na marra, e o fim do PT e Lula, pouco importa como, a falta de fundamento legal, o fato do partido ter hum milhão de militantes, de Lula representar opção de 30% da população brasileira em pesquisas espontâneas.
O que os une é a ideologia política de direita, conservadora no fundo (tudo como está, ou até como era, sem bolsa família, mais médicos, aumento real do salário mínimo, divisão de renda etc) e disso não fazem segredo. Não criticam Eduardo Cunha, Renan e cúmplices, não os preocupam as chacinas da periferia, muito menos os oito mil do HSBC com dinheiro na Suiça e tantos outros que nos demais bancos enviam para o exterior o dinheiro obtidos com sonegação, as exigências absurdamente corporativas do Judiciário e outras categorias de funcionários públicos, a impunidade para a corrupção cometidas por outros partidos, o fato dos vereadores de São Paulo terem votado mais doze assessores cada um, os deputados emendas obrigatórias de milhões de reais e que torpedeiam o ajuste fiscal,, nada disso merece um cartazete. O problema é exclusivamente Dilma e o PT, no fundo, os rumos políticos impostos ao país pelo partido.
Se fosse mesmo a corrupção o que os preocupa, então porque não atacar todas as já descobertas, e todos os envolvidos? Nada estranho pois que apoiem juízes que, pelo menos até agora, parecem agir da mesma forma.
Reconheça-se que a mobilização obtida, foi significativa. Levar 120 mil pessoas à rua é um feito, é muita gente, mostra que o setor conservador da sociedade, após o refluxo decorrente da queda da ditadura, voltou para valer, para fazer política como a entende, não repete o erro de 1964, quando na Marcha com Deus pela Família chamaram os militares, querem o poder diretamente (outra diferença interessante é a divisão da grande burguesia, que se preocupa com o que pode decorrer de um golpe paraguaio). Ter o lado conservador da sociedade fazendo política, dentro dos limites da democracia, não é ruim. Fora desses limites é ruim, mas de uma forma ou de outra, obrigará a esquerda e o centro a se reinventarem, saírem da zona de conforto, punirem os desvios, a corrupção, vez que nessas práticas a esquerda jamais será perdoada. Até mesmo os partidos à direita, o PSDB, PPS, DEM e outros, serão engolidos se não entenderem e decifrarem o enigma e tiverem maturidade para explorá-lo dentro do ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO.
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