26/08/2015
A prova do pudim da Lava Jato nas mãos de Janot
Jornal GGN - qua, 26/08/2015 - 09:11 Atualizado em 26/08/2015 - 09:54
Após
o impeachment de Fernando Collor, um jornal se vangloriou de não ter
escondido seu passado: a Folha de S.Paulo. Essa atitude ajudou a
pavimentar sua reputação pelos anos 90 a fora.
Agora, todos os jornais brasileiros se calaram, inclusive a Folha.
Mesmo depois dos serviços online - que não haviam sido enquadrados - terem dado a notícia que, àquela altura, já tinha transbordado para o mundo.
A notícia
abriu a Top News da Reuters internacional. Seria manchete em qualquer
jornal respeitável do mundo. Afinal, um candidato a presidente da
República, no passado, recebia dinheiro de corrupção, proveniente de uma
estatal. Não se tratava de algum recurso recolhido por um tesoureiro de
partido, mas dinheiro direto na conta.
A delação
de Yousseff veio com todas as peças encaixadas: o valor da propina, a
destinatária (a irmã de Aécio) e até a empresa que fazia a lavagem do
dinheiro (a Bauruense). Os bravos procuradores da Lava Jato teriam
levantado essas operações em um dia de trabalho. Bastaria quebrar o
sigilo da Bauruense.
Além
disso, na gaveta do PGR repousa um inquérito desde 2010 apontando para
lavagem de dinheiro de familiares de Aécio Neves em um banco de
Liechenestein. Tinha-se o começo e provavelmente o destino final da
propina.
Mesmo assim, o Procurador Geral da República
Rodrigo Janot não endossou a denúncia sustentando estranhamente que
dizia respeito a um outro episódio e o delator (o deputado que contou
sobre a propina a Yousseff) já ter morrido. Equivale a um jovem
procurador que invade um escritório à procura de pistas sobre roubos de
eletrônicos, encontra provas de roubos de remédios e deixa de lado
porque no momento ele só trabalha com roubos de eletrônicos.
Janot poderia ter pedido autorização
para o STF (Supremo Tribunal Federal) para ao menos investigar a
denúncia, garantindo o sigilo nas investigações. Nem isso foi
solicitado.
Qual a lição que se pretende passar?
A Lava Jato pretende demonstrar que não é apenas mais uma investigação de corrupção, mas a operação que irá mudar o pais. Houve outras investigações na história.
No início
dos anos 50 os IPMs (Inquéritos Policiais Militares) prenderam pessoas
próximas a Vargas e colocaram em xeque o próprio poder presidencial, a
ponto de criar o clima que levou ao suicídio do presidente. Ficou
conhecida na história como uma manobra golpista, não como uma ação
virtuosa.
Em 1963 e 1964, meros delegados de polícia
colocavam na cadeia até empresários poderosos ligados a Jango, sob os
argumentos mais estapafúrdios: Santo Vahlis, um venezuelano que tentou
comprar um jornal no Rio, foi jogado em uma cela sob a acusação de ter
escondido seu local de nascimento.
O anônimo
delegado de polícia comprovou que proximidade com o governo não
blindava ninguém, com o poder, sim . E sua valentia se devia apenas ao
fato de que o poder já mudara de mãos. Ele era apenas um joguete nas
mãos do verdadeiro poder.
A Lava Jato será
conhecida na história não pelos poderosos que prendeu, mas pelos
poderosos que poupou. Será ou a operação que limpou o Brasil, ou a
operação instrumentalizada por um grupo político para desalojar outro
grupo político.
A prova do pudim estará
nos intocáveis, os cidadãos do lado de cá, tão acima de qualquer
suspeita que não serão sequer investigados mesmo sendo delatados por
delatores que mereceram toda a confiança dos procuradores nas delações
contra o lado de lá.
As suspeitas sobre Aécio,
agora, correm o mundo, nas asas da Reuters e de outras agências
internacionais. Está nas mãos de Janot garantir a reputação
internacional da operação que irá marcar para sempre a história do país:
se apenas uma operação autorizada pelo poder do lado de cá, ou se uma
operação que colocará definitivamente o Ministério Público Federal como
avalista de uma nova República.
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