26/05/2015
As ondas tectônicas que vêm da China
Não são pequenas as preocupações suscitadas pela crise na China.
A China não
é uma democracia, mas tem alternância de poder. Estas se dão no âmbito
do Partido Comunista Chinês, com movimentos pendulares similares aos das
democracias ocidentais: a uma gestão voltada para o mercado sucede
outra com preocupações sociais e regionais.
De um lado, grupos políticos
baseados em Xangai; de outro, lideranças provinciais bem sucedidas. O
fator de legitimação são as taxas de crescimento, necessárias para dar
conta não apenas da inclusão mastodôntica de chineses ao mercado de
consumo, mas também às aspirações de melhoria contínua na vida dos
chineses já incluídos.
E não
tem jeito. Os grandes crescimentos nacionais sempre se deram através da
urbanização, da incorporação da mão de obra rural nas indústrias.
O final dos ciclos sempre são
marcados por crises de superinvestimento, de criação de enorme
capacidade ociosa nas indústrias pela frustração no ritmo de crescimento
anterior. A frustração do processo de melhoria produz terremotos
sociais e políticos. Os comícios da Vila Euclides ocorreram quando as
perspectivas de melhoria cessaram, mesmo com os metalúrgicos em situação
muito melhor do que no início dos anos 70.
A crise transborda para a política,
obrigando o governo chinês a malabarismos. Sua estratégia tem sido
convencer a opinião pública da importância do avanço geopolítico para
fora das suas fronteiras. Esse desafio externo funciona como álibi para
expurgos que estão sendo realizado nas Forças Armadas - a pretexto de
coibir a corrupção -, visando colocar em cargos-chave generais fiéis ao
presidente, para se contrapor a golpes potenciais advindos do Partido
Comunista.
***
Não é pouca insegurança, em se tratando da segunda economia do planeta.
O componente político
aumenta a volatilidade. O componente real, o econômico, provoca os
terremotos globais. A frustração do ritmo de crescimento das últimas
décadas muda o comércio e o sistema de preços mundial.
O efeito imediato é a queda das cotações das commodities batendo direto na economia brasileira.
Outro efeito é
a volta atrás na estratégia de substituir exportações por investimentos
internos. As minidesvalorizações da moeda chinesa trazem o fantasma de
uma nova invasão de produtos chineses nos principais mercados globais.
Ao mesmo tempo, há ondas de desvalorizações da moeda de inúmeros
emergentes.
***
As ondas subsequentes são complicadas.
A queda nos preços
do petróleo afeta a competitividade de inúmeros setores que nasceram
com o petróleo caro, mais especificamente o xisto nos Estados Unidos e o
conjunto de pesquisas em energias alternativas. Bate na geração de
caixa da Petrobras. Por outro lado, abre espaço para uma recuperação
mais rápida da economia mundial.
Pelo tamanho da China, cada movimento gera ondas tectônicas
mudando as correlações de preços, em ondas sucessivas. As somas de
perdas e ganhos impedem qualquer avaliação objetiva sobre as
resultantes, ainda mais incluindo-se nesse quadro os desdobramentos
políticos e geopolíticos.
Enfim, é
um momento aguardado há tempos, que marcou a explosão de todas as
grandes economias globais. Mesmo aguardado, sempre pega o mundo de
surpresa.
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