quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Contraponto 17.458 - "Lacerda e Aécio: o Corvo e o Abutre, Maurício Dias"

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12/08/2015


Lacerda e Aécio: o Corvo e o Abutre, Maurício Dias


Tijolaço - 9 de agosto de 2015 | 10:52 

abutre



Fernando Brito 

Como tudo aquilo que é cíclico – inclusive a espiral, que é um círculo que se desloca e avança – a História é caprichosa ao definir para os homens o papel a que nela irão se prestar.

Cresci vendo o que era o “lacerdismo”: as mal-amadas do subúrbio onde cresci, os vizinhos emproados, arrotando peru pelo frango  que comiam, os carolas – gente tão “boa de coração e cristã” que olhava e falava com nojo dos “filhos da desquitada” que ralava como uma condenada  para criá-los e se condenava à solidão por isso.

Uma, especialmente, era mulher do importantíssimo “administrador da Vila Kennedy, uma galáxia distante na Zona Oeste para onde havia sido removida parte dos pobres que enfeavam a Zona Sul com sua “obscena” miséria.

Mas é uma, mais que todas, a marca que trago desta gente, desconcertante.
Era um domingo ou feriado e o velho José Nogueira, meu avô, me levara a passear no Méier, bem pequeno ainda, talvez com quatro ou cinco anos.

Carlos Lacerda estava inaugurando um trecho de uma via, a Radial Oeste, na verdade um alargamento da velha Rua Hermengarda, nome então ainda comum, de gente, que saía dali para o Lins e o Engenho Novo .

Homem de pouca instrução, de muito trabalho e de grande severidade, parou por um instante junto à aglomeração e viu o homem que havia “matado” Getúlio.

E da boca onde jamais ouviria de novo um palavrão, saiu entre os dentes o “Corvo filho da…” que sobrevive nos ouvidos do guri assustado, mais de 50 anos depois.

E meio século adiante, na idade em que ele tinha então, crispo os dedos e resisto a escrever como ele murmurou, naquelas lonjuras do passado, tristemente presente hoje.

Deixo que Mauricio Dias, em ótimo texto na CartaCapital, muito gentilmente, o faça por mim.



Aécio, Lacerda opaco
Maurício Dias

Sob alto patrocínio do PSDB, a manifestação do dia 16 de agosto, marcada para acontecer em diversas cidades do País, marchará com aquele já conhecido leque difuso de objetivos. Que ninguém se surpreenda, portanto, com a velha inscrição no estandarte, onde se apela para o retorno da ditadura militar. O movimento, composto de cidadãos que transitam do conservadorismo ao reacionarismo, será sustentado, mais uma vez, por estratos sociais do topo da pirâmide de classes.

Caso os integrantes da base dessa pirâmide, formada por uma imensa maioria de pobres e remediados, passem nas imediações do movimento, vai ver tudo com certa perplexidade. Quem sois? Há diferenças marcantes entre o Brasil de cima e o Brasil de baixo. Ao contrário dos manifestantes, os passantes ocasionais não terão ódio nos olhos. Estarão mais preocupados com a crise econômica, para eles traduzida em inflação e desemprego, precedente à crise política forjada no oportunismo. Essa marcha será um marco. Lance importante para os objetivos presidenciais de Aécio Neves. A única chance dele é a queda de Dilma. Imediatamente.

 Os movimentos sociais não se formam por combustão espontânea. Por isso ele, derrotado na eleição presidencial de 2014, tornou-se porta-voz político da marcha anunciada, parte do golpe contra Dilma camuflado pelo mecanismo do impeachment.

Nos últimos dias, na discussão desse tema teve sempre presente o senador Aécio Neves, como ocorreu no encontro realizado na casa do senador tucano Tasso Jereissati. “O clima era de conspiração”, revelou um dos presentes ao jornal O Globo, de 7 de agosto. Aécio estava lá.  Quase tudo se assemelha a uma repetição farsante do movimento civil-militar de 1964 que depôs o presidente João Goulart.

Carlos Lacerda, governador do extinto estado da Guanabara, era a expressão máxima da oposição naquela época. Há uma grande distância no tempo. A distância, porém, não supera a presença da ambição pelo poder a qualquer preço, comum a Lacerda e a Aécio.

Aécio Neves acredita que um incêndio no País pode levá-lo à Presidência da República. Pós-golpe, Lacerda, candidato antecipado à eleição para presidente, marcada para 1965, pensava o mesmo e acabou cassado. Golpes e revoluções costumam engolir seus líderes. Há também diferenças entre a composição dos dois movimentos, distantes um do outro. Os militares, atuantes em 1964, estão nos quartéis. Como convém.  No plano pessoal, existem também diferenças entre um e outro.

Lacerda era apelidado de “Corvo”. Alguém, se quiser, pode batizar Aécio de “Abutre”. Essa ave, como se sabe, sacia-se da carniça. Sobrevoa a vítima. Sangrar foi, até agora, o comportamento da oposição diante de um governo sufocado pela impopularidade. Assim, o Abutre prepara o ataque final. No plano pessoal, Lacerda emergiu como orador culto e brilhante. Aécio, ao contrário, é opaco e carece de maiores recursos intelectuais.

Aécio não irá à passeata. Acompanhará pela televisão. Vez por outra, olhará os passantes do alto da cobertura onde mora, nos limites do Leblon e Ipanema, bairros elegantes da zona sul carioca. Estará preocupado em medir o resultado da marcha. Ele não meditará sobre a fantasmagórica questão que assusta os golpistas no momento do golpe: “Sempre se sabe como começa, e nunca como termina”.
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